quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26288: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (32): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte II



Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 6


Foto nº 7A

Foto nº 7


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > Julho de 1974 >   Visita a Fulacunda  de um bigrupo do PAIGC, comandado por Bunca Dabó


Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]

1. Aqui vai o segunda parte das fotos do Jorge Pinto, relativas à visita, a Fulacunda de um bigrupo do PAIGC.
 
O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 57 referências no blogue ] tem um excelente álbum fotográfico do seu tempo de Guiné, e em especial de Fulacunda, região de Quínara, álbum q1ue merece uma revisita, com reedição das suas melhores fotos, nesta série (*).


(i) Estas fotos, da  Parte II,  retratam a primeira visita dos militares do PAIGC à tabanca de Fulacunda, com destaque para a 5ª e 6ª fotos, onde a população ouve atentamente o comissário politico, sobre as "mudanças" que se avizinham.

(ii) Nesta sessão também é visível o Administrador da Circunscrição de Fulacundfa,  o sr, Norberto  (Fotos nº 5 r 5A) ;
 
(iii) Na última foto (nº 7) vê-se, à entrada da messe de oficiais, o comandante de bigrupo, Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

JPinto


2. Na altra, em 2016,  os comentadores do P15818 puseram algumas questões pertinentes, incluindo o "colon" António Rosinha (que vê mais longe só com um olho, do que nós de binóculos) (*):

(i) Antº Rosinha

(...) "Estas fotos dos guerrilheiros com Jorge Pinto, assim como as de outros militares que após o 25 de Abril noutros posts, já foram mostradas aqui, mereciam um album. É que essas fotos falam em altos gritos. Aqueles rostos são eloquentes.


"É que todas as fotos, de uma maneira geral, mostram-nos "brancos", alegres, descontraídos, desarmados, eufóricos e ao mesmo tempo tranquilos. E mostram-nos "negros" armados, preparados para a guerra, incrédulos e indecisos, sem disposição de abandonar a guerra.


"Claro que como eu também vi os guerrilheiros do MPLA, da UNITA e da FNLA em Angola, e o semblante de quem sabe que a guerra ia piorar, e estavam dispostos a matar ou morrer, por isso, todas estas fotos me confirmam sempre aquilo que eu sempre digo. O MPLA e o PAIGC, não era no "tuga" que viam o seu grande inimigo, e sabiam que a guerra ia continuar sem o 'colon'. Até hoje ainda não largaram as armas, embora disfarcem. E até dentro dos próprios movimentos, precisavam de se armar, para se protegerem uns dos outros".(**)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 09:10:00 WET

(ii) Luís Graça


(...) Jorge, há camaradas do teu tempo que ainda têm relutância em mostrar estas fotos, no nosso blogue. Há sempre algum receio de crítica por parte dos pares, sobretudo pelos "velhinhos" que apanharam os duros anos do iníco da guerra ou que combateram o PAIGC no tempo de Spínola, como eu...

Sei que expor estas fotos, é também expor-nos... Mas seria uma pena não as publicar, e mais, vê-las no contentor do lixo... Não é desonra nenhuma "posar" para a fotografia com o "inimigo de ontem"... Acontece/aconteceu em muitas guerras que, como tudo na vida humana, chegam a um fim... E mais difícil, se calhar, é saber fazer a paz do que continuar a guerra...

Além do mais, fazes questão de dizer que quem veio ao vosso encontro foi o bigrupo do Bunca Dabo, não foram vocês que foram ter com eles... Não sei se a desconfiança era só de um lado... O que estariam a pensar os nossos camaradas africanas que optaram pelo "nosso lado" e a quem o PAIGC chamava, na sua propaganda, os "cães dos colonialistas" ? E eram fulas, mandingas, balantas, manjacos, biafadas, felupes, etc., como os seus "irmãos" do outro lado....

Ao mesmo tempo também há curiosidade, mútua, em "conhecer o outro" que nos combatia, que se calhar nos teve, no mato, debaixo da mira da Simonov, ou da Kalash ou do RPG... ou despejou carregadores de G3 contra o "sacana" emboscado por detrás daquele bagabaga, junto da aquele bissilão na orla da mata, na picada que ia ter à bolanha e ao rio, naquele dia e naquela hora, lembras-te, camarada ?...

Tens de explicar à gente donde veio exatamente este bigrupo... Há um tipo estranho, de farda amarela (?), com um gorro (ou "protetor de cabeça" ?), e pistola à cintura, à "cowboy", que tanto pode ser um apontador de RPG (segura um tubo), como poderia ser um eventual tripulante de uma viatura blindada (Vd. Foto nº 1 )...

Parece-me de todo improvável que este bigrupo, mesmo em julho de 1974, fosse "autotransportado"... Pelo que se percebe das fotos, tu foste com eles ao "porto de Fulacunda", nas turísticas viaturas da tropa a que no meu tempo chamávamos Unimog... Quando íamos para os "safaris", íamos de Unimog, 404 ou 411 (o célebre "burrinho")...

Temos que perceber (e até aceitar) as "cautelas" da "tropa" do PAIGC... A assinatura do acordo de Argel, ainda vem longe: se não erro, os políticos só "assinam a paz" em 25 de agosto de 1974... Até lá, a "paz foi-se construindo", com encontros como este e outros que se realizaram por todo o território...

Por fim, puxa pelos neurónios e confirma que o "caixa d'óculos", o Bunca Dabó, era mesmo o comandante... Olha que ele tem mais cara de comissário político, e pelo que eu tenho lido eram mais os comissários políticos que faziam os primeiros contactos e aproximações à NT, no pós-25 de abril. (...=


(iii) José Manuel Matos Dinis (1948-2021):

(...) Compreendo a satisfação da NT que nunca gostou da guerra, mas não se deixou amedrontar por ela, e gostaria de formular uma questão: na época dos retratos ainda estava por assinar o armistício e ainda se vivia em regime de guerra contra a guerrilha. 

Não seria plausível a entrada de guerrilheiros armados nas instalações militares, e como já vimos por outras descrições, por vezes até com arrogância. A descontracção mostrada pelas NT, demonstra que sabiam não correr riscos. A questão é a seguinte: o MFA da Guiné ter-vos-á dado indicações para confraternizar com o IN antecipando o fim da guerra, ou cada uma das unidades visitadas fê-lo por conta própria.
É que só vejo uma de duas possibilidades, e gostaria de ser esclarecido.
Abraços

(iv)  Antº Rosinha:

Em Abril de 1974, no caso de Angola, os movimentos já não tinham grande receio da tropa metropolitana. Só se aproximaram das populações e das cidades depois de Agosto, mas sempre armados, e sem à vontade e até com sensação de envergonhados.

Mas o grande receio deles era encontrarem-se com os movimentos adversários pelo que começaram imediatamente aos tiros esporádicos.

Entretanto eu peguei nos meus caixotes de retornado e em Novembro/74 já não assisti a mais nada em Angola. Mas faço ideia o que se teria passado com sobas e comandos africanos, que sabiam que eles se iam portar como terroristas com todas as letras, ou alguêm duvidava?

No caso da Guiné, já sabemos que o receio levou-os a criar as valas comuns para os comandos africanos de Spínola e alguns régulos.

Para mim, aquele ar com que se apresentam nas fotos já diz em parte o espírito com que chegaram junto do povo. Ajustar contas!

Mas, essa cara que vemos nas fotos que devia ser de alegria e abraços pelo menos junto do povo, continuava a mesma cara estranha, passados vários anos, nos quartéis em Brá e na rua.

Só devemos falar sobre aquilo a que assistimos, mas passados tantos anos a estudar, e a ouvir testemunhos, já podemos fazer afirmações e deduções que podem ficar para a história.(,,,)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 13:27:00 WET 
 
(v) Luís Graça:

(...) Não façamos uma leitura tão "imediatista", redutora, linear... destas imagens. Todos temos, os seres humanos, um "rosto" e uma "máscara"... O rosto é "aquilo que somos", a "máscara" é o rosto retocado, melhorado ou não, manipulado, com que nos apresentamos aos outros... É no espaço que medeia o rosto e a máscara que está a verdade...

Quem, como o Rosinha, viveu largos anos em África (,eu só vivi dois...) sabe qual é a importância da máscara nas culturas africanas... 


(vi) Antº Rosinha:

Luís Graça, eu não vejo aqui qualquer máscara, vejo apenas gente armada sem qualquer ideia de paz.

Os africanos, entre eles, demonstram sentimentos de satisfação, ou de convivência, de uma maneira instintiva. e de uma maneira irresistível, quer dançando, quer batendo palmas, quer apertando a mão e se forem mais velhos, fazendo vénias respeitosas.

Em variadíssimas fotografias pós 25 de Abril, que aqui já foram exibidas nunca vimos demonstrações de júbilo entre o povo e os guerrilheiros.

Eu não vejo nada que não esteja à vista de todos os por aqui passam frequentemente. Penso eu.

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 17:48:00 WET

(vii) C. Martins:

Então foi assim...  malta das NT ficou contente porque antevia, finalmente, o final da guerra e o regresso a "no terra".

Nos "gajos" do PAIGC notava-se uma certa desconfiança sobre "tudo e todos"..não sabiam qual seria o futuro (deles), Quem mandava eram os "comissários políticos", os restantes "eram carne para canhão"

A população andava apreensiva e com razão.

Quanto aos elementos das NT locais tiveram reacções diferentes consoante as funções que desempenharam... Concretamente na arma de artilharia não se passou nada, reeceberam o pré a que tinham direito, passaram à disponibilidade e foram à sua vida. (...)

quinta-feira, 3 de março de 2016 às 22:48:00 WET 


(viii) Joáo Candeias Silva (1950-2022)

(...) Vou relatar o que se passou comigo no CIM, Bolama, no dia 1º de Maio de 1974, altura em que já ia a caminho do meu 25 mês na Guiné. 

Um Major de nome Lima, que julgo foi substituir o "célebre" major Coutinho, era o diretor de instrução e por quem os instrutores não morriam de amores, veio nesse dia "autorizar" quem quisesse participar numa manifestação do PAIGC na cidade. 

Não fui, nem conheci ninguém que lhe tivesse "obedecido". Desconheço se o major Lima era membro do MFA, pelo perfil militar demonstrado até aquela altura e depois eu considerava-o um ultra. (...)


3. Jorge Pinto procurou, na altura, responder5 a algumas das nossas questões, comentando (*):

(...) Em 1972/74, Fulacunda é uma tabanca totalmente isolada. A única picada transitada era a que servia de acesso ao porto de reabastecimento e que distava uns 4/5 Klms.

 O referido grupo do Bunca Dabó, pelo que sei, patrulhava/circulava a zona entre Fulacunda e os rios Corubal e Geba e por isso flagelava/atacava Fulacunda de vez em quando.

A visita deste grupo, composto por cerca de 50 elementos a Fulacunda, durante 1 dia, foi programada e preparada, mas desconheço pormenores. Sei, apenas que o mesmo já tinha acontecido noutras localidades da Guiné.

Naturalmente que a população de Fulacunda recebeu estes guerrilheiros, que vinham fortemente armados, em grande tensão. As fotos 5 e , demonstram isso.

A "exigência" da ida ao porto de Fulacunda, no mesmo dia da visita, considerei-a inútil, pois não fomos fazer nem ver nada de novo. Nesta viagem de 4/5 Klms iam cerca de 15 (guerrilheiros), bem armados, conforme fotos demonstram. 

Da parte das NT ia eu, um furriel e o cabo condutor, totalmente desarmados. Nenhum elemento da população nos acompanhou. Esta ficou dentro do recinto que era cercado por arame farpado conversando com os restantes elementos do PAIGC. 

As fotos  retratam a saída da Tabanca para o Porto.  As outras são tiradas no próprio porto.


4. Comentário do editor LG:

Jorge, já há tempos levantei esta questão: conmtinuo a ter dúvidas se o comandante... será mesmo o comandante ou o comissário político ? É um "caixa d' óculos", tem ar "citadino", de "intlectual", parece demasiado novo para ser comandante...  

Imagino que ainda seja "periquito", novato, devida ter ter vindo da URSS, ou da Europa de leste, ou de Conacri, ou do liceu de Bissau, ou de Dacar... E, pelo apelido, seria um biafada... Portanto, jogava em cada... Fumo seu cigarro, tem uma pistola Tokarev à cintura, e farda à medida...(Tdem piada, o oPAIGC nãopo usava fardas camufladas, mas sim fardas tipo nº 3, como as nossas, ditas de "trabalho"; quem seria o fornecedor ?)

E mais outra dúvida me assalta: como é que aquele homem (parece-me novo demais para andar naquela guerra há muito tempo...), se sentiria, uns tempos antes, atacando Fulacunda onde provavelmente teria parentes ?... 

 Enfim, reflexões serôdios de um "tuga" que passou, há mais de meia centena de anos, por tabancas fulas, mandingas, balantas, biafadas e andou no mato aos tiros contra homens armados de Kalash, "costureinhas" e de RGP, e já se interrogava, "in loco", nessa altura, em 1969/71, sobre o raio do sentido da guerra, em geral, e daquela guerra, em particular...

 "Guerra de libertação" ou "guerra civil" ?... Guerra, "tout court", meu estúpido, dizia ele, para os botões da sua farda camuflada... (não havia mais com quem conversar, nas penosas e dolorosas operações no mato).

O que te terão dito, Jorge, nessa altura, os teus habitantes de Fulacunda que estavam sob a tua proteção?... Em tempo de peste, fome e de guerra, bispo, comissário político, senhor da guerra, comandante de bigrupo, chefe de posto, e tropa... são tudo a mesma coisa, mensageiros de desgraça e de morte... "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (Luís de Camões)... 

O que será feito deste Dabó ? E dos outros Dabós, comandantes e comissários políticos, a "nomenclatura" do PAIGC ?... Passaram â "peluda", como nós... Se não sabiam fazer mais nada, o que foram fazer ?

E da tua tropa que passou por Fulacunda ? E daquela pobre gente que lá "vivia" em Fulacunda, e que era "tão portuguesa",dizia a propaganda das NT,  como os tipos da tua terra, Turquel, Alcobaça ? Ou que vivia no "mato" a que o Bunca Dabó chamava "zona libertada" ?  Será que passaram a ter "o leite e o mel" da Terra Prometida ?

(Seleçãpo, revisáo / fixação de tyecxto, reedição das fotos: LG)
  
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(**) Vd.  poste de 3 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15818: (De)caras (32): Visita a Fulacunda, em julho de 1974, de Bunca Dabó e do seu bigrupo, "armado até aos dentes"... (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74)

Guiné 61/74 - P26287: Os 50 Anos do 25 de Abril (33): O "virar da página" da revista católica "Flama", cujo diretor era o António dos Reis, bispo de Mardassuma e capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975) - Parte III

 


(Flama, separata, pag.XII)






"Nos prédios crcundantes do Lago do Carmo, soldados tomam posições estratégicas nos telhados.  A população também pocura todas as posições de onde pudesse  ver os mais pequenos pormenores do desenrolar dos acontecimentso que conduziram à rendição incondicional do ex-Presidene do Conselho"
(Flama, separata, 10/5/1974, pág.XII)


"O povo sobe, com as colunas militares, a rua Garret, em direção ao Largo do Carmo. O cerco a fechar-se. Panhards (...): o insólito para mlhares de portugueses menores de 47 anos." (Flama, separata, 10/5/1974,  pág.XIII)




"O captão Maia, da Escola Prática de Cavalaria  (Santarém), que teve funções destacadas no cerco ao Largo Carmo, anuncia aos milhares de manifestantes a iminente chegada do general António de Spínola, que ali receberia a rendição de Marcelo Caetano". (Flama,separata, 10/5/1974, pág. XIII)


"A alegria dos soldados só pede meças à da população, que sempre os vitoriou como atuênticos libertadores"


"Nos acessos aos Largo do Carmo, todos se acunulam (inclusive nos veículos militares) para assistir à mais mportantes das ações do Movmento" (Flama,separata, 10/5/1974, pág. XIV)





"Os momentos mais importantes de um regime de quarenta e sete anos desenrolaram-se no Carmo em cujo quartel da GNR se refugiou o professor Marcelo Caetano. Impaciente a multidão, foi necessário acalmá-la através de megafones". (Flama,separata, 10/5/1974, pág. XV)


"Ao entardecer do dia 25 de Abril, o general Spínola chegava ao Largo do Rato.onde foi desusadamente ovacionado pela grande massa de público. Pouco depois de o general Spínola ter entrado no quartel d GNR, o ex-presidente saía do seu último reduto na chaimite "Bula", sob custódia, rumo a instalações militares na Pontinha" (Flama, separata, 10/5/1974, pág. XVII)



"Junto do edificío da PIDE/DGS viveram-se longas horas de tensão antes que a rendição fosse pedida incondicionalmente" (Flama, separata, 10/5/1974, pág. XVIII)






"Aquartelados na sede daquela que foi uma das mais tenebrosas  organizações de um regime que durou quase meio século, agentes da PIDE/DGS fazaim frente ao cerco que lhes era movido. Mais do que defender um regime, defendiam a pele, conscientes - por uma vez -  da repulsa que provocaram, desde sempre, na população que violentaram.  E esta, pertinaz, manteve-se firme nos postos 'conquistados'  ns ruas limítrofes de onde podia alcançar o fechar do cerco pelas Forças Armadas que terminou, felizmente, em rendição" (Flama, separata, 10/5/1974, pág. XIX)



"O maior foco de resistència ao Movimento das Forças Armadas foi a PIDE/DGS, por virtude da qual foi derramado sangue. Cercados por efetivos do Exército, a que se juntaram fuzileitos da Marinha, os polícias políticos resistiram durante  toda a noite do dia 25, continuaram pelo dia 26, acabando por render-se às primeiras horas de 27. A evacuação dos agentes detidos não foi fácil, pois a população não arredava pé, exigindo vingança por suas próprias mãos". 
(Flama,separata, 10/5/1974, pág. XX)



"Quem tivesse pensado que as Forças Armadas acabariam por ceder ao cansaço e à falta de alimentos, enganou-se. Por toda a parte, onde eles estiveram, estava também um gesto de carinho da população." (Flama, separata, 10/5/1974, pág. XXI)

Fonte: Flama: revista semanal de actualidades, nº 1366, ano XXXI, 10 de maio de 1974, XXXII páginas. (Cortesia da Hemerateca Digital / Câmara Municipal de Lisboa)


(Seleção, revisão / fixação de texto, reedição das imagens: LG)


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos da separata que o semanário "Flama" dedicou, tardiamente, em edição de 10 de maio de 1974, ao histórico dia de 25 de Abril. 

É  um belíssimo trabalho de fotojornalismo. Não sabemos quem são os autores de cada uma das fotos, algumas de grande interesse documental e de qualidade estética. Mas vê-se que estavam a trabalhar, pela primeira vez, sem o medo da censura. São da equipa de reportagem da "Flama" , António Xavier, António Vidal e Carlos Gil, grandes profissionais, talvez menos conhecidos do grande público que o Alfredo Cunha e o Eduardo Gageiro, mas nem por isso menos merecedores do nosso apreço, gratidão e homenagem.
 
(Continua)

Guiné 61/74 - P26286: Parabéns a você (2338): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

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Nota do editor

Último post da série de 15 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26266: Parabéns a você (2337): Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1971/74)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26285: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (7): Mensagens natalícias de José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381; Grã-Tabanqueiro José Carlos Mussá Biai; Grã-Tabanqueiro Patrício Ribeiro, fundador da Impar em Bissau e Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659


1. Mensagem natalícia do nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70):

Caros amigos Luís e Carlos
É tempo de Natal.
Como eu gostava que fosse Natal todos os dias! Pensando bem, sempre que cometemos uma boa ação e muitas vezes nem damos por ela, estamos a fazer Natal.
Às vezes basta um sorriso, uma palavra, um abraço, uma atitude de carinho. Qualquer coisa que faça a pessoa sentir-se feliz. Isto é Natal, mas...
Quando chega o tempo de Natal, lá vamos nós à memória buscar os nomes, as imagens que retemos de amigos(as) que passaram por nós e não foram sós, pois alguma coisa ficou e alguma coisa levaram. Eis-nos a pensar e a escrever desejando-lhe um SANTO E FELIZ NATAL. Aquele Natal que todos os anos a sociedade do consumismo nos tenta atrair e quantas vezes caímos na tentação!

Gosto mais do Natal dos simples. O Natal de todos os dias, mas...
Como estamos em tempo de Natal, que quer dizer: Paz e amizade, Amor e compreensão. Carinho e atitudes que reflitam a amizade que nos faz sentir felizes, aqui estou a desejar a vocês e família querida, e a todos os camaradas que estão unidos no Blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné, um NATAL FELIZ, onde a boa disposição, a paz, a saúde e o bem-estar estejam bem presentes.

Um abraço do
Zé Teixeira


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2. Mensagem natalícia do nosso amigo Grã-Tabanqueiro José Carlos Mussá Biai, um dos nossos meninos do Xime:

Muito bom dia, Meu Caro Luís Graça
Espero e desejo que se encontre bem de saúde.
Venho através da presente mensagem desejar a todos o membros, colaboradores e leitores de LUISGRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ um Santo e Feliz Natal e um Próspero Ano de 2025 com muita saúde e felicidades junto das suas famílias.

Um grande abraço,
José C. Mussá Biai


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3. Votos de Boas Festas de Patrício Ribeiro, ex-fuzileiro em Angola (1969/72), a viver na Guiné-Bissau, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda.

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4. Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Fernandes Alves, ex-Fur Mil da CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68):

Carlos Vinhal, HOMEM GRANDE Luís Graça,assim como todos os obreiros deste blogue e todos dos que fazem parte dele, não esquecendo os respectivos familiares.
Desejo a todos um Feliz Natal e um Bom Ano 2025 cheio de muita saúde e felicidades.
Aproveito esta mensagem para fazer a minha prova de vida.

Um grande abraço para todos
Joaquim F. Alves
(ZORBA) - Gadamael e Ganturé CART 1659 (1967/1968)

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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26284: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (6): Mensagem natalícia de Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil da CART 2479/CART 11

Guiné 61/74 - P26284: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (6): Mensagem natalícia de Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil da CART 2479/CART 11


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil da CART 2479/CART 11, (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70): 

Caros amigos e camaradas da guerra na Guiné.
É com grande entusiasmo que vos desejo BOAS FESTAS, embora não esteja de boa saúde, ainda cá estou e sem me esquecer da rapaziada que esteve na guerra da Guiné há mais de meio século.
Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo 2025 com saúde, assim como para todos os seus familiares.
Anexo a imagem de um presépio que bem podia ter sido feito no nosso tempo, em terras africanas.
Também anexo páginas da História da Unidade, ainda como CART 2479 (só no início do ano 1980 passamos a CART 11) reportando o NATAL de 1969, com a Companhia sediada no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, mas em intervenção com pelotões por várias tabancas do Leste.
Eu com o meu 4.º Pelotão passámos o Natal em Canquelifá, mas por incrível que seja não me lembro como se passou esse dia, com a exceção da actuação de um conjunto musical que chegou de Bissau, que o baterista pôs os africanos do público em delírio.
No dia de Natal recebemos a presença do Comandante do Agrupamento da região, assim como na noite de Natal também estiveram na sede da Companhia em Nova Lamego
Abraço e saúde da boa para todos
Valdemar Queiroz

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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26283: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (5): Mensagem natalícia de Joaquim Costa, ex-Fur Mil API da CCAV 8351

Guiné 61/74 - P26283: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (5): Mensagem natalícia de Joaquim Costa, ex-Fur Mil API da CCAV 8351



1.
Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Costa, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Inf da CCAV 8351 - "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


PARA TODOS OS TABANQUEIROS E SUAS FAMÍLIAS
UM NATAL FELIZ E UM 2025 COM MUITA PAZ

LEMBRANDO O (VERDADEIRO) NATAL


É o pinheiro “roubado”
Os penedos tosquiados
O azevinho sagrado
Da linda moura encantada.

É bonecada que renasce
O musgo que lhe dá chão
A manjedoura que se aquece
É o presépio que nasce.

É as sopas que o vinho aquece
É a doçura sem doces
Mexidos com padre nossos
É o milagre que o pão tece.

É o cheiro que a canela enaltece
O milagre do esparguete em doce
Rabanadas que embebedam
E vinho fino que enobrece.

É da salgadeira p’ra devinha
O porco que alimentei
Bacalhau do miudinho
Mais espinha que lombinho.

É noite das lamparinas
Nunca mais é amanhã
Correndo para a chaminé
Chocolate e tangerinas.

É o rapa, depois a missa
Para os pezinhos beijar
Beija uma, beija duas,
Beija até o galo cantar.

É a roupa velha quentinha
Como eu gosto, meu Deus!
Pena que seja a “girândola”
A anunciar o ADEUS.


(Joaquim Costa)

Guiné 61/74 - P26282: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (4): Mensagem natalícia de João Crisóstomo, ex-Alf Mil da CCAÇ 1439


1. Mensagem natalícia do nosso amigo e camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil da CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Caríssimos Luís Graça, Carlos Vinhal, Helder Valério, Luís Lomba, Valdemar Queiroz, Eduardo Francisco, Beja Santos, Carlos Silva…

É-me quase impossível mandar as Boas Festas individualmente, como gostaria, pelo que tem de ser em grupos.
Ontem consegui contactar o nosso camarada Lopes que há anos, depois de 50 anos, encontrei de novo num encontro em Porto Dinheiro. Agora fiquei/estou desolado que ele se encontre com Parkinson, já adiantado. Se, como dizem e acredita muita gente, bons augúrios de amigos ajudam em situações assim, unamo-nos num abraço virtual neste momento.

E não nos esqueçamos que o Natal está à porta.

Dentro do possível, que os próximos dias sejam de “Festejar a vida, o estarmos aqui e querermos permanecer; (…) brindar o prazer de estarmos juntos e de vibrar em sintonia”, (usando palavras da jornalista Christiana Martins, em artigo no "Expresso Curto” de 12/12/2024). Dias de “coração ao alto”: que “quem canta seus males espanta”.

De coração, os meus sinceros votos para esta época festiva: Um Feliz Natal! E um Feliz Ano Novo também.
João e Vilma

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Nota do editor

Último post da série de 17 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26277: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (3): Mensagens natalícias de José Firmino, Tony Boré, Rui Silva, António Ramalho, Manuel Rei Vilar e Artur Conceição

Guiné 61/74 - P26281: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (3)

Alf Mil Op Especiais Ramiro Figueira
Foto 14 – A preparar uma saída com o meu grupo. Atrás de mim, a meter a bala na câmara, o furriel Gonçalves. Mais atrás à direita os furriéis Ferreira (4.º grupo) e Sousa
Foto 15 – O alferes Garcia prepara uma saída com o seu grupo (o 2.º grupo)
Foto 16 – Antes da saída para o reabastecimento em Lala, uma fotografia para o “ronco”… Da esquerda para a direita em cima: Um furriel fotocine que nos visitava, eu de MG42 na mão, o capelão Rui no papel de municiador. Sentados também da esquerda para a direita: o Fenando, um soldado do meu grupo, o furriel Filipe, que foi gravemente ferido num ataque terrível em DEZ 1972, um condutor que não recordo o nome e o alferes Garcia
Foto 17 – Na picada a caminho de Lala
Foto 18 – Chegaram as LDM com o reabastecimento
Foto 19 – A grande confusão no descarregamento das LDM e canoas
Foto 20 – A visita da Cilinha a Nova Sintra. Deu o pontapé no início do jogo. Está ao meu lado, do lado esquerdo da Cilinha o condutor Monteiro, infelizmente não me recordo do nome dos outros. A Cilinha tinha chegado na véspera, dormiu em Nova Sintra e partiu de heli no dia deste jogo
Foto 21 – Eu e o furriel Elias, infelizmente já não entre nós. Atrás o Monteiro. Fotografia tirada a bordo da LDG que nos levou a Bissau, de onde seguimos para o Cumeré, em Julho de 1974

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26257: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (2)

Guiné 61/74 - P26280: Humor de caserna (88): Será que no Pu...erto, no Natal de 2024, ainda se fala "grosso" como no nosso tempo da tropa ? Aqui vai um excerto do "dicionário Lisboa-Porto" (com a devida vénia ao doutor José João Almeida, da Universidade do Minho, autor desse livro meritório e patriótico , que é o "Dicionário de Calão e Expressões Idiomáticas", Lx., Guerra e Paz, 2019, 192 pp.)

1. Na Guiné toda malta do Sul (genericamente, os "mouros") achavam piada aos nossos camaradas do "Pu...erto" e arredores, o mesmo era dizer do Norte.  

Nesse tempo viajava-se pouco. Afinal, quem tinha carro ? E graveto ? E estaleca ? E namorada a 300 km de distância ? 

A malta só se conhecia quando havia guerra, e os do Sul iam pró Norte e os do Norte pró Sul... Era preciso a tropa (e a guerra) para uns e outros começarem  a gostar-se mutuamente, a namorar-se (salvo seja!), a casar e a misturar os genes... 

A emigração também foi um bom laboratório para a miscegenação: uns e outros encontravam-se em Paris, Luxemburgo, Estrasburgo, Toulouse, Lyon, Bruxelas, Toronto, Nova Jérsia, etc. 

E antes disso a CP - Caminhos de Ferro de Portugal... Aponta aí a CP, que uniu o Norte e o Sul, o litoral e o interior...Os gaj0s de Baião iam p'ró Barreiro e os da Fuseta para o Pocinho... Factores, manobradores, um ou outro maquinista, chefe de estação, revisor, inspetor, etc.

E, não sejamos injustos, o Movimento Nacional Feminino e os milhões de madrinhas de guerra que a "Cilinha" arranjou para os nossos bravos do Ultramar...600 milhões de cartas e aerograms baralharam línguas, corações, SPM, topónimos, rua, largos, praças, pracetas, lugares, casaism aldeias, vilas, cidades... E às tantas eles elas já trocavam os pés pelas mãos, e os vês pelos bês...E as alftacinhas passaram a amar o Porto que os primos e amigos, com dor de corno, diziam que era uma cidade de granito, escura, austera, suja e fria...

De facto, até então, até à tropa, até ao grande êxodo rural, até à emigração, à CP e a à Cilinha,  quem é que, do Sul, sabia onde ficava a Pasteleira e a Ribeira?!... E os gajos do Norte ainda não tinham o mapa do Google, nem muito menos GPS,  para descobrir a localização do Casal Ventoso ou de Alfama ou de Cacilhas... 

Resultado: o desconhecimento mútuo era atroz, alfacinhas e tripeiros falavam sozinhos quando, de repente, embarcaram nos T/T Niassa, Uíge, Ana Malfada, etc.,  a caminho da Guiné... E viram-se à brocha, de G3 em punho contra as Kalash do 'Nino'...

Mas uma vez lá, aprenderam a falar crioulo, p0nto de partida para começarem a entender-se minimamente... embora com recurso, de vez em quando, ao "Dicionário de calão e expressões idiomáticas" (Lisboa, Editora Guerra e Paz, 2019, 192 pp),  do José João Almeida, da Universidade do Minho, finalmente editado em livro, uma obra meritória e patriótica, que há 50/60 anos ou mais deveria já a ser livro obrigatório na Academia Militar, bem como nos centros de instrução militar...

Em formato digital, em pdf, a obra está também disponível (para os falantes, estudiosos e curiosos) em:

Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2024, 287 pp.
Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
 

2. E aqui vai um "cheirinho", uma "prendinha e Natal", tudo "por  mor" da melhoria da comunicação Norte-Sul e vice-versa... Excerto pp. 84.

dicionário Lisboa Porto

Lisboa: 

– Não tenho a certeza se vai ser possível!

 Porto: 

Nem que tu te f*das!

Lisboa: 

 – A sério? E incrível! Diria mesmo impressionante!

 Porto: 

– P*ta que o p*riu!

Lisboa: 

– Claro que isso não me preocupa!

Porto: 

Tou-me a c*g*r e a andar!

 Lisboa: 

Eu não estava envolvido nesse projeto!

 Porto: 

Mas que c*r*lho é que eu tenho a ver com essa m*rda?

 Lisboa: 

Interessante, hein?

 Porto: 

F*da-se!

 Lisboa: 

Será difícil concretizar a tarefa no tempo estipulado!

 Porto: 

Não vai dar nem que me f*da todo!

Lisboa:  

– Precisamos melhorar a comunicação interna!

Porto:

 – P*ta de m*rda!... Não há nenhum c*ralho que me responda???

 Lisboa: 

Talvez eu possa trabalhar até mais tarde!

 Porto:

 – E no c*?... Não queres levar no c* também???!!!

 Lisboa: 

Não está familiarizado com o problema!

 Porto:

 Cala-te, c*r*lho!

Lisboa: 

– Desculpe!

Porto:

 – Vai pá p*ta que te p*riu!

 Lisboa: 

 Desculpe, senhor!

 Porto: 

Vai pá p*ta que te p*riu, seu p*neleiro!

 Lisboa: 

Acho que não posso ajudar!

Porto:

 – F*de-te praí sozinho!

 Lisboa:

 Adoro desafios!

Porto:

 –  P*ta trabalhinho de c*rno!

  Lisboa:

 Finalmente reconheceram a tua competência!

 Porto: 

Foste ao c* a quem?

Lisboa: 

É necessário um treino para o pessoal antes de ligarem a máquina!

Porto: 

– Vou partir os c*rnos a quem mexer nesta m*rda!

Lisboa: 

– Eles não ficaram satisfeitos com o resultado do trabalho!

Porto: 

– Bando de filhos da p*ta!

Lisboa: 

– Por favor, refaça o trabalho!

Porto: 

Enfia  essa m*rda no c*, está uma bela m*rda!

Lisboa: 

– Precisamos reforçar nosso programa de treino!

Porto: 

– Se sei quem foi o filho da p*ta que fez isso...!

◦ Lisboa: 

E necessário melhorarmos nossos índices de produtividade!

Porto: 

E se fossem bater a p*nheta pró meio da rua???!!!

 Lisboa: 

Que pena. Teremos outra não conformidade!

Porto: 

C*r*lho! vai sair c*g*da outra vez!

Lisboa: 

Vamos negociar o projecto com mais determinação!

Porto: 

Vou enfiar isto pela goela abaixo desses filhos da p*ta!

Lisboa: 

Desculpe, eu poderia ter avisado!

Porto: 

Eu sabia que ia dar m*rda!

Lisboa: 

Os índices de produtividade da empresa estão a apresentar uma queda sensível!

Porto: 

Esta m*rda tá a ir pró c*r*lho!

Lisboa: 

Esse projecto não vai gerar o retorno previsto!

Porto: 

 Tá tudo f*dido!

(Seleção, Revisão / fixação de texto, asteriscos, negritos, itálicos: LG)


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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26274: Humor de caserna (87): A virilidade lusitana: das bagas do Sambaro ao estoicismo do Sousa (Jorge Cabral, 1944-2021)

Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Oficial de prestígio e com provas dadas em várias missões, o capitão Zacarias de Sousa Lage, então administrador do concelho de Bissau, envia para Bolama um relatório que se distingue pela linguagem franca: à exceção do presídio de Geba, em todos os outros pontos do concelho de Bissau não existia autoridade alguma: os roubos e a pirataria eram incontroláveis; dá-nos uma lista das casas comerciais existentes, o que compram e vendem; as dívidas dos contribuintes são na sua maioria inquebráveis, a administração da justiça está entregue a comerciantes que acabam por cometer graves negligências, é escandalosa a falta de um código penal; não esconde o estado deteriorado das instalações públicas, a má qualidade do ensino e a falta de recursos a nível hospitalar. Sousa Lage irá posteriormente comandar o presídio de Geba, onde teve comportamento valoroso.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14)


Mário Beja Santos

Voltamos à formalidade do movimento marítimo, dos boletins de saúde, de quem foi preso e porquê, chegadas e partidas de funcionários, a ambientação política está praticamente ausente. Mas logo em janeiro deste ano de 1888, o administrador do concelho de Bissau, Zacarias de Sousa Lage, produz um sucinto relatório sobre os diferentes ramos de serviço afetos ao seu concelho. Justifica-se a citação de parágrafos considerados bastante impressivos:
“À exceção do presídio de Geba, em todos os outros pontos do concelho não existe autoridade alguma que possa apresentar-se como delegado do Governo português.
Dificilmente se pode avaliar as dificuldades com que luta a autoridade do concelho de Bissau, quando existem pendências a resolver nos territórios sob a sua jurisdição, por não haverem ali delegados. Frequentes são os casos de roubos e piratarias aos negociantes estabelecidos; roubos estes exercidos pelas tribos Balantas, gentio de Boty, Caió e Cajegute, que não tem convívio frequente com a praça de Bissau, e em geral ficam impunes resultando o contínuo abuso.
É necessário que o Governo tenha um representante nas tribos, o qual deve ter conhecimento de causa perfeita, fornecer-lhe todos os meios para ser respeitada a autoridade sem vexame; porque se entre os povos mais avançados, gozando das melhores leis, há sempre margem para descontentamentos, não é de estranhar que os espíritos rudes e vulgares, como o do selvagem, se não conformem com o regime que nos rege.

O gentio em geral é indolente, aqui não existem indústria própria; a agricultura é representada com meia dúzia de grãos ou milho lançados no solo, numa área que cada preto cultiva não excedente a 10 ou 12 metros de circunferência: e eis aí representado o seu trabalho fatigante que não lhe dá alimentação para mais de um ou dois meses!
Finda a colheita, e enquanto se existe com que alimenta, não trabalha; findo isto, aproveita-se da riqueza que a própria natureza lhes deu, fazendo a quebra do coconote e fabricando algum azeite de palma, isto unicamente para permutar com arroz, ou fazer a compra de uma arma, resumindo-se a sua única ambição a contínuas correrias; atacando uma ou outra tribo dotada de instintos.
A agricultura, se imperasse nesta tão decadente província, cujo solo é tão fértil, riquíssimo em fauna e flora, daria, com o andar dos tempos, a riqueza do nosso mercado colonial, tão decadente hoje. Hoje, porém, ainda nada se consegue porque o atraso dos filhos da Guiné não os deixa compreender quais os deveres que cabem ao cidadão".


Referindo-se à população, comércio e navegação, depois de falar em decadência, sublinha que o comércio de Bissau tem aumentado de ano para ano, Bissau é a primeira praça da província, mantendo relações comerciais com Bolama, Cacheu, Geba e Farim e com as tribos selvagens limítrofes, muito especialmente a dos Balantas, que diariamente abastece o mercado. Na praça de Bissau existem estabelecidas diversas casas comerciais, nacionais e estrangeiras, recebendo diretamente da Europa as mercadorias e exportando os produtos do país. As casas comerciais mais importantes aqui estabelecidas são: Blanchard & Companhia, de Marselha, F. C. Butman, de Boston, B. Soller, representante de uma casa de Hamburgo, British Congo & Companhia Limited, de Liverpool, casas estas que permutam produtos coloniais desta costa que se resumem ao coconote, cera, borracha, couros de boi secos e alguma goma copal, importando em grande escala o álcool, tabaco em folha, genebra ordinária, pólvora, bretanjil, panos da costa, etc., principais artigos indispensáveis ao indígena. Estas casas entretêm operações externas e algumas delas nos próprios territórios gentílicos onde exercem um perfeito comércio de concorrência, chegando mesmo a venderem-se mercadorias por preços inferiores ao deste mercado.

Tece considerações sobre a fazenda pública, diz abertamente que a maioria das dívidas de contribuintes é incobrável, que o movimento da delegação da alfândega é grande e o pessoal é pouco em relação ao trabalho. O edifício onde se aloja a alfândega acha-se muito deteriorado e precisa de grandes consertos. Mudando para o tema da administração da justiça, refere que existe neste julgado, desde 1880, um juiz ordinário e dois substitutos por nomeação do Governo da província. “Permita-me V.ª Ex.ª que eu diga que as autoridades judiciais neste julgado quase de nada servem, por isso que, sendo este importante ramo confiado a negociantes sem que por tal encargo percebam renumeração alguma dada pelo Estado, claro está que nada mais fazem se não tratar dos seus interesses, mandando ordinariamente arquivar os autos que pela sua autoridade administrativa lhe são enviados, alegando não terem escrivão nem pessoa de confiança que possa exercer este cargo.” E solicita as providências necessárias.

O último capítulo do relatório de Zacarias Sousa Lage é dedicado à instrução pública e à administração geral. Parece útil reproduzir o que ele escreve:
“Existem duas escolas régias, sendo uma para o sexo masculino e outra para o feminino. A do sexo masculino é frequentada por um grande número de rapazes sendo o contrário a do sexo feminino. A instrução pública pouco progride por lhe faltar o principal elemento, as habilitações dos mestres, quer de um ou do outro sexo, estão muito longe de poder satisfazer o cumprimento dos seus deveres.
E infelizmente assim está paralisada a instrução, permitindo-me Sua Excelência o Governador, ser tão prolixo nas minhas observações, mas que é de urgência a reforma deste grande ramo muito especialmente nesta vila em que o número de educandos é bastante elevado. A câmara municipal deste concelho dispõe de grandes recursos e não seria oneroso ao município o inscrever no seu orçamento uma verba condigna para a manutenção de uma escola e deixar de figurar a irrisória verba orçamental de gratificação mensal de 10 mil réis pagas aos professores régios, a título de gratificação.”


O relatório termina com uma exposição sobre o serviço de saúde, desempenhado por um facultativo, dr. Albino Ribeiro, que também tinha a seu cargo o hospital. “Infelizmente, apesar do edifício ser bom, faltam-lhe os principais elementos para poder ter o fim a que é destinado. As camas da enfermaria estão em péssimo estado, desprovidas de roupas e utensílios apesar de terem decorridos poucos meses que a fazenda lhes forneceu alguns artigos, sendo urgentíssimo o fornecimento de louças, roupa e acessórios indispensáveis a um hospital. A farmácia do Estado, única aqui existente, acha-se também alojada no mesmo edifício, carece de grandes melhoramentos para assim poder funcionar como estabelecimento desta natureza. De medicamentos acha-se quase sempre desprevenida dos mais indispensáveis, apesar das contínuas requisições, e dificilmente pode dar cumprimento às exigências do público. O administrado do concelho despede-se com um Deus guarde a V.ª Ex.ª e assina em 8 de novembro de 1887".
Cartografia do rio Corubal, 1897, Comissão de Cartografia, província da Guiné
Carta da província da Guiné, distribuída na Exposição Colonial do Porto, 1934
Balanta em Festa comemorando o ano da prosperidade. Imagem retirada do site cabazgarandi4, com a devida vénia
1.ª página do relatório do capitão Zacarias de Sousa Lage relativo às campanhas de pacificação de 1890-91, era então comandante do presídio de Geba. Créditos: Fundação Mário Soares

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26256: Historiografia da presença portuguesa em África (456): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, o importante relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, Marques Geraldes, 1887 – 2 (13) (Mário Beja Santos)