1. Mensagem de José Rocha, camarada que nos lê em França (?), com data de 13 de Maio de 2009:
Exmo Sr. Luís
Vi o vídeo do senhor Comandante do Cop 5. É uma tristeza ter Oficiais deste calibre nas forças armadas portuguesas. Este senhor não dignificou em nada os colegas que combateram um pouco por todo lado por Portugal. É uma vergonha que o senhor Luís por várias vezes o defendeu. Publicidade para ajudar a vender o seu livro? Por vezes até tratou por cobardes aqueles que não estavam de acordo. Era bom que o vídeo fosse visto por aqueles que sempre defenderam o herói Coutinho e Lima.
Cumprimentos
José
2. Resposta de CV em 16 de Maio de 2009:
Caro Camarada José Rocha; Obrigado pelo teu contacto.
Para nos reconhecermos como verdadeiros camaradas, se não te importas, vamo-nos tratar por tu.
Fazes uma dura crítica ao Cor Coutinho e Lima, pela sua retirada de Guileje.
A esta distância, tantos anos volvidos, achamos que não é positivo condená-lo. O rumo da história deste sacrificado país acabou por tornar a retirada de Guileje mais um episódio, entre tantos. Uma coisa é certa, pouparam-se muitas vidas. A permanência naquele aquartelamento por mais tempo podia redundar numa carnificina. Quem garante o contrário? Tu?
Acusas-nos de defender o Cor Coutinho e Lima e de dar publicidade ao seu livro. Se reparares bem, não omitimos opiniões categóricas. Afinal estamos aqui para relatar as experiências dos nossos camaradas, respeitando as diferenças de opinião. Mantemo-nos equidistantes para não influenciar quem nos lê.
Vamos publicar esta tua mensagem, embora não concordando com o seu tom. Mas não confundimos o tom com o direito emitir uma opinião, e a ela tens direito.
Já agora, podias explicitar melhor a que vídeo te referes?
Esperando as tuas próximas notícias, deixamos-te um abraço fraterno.
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4340: O Nosso Livro de Visitas (61): Amizades muito especiais (Branco Alves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 16 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4354: Tabanca Grande (142): Joaquim Macau, camarada do último morto em emboscada do PAIGC (2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, Xitole, 1973)
1. Mensagem do nosso novo tertuliano Joaquim Macau, 1.º Cabo Radiotelegrafista da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, que esteve em 1973/74 no Xitole, com data de 11 de Maio de 2009:
Luís Graça, administradores e co-editores do blogue
Em 27 de Março último enviei-vos um e-mail, não sei se chegou ao destino, que agora reenvio um pouco mais desenvolvido e com algumas fotografias que documentam o que falo.
Sou, Joaquim Macau, natural e residente em Santana do Campo, uma pequena aldeia do concelho de Arraiolos, fui 1.º Cabo Radiotelegrafista e pertenci à 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, tal como os ex-alferes Renato Adrião e José Zeferino (*).
Os acontecimentos de 15 de Maio de 1974 (**) foram exactamente como eles descreveram, com uma pequena diferença, a granada de RPG que atingiu o Domingos Ribeiro (Pé de Gesso), como nós amigavelmente o tratávamos, penso que foi nas costas e não no peito, é um pormenor pouco importante ser no peito ou nas costas, recordo-me perfeitamente que a parte do corpo atingida ficou totalmente desfeita.
O Domingos já estava bem abrigado, mas ao procurar entrar em contacto com o quartel para informar do ataque e pedir reforços, o rádio AVP1 que sempre utilizavam daquela zona e em perfeitas condições, naquele fatídico dia não funcionou. O Domingos saiu do abrigo para ir ao carro buscar o RACAL, e quando já estava encostado ao carro e a tocar-lhe, foi quando a granada lhe rebentou nas costas e as desfez completamente.
Foi daquele local que outro camarada que não recordo o nome me informou do ataque que tinham sofrido, da morte do "Pé de Gesso" e vários feridos, alguns bastante graves.
Informado o Comandante da Companhia do ocorrido, partiu imediatamente outro Gr Comb para reforço e socorro das vitimas.
Após o regresso ao quartel, foi decidido pelo Comandante da Companhia, voltarmos ao local fazer o reconhecimento, o Horta e o Lourenço, salvo erro os dois telefonistas que estavam no quartel, depois de verem o estado em que ficou o corpo do Domingos, ficaram ainda mais abatidos que eu. Fui eu no lugar de um deles à zona da curva da morte, local onde aconteceu a tragédia.
Pelo que vi no local da emboscada e pelo estado em que ficou o corpo do Domingos, o Abreu dos Santos não tem razão nenhuma quando fala em precipitação e tiros longínquos.
O Domingos disponibilizava-se com frequência para sair em lugar de outro camarada qualquer, o que aconteceu várias vezes. Era serviço que fazia com algum à-vontade, mas naquele dia parecia pressentir o perigo. Quando estava a preparar o equipamento para sair, dizia-nos:
- Hoje não sei o que tenho, não me sinto bem - Parecia pressentir o que iria acontecer de seguida.
Esta fotografia é do Domingos esta à civil, mas como vêem é no quartel em Xitole. Se entenderem publicá-la, por mim não me oponho, mas não tenho permissão da família nem possibilidade de a contactar.
Fotografia do Domingos Ribeiro, Soldado de Transmissões da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, morto na emboscada de 15 de Maio de 1974
Recordam-se deste reservatório? Muitas vezes nem água tinha para um pequeno banho, para os soldados. Para Furriéis, sargentos e oficiais havia sempre água disponível, motivo de discordância e atrito sempre que não tínhamos água.
Eu, observado atentamente por um camarada de quem não sei o nome, num sítio que todos vão reconhecer.
Eu, o Horta de camuflado e o Reis de óculos escuros
Das raríssimas vezes, senão a única, que um passarito deste tipo pousou naquela pista durante a nossa curta mas desgraçada estadia em Xitole. Uma parte do pessoal das Transmissões, em primeiro plano. Da esquerda para a direita, eu, o Reis, 1.º Cabo Cripto, o Martins, 1.º Cabo Cripto e também fotógrafo, o Fur Mil de Transmissões de quem não me recordo o nome. Atrás, não tenho a certeza, mas penso ser o Lourenço Soldado de Transmissões.
Eu, em tronco nu com o 1.º Cabo Telegrafista da Companhia que fomos substituir.
Eu e o Reis junto ao retiro que herdámos.
Luís Graça, administradores e co-editores do blogue
Em 27 de Março último enviei-vos um e-mail, não sei se chegou ao destino, que agora reenvio um pouco mais desenvolvido e com algumas fotografias que documentam o que falo.
Sou, Joaquim Macau, natural e residente em Santana do Campo, uma pequena aldeia do concelho de Arraiolos, fui 1.º Cabo Radiotelegrafista e pertenci à 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616/73, tal como os ex-alferes Renato Adrião e José Zeferino (*).
Os acontecimentos de 15 de Maio de 1974 (**) foram exactamente como eles descreveram, com uma pequena diferença, a granada de RPG que atingiu o Domingos Ribeiro (Pé de Gesso), como nós amigavelmente o tratávamos, penso que foi nas costas e não no peito, é um pormenor pouco importante ser no peito ou nas costas, recordo-me perfeitamente que a parte do corpo atingida ficou totalmente desfeita.
O Domingos já estava bem abrigado, mas ao procurar entrar em contacto com o quartel para informar do ataque e pedir reforços, o rádio AVP1 que sempre utilizavam daquela zona e em perfeitas condições, naquele fatídico dia não funcionou. O Domingos saiu do abrigo para ir ao carro buscar o RACAL, e quando já estava encostado ao carro e a tocar-lhe, foi quando a granada lhe rebentou nas costas e as desfez completamente.
Foi daquele local que outro camarada que não recordo o nome me informou do ataque que tinham sofrido, da morte do "Pé de Gesso" e vários feridos, alguns bastante graves.
Informado o Comandante da Companhia do ocorrido, partiu imediatamente outro Gr Comb para reforço e socorro das vitimas.
Após o regresso ao quartel, foi decidido pelo Comandante da Companhia, voltarmos ao local fazer o reconhecimento, o Horta e o Lourenço, salvo erro os dois telefonistas que estavam no quartel, depois de verem o estado em que ficou o corpo do Domingos, ficaram ainda mais abatidos que eu. Fui eu no lugar de um deles à zona da curva da morte, local onde aconteceu a tragédia.
Pelo que vi no local da emboscada e pelo estado em que ficou o corpo do Domingos, o Abreu dos Santos não tem razão nenhuma quando fala em precipitação e tiros longínquos.
O Domingos disponibilizava-se com frequência para sair em lugar de outro camarada qualquer, o que aconteceu várias vezes. Era serviço que fazia com algum à-vontade, mas naquele dia parecia pressentir o perigo. Quando estava a preparar o equipamento para sair, dizia-nos:
- Hoje não sei o que tenho, não me sinto bem - Parecia pressentir o que iria acontecer de seguida.
Esta fotografia é do Domingos esta à civil, mas como vêem é no quartel em Xitole. Se entenderem publicá-la, por mim não me oponho, mas não tenho permissão da família nem possibilidade de a contactar.
Fotografia do Domingos Ribeiro, Soldado de Transmissões da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616, morto na emboscada de 15 de Maio de 1974
Recordam-se deste reservatório? Muitas vezes nem água tinha para um pequeno banho, para os soldados. Para Furriéis, sargentos e oficiais havia sempre água disponível, motivo de discordância e atrito sempre que não tínhamos água.
Eu, observado atentamente por um camarada de quem não sei o nome, num sítio que todos vão reconhecer.
Eu, o Horta de camuflado e o Reis de óculos escuros
Das raríssimas vezes, senão a única, que um passarito deste tipo pousou naquela pista durante a nossa curta mas desgraçada estadia em Xitole. Uma parte do pessoal das Transmissões, em primeiro plano. Da esquerda para a direita, eu, o Reis, 1.º Cabo Cripto, o Martins, 1.º Cabo Cripto e também fotógrafo, o Fur Mil de Transmissões de quem não me recordo o nome. Atrás, não tenho a certeza, mas penso ser o Lourenço Soldado de Transmissões.
Eu, em tronco nu com o 1.º Cabo Telegrafista da Companhia que fomos substituir.
Eu e o Reis junto ao retiro que herdámos.
Aos familiares do Domingos Ribeiro peço desculpa por este pequeno abuso, mas estas fotos fazem parte da história da guerra da Guiné, como tal se entenderem publicá-las estamos certamente desculpados.
Aos camaradas aqui retratados, também peço desculpa por poderem aparecer publicamente sem terem autorizado tal ousadia, mas o tempo já passado, será seguramente o melhor cirurgião plástico do mundo.
Aos administradores, editores e co-editores do blogue, se entenderem haver matéria para tal, por mim, podem usar como quiserem, continuem com o vosso árduo trabalho que ele é bastante importante para o conhecimento público da guerra na Guiné.
Para todos um grande abraço, particularmente para o pessoal da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4616,escrevam, devíamos todos, procurar uma forma de nos encontrarmos e realizarmos o nosso 1.º convívio.
Joaquim Macau
2. Comentário de CV:
Caro camarada Joaquim Macau
Bem-vindo à Tabanca.
Antes de mais, e para ficares bem na fotografia, quando puderes manda uma foto tua actual, e se tiveres por aí alguna das antigas, a partir da qual se possa fazer uma antiga tipo passe, manda-a também.
Infelizmente a tua Companhia ficou tristemente célebre pela morte do nosso camarada Domingos Ribeiro, que perdeu a vida em combate, numa emboscada, já depois do 25 de Abril. Qual era o vosso estado de espírito quando, um mês mais tarde, entregaram Xitole ao PAIGC? Como foram as vossas relações com eles?
Se nos puderes pormenorizar estas e outras interrogações, descreveres como era o dia-a-dia vivido com os nossos ex-antagonistas, como se portavam eles em relação a nós, etc.
Continuamos com poucos relatos do pós 25A. Como viveram vocês os acontecimentos?
Caro Joaquim Macau, tens aqui muito assunto para escreveres as tuas memórias.
Deixo-te, em nome da Tertúlia e dos Editores um abraço de boas-vindas. Contamos contigo.
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)
(**) Vd. postes de:
27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)
e
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2712: O Nosso Livro de Visitas (9): Picada Mansambo-Xitole: a emboscada do PAIGC, em 15 de Maio de 1974 (Renato Adrião, Austrália)
Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
Aos camaradas aqui retratados, também peço desculpa por poderem aparecer publicamente sem terem autorizado tal ousadia, mas o tempo já passado, será seguramente o melhor cirurgião plástico do mundo.
Aos administradores, editores e co-editores do blogue, se entenderem haver matéria para tal, por mim, podem usar como quiserem, continuem com o vosso árduo trabalho que ele é bastante importante para o conhecimento público da guerra na Guiné.
Para todos um grande abraço, particularmente para o pessoal da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4616,escrevam, devíamos todos, procurar uma forma de nos encontrarmos e realizarmos o nosso 1.º convívio.
Joaquim Macau
2. Comentário de CV:
Caro camarada Joaquim Macau
Bem-vindo à Tabanca.
Antes de mais, e para ficares bem na fotografia, quando puderes manda uma foto tua actual, e se tiveres por aí alguna das antigas, a partir da qual se possa fazer uma antiga tipo passe, manda-a também.
Infelizmente a tua Companhia ficou tristemente célebre pela morte do nosso camarada Domingos Ribeiro, que perdeu a vida em combate, numa emboscada, já depois do 25 de Abril. Qual era o vosso estado de espírito quando, um mês mais tarde, entregaram Xitole ao PAIGC? Como foram as vossas relações com eles?
Se nos puderes pormenorizar estas e outras interrogações, descreveres como era o dia-a-dia vivido com os nossos ex-antagonistas, como se portavam eles em relação a nós, etc.
Continuamos com poucos relatos do pós 25A. Como viveram vocês os acontecimentos?
Caro Joaquim Macau, tens aqui muito assunto para escreveres as tuas memórias.
Deixo-te, em nome da Tertúlia e dos Editores um abraço de boas-vindas. Contamos contigo.
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2565: Tabanca Grande (57): José Zeferino, Alf Mil At Inf , 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4616 (Xitole, 1973/74)
(**) Vd. postes de:
27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)
e
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2712: O Nosso Livro de Visitas (9): Picada Mansambo-Xitole: a emboscada do PAIGC, em 15 de Maio de 1974 (Renato Adrião, Austrália)
Vd. último poste da série de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar
1. Mensagem de José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73:
Junto a minha primeira história. Para ser corrigida, cortada, ou publicada se virem interesse nisso.
Com um abraço do tamanho da tabanca,
José Câmara
Memórias e histórias minhas…
Ao serviço da Pátria: a CCAÇ 3327 e PEL CAÇ NAT 56
O início do Serviço Militar
Era então o dia 29 de Novembro de 1969. A manhã acordara calma, cheia de sol, linda como a cidade da Horta, da não menos bonita ilha do Faial, Açores. Porém, uma tristeza enorme pesava em cima dos meus jovens ombros, e o coração começava a sangrar com a invasão de uma tremenda saudade: acabara de me despedir dos meus pais e irmãos que, nessa manhã, embarcaram rumo aos Estados Unidos da América.
Naquele tempo, os jovens, a partir dos 16 anos de idade, não podíam, por lei, sair do país. O auge do esforço da Guerra no Ultramar assim o exigia. Por esse motivo, naquela manhã, não pude seguir os meus familiares na rota da emigração. O meu sonho americano, como o de muitos açorianos, teria que esperar. Assim, pela primeira vez na minha curta vida, sentia-me sozinho. O serviço militar esperava por mim.
Em de Janeiro de 1970, cruzei os portões do Centro de Instrução Militar de Tavira. Nos sete meses seguintes, o Centro foi a minha casa. Lá conheci outras formas de estar na vida, criei algumas amizades. E lá senti o grande estigma da descriminação.
Findo o curso de Sargentos Milicianos, os meus camaradas continentais foram de férias, com transportes pagos pelo governo. Eu, tal como os outros açorianos e madeirenses, não tive esse direito. Fiquei por Tavira à espera de colocação.
Recruta: José Câmara, primeira linha, segundo da esquerda
Especialidade: José Câmara, segunda linha, primeiro da esquerda
Com as divisas de Cabo Miliciano, Atirador de Infantaria, fui colocado no BII19, então sediado na cidade do Funchal, Ilha da Madeira. Foi ali que, dois dias depois de lá ter chegado, recebi a notícia da minha mobilização para a Guiné. Iria juntar-me, já em rendição individual, à CCAÇ 3327, que estava em formação no BII17, Angra do Heroísmo, Terceira. Voltava, assim, aos meus amados Açores.
Quando cheguei ao BII17, a CCAÇ 3327 estava práticamente formada, e a meio da especialidade. Apenas tive que me integrar no grupo de trabalho. Finda a especialização, fui gozar as minhas férias de mobilização à ilha das Flores, freguesia da Fazenda das Lajes, terra onde nasci, e que já não visitava desde os 12 anos de idade. Tinha deixado a ilha para poder estudar no Liceu Nacional da Horta, Ilha do Faial. Os meus dez dias de férias transformaram-se, por falta de transportes marítimos, em vinte e nove dias de lazer. Mas essas férias foram muito mais que isso…Marcaram o resto da minha vida!…
Férias de Mobilização (Fazenda, Flores): Com o meus tio J. António Silveira e esposa Mariazinha
Durante as férias da mobilização conheci uma jovem de 16 anos. Falamos algumas vezes. Convidei-a para Madrinha de Guerra. Ela aceitou! Essa jovem foi o ombro onde, em sonhos, encostei muitas vezes a cabeça, e deixei escapar, em confissão, as minhas aspirações de jovem. Nesse ombro deixei rolar a maldita lágrima da saudade, ou o desespero de um dia menos bom. Nesse ombro senti o calor e o palpitar de um coração de ouro, e ouvi a voz de uma palavra amiga e de esperança. Mais tarde, nos Estados Unidos da América, voltei a encontrar a minha Madrinha de Guerra, que também emigrara para aquele país. Hoje, como nos sonhos de então, continuo a encostar a minha cabeça naquele ombro. Relembro a lágrima que lhe rolou na face, quando nos despedimos. Relembro a realidade, nua e cruel, ali no meio do mar: o barco que me levaria de volta ao continente português, e a terras de Santa Margarida para o IAO.
A Guiné esperaria um pouco mais!
José Câmara
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
Junto a minha primeira história. Para ser corrigida, cortada, ou publicada se virem interesse nisso.
Com um abraço do tamanho da tabanca,
José Câmara
Memórias e histórias minhas…
Ao serviço da Pátria: a CCAÇ 3327 e PEL CAÇ NAT 56
O início do Serviço Militar
Era então o dia 29 de Novembro de 1969. A manhã acordara calma, cheia de sol, linda como a cidade da Horta, da não menos bonita ilha do Faial, Açores. Porém, uma tristeza enorme pesava em cima dos meus jovens ombros, e o coração começava a sangrar com a invasão de uma tremenda saudade: acabara de me despedir dos meus pais e irmãos que, nessa manhã, embarcaram rumo aos Estados Unidos da América.
Naquele tempo, os jovens, a partir dos 16 anos de idade, não podíam, por lei, sair do país. O auge do esforço da Guerra no Ultramar assim o exigia. Por esse motivo, naquela manhã, não pude seguir os meus familiares na rota da emigração. O meu sonho americano, como o de muitos açorianos, teria que esperar. Assim, pela primeira vez na minha curta vida, sentia-me sozinho. O serviço militar esperava por mim.
Em de Janeiro de 1970, cruzei os portões do Centro de Instrução Militar de Tavira. Nos sete meses seguintes, o Centro foi a minha casa. Lá conheci outras formas de estar na vida, criei algumas amizades. E lá senti o grande estigma da descriminação.
Findo o curso de Sargentos Milicianos, os meus camaradas continentais foram de férias, com transportes pagos pelo governo. Eu, tal como os outros açorianos e madeirenses, não tive esse direito. Fiquei por Tavira à espera de colocação.
Recruta: José Câmara, primeira linha, segundo da esquerda
Especialidade: José Câmara, segunda linha, primeiro da esquerda
Com as divisas de Cabo Miliciano, Atirador de Infantaria, fui colocado no BII19, então sediado na cidade do Funchal, Ilha da Madeira. Foi ali que, dois dias depois de lá ter chegado, recebi a notícia da minha mobilização para a Guiné. Iria juntar-me, já em rendição individual, à CCAÇ 3327, que estava em formação no BII17, Angra do Heroísmo, Terceira. Voltava, assim, aos meus amados Açores.
Quando cheguei ao BII17, a CCAÇ 3327 estava práticamente formada, e a meio da especialidade. Apenas tive que me integrar no grupo de trabalho. Finda a especialização, fui gozar as minhas férias de mobilização à ilha das Flores, freguesia da Fazenda das Lajes, terra onde nasci, e que já não visitava desde os 12 anos de idade. Tinha deixado a ilha para poder estudar no Liceu Nacional da Horta, Ilha do Faial. Os meus dez dias de férias transformaram-se, por falta de transportes marítimos, em vinte e nove dias de lazer. Mas essas férias foram muito mais que isso…Marcaram o resto da minha vida!…
Férias de Mobilização (Fazenda, Flores): Com o meus tio J. António Silveira e esposa Mariazinha
Durante as férias da mobilização conheci uma jovem de 16 anos. Falamos algumas vezes. Convidei-a para Madrinha de Guerra. Ela aceitou! Essa jovem foi o ombro onde, em sonhos, encostei muitas vezes a cabeça, e deixei escapar, em confissão, as minhas aspirações de jovem. Nesse ombro deixei rolar a maldita lágrima da saudade, ou o desespero de um dia menos bom. Nesse ombro senti o calor e o palpitar de um coração de ouro, e ouvi a voz de uma palavra amiga e de esperança. Mais tarde, nos Estados Unidos da América, voltei a encontrar a minha Madrinha de Guerra, que também emigrara para aquele país. Hoje, como nos sonhos de então, continuo a encostar a minha cabeça naquele ombro. Relembro a lágrima que lhe rolou na face, quando nos despedimos. Relembro a realidade, nua e cruel, ali no meio do mar: o barco que me levaria de volta ao continente português, e a terras de Santa Margarida para o IAO.
A Guiné esperaria um pouco mais!
José Câmara
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4350: Tabanca Grande (141): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73)
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4352: História do BCAÇ 4612/72 (Jorge Canhão) (1): Mobilização para o C.T.I.G.
CAPÍTULO I
MOBILIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E DESLOCAMENTO
PARA O C. T. I. G
A nota circular nº 1312/PM de 29 de Março de 1972, da 1ª Repartição do Estado Maior do Exército, indica os quadros constituintes do Batalhão de Caçadores 4612, que é nomeado para intervenção no Ultramar como Unidade de reforço do C. T. I. G., em rendição do Batalhão de Caçadores nº 3832 sendo a Unidade mobilizadora, o R. I. 16, aquartelado em Évora.
No dia 10 de Julho de 1972, tem início em Évora a instrução de especialidade com a duração de sete semanas, para a grande maioria dos praças atiradores, vindos de diversos centros de instrução. Nas duas semanas anteriores e sob a orientação do Comandante do futuro Batalhão, teve lugar uma escola de quadros, destinada a oficiais e sargentos com o fim de obter o melhor aproveitamento possível da instrução que iria começar dentro de dias.
No dia 27 de Agosto de 1972, termina a instrução de especialidade, com resultados satisfatórios, tendo-se cumprido os programas superiormente aprovados. Tem então início a organização definitiva do Batalhão, com a chegada de novos elementos de várias especialidades, não atiradores.
De uma maneira geral, o efectivo do Batalhão é oriundo do Sul e Centro do País, embora como é natural possua elementos naturais de todas as regiões.
Com o Batalhão já formado e após as operações de vacinação e rádio rastreio, todo o pessoal começou a gozar em 05SET72, a licença das NNCC MU.
No dia 20SET72, com a presença de Sua Ex.ª o Brigº José Augusto Carrinho, 2º Comandante da Região Militar de Évora e perante formatura geral do Batalhão, tem lugar na parada do R. I. 16 a cerimónia de entrega do Guião à Unidade recém formada. Esta cerimónia, foi seguida de missa celebrada pelo Sr. Major Capelão do Q. G. da R. M. de Évora e a ela assistiram todos os militares do Batalhão.
Na madrugada de 28SET72, utilizando autocarros, deixam Évora em direcção ao A. B. n°1 em Lisboa, o Comando de Batalhão e a Companhia de Comando e Serviços, onde cerca das 08h45 embarcam em aviões dos TAM para Bissau. Após 4 horas de viagem sem escala, desembarcam no aeroporto de Bissalanca, onde são recebidos por um delegado de Sua Ex.ª o CMDT. CHEFE, partindo de seguida em viaturas militares, para o Campo Militar de Instrução do Cumeré, onde iria ter lugar a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional.
Nos dias 29 e 30 de Setembro e 05 de Outubro, seguindo a mesma via embarcaram respectivamente a 1ª,2ª e 3ª Companhia ficando igualmente instaladas no Campo Militar de Instrução do Cumeré.
_______________________
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Identificação
Cmdt: TCor Inf Eurico Simões Mateus
2ºCmdt: Maj Inf António Rebelo Simões
Of.Op/Adj: Cap Inf Fernando Pereira Vicente
Comandantes de Companhia
CCS: Cap SGE Adelino António Gomes
1ª Compª: Cap Mil Cav João António Dias Pereira
2.ª Compª: Cap Mil Cav Álvaro Almada Contreiras
3.ª Compª: Cap Mil Inf João Manuel de Matos e Silva Mendonça
Cap Art José Manuel Salgado Martins
Cap Mil Inf Fernando Correia da Silva Cardoso
Divisa: Dignos e Leais
Partida:
Embarque
28 Set 72 (Cmd e CCS)
29 Set 72 (1ªComp)
30 Set 72 (2ªComp)
05 Out 72 (3ªComp)
Desembarque em 28, 29, 30 Set e 05Out72
Regresso:
Embarque
26 Ago 74 (1ª e 3ª Comp)
27 Ago 74 (Cmd e CCS)
28 Ago 74 (2ª Comp)
Síntese da Actividade Operacional
Após realização da IAO no CMI, em Cumeré, de 06Out72 a 02Nov72, seguiu, em 03Nov72, para o sector de Mansoa, com as suas companhias, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 3832.
Em 28Nov72, assumiu a responsabilidade do Sector 04, com a sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Mansabá, Mansoa, Jugudul e Porto Gole e, a partir de 290ut73, o subsector de Polibaque, então criado para assegurar a protecção e segurança dos trabalhos da estrada Jugudul-Bambadinca.
Desenvolveu intensa actividade operacional, desencadeando diversas acções e operações, orientadas para as zonas de maior actividade do inimigo, nomeadamente nas áreas do Morés, Cubonge, Sara e Changalana. Simultaneamente, comandou e coordenou a actividade das subunidades do sector com patrulhamentos, reconhecimentos, batidas e emboscadas, com vista à execução dos trabalhos de construção, manutenção e controlo dos itinerários e dos reordenamentos das populações e seu desenvolvimento sócio económico.
De entre o material capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora ligeira, 4 espingardas, 1 lança-granadas foguete, 42 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 57 minas.
Em 21Ago74, foi rendido no Sector 04 pelo BCaç 4612/74, recolhendo depois a Bissau a fim de efectuar o embarque de regresso .
A 1ª Compª, após efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3303 na região de Porto Gole, assumiu, em 29Nov72, a responsabilidade do referido subsector de Porto Gole, com um pelotão destacado em Bissá, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão e depois do BCaç 4612/74.
Em 26Ago74, já na fase de retracção do dispositivo, foi substituída em Porto Gole e Bissá por pelotões da 1ª Comp/BCaç 4616/73 e recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
A 2ª Compª, após efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3304 na região de Jugudul, assumiu, em 28Nov72, a responsabilidade do respectivo subsector, com pelotões destacados em Rossum, Uaque e Bindoro, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 23Ago74, efectuou a desactivação e entrega ao PAIGC do destacamento de Bindoro e foi substituída por efectivos da CCaç 4745/73 nos restantes aquartelamentos em 27Ago74, com a extinção do subsector de Jugudul e consequente integração da respectiva área no subsector de Mansoa, após o que recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
A 3ª Compª, após efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3305 na região de Mansoa, assumiu em 28Nov72, a responsabilidade do respectivo subsector, com destacamentos em Infandre e Braia, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 18Jun73, foi substituída pela CCaç 4641/72 e foi atribuída em reforço temporário do COP 5 seguindo para Gadamael e onde se manteve até 13Jul73.
Em 20Jul73, foi novamente colocada em Mansoa, agora na função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando na dependência do COT 9 e, após a extinção deste, do seu batalhão.
Em 26Jun74, substituindo a CCaç 4641/72, assumiu a responsabilidade do subsector de Mansoa, com pelotões destacados em Infandre e Braia.
Após desactivação e entrega ao PAIGC em 23Ago74, do aquartelamento de Infandre, foi rendida no subsector de Mansoa em 25Ago74, pela CCaç 4745/ 73 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
Observações
Tem História da Unidade (Caixa nº 114 – 2ªDiv/4 Sec.do AHM).
BAIXAS MORTAIS (6)
CCS (1)
01 Novembro 1973
Soldado maqueiro nm 03226972, António Emídio Ribeiro da Silva (natural de Povoa de Cadaval, freguesia de Lamas, concelho de Cadaval).
Morto em acidente de motorizada em Mansoa
1ª Cª Caçadores (3)
14 Setembro 1973
Soldado atir. inf.nm 00483872, Fernando Manuel Correia Rodrigues (natural de Sobrado, freguesia Mire de Tibães, concelho de Braga).
Soldado apont.morteiro nm 18169071,José de Almeida (natural da freguesia Ucanha, concelho de Tarouca).
Soldado radiotel.nm 00871072,Miguel de Sousa Vieira (natural do Arrepiado, freguesia de Carregado, concelho de Chamusca).
Mortos em combate em Porto Gole.
3ª Cª Caçadores (2)
11 Maio 1974
Furriel Miliciano atir.inf.nm 02449871,José Fernando Felisberto Pinheiro (natural da freguesia de Santo Condestável – Lisboa).
Morto em combate na região do Sara/Mansoa.
18 Outubro 1974
Soldado atir.inf.nm 08826772, Oldegário Alberto da Cruz Libório (Faro).
Morreu em Lisboa, por acidente com arma de fogo em Mansoa.
Louvores e Punições
|
DETENÇÕES + PRISÕES + OUTRAS E LOUVORES
Companhia
|
DETENÇÕES +PRISÕES + OUTRAS
|
LOUVORES
|
C.C.S.
|
47
|
38
|
1ªCCAÇ
|
16
|
10
|
2ªCCAÇ
|
26
|
30
|
3ªCCAÇ
|
05
|
03
|
TOTAL
|
94
|
81
|
(Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72)
Subscrever:
Mensagens (Atom)