Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
(ii) Nesta sessão também é visível o Administrador da Circunscrição de Fulacundfa, o sr, Norberto (Fotos nº 5 r 5A) ;
2. Na altra, em 2016, os comentadores do P15818 puseram algumas questões pertinentes, incluindo o "colon" António Rosinha (que vê mais longe só com um olho, do que nós de binóculos) (*):
(i) Antº Rosinha
(...) "Estas fotos dos guerrilheiros com Jorge Pinto, assim como as de outros militares que após o 25 de Abril noutros posts, já foram mostradas aqui, mereciam um album. É que essas fotos falam em altos gritos. Aqueles rostos são eloquentes.
"É que todas as fotos, de uma maneira geral, mostram-nos "brancos", alegres, descontraídos, desarmados, eufóricos e ao mesmo tempo tranquilos. E mostram-nos "negros" armados, preparados para a guerra, incrédulos e indecisos, sem disposição de abandonar a guerra.
"Claro que como eu também vi os guerrilheiros do MPLA, da UNITA e da FNLA em Angola, e o semblante de quem sabe que a guerra ia piorar, e estavam dispostos a matar ou morrer, por isso, todas estas fotos me confirmam sempre aquilo que eu sempre digo. O MPLA e o PAIGC, não era no "tuga" que viam o seu grande inimigo, e sabiam que a guerra ia continuar sem o 'colon'. Até hoje ainda não largaram as armas, embora disfarcem. E até dentro dos próprios movimentos, precisavam de se armar, para se protegerem uns dos outros".(**)
quinta-feira, 3 de março de 2016 às 09:10:00 WET
(ii) Luís Graça
(...) Jorge, há camaradas do teu tempo que ainda têm relutância em mostrar estas fotos, no nosso blogue. Há sempre algum receio de crítica por parte dos pares, sobretudo pelos "velhinhos" que apanharam os duros anos do iníco da guerra ou que combateram o PAIGC no tempo de Spínola, como eu...
Além do mais, fazes questão de dizer que quem veio ao vosso encontro foi o bigrupo do Bunca Dabo, não foram vocês que foram ter com eles... Não sei se a desconfiança era só de um lado... O que estariam a pensar os nossos camaradas africanas que optaram pelo "nosso lado" e a quem o PAIGC chamava, na sua propaganda, os "cães dos colonialistas" ? E eram fulas, mandingas, balantas, manjacos, biafadas, felupes, etc., como os seus "irmãos" do outro lado....
Ao mesmo tempo também há curiosidade, mútua, em "conhecer o outro" que nos combatia, que se calhar nos teve, no mato, debaixo da mira da Simonov, ou da Kalash ou do RPG... ou despejou carregadores de G3 contra o "sacana" emboscado por detrás daquele bagabaga, junto da aquele bissilão na orla da mata, na picada que ia ter à bolanha e ao rio, naquele dia e naquela hora, lembras-te, camarada ?...
Tens de explicar à gente donde veio exatamente este bigrupo... Há um tipo estranho, de farda amarela (?), com um gorro (ou "protetor de cabeça" ?), e pistola à cintura, à "cowboy", que tanto pode ser um apontador de RPG (segura um tubo), como poderia ser um eventual tripulante de uma viatura blindada (Vd. Foto nº 1 )...
Parece-me de todo improvável que este bigrupo, mesmo em julho de 1974, fosse "autotransportado"... Pelo que se percebe das fotos, tu foste com eles ao "porto de Fulacunda", nas turísticas viaturas da tropa a que no meu tempo chamávamos Unimog... Quando íamos para os "safaris", íamos de Unimog, 404 ou 411 (o célebre "burrinho")...
Temos que perceber (e até aceitar) as "cautelas" da "tropa" do PAIGC... A assinatura do acordo de Argel, ainda vem longe: se não erro, os políticos só "assinam a paz" em 25 de agosto de 1974... Até lá, a "paz foi-se construindo", com encontros como este e outros que se realizaram por todo o território...
Por fim, puxa pelos neurónios e confirma que o "caixa d'óculos", o Bunca Dabó, era mesmo o comandante... Olha que ele tem mais cara de comissário político, e pelo que eu tenho lido eram mais os comissários políticos que faziam os primeiros contactos e aproximações à NT, no pós-25 de abril. (...=
Abraços
Em Abril de 1974, no caso de Angola, os movimentos já não tinham grande receio da tropa metropolitana. Só se aproximaram das populações e das cidades depois de Agosto, mas sempre armados, e sem à vontade e até com sensação de envergonhados.
Mas o grande receio deles era encontrarem-se com os movimentos adversários pelo que começaram imediatamente aos tiros esporádicos.
Entretanto eu peguei nos meus caixotes de retornado e em Novembro/74 já não assisti a mais nada em Angola. Mas faço ideia o que se teria passado com sobas e comandos africanos, que sabiam que eles se iam portar como terroristas com todas as letras, ou alguêm duvidava?
No caso da Guiné, já sabemos que o receio levou-os a criar as valas comuns para os comandos africanos de Spínola e alguns régulos.
Para mim, aquele ar com que se apresentam nas fotos já diz em parte o espírito com que chegaram junto do povo. Ajustar contas!
Mas, essa cara que vemos nas fotos que devia ser de alegria e abraços pelo menos junto do povo, continuava a mesma cara estranha, passados vários anos, nos quartéis em Brá e na rua.
Só devemos falar sobre aquilo a que assistimos, mas passados tantos anos a estudar, e a ouvir testemunhos, já podemos fazer afirmações e deduções que podem ficar para a história.(,,,)
quinta-feira, 3 de março de 2016 às 13:27:00 WET
(v) Luís Graça:
(...) Não façamos uma leitura tão "imediatista", redutora, linear... destas imagens. Todos temos, os seres humanos, um "rosto" e uma "máscara"... O rosto é "aquilo que somos", a "máscara" é o rosto retocado, melhorado ou não, manipulado, com que nos apresentamos aos outros... É no espaço que medeia o rosto e a máscara que está a verdade...
Quem, como o Rosinha, viveu largos anos em África (,eu só vivi dois...) sabe qual é a importância da máscara nas culturas africanas...
Luís Graça, eu não vejo aqui qualquer máscara, vejo apenas gente armada sem qualquer ideia de paz.
Os africanos, entre eles, demonstram sentimentos de satisfação, ou de convivência, de uma maneira instintiva. e de uma maneira irresistível, quer dançando, quer batendo palmas, quer apertando a mão e se forem mais velhos, fazendo vénias respeitosas.
Em variadíssimas fotografias pós 25 de Abril, que aqui já foram exibidas nunca vimos demonstrações de júbilo entre o povo e os guerrilheiros.
Eu não vejo nada que não esteja à vista de todos os por aqui passam frequentemente. Penso eu.
quinta-feira, 3 de março de 2016 às 17:48:00 WET
Então foi assim... malta das NT ficou contente porque antevia, finalmente, o final da guerra e o regresso a "no terra".
Nos "gajos" do PAIGC notava-se uma certa desconfiança sobre "tudo e todos"..não sabiam qual seria o futuro (deles), Quem mandava eram os "comissários políticos", os restantes "eram carne para canhão"
A população andava apreensiva e com razão.
Quanto aos elementos das NT locais tiveram reacções diferentes consoante as funções que desempenharam... Concretamente na arma de artilharia não se passou nada, reeceberam o pré a que tinham direito, passaram à disponibilidade e foram à sua vida. (...)
quinta-feira, 3 de março de 2016 às 22:48:00 WET
(...) Vou relatar o que se passou comigo no CIM, Bolama, no dia 1º de Maio de 1974, altura em que já ia a caminho do meu 25 mês na Guiné.
(...) Em 1972/74, Fulacunda é uma tabanca totalmente isolada. A única picada transitada era a que servia de acesso ao porto de reabastecimento e que distava uns 4/5 Klms.
O referido grupo do Bunca Dabó, pelo que sei, patrulhava/circulava a zona entre Fulacunda e os rios Corubal e Geba e por isso flagelava/atacava Fulacunda de vez em quando.
Naturalmente que a população de Fulacunda recebeu estes guerrilheiros, que vinham fortemente armados, em grande tensão. As fotos 5 e , demonstram isso.
A "exigência" da ida ao porto de Fulacunda, no mesmo dia da visita, considerei-a inútil, pois não fomos fazer nem ver nada de novo. Nesta viagem de 4/5 Klms iam cerca de 15 (guerrilheiros), bem armados, conforme fotos demonstram.
(*) Último poste da série > 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26278: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I