1. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, com data de 1 de Novembro de 2008
Amigos e Camaradas
Estava com disposição de contar algo sobre a minha estada em Chão Manjaco e saíu-me a prosa que se segue.
Apsico a funcionar em Teixeira Pinto
Quando da minha apresentação, citei numerosos nomes de povoações, a maioria dos quais do Chão Manjaco, que levaram até a questionar o que saberia sobre o fatídico dia da morte dos Três Majores nesse Chão. Claro que, sobre esse acontecimento, só sei o que é do conhecimento geral, uma vez que nessa época andava por terras do Chão Balanta.
Já me referi, sobre a história da minha passagem por MANSABÁ, como acordei e acabei por ser colocado no CAOP 1 em TEIXEIRA PINTO. Como disse então, creio que foi com uma ajudinha directa ao então Comandante desse Agrupamento que na altura se encontrava de férias na Metrópole, mas, como agora quem poderia confirmar já cá não mora e, valha a verdade, depois de regressar não mais quis pensar nesses assuntos, não sei exactamente como ocorreu o facto.
A verdade é que pouco mais de 15 dias depois de me ter apresentado na CArt 2732 recebi a Nota n.º 7007/A, de 15MAR71 da 1.ª REP, dando-me conhecimento da colocação no CAOP 1 em substituição do Cap. Pinto de Lima, mandando-me apresentar logo que seja desnecessário. Estes amaldiçoados formalismos vertidos naquela expressão fizeram com que o nosso brilhante co-editor Carlos Vinhal tivesse que aguentar por mais uns tempos este desajeitado ex-Capitão
Assim em 04MAI71 saí às 6 horas da manhã de BISSAU para TEIXEIRA PINTO, numa coluna que atravessando o Rio Mansoa na jangada em JOÃO LANDIM cerca das 6h30m chegou ao seu destino cerca das 13 horas.
Tratando-se dum percurso para mim desconhecido – depois de JOÃO LANDIM com rumo a Norte apanhava-se a bifurcação antes de BULA, onde não se entrava e, rumando para Oeste passava-se por CÓ, PELUNDO e finalmente a nova casa – sempre em estrada bem asfaltada e de bermas bem desmatadas, mas a verdade é que, mesmo não conhecendo tal itinerário, já não senti qualquer emoção como tinha sentido cerca de 15 meses antes quando pela 1.ª vez rumei a MANSOA.
A verdade é que agora já era naturalmente um velho e não um reles periquito virgem nestas andanças. Os meus olhos já não vasculhavam para todo o lado à espera de ver aparecer a todo o momento os ferozes turras. Preocupado? Sempre. Mas agora, encarando com naturalidade e uma grande frieza a realidade duma paisagem desertificada, sem tão pouco saborear a possível beleza que, em circunstâncias de normalidade poderia usufruir.
A minha estadia neste Agrupamento não se comparou em nada com o restante tempo passado até aí nas outras localidades, dada a natureza das funções que passei a desempenhar e a aparente calma que se vivia. No entanto o meu alheamento por tudo que me cercava mantinha-se, raramente entrecortado por lapsos de lucidez.
Para me posicionar e enquadrar quem ler estas recordações esclarecerei que, quando cheguei o CAOP 1 tinha por Cmdt o Cor Art Gaspar P. de C. Freitas do Amaral, mais tarde substituído pelo Cor Pára Rafael F. Durão e lembro-me do Maj CEM Inocentes – Chefe do EM –, Maj CEM Barroco – Of Op (?) –, Cap Art Borges – Adj Of Op e meu camarada de quarto –, havendo possivelmente mais um que não recordo. Perdoem-me todos os outros, Alf e Fur do CAOP propriamente dito, mas de quem já não tenho na lembrança.
Passei a ser adjunto do Of Inf e Acap/Pop (?), o Maj Santos Costa, ficando com as tarefas relacionadas com os assuntos da Acap/Pop e assim, tendo deixado a G-3 ou qualquer outra arma, passei a empunhar lápis e bloco de notas de forma a documentar-me sobre os encontros que se efectuavam com as populações e os chefes das mesmas, anotar as preocupações, queixas, os avanços e atrasos na execução das obras planeadas e depois, no gabinete, redigir actas das reuniões e relatórios para serem remetidos ao COMCHEFE.
Depois deste intróito o que hoje quero recordar são 3 factos, de natureza desportiva, inseridos no âmbito das actividades da APSICO, ocorridos durante a minha permanência.
O 1.º diz respeito a uma prova de ciclismo organizada pelo CAOP – a 1.ª, não sabendo se posteriormente se realizou mais alguma – naquela localidade e designada por Circuito de Teixeira Pinto, da qual guardo 2 fotografias (tiradas por quem?) já bastantes deterioradas, mas que envio em anexo para que ajuízem da possibilidade de serem apresentadas.
Teve lugar esta prova no dia 12SET71, Domingo, como não podia deixar de ser e acerca dela transcrevo as parcas notas que constam da Agenda.
[Circuito T. Pinto -/9 inscritos. 15 voltas à Avenida, 24 km/1h 5m, por cima de lama, água e sob um calor tórrido. (10,15 -11,20). 1.º Abdul Karim (Pel.)]
Portanto e esclarecendo melhor, este circuito que decorreu na Avenida Central, constou de 15 voltas à mesma perfazendo um total de cerca de 24 km, tendo sido realizado em 1h05m, pelo menos pelo vencedor que foi um tal Abdul Karim (não sei se o nome estará correctamente grafado) do PELUNDO. Os inscritos teriam sido 9, segundo a nota, ainda que pela foto estejam alinhados à partida 10 (?).
A prova contou, como não podia deixar de ser, com a presença das Autoridades – Militares, Civis, Religiosas e Tribais – tendo-se iniciado às 10h15m e terminado às 11h20m. Como refiro a pista estava toda enlameada, cheia de poças de água – ainda visíveis nas fotos – e o calor era já elevado, condições aliás próprias da época (estava-se na época das chuvas).
As bicicletas eram as vulgares pasteleiras, como todos se devem lembrar, já muito usadas, mas que nem por isso fazia desanimar os concorrentes, como se pode observar, naqueles momentos antes da partida mais interessados quiçá a sonhar qual deles se transformaria no herói, face à inúmera assistência que povoava os passeios, mas principalmente perante as bajudas presentes!
Se as fotos puderem ser recuperadas, nelas se observarão alguns dos aspectos que enumerei, desde o ar descontraído – algum mais concentrado – dos concorrentes e suas maravilhosas máquinas, passando pelo terreno e o tipo de avenida que era de 2 faixas com separador central, até à numerosa assistência que emoldurava os passeios e não só, pois até no telhado duma casa em construção (?) se empoleiraram para ver melhor.
São visíveis 3 militares dos quais, admito que o de calções seja o Maj Inocentes, enquanto sobre os outros 2, apesar de perfil e postura de andar dum deles se parecer comigo, não ouso fazer qualquer sugestão. Só posso garantir que estava presente.
Finalmente tenho que confessar e, mais uma vez isto sucede, sempre que visiono estas fotografias me interrogo. Será que estive mesmo nestas paragens? Não teria sido um sonho? É que não tenho a mínima ideia daquilo que vejo. É como se nunca tivesse pisado aquela rua e, no entanto, nem eu sei quantas as dezenas de vezes que percorri aqueles cerca de 1600 metros da avenida fosse de jeep, Unimog ou mesmo a pé.
É isto que mostra o verdadeiro estado de alma em que me encontrava. Andava por ali, impessoal, aéreo, olhando, mas não vendo, qual sonâmbulo deambulando por entre a multidão e a paisagem. Por isso tudo aquilo se esfumou rapidamente, quando, naquela fase, devia ser o contrário. Se era a zona mais tranquila por onde passei, devia ser aquela cujas recordações mais perdurassem. Mas afinal não foi assim. Vá-se lá saber porquê.
Já quando logo no principio de 2007 li "Diário da Guiné. Lama, Sangue e Água Pura" do António Graça de Abreu, que me fartei de anotar, fiquei admirado por muitas das passagens que conta de TEIXEIRA PINTO, das quais não guardo recordação. Até quando ele cita o cinema, me admirei e no entanto, se não vi lá qualquer filme (não me lembro), pelo menos tive de assistir a uma sessão onde uma entidade religiosa da Mauritânia proferiu uma palestra em marabu (?).
O 2.º, que aconteceu no Domingo 26SET71, foi uma Prova de Atletismo, denominada pomposamente Légua de Teixeira Pinto que decorreu no mesmo lugar e constou de 3 voltas à mesma Avenida, num total de 5 km.
Deste acontecimento não guardo fotos e as notas ainda são mais parcas.
[Légua de T.PINTO. 10h – 30 c – 3 voltas Av. 5 km]
Iniciou-se às 10h, quando o tempo quente e húmido já fazia naturalmente mossas, contando com maior número de concorrentes, 30, naturalmente porque para o ciclismo era preciso montada e estas não abundassem, creio eu. Não posso explicar porque nem sequer o nome do vencedor anotei.
O 3.º acontecimento ocorreu no Domingo 3OUT71 e tratou-se dum Jogo de Futebol interno, para consolidação das relações entre militares metropolitanos e africanos. Uma equipa da CCS do BCaç 2905 contra uma representação da CCaç 16.
Devo dizer que estas partidas, realizadas sempre com o espírito de confraternização, eram sempre uma incógnita quanto ao seu desfecho, pois nunca se sabia quando poderiam dar para o torto. Recordo-me que antes de se tomar a decisão de as efectuar ponderava-se muito o risco e tomavam-se algumas cautelas… nesta, porém, não houve problemas, talvez porque o resultado final se traduziu num empate a 1 golo.
Apenas escrevi como notas [Futebol – CCS x CCAÇ 16 (1-1)].
E por hoje já chega de maçada.
Abraços
Jorge Picado
Fotos a que se refere o camarada Jorge Picado. Tiradas antes da partida para as 15 voltas pela Avenida Principal de Teixeira Pinto, que se completaram no tempo de 1 hora e 5 minutos.
Pena que viessem em tão mau estado. O que se conseguiu é muito pouco, em termos de resolução.
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Nota de CV
Vd. último poste de Jorge Picado de 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3369: Em busca de... (49): Resultado das buscas da causa da morte do conterrâneo de Jorge Picado, João Nunes Redondo, ex-Fur Mil Sap
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