sábado, 21 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22473: Os nossos seres, saberes e lazeres (465): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (12) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
Nas primeiras férias com pandemia (2020), passarinhou-se por Óbidos e circunvizinhança, muitas memórias afloraram, já que na adolescência os meus padrinhos me convidavam a passar férias na Foz do Arelho, fiquei a adorar aquele mar selvagem e barulhento, as manhãs com bruma, as passeatas pela tarde, muitas vezes à volta da Lagoa de Óbidos. Extinto o vínculo a Pedrógão, diluído a Tomar, ficava de pé uma nesga de oportunidade de manter contato com a natureza a pouco menos de uma hora de casa. E essa oportunidade surgiu com estas duas casinhas implantadas em colina, em área protegida, com quilómetros de vinha e pêra rocha circundante. Aqui se dá notícia do feito, de visitas de saltitão até chegar a Sines, a neta gosta a valer de São Torpes, e o avô também.


Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (12)

Mário Beja Santos

Venho a Peniche para comprar casa lá longe e logo me assalta a lembrança de passeios da juventude com o meu padrinho que aqui vinha para tratar dos assuntos do Algarve Exportador (Fábrica de Conservas Nice), começávamos no Bairro dos Pescadores, muita gente a trabalhar com as redes, preparando futuras fainas, e depois passávamos ao lado da fortaleza, falava-me sempre da história da terra e regressávamos à Foz do Arelho passando por este pano de muralha. Aqui estou especado olhando enternecido estas canas da Índia lembrando igualmente as que a minha avó Ângela plantou no nosso quintal no bairro social de Alvalade, estou a fazer horas para entrar na Conservatória da terra, foi aqui que o promotor imobiliário me mandou vir para a escritura das casas do Reguengo Grande, que também passarão a ser minhas, e espero vir a ser muito feliz nelas, foi amor à primeira vista, a pureza daquelas linhas decoradas a branco e vermelho no meio de tanta pedra que deve vir da era jurássica, estou no extremo do concelho da Lourinhã, quando sair da Travessa da Boa Esperança e virar à esquerda, minutos depois entro no concelho do Bombarral. Esfrego as mãos, venho com a família passar aqui a última semana de julho de 2021, quero enamorar-me da região, assim Deus me dê vida e saúde.
Subi à colina em frente, onde se prantam cinco moinhos (quatro deles em estado calamitoso) para vos mostrar o meu lugarejo, os meus casebres, foram bem reedificados, não perderam a tipicidade de habitações de pequenos proprietários rurais, estão decoradas com gosto e naturalmente que estou ávido em transportar para aqui traquitana pessoal. O carro arruma-se lá no cimo da ladeira, tenho depois o silêncio por minha conta, às vezes interrompido pela canzoada do vizinho da planície onde se multiplicam as abóboras, ladram todas à uma e segue-se o profundo silêncio. Sento-me a meditar que tipo de jardim zen vou para ali procurar desenvolver no meio dos pedregulhos, tenho laranjas e ameixas, um velho casebre onde antigos proprietários deviam guardar ovelhas, tudo a seu tempo, o importante é ter a curiosidade espevitada e pôr ordem no caderno de todas estas atividades que me aguardam – e espero que sejam muitas e por muito tempo.
Consta que Napoleão, lá do alto de uma pirâmide, quando fez a campanha do Egito, se dirigiu aos soldados falando-lhes dos quarenta séculos que contemplavam. Aqui fia mais fino, se é tudo verdade o que li no Museu dos Dinossauros, estou sentado e a contemplar milhões de anos, esta pedra de forma encarquilhada espalha-se por toda a parte, é uma mistura exótica entre estes verdes de pomares e vinhas e pedras de outras eras, sente-se o aconchego de uma certa prosperidade rural, o benefício das vistas largas e todas estas marcas do calendário de uma antiguidade que não podemos discernir, a não ser pelo peso da fantasia.
Aconteceu, preparava-me para ir dormitar, a lua irrompeu em todo o seu esplendor, pareceu-me a aeronave a encaminhar-se para uma daquelas cidades da ficção científica, impossível resistir a todo este sombreado da noite em diálogo com os focos de luz.
Cá está, meti-me por caminho pedestre em direção ao Vimeiro, de quando em vez passa um ciclista ou outro pedestre que se cumprimenta, e como não ficar impressionado com esta brutalidade da pedra afagada pela vegetação – também esta terá no ADN o tempo jurássico? Não importa, o resultado é este esplendor, é somar e seguir.
Passeio a Óbidos, visita curta e com pouca detença, há outros objetivos na viagem. Mas como resistir à fosforescência desta buganvília que cresce teimosa como se intencionasse formar um túnel de vegetação para dar sombra na Rua Direita?
Não conheço açude como este, fazia serventia à secular Fábrica de Fiação de Tomar, para aqui chegar percorre-se uma bela mata, custa no início ver as ruínas da fábrica, um dó de alma, podiam ser um modelo de arqueologia industrial, mas foi tudo saqueado. E depois chega-se a este panorama, o Nabão a desfazer-se em água, há para ali praias em miniatura, gente em piqueniques, é tudo muito belo, mas o que seria este açude se estivesse bem conservado?
E agora Sines, estamos perante a Igreja de Nossa Senhora das Salas, não lhe falta o estilo manuelino, acho que tudo começou por uma promessa depois de um putativo milagre, uma ordem militar religiosa não gostou da construção e Vasco da Gama mandou fazer o templo que guarda um curioso tesouro. Da Lourinhã viajou-se para Sines, há uma criança que constitui o meu futuro que adora estas praias, pois delas iremos falar.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22456: Os nossos seres, saberes e lazeres (464): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22472: Meu pai, meu velho, meu camarada (67): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte V


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > c. 1943 > A cidade, a baía o Porto Grande e o Monte Cara ao fundo.  Ao centro,  em segundo plano, o edifício de maior volumetria é o Liceu Gil Eanes, por onde passou a elite do Mindelo e onde estudou Amílcar Cabral (que ali completa o 7º ano do liceu, em 1944, seguindo depois para Lisboa onde se licenciou em engenharia agronómica, no Instituto Superior de Agronomia
). 

Cortesia de Adriano Miranda Lima / Blogue Praia de Bote (2012). Informação complementar de Adriano Miranda Lima: “Foto de origem desconhecida mas que parece ser da Foto Melo ou do José Vitória”. 



Estrada Lourinhã-Peniche EN 8-2], cruzamento para a Praia da Areia Branca > 7/9/1942 > Foto enviada pelo irmão, Domingos Severino, o primeiro a contar a esquerda. Possivelmente foi em “dia de sortes”, do grupo dos nascido em 1922… Reconhece-se o Toni, o segundo a contar da esquerda;  o Carlos Fidalgo,  o terceiro; e o Rei, o quinto;  todos falecidos. Não 
é possível identificar o 4º elemento e 6º (de bicicleta). Foto: arquivo da família.



Lourinhã, estrada Lourinhã-Peniche, 7/9/1942... Uma fotografia com amigos, contemporâneos do meu pai... Do grupo da foto anterior. Nenhum deles está hoje vivo, se bem os reconheço. O segundo do lado esquerdo, é o meu tio, irmão do meu pai (dois anos mais novo) e meu saudoso padrinho de batismo, Domingos Henriques Severino. O terceiro é o Toni. O quinto  é o Carlos Fidalgo (, mais trade sócio da firma Fidalgo & Matos Lda) e o sexto o José Frade. A foto, enviada para Cabo Verde, está assinada pelo Domingos Severino.



Lourinhã > 6/12/1942 > Da esquerda para a direita: Nazaré, Ascensão e Maria Adelaide, três vizinhas e amigas de Luís Henriques, fotografadas na ponte sobre o Rio Grande, Lourinhã. Foto enviada para o amigo e vizinho, expedicionário em Cabo Verde, com "votos de verdadeira e sincera amizade". A primeira parte da legenda é ilegível.

Lembro-me de todas elas. A Maria Adelaide já morreu. Da Ascensão perdi-lhe o rasto. A Nazaré, conhecia-a bem, era a tia da Mariete, a família toda foi para a América,   em meados dos anos 50. E julgo que casou por lá... Será que ainda é viva ? Era "ajuntadeira" (costureira de calçado), e trabalhou muito para o meu pai, sapateiro, que dava trabalho a muita gente na Lourinhã.

Lembro-me bem da ti Adelina, mãe da Nazaré, nossa vizinha, e que era um, espécie de curandeira lá do bairro... Nós morávamos na rua dos Valados, ou do Castelo, e elas na rua, paralela, a do Clube... Quando puto, e quando doente, ela - a tia Adelina - aplicava-me as suas mezinhas, receitas da medicina popular com séculos de eficácia simbólica e terapêutica... Lembro-me, com repulsa, das suas unturas, na garganta, feitas com “gordura de galinha”, para tratar da papeira... Foto: arquivo de famíl



Lourinhã > s/d > c. 1940/50 > Passeando com primos e primas… Luís Henriques é o primeiro da esquerda. Na outra ponta, o primo António Francisco Sousa (que emigrará, muito mais tarde, para Moçambique). Foto: arquivo de família.


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > “Maio de 1943. O jardim de Mindelo onde respirei lufadas de perfume e pó de arroz: isto quando se passava por grupos de senhoras ou meninas. Quando se ouvia tocar a música, à volta deste jardim passeavam milhares de transeuntes”. Foto Melo, pertencente ao arquivo da família.

Na realidade, tratava-se da Praça Nova, ajardinada (hoje, Praça Amílcar Cabral), onde havia/há um coreto, um quiosque, um lado e os bustos de dois insignes portuguesa, o poeta Luís de Camões e o Marquês Sá da Bandeira (Santarém, 1795 - Lisboa, 1876), 
uma grande figura, como militar e político do liberalismo, que  liderou a  luta contra o esclavagismo no Portugal do séc. XIX.




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > O jardim de Mindelo. A estátua de Luís de Camões, inaugurada em 1940… Foto: arquivo de família


Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Junho de 1943. Alguns internados do depósito dos convalescentes. Entre eles, estou também eu, sentado, lendo [o livro ] ‘Os Bastidores da Grande Guerra’. Luís Henriques , 1º Cabo nº 188/41, 1º Batalhão Expedicionário, R.I. nº 5. S. Vicente. C. Verde".

 [ O meu pai é o primeiro da 1ª primeira fila, do lado direito, assinalado com um círculo a vermelho; esteve internado cerca de 4 meses, já no final da comissão, por doença de pulmões; a morbimortalidade entre os expedicionárias era elevada; o livro em, questão podia o ser de Adolfo Coelho, "Nos bastidores da grande guerra", documentário, editado em 1934, em Lisboa, pela Livaria Clássica Editora].



Cabo Verde > S. Vicente > 1/12/1942 > "Uma das fases do jogo de voleibol no dia da festa da Restauração, organizada pelo R. I.  nº 5, em Lazareto, 1/12/1942, S. Vicente, C.Verde. Luís Henriques". Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > Cais acostável, baía e o Monte Cara, ao fundo > “Agosto de 1942- A nossa maior alegria, depois dos trabalhos, o banho, em que tantos aprenderam a nadar. Entre tantos, estou eu, Luís Henriques. Em cima do cais, estão os nossos sargentos Peralta e M. Pereira (falecido)”.

 Segundo nos contava, ainda chegou a salvar mais do que um camarada, em risco de se afogar… Um deles, ao que parece, terá tentado o suicídio, uns meses antes do regresso a casa: sofria de sífilis, um das doenças sexualmente transmissíveis que mais afligia o contingente expedicionário, numa altura em que ainda não exista a “bala mágica”, o antibiótico… Recordo-me de o meu pai me dizer que no Mindelo “até as pedras tinham vénereo” (sic)… Segundo o nosso camarada Adriano Lima, a penicilina só chegou a Cabo Verde no início de 1945. Foto: arquivo da família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


5. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques, ex-1º cabo at inf, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, unidade mais tarde integrada no RI 23 (*). Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943. Era natural da Lourinhã. Faria 101 anos,se fosse vivo, no dia 19 de agosto de 2021. A pandemia de Covid-19 impediu a realização, o ano passado, da homenagem que a família e alguns amigos lourinhanses queriam prestar-lhe.  O seu filho mais velho, o nosso editor Luís Graça, reuniu entretanto, numa pequena brochura de 100 páginas, o essencial da informação documental sobre a sua vida (*).
 

Antes de partir para Cabo Verde, o jovem Luís Henriques foi ao Nadrupe reiterar a sua vontade de continuar a namorar a filha do senhor Manuel Barbosa, pequeno agricultor com terras próprias (e outras de renda), e sete bocas para alimentar  (a esposa e seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas)… 

O futuro sogro terá sugerido que rompesse o namoro, porque não se sabia o que podia acontecer, “podia morrer ou arranjar outra” (sic)… Mas o meu futuro pai manteve-se fiel à promessa de continuar a namorar a Maria da Graça (que também assinava Maria da Graça Barbosa, mas no seu BI era apenas a Maria da Graça, nascida em 6 de agosto de 1922, no dia da festa local, o da N. Sra. da Graça).

Do Mindelo escreve à sua namorada, futura noiva e esposa, Maria da Graça. Eis algumas quadras que chegaram  até nós:

Deus ao fazer as três Graças,

Sua obra deu por finda,

Nasces tu, Maria da Graça,

A quarta Graça, a mais linda.

(c. 1941)

Desterrado nesta terra,

A saudade me consome,

Que Deus nos livre da guerra,

Já nos basta a sede e a fome.

 

Estou farto de engolir pó,

Nesta ilha abandonada,

Mas sinto-me menos só,

Quando penso em ti, minha amada.

 

Maria, minha cachopa,

Não me sais do pensamento,

Logo que eu saia da tropa,

Vou pedir-te em casamento.

 

 (c. 1942)

 


Lourinhã > Lourinhã > Abril de 1991 > Luís Henriques (1920-2012), com 70 anos, com a esposa, Maria da Graça (1922-2016). Celebravam nesse ano os 45 anos de casados ( e as "bodas de ouro", em 1996). Foto: arquivo da família.


Correspondia-se também com vizinhos, amigos e amigas da Lourinhã. Infelizmente, essa correspondência perdeu-se, com o tempo. Escrevia em papel fino, e ia mandando fotos, em geral de formato reduzido, legendadas no verso e algumas vezes a tinta verde.

Nos tempos livres, dedicava-se ao desporto: futebol, voleibol, natação. E gostava de ler e escrever. É natural que houvesse uma biblioteca  pública no Mindelo. E o próprio RI 23 deveria ter alguns livros para ocupação dos tempos livres dos expedicionários.

Era um leitor compulsivo. Lembro-me de me ter citado, entre outros, o romance do escritor austríaco, de origem judaica, Stefan Zweig (1881-1942), “Vinte e quatro horas na vida de uma mulher” (1935), que eu, confesso, nunca li.

Sinopse: "A rotina de um hotel na Riviera é abalada por uma notícia escandalosa. Uma mulher abandona o marido e as duas filhas, em nome de uma paixão por um jovem que havia acabado de conhecer. Este episódio despoleta uma acesa discussão entre os hóspedes do hotel e leva a Senhora C., uma aristocrata inglesa de sessenta e sete anos, a recordar um episódio secreto da sua vida que a tortura há mais de duas décadas. Vinte e quatro horas na vida de uma mulher é um relato apaixonante e intimista sobre a vida de uma mulher que se liberta das correntes do pudor e do preconceito social em nome de uma paixão avassaladora." (Fonte: A Esfera dos Livros).

Em 1942, o escritor e a mulher haviam-se suicidado em Petrópolis, no Brasil, país que os acolheu, no exílio.  Antes tinham passado duas vezes por Portugal. O meu pai deve ter tido acesso à edição de 1937, com a chancela da Civilização, Porto, trad.  Olando Alice. Terá sido um dos livros que  mais o marcou na sua vida, a avaliar pelo número de vezes que o citava. 

Em Cabo Verde, Luís Henriques foi contemporâneo dos pais de outros membros  da Tabanca Grande, nossos camaradas  (Hélder Sousa, Augusto Silva Santos, Luís Dias) ou amigos (Nelson Herbert)... Recorde-se os seus nomes: 

  • Ângelo Ferreira de Sousa (1921- 2001) (nascido no Cartaxo, a 28 de abril de 1921);
  • Armando Duarte Lopes (1920-2018) (nasceu no Mindelo; emigrará depois para a Guiné, onde foi futebolista);
  • Feliciano Delfim Santos (1922-1989) (esteve na ilha do Sal) (nascido a 22 de abril de 1922);
  • Porfírio Dias (1918-1988) (esteve no Mindelo, quase 3 anos, entre julho de 1941 e maio de 1944) (nasceu em Lisboa, em 30 de julho de 1919).

(Continua)

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série > 


22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21282: Meu pai, meu velho, meu camarada (65): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte III

20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21273: Meu pai, meu velho, meu camarada (63): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte II

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22471: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (66): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Agosto de 2021:

Queridos amigos,
Ao que consta, nada de mais sangrento ocorreu na comissão militar de Paulo Guilherme que aquela operação denominada Tigre Vadio. Coisa curiosa, ele veio a descobrir mais tarde, o criador do mais conceituado blogue da guerra da Guiné, intitulado Luís Graça e Camaradas da Guiné, nela participou e amiudadas vezes escreveu sobre o sofrimento vivido por aquelas centenas de homens. No momento em que tudo isto se passa, Paulo Guilherme está completamente exausto e vai quebrar, está com um ataque de paludismo, ainda não retemperado volta à atividade operacional e depois quebra. Como fora punido com dois dias de prisão simples, nunca teve direito a férias, o comandante, comiserado, pretexta um tratamento psiquiátrico, voltará ao repouso, desta vez não em casa de um amigo mas em pleno hospital militar. Virá recomposto, mas afazeres não faltarão até ao início de agosto.

Um abraço do
Mário



Rua do Eclipse (66): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Annette adorée, preparava-me para dar pronto seguimento aos aspetos mais truculentos da Operação que levou à destruição da base de Belel e ao aniquilamento expressivo de guerrilheiros, narrando o que foi a pronta retirada a corta-mato por florestas inóspitas, debaixo da frigideira do sol, apoiando militares cada vez mais insolados, os próprios carregadores a marchar com cada vez mais dificuldade, nunca na vida vira tanta gente a mascar cola, certamente que para enganar a sede, e tu introduzes uma nova questão, que eu não me esqueça de ir tomando nota de casos bizarros ou excêntricos que tenha vivido e que possam tornar mais entusiasmante a leitura do romance. Sintetizo duas situações, prometo ir aos escaninhos da memória à procura de mais.

A primeira tem a ver com um daqueles oficiais em trânsito, era muito frequente aparecer alferes ou capitães que tinham apanhado um voo até Bambadinca ou mesmo aqui arribado numa embarcação, e com destino para o Xime ou Mansambo ou Xitole e mesmo para Bafatá e daqui para Geba, Nova Lamego, Pitche, que sei eu. Um dia regresso dos Nhabijões, e encontro à hora de jantar um capitão desconhecido, aproveitara uma boleia até Bambadinca, seguia para a Colina do Norte, ia formar em Dunane uma unidade militar. Homem seco de carnes, de fala económica, sem prejuízo de responder ao que lhe ia perguntando. Viera à Guiné numa primeira comissão, entre 1963 e 1965, coubera-lhe uma experiência inédita, acabou em comandante interino de uma companhia de corrécios, fora o que lhe coubera na rifa, alguém na hierarquia militar tinha entendido que competia ao Exército tentar redimir pessoas com crimes mais civis que militares e que se oferecessem para ir à guerra.

Formou-se uma companhia de instrução em Chaves, apareceram entre 180 a 200 corrécios, coube ao então alferes Amílcar Vespeira, apoiado por um primeiro sargento de craveira excecional selecionar 120 homens, só para a soldadesca, apareceu depois mais um alferes punido, um médico e 12 cabos milicianos. O capitão Vespeira tudo me contou depois do jantar, num canto da messe, enquanto bebericávamos um uísque, e acabou toda esta descrição completamente inédita para mim do nosso quarto-camarata, eu, o Abel Rodrigues e o Magalhães Moreira tínhamos uma cama disponível onde o Vespeira ficou e acabou a sua narrativa que parecia um conto fantástico. Contou como esta gente vinda de Penamacor ou Trafaria chegava a Chaves pelo comboio da linha do Tua, como lhes foi dando a recruta básica e especializada, como se gerou uma comunicação digna entre todos, como eles se sentiram aprumados por terem feito o Juramento de Bandeira vestidos de camuflado. E partiu para a Guiné como comandante interino, o comandante nomeado nunca apareceu. Descobriu-se mais tarde que destas unidades de ensaio de corrécios só a do Vespeira vingou. Fizeram uma comissão duríssima, começaram em Buba, seguiu-se Bissorã, Olossato, não faltaram idas ao Morés, curiosamente a última etapa foi em Fá, ali tão perto de nós. Tinha muito orgulho em dizer que esta companhia operacional fora condecorada com 12 Cruzes de Guerra, a soldadesca, tanto quanto ele sabia estava a integrar-se perfeitamente na vida civil. E recebera agora a incumbência, ditada pelo próprio Spínola, de formar uma nova companhia que arrebanhava antigos agentes da polícia administrativa, milícias e caçadores nativos que por esta ou aquela razão tinham tido problemas disciplinares passados à disponibilidade e que agora manifestavam interesse em regressar ao ativo. O capitão Vespeira sorriu quando comentou que já que se estava a formar uma companhia de comandos africana cabia-lhe agora formar uma companhia de gente corrécia ou aparentada. De olho arregalado, desejei-lhe a melhor sorte.

A outra história, adorada Annette, tem a ver com o nosso excêntrico alferes sapador, quando visitava Missirá tudo queria armadilhar, até mesmo entre as fiadas de arame-farpado, nunca me entregou um documento com a localização fidedigna dos engenhos que ele colocava nas proximidades, era um zaragateiro de primeira, descobri em Bambadinca que fugia à convivência com toda a gente. Encontrei-o mais tarde em Lisboa, trabalhava então no Ministério da Educação, quando o convidei para almoçar rejeitou perentoriamente, ainda não sabia se eu tinha qualquer ligação à CIA ou ao KGB, temia estes serviços secretos, deu o pretexto de que um dia seria raptado e obrigado a voltar à missão de sapador em operações terroristas. Tens aqui, meu adorado amor, duas bizarrias que tu apalavrarás ao teu jeito de escrita.

Voltemos ao Tigre Vadio, que tanto nos fez sofrer. Fizemos uma progressão cautelosa e a escassos dez metros da nossa entrada no espaço onde se espalhavam, bem dissimuladas, as toscas moranças de guerrilheiros ou população civil, o sentinela disparou o seu RPG2, felizmente que foi atingido um pouco antes do disparo e todos os estilhaços se espalharam na vegetação, descobri depois que Sadjo Seidi fora atingido, felizmente com pouca gravidade. Desencadeou-se um ataque fulminante, guardo os sons atordoadores, os estoiros das bazucas e das diligramas, o morteiro 81 manuseado pelo cabo Queirós contribuía para gerar o pânico entre aqueles que se punham em fuga. Pôs-se Belel a arder, grito desalmadamente para que haja mais fogo sobre quem foi apanhado de surpresa e que pode querer reagir perto, é preciso afugentá-los. Vejo as armas carbonizadas, não quero que ninguém entre nas barracas a arder, sabe-se lá se não há lá granadas. O chão está juncado de cadáveres, bicicletas destruídas, pilões, peças de roupa, ainda se faz uma pequena perseguição, o melhor é retirar e a corta-mato, é o que proponho aos dois capitães, prontamente aquiesceram. Há também um ferido da companhia de caçadores de Bambadinca, um pouco mais adiante na retirada instala o pânico com um ataque de abelhas, procura-se desesperadamente uma clareira para ligar o rádio e pedir a evacuação dos feridos.

A sorte está do nosso lado, respondem com a promessa de uma evacuação em breve. É nessa espera que anda às voltas a ver o estado e que se encontra um contingente de centenas de homens, clamam por água, ninguém ignora que há muitos quilómetros a percorrer, ainda por cima é aquele emaranhado agreste de vegetação, aquele solo espalha uma poeira vermelha que entra constantemente dentro da farda, não se avista um charco, um curso de água. É então que me lembro de pedir aos capitães para aproveitando a evacuação dos feridos ir buscar garrafões de água a Bambadinca e o Teixeira informa a sede do batalhão que ponha rapidamente na pista o maior número possível de garrafões e jerricãs. Chega o helicóptero, traz um médico de Bambadinca, subo com os dois feridos e enquanto aquele pássaro metálico ganha balanço vejo um vidro partir-se, alguém disparou e acertou, um ar quente esguicha por todo o lado, vou inclinado e vejo na oblíqua a extensíssima floresta que une o Cuor ao Enxalé, sempre a baloiçar com aquela ventania quente, e assim aterramos em Bambadinca, onde os garrafões estão a chegar à pista. Aparece o comandante, dirige-se-me uma gritaria desbragada, o que me levou a interromper a operação, ela está bem, graças a Deus, precisa menos de mim e muito mais da água, se tem dúvidas embarque comigo, o comandante parece aturdido pela minha resposta, deseja-me felicidades, não as vou ter. Regressamos com os jerricãs e garrafões a dançar de um lado para o outro, num ponto estranhíssimo, e desconhecendo o piloto e eu por onde para o contingente militar com Cibo Indjai à frente com ordens para ziguezaguear os terrenos mais ásperos e sempre visando a estrada do Enxalé, o piloto manda-me descer, olhei-o de tal maneira e ele percebeu perfeitamente que eu não estava disposto a deixar-me aprisionar ou andar sozinho na mata, como herói incerto. Lá reconsiderou e deixou-me no Xime com toda aquela água que não serviu para dessedentar aqueles 300 homens com quem não houvera possibilidade de comunicar.

Meu adorado amor, podes imaginar como passei o resto da tarde e a noite, ao amanhecer assisto à chegada de toda a tropa em esgotamento físico e psicológico. A todos peço desculpa por não lhes ter feito chegado a água prometida. E regressamos a Bambadinca. Quando mais tarde recebemos a mensagem do comandante-chefe a congratular-se com os resultados da operação, ninguém se sentiu ufano, era melhor ter chegado a água a tempo e horas. Convoquei os meus soldados na manhã seguinte, abracei todos aqueles bravos com o maior apreço, tinham sido eles que destruíram Belel, pela primeira vez tropa apeada entrara e saíra do corredor do Oio, em Belel, como vencedores. Estou fisicamente mal, e sinto que regressaram os problemas psicológicos. Os pés estão inchados, interrogo-me se não cheguei ao esgotamento. Somos mandados para a ponte do rio Undunduma, adoeci, o major de operações diz que espera o meu restabelecimento para breve, está na forja uma nova operação. Pela primeira e única vez vou sofrer de paludismo, não me dá tremores nem vómitos, é a pele a gotejar, dias a fio com arrepios, continuo a beber litradas de água para não desidratar, tapo-me com dois cobertores nestes dias quentíssimos.

Annette adorée, continuo a fazer um esboço das nossas férias, tenho a promessa dos meus filhos, eles acompanharão Jules na sua estada em Lisboa. Não sei se decorrente da rememoração da operação Tigre Vadio e dos suplícios que nos provocou, me interrogo agora se é justo (não falo na prudência de procurarmos ter uma velhice financeiramente equilibrada e onde possamos apoiar os nossos filhos) viver o nosso amor a conta-gotas, resigno-me a saber que me privilegias com o teu amor tão intacto, que reverencio. Mils bisous plus a million de bisous, Paulo.

(continua)

Um dos meus mais queridos amigos, Mamadu Djao, bazuqueiro de elite, coube-lhe a ingrata missão de aguentar o caos em Canturé, em 15 de outubro de 1969, depois de uma mina anticarro, regressei com crianças a Finete, daqui partiu auxílio, e segui para Bambadinca onde os meus camaradas se multiplicaram em solidariedade. Em 1990, quando o visitei pela primeira vez, apareceu-me vestido à europeia e estava plenamente convencido de que eu o vinha buscar e viria trabalhar para Lisboa, comovi-me profundamente com a confiança que ele depositava em mim
Fodé Dahaba, imagens tiradas a primeira em Lisboa, quando estava a tratar as suas amputações decorrentes do sinistro de 22 de fevereiro de 1969, a segunda tirada em Santa Helena, onde dormi enquanto me fui despedir dos meus soldados, em 2010, é o olhar de um cego que continua a recordar a bela amizade que se cruzou nas nossas vidas
Uma tentativa de mostrar ao leitor o itinerário da Operação Tigre Vadio, a travessia do Geba em vários pontos, concentração em Missirá, percurso até perto do rio Salá, inflexão para Quebá Jilá, notícia da existência de uma grande queimada entre Quebá Jilã e Madina, contraordem do major de operações para seguir para Belel o conjunto dos dois destacamentos, entrada em Belel passava das duas horas da tarde, foi destruída a base, capturado algum equipamento e pronta a retirada a corta-mato descendo em direção à estrada do Enxalé, começava o inferno das insolações e da sede
Quartel de Bambadinca, o edifício em frente mostra as instalações do Comando e alguns serviços, os quartos dos oficiais e a messe, trata-se de um edifício em U, a outra extensão eram as instalações dos sargentos e na continuação, do lado direito, a manutenção de viaturas, a delegação da engenharia e outros serviços; em frente ao grande U, a capela
Cartaz do filme Doze Indomáveis Patifes, realizado por Robert Aldrich, inspirado no romance The Dirty Dozen de E. M. Nathanson
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22453: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (65): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22470: Meu pai, meu velho, meu camarada (66): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Lazareto [?] > Novembro de 1941 > "Em diligência no paiol [?], eu e 30 colegas. Eu, ao centro”… Pormenor do grupo: ao centro. Luís Henriques está assinalado com um retângulo a amarelo. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Num dos funerais que cá se realizou , ao passar nas salinas (?) em São Vicente. 1942. Luis Henriques" Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > No dia 15 de Fevereiro de 1942, os três amigos íntimos [, da direita para a esquerda,] Luís Henriques, António F. Delgado e José Leonardo... os três bigodinhos, à revelia do RDM,  querem é dizer que têm bigode... discreto, à Clark Gable (1901-1960)... [Eram três 1ºs cabos inseparáveis, todos da mesma companhia, sendo o José Leonardo, da Serra do Calvo, Lourinhã: emigrará depois para a América onde irá faleceu]. Foto: arquivo da família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Foto: arquivo da família



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > "Duas secções [. Menos de um pelotão,] em diligência. No paiol, São Vicente, novembro de 1941. Luis Henriques". Pormenor da foto anterior: o 1º cabo inf Luís Henriques é o segundo a contar da direita para a esquerda. Foto: arquivo da família


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Novembro de 1941. "(Ao fundo, navio italiano) Para as refeições [ilegível] nos juntávamos todos os 30 [do pelotão]". [Ao lado esquerdo, um grupo de miúdos, à espera dos restos...]. Foto: arquivo de família.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de família.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Lembrando, no centenário do seu nascimento,
 a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, 
o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte IV




Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > 1941 > Luís Henriques.
1º Cabo Inf da 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5. unidade mais tarde
integrada no RI 2.  Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943.  
Foto: arquivo de família.



4.  Figura muita popular e querida da sua terra natal, Lourinhã, e ainda ali  lembrado com saudade, nasceu há 101 anos,  em 19 de agosto de 1920 e morreu com 91 anos, os últimos cinco dos quais passados no Lar e Centro de Dia de N. Sra da Guia, na Atalaia. Foi um pequeno empresário (sapateiro), seccionista e treinador de futebol de camadas jovens do SC Lourinhanse (, de que era,antes de morrer, o sócio nº 1). 

Devido à pandemia de Covid-19, a família e os amigos  tiveram  que adiar a singela homenagem que tencionavam fazer-lhe, no dia 22 agosto de 2020, no centenário do seu nascimento. Também não será ainda neste ano da (des)graça de 2021, que essa homenagem se fará. Mas a família, no próximo domingo, irá recordar, em cerimónia privada, a sua figura: faria ontem 101 anos, se fosse vivo. Vamos continuar a publicar uma série de postes que já preparados, há um ano,  sobre a sua história de vida,  para publicação no nosso blogue  (*)


 
O RI 23 foi constituído em Cabo Verde, na Ilha de S. Vicente, sob o comando do Brigadeiro Augusto Martins Nogueira Soares (Agosto de 1941 a Dezembro de 1944). Faziam parte deste regimento as seguintes unidades (**):

  • 1 Batalhão do RI 5 (Caldas Rainha) ( a que pertencia o Luís Henriques e outros camaradas, naturais do concelho da Lourinhã)
  • 1 Batalhão do RI 7 (Leiria)
  • 1 Batalhão do RI 15 (Tomar)
  • Bateria de Artilharia Costa 1
  • Bateria de Artilharia Costa 2
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 9,4 cm
  • Bateria Artilharia Contra Aeronaves 4 cm
  • Bateria de Referenciação, a 2 Divisões
  • 2ª Companhia de Sapadores Mineiros do Regimento de Engenharia 2

Ao RI 23 pertenciam ainda os seguintes serviços de apoio:

  • Parque de Engenharia
  • Secção de Padaria
  • Depósito de Subsistências e Material
  • Laboratório de Análise de Águas
  • Hospital Militar Principal de Cabo Verde
  • Depósito Sanitário
  • Tribunal Militar

À semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos).

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época.

Em Cabo Verde chegou a temer-se a invasão dos alemães, dado o valor estratégico do arquipélago, à semelhança do arquipélago dos Açores, cobiçado pelos aliados. Quantas vezes me falava disso, o “meu pai, meu velho, meu camarada”... Ele, que simpatizava com os Aliados, falava-me da presença discreta dos alemães na ilha: chegaram a fazer um desafio de futebol com a tripulação de um navio alemão (, não posso afirmar se civil ou militar). E antes do reforço do nosso dispositivo de defesa da ilha de São Vicente e Santo Antão, o que só começa a ocorrer em meados de 1941, os submarinos alemãs eram com relativa frequência avistados ao la largo da ilha de São Vicente,e  das que estão mais próximas (Santo Antão, São Nicolau mas também Santiago) (Vd. Adriono Miranda Lima - Forças Expedicionárias  a Cbo Verde na II Guerra Mundial, edião de autor, Tipografia S. Vicente, Mindelo, 2020,  pp. 105 e ss.)

No Mindelo, tal como em Lisboa, havia espiões de um lado e do outro, alemães, italianos, ingleses, portugueses... E terá sido nesta época de fome, de guerra e de desgraça que se começou a desenvolver o nacionalismo cabo-verdiano que estará na origem do futuro PAIGC, fundado e liderado por Amílcar Cabral (a partir de 1956).

Só havia “vapor” (barco), com mantimentos e correio, de dois em dois meses… A saudade da terra era mitigada pela presença de diversos lourinhanenses, o furriel miliciano Caxaria, o Jaime Filipe, ambos da Atalaia, o Boaventura Horta, da Lourinhã, o Leonardo, da Serra do Calvo, e outros, que pertenciam à mesma unidade (RI 23, constituído na Ilha de São Vicente, 1941/44). 

Todos, infelizmente, já falecidos, o último, o António Caxaria, com 102 anos (**)... Já há não sobreviventes dessa geração... Para mais, foi uma geração sem cronistas. É uma pena que as suas memórias desapareçam com a sua morte física, a  morte física nossos pais, últimos soldados do império tal como nós... Mas todos eles trouxeram consigo algumas lembranças da ilha, e nomeadamente fotografias do célebre estúdio Foto Melo... 

Enfim, estas pequenas histórias que aqui se deixam, do Luís Henriques e outros "expedicionários",  fazem parte da história comum de Portugal e Cabo Verde (**)...

Numa época de elevado analfabetismo (, mais de 40% dos homens no grupo etário dos 20-24 anos, em 1940, eram analfabetos!), o Luís Henriques sacrificava, com gosto, os seus tempos livres, escrevendo dezenas de cartas por semana em nome de muitos dos seus camaradas. Aos 91 anos ainda se lembrava dos números de tropa (!) de alguns dos seus camaradas, dos seus nomes completos e até das moradas (!) para onde enviava as cartas.

Em nome do Fortunato Borda d'Água, do Cercal, Azambuja, por exemplo, chegava a escrever 22 cartas por semana... O Fortunato tinha duas namoradas, uma morena e outra loura, "uma que chorava ao pé da mãe dele, e outra que se ria, em plena rua" (sic)... O meu pai um dia teve que o ajudar a decidir-se:

- Ó Fortunato, afinal de quem é que tu gostas mais ? Com quem queres casar, quando voltares à terra ? Quem é que vai a ser a mãe dos teus filhos ? A que se ri, na rua, ou a que chora no ombro da tua mãe ?...

- Ó Luís, claro que é da que chora np ombro da minha mãezinha...que eu gosto mais.

Durante anos, visitaram-se mutuamente.

Lembrava-se também dos nomes e de algumas histórias dos seus oficiais, alguns, bem “prussianos, militaristas, germanófilos”, de acordo com figurino da época, um deles herói da Guerra de Espanha, "com as pernas todas furadas por balas" (sic)...

Lembrava-se até dos resultados dos renhidos torneios de futebol e de voleibol que se realizavam no Lazareto, entre o Mindelo e o Monte Cara, entre tropas de diferentes subunidades... e em que ele participava. 

Claro, lembrava-se das praias e dos tubarões, dos navios, e até dos espiões (que lá também os havia, como em Lisboa, ao serviço de um lado ou do outro das potências beligerante)... E a chegada de qualquer navio era uma festa, tanto para os expedicionários como para os naturais da ilha...Chegou a ir a bordo de um navio da marinha mercante para estar com um vizinho, membro da tripulação, que era natural de uma povoação vizinha da Lourinhã (, Atougia da Baleia, se não erro).

Ia a missa aos domingos, como bom católico. E tinha uma menina, uma "Bia", que gostava dele, encontravam-se na igreja de N. Sra. Luz... O sonho das raparigas da ilha era arranjar um namorado metropolitano e sair daquela miséria...

Tinha o bom hábito de ler. Tinha uma bela caligrafia e uma escrita com desenvoltura. Fez a 4ª classe com 9 anos, e começou logo trabalhar. Era bom em números... No Mindelo, escreverá centenas e centenas de cartas, em nome daqueles que na época (e eram muitos...) não sabiam ler e escrever... Escrevia uma média de 20 e tal cartas por semana...

Muitas vezes eram os próprios rapazes cabo-verdianos, engraxadores de rua, escolarizados, alguns estudantes do liceu Gil Eanes (o único que havia nas ilhas, e cujo reitor era um professor goês, culto...) que liam as cartas recebidas pelos expedicionários, metropolitanos, analfabetos... Que triste ironia!... 

Para mais numa época de pavorosa seca e epidemia de fome que roubou a vida a milhares de cabo-verdianos (cerca de 25 mil) (**)... Apesar de menos sentida na ilha de São Vicente do que nas outras ilhas, a fome foi também aqui mitigada graças à solidariedade dos "nossos pais, nossos velhos, nossos camaradas"...

Mas, coisa linda e fantástica, os ex-expedicionários de Cabo Verde desta época continuaram a encontrar-se durante muitos e muitos anos, até à década de 1990... O meu velhote costumava ir aos encontros do 1º Batalhão do RI 5, nas Caldas da Rainha... até que as pernas começarem a fraquejar  e a maior parte deles, dos seus camaradas, acabou por morrer.  O António Caxaria  costumava dar-lhe boleia,de carro (***). 

O mesmo se passava com os outros regimentos: RI 7 (Leiria), RI (11 (Setúbal), RI 15 (Tomar)... Cabo Verde ficou-lhes no coração para sempre...

Capa do romance de Manuel Ferreira (1917-1992), que fazia parte da exposição comemorativa
do 1º centenário do escritor Manuel Ferreira (1917-1992), também ele expedicionário em São Vicente, neste período, com o posto de furriel miliciano


O autor de "Hora di Bai" (1962) era natural da Gândara dos Olivais, Leiria, onde tenho amigos e familiares que o conheceram em vida. Morreu em Linda a Velha, Oeiras.

Expedicionário do RI 7 (Leiria), o fur mil Manuel Ferreira (1917-1992), futuro capitão SGE e escritor, conheceu, no Liceu Gil Eanes, aquela que virá a ser a sua muher e mãe dos seus filhos, também ela escritora, notável contista, Orlanda Amarílis (1924-2014). Ambos frequentavam este liceu. Orlanda era colega de turma do Amílcar Cabral (1924-1973) ... A família de Amílcar Cabral mudou-se para o Mindelo em 1937: é de todo provável que nos dois anos e tal que lé esteve, entre julho de 1941 e setembro de 1943, o meu pai se tenha cruzado com o futuro dirigente do PAIGC.

Manuel Ferreira acabou por ficar seis anos no Mindelo (1941-1947) e ser um dos cofundadores e animadores da revista literária "Certeza" (1944), de vida efémera mas com grande impacto na vida cultural da ilha.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Dia 14 de agosto [de 1942], data gloriosa para a nossa gente lusa (Aljubarrota). Recordando essa data em Mindelo com o içar da bandeira nacional junto ao liceu Gil Eanes e marchando o regimento de infantaria 5 nas ruas da cidade". Foto: arquivo de família.

É um edifício com história, hoje conhecido como Liceu Velho... A elite do Mindelo passou por aqui... O liceu Gil Eanes (antes, Infante Dom Henrique) funcionou aqui de 1938 a 1968. A sua construção data de meados do séc. XIX. Teve vários usos, além de estabelecimento de ensino, foi quartel e correios...



A seca e a fome que assolaram Cabo Verde nessa época, e que fizeram milhares e milhares de mortos (inspirando o romance de Manuel Ferreira (1917-1992), “Hora di Bai”, publicado em 1962), tiveram impacto na consciência de bom português, bom cristão e bom lourinhanense, que era o 1º cabo Luís Henriques. O seu "impedido", o Joãozinho, que ele alimentava com as suas próprias sobras do rancho, também ele morreria, de fome e de doença, em meados de 1943.

Ainda se comovia, passados tantos anos, ao dizer-me que deu à família do miúdo todo o dinheiro que tinha em seu poder (c. de 16$00) - na altura, estava hospitalizado -, para ajudá-la nas despesas do enterro. 

Lembro-me de ele me dizer que um 1º cabo, em comissão em Cabo Verde, ganhava na época qualquer coisa como 130$00 por mês... De volta à metrópole, não terá mais do que 200$00 ou 300$00 no bolso. Para ele o dinheiro “nunca foi fêmea”...

Para se ter um ideia do valor do dinheiro nessa época de racionamento alimentar e especulação de preços dos géneros mais essenciais, podemos acrescentar o seguinte: 

(i) um quilo de bacalhau, em 1943, no Porto, custava 10$40, preço tabelado, ou 16$00, no mercado negro; 

(ii) um quilo de arroz, em 1941, na Guarda variava entre os 2$80, preço tabelado, e os 4$00, no mercado negro; 

(iii) o preço de um litro de azeite, em 1941, na Guarda, variava entre os 7$50 (azeite corrente) e os 8$50 (azeite extra), mas no mercado negro os preços podiam atingir 3, 4 ou 5 vezes mas;

(iv) um assalariado agrícola, na década de 1950, dez anos depois, não ganhava mais do que 20$00.

Numa população, como a do Mindelo, que não devia ultrapassar os 15 mil habitantes, a passar por graves problemas como o desemprego crónica, a seca, a fome e a emigração forçada, a presença de mais de 3300 “expedicionários” na ilha, entre 1941 e 1944, teve um grande impacto, com aspetos positivos e negativos (Vd. o livro do nosso camarada Adriano  Lima, 2020)(**). Manuel Ferreira, por ex., refere o seguinte, no seu livro “Morabeza” (1ª edição, 1958):

“Durante a última guerra, com a presença da tropa, o ritmo da vida do arquipélago, em muitos aspetos foi alterado, e daí terem surgido várias mornas alusivas a factos que mais chocaram a população, principalmente a de São Vicente [B.leza, pseudónimo de Xavier Cruz, compôs uma morna intitulada “punhal de vingança” onde refere que as moças agora só se encantam com “furrié”]. [p. 30]

 [ Citado por João Serra, in: 4 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra). Disponível em https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/06/guine-6174-p175007-memoria-dos-lugares.html   ]

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:

22 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21282: Meu pai, meu velho, meu camarada (65): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte III


(**) Vd. também:

14 de junho de  2021  > Guiné 61/74 - P22279: Notas de leitura (1361): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima; Março de 2020, Edição de Autor (Mário Beja Santos)

11 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21346: Notas de leitura (1306): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", livro de Adriano Miranda Lima (edição de autor, Mindelo, 2020, 241 pp.): a história escrita com paixão, memória e coração (José Martins)

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22469: Blogues da nossa blogosfera (162): Um modelo de comparação - Um piropo dirigido ao Cap PilAv Miguel Pessoa, publicado no Blogue da Tabanca do Centro


Com a devida vénia ao nosso camarada Miguel Pessoa (Coronel PilAv Ref, ex-Capitão PilAv da BA 12 - Bissalanca, 1972/74) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1306, ali publicado, onde o Miguel, Oficial do Quadro Permanente da Força Aérea Portuguesa, se confessa lisongeado por um "piropo" que lhe foi dirigido por um militar daquele Ramo das Nossas Forças Armadas, quando o equiparou, pelo seu relacionamento e camaradagem, a um Oficial Miliciano.

Também ficamos a saber que o então nosso Tenente Piloto Aviador Miguel Pessoa ainda foi Capitão nos últimos 8 meses da sua comissão de serviço na Guiné.


UM MODELO DE COMPARAÇÃO

UM PIROPO...

Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.

Por outro lado, o ambiente na Esquadra dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de evacuação.

Embora com as limitações decorrentes desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.

Lembro-me de, a convite de um deles, ter assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios por eles organizados.

Como ponto forte deste tempo relembro a recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha recuperação na sequência do abate do meu avião.

Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa:
- “O Senhor Capitão(*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”


Miguel Pessoa

(*) - Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974...

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22434: Blogues da nossa blogosfera (161): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (5): Garraiada na Monumental Arena do Real Solar Esquadrão - 1972 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (154): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

 
Pormenor da imagem, reduzida a preto e branco, da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.). (Com a devida vénia ao autor e editora...).


1. Comentários aos poste P22463 (*)

 
(i) Valdemar Queiroz:

Que me desculpe Pedro Marquês de Sousa, ilustre autor deste livro.

A imagem da capa do livro parece ser em instrução, "prá fotografia", ou não sendo, a escolha da fotografia para capa é de escolha propositada para demonstrar o que nunca se deveria fazer e evitar mortos entre os próprios militares (?).

Naquela estrada de campo aberto e plano, a coluna só podia ter sido atacada de um dos lados, por isso a NT só deveria estar do lado do ataque e não dos dois lados da estrada. Nem o IN e muito menos a NT queria ser atingida pelo seu próprio fogo. (**)

17 de agosto de 2021 às 23:32

(ii)  Tabanca Grande Luís Graça:

O Valdemar "não brinca em serviço", esta sempre no seu "posto de observação" e tem um "olho clínico" como poucos... Esta sempre atento ao pequeno erro ou lapso que escapa ao comum dos leitores.

Não sei de quem é a responsabilidade da escolha da capa. Muitas vezes é tarefa que o autor declina à editora...

O autor, que eu saúdo, não tem felizmente idade para ter andado nas "guerras de África"... Esta imagem não passa de uma encenação... O fotógrafo está em cima de um veículo... O que se vê ao fundo é uma autometralhadora ligeira Fox, com dois militares, o condutor e o apontador,  "de peito feito as balas"... Os "infantes" (tropa metropolitana e africana) "fingem" tomar posição na berma da picada, de um lado e do outro... Parece ser uma foto de Angola, tirada "na reinação" para o pessoal mandar às namoradas...

É a minha primeira leitura, feita às 5 da manhã, no "escritório" do WC...

18 de agosto de 2021 às 05:11

 (iii) Valdemar Queiroz: 

Luís, o mais certo é ser uma "reinação".

Mas, o tema do "Os Números da Guerra de África" é um assunto muito sério e quem ver a capa e não tenha sido periquito ao papagaio sabichão fica alarmado com um 'coitados, assim caiam que nem tordos'. Calhando até foi esta a ideia da capa.

A propósito daquele capim, numa operação com dois pelotões da minha CART 11, tivemos de caminhar em fila pelo meio do capim por um carreiro, que os nossos soldados fulas conseguiram descobrir só possível em tempo de seca. Não me lembro porquê, deixe de ver o pessoal que vinha atrás de mim e fiquei uns segundos à espera, depois nem os de trás apareciam nem conseguia ver os da frente. Fiquei perdido meia dúzia de segundos, meia dúzia de aflitivos segundos.

18 de agosto de 2021 às 13:09


 Capa do livro do tenente-coronel Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp. Disponível nas livrarias a partir de 24 do corrente. (*)
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 24 de julho de 2021  > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (146): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

Guiné 61/74 - P22467: Parabéns a você (1984): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça