quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9090: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (5): O desenrascanço... na justiça militar!

1. Mais uma história do José Ferraz (ex-Fur Mil, Op Esp, CART 1746, Xime e Bissau, 1968/70; era filho de um oficial da Marinha, e está radicado nos EUA há desde 1970):


Quando prestava serviço na CCS/QG em Bissau, uma vez por mês tinha que prestar serviço como sargento da guarda na prisão do QG (à direita da porta d'armas do dito quartel), guarda de honra em funerais locais e ainda montar segurança no Pidjiguiti ao navio de abastecimento quando atracado nas suas fainas.


Numa dessas missões estava eu com a minha secção a bordo do Carvalho Araújo quando um soldado me veio informar que o condutor do jeep que me estava designado, estava no porão de vante com uma grande bebedeira (era Balanta). Fui pelo convés até esse porão, olhei para dentro e vi que o grupo de estiva,  ao carregar a rede de estiva,  tinha partido um das centenas de caixas de uísque e estavam,  todos eles,  a festejar. Entre eles algums dos meus soldados (manga de ronco).


À hora do almoço tinha que ir à messe de sargentos comer e o condutor bêbado... Como tinha carta militar,  nem sequer pensei que o que aconteceu em seguida me iria criar tantos problemas. Pus o condutor no assento do passageiro e conduzi o jeep do cais, passei pela messe a caminho da Companhia de Transportes do QG onde deixei a viatura e pedi outro condutor.


Nunca mais pensei nisso. Dias depois fui chamado ao gabinete de um alferes da CCS/QG para prestar declarações no âmbito de um auto de averiguações  que me tinha sido levantado quando um furriel me tinha visto a conduzir esse maldito jeep. Fui falar com o tenente coronel, chefe da justiça, que por acaso conhecia o meu pai, e expliquei-lhe a alhada em que estava metido (, a dois meses antes de acabar a minha comissão).
- Eu não posso acabar com o inquérito mas deixe-ver o que é que se pode fazer.

Dias depois dei-me conta que este assunto não andava nem desandava e o tempo a fugir e a minha data de embarque a aproximar-se... Dois dias antes do meu embarque para Lisboa,  o bendito tenente coronel chama-me ao seu gabinete e diz-me:
- O nosso furriel foi condenado a 12 dias de prisão disciplinar agravada pelo CCM [, Comandante do Comando Militar,], pelo que na ordem do dia de amanhã sai a ordem de que se apresentou no QG para começar a cumprir essa pena...

Continuou o bendito TC:
- Depois de amanhã, no seu dia de embarque, vai sair na ordem desse dia o seguinte: 'Saiu hoje da prisão do QG o furriel etc., etc,  depois de cumprir a sua sentença,  etc., etc.'... 

E prosseguindo:
- O nosso furriel faz as malas e... aqui está a tua guia de marcha... Embarcas, ficas muito caladinho e boa viagem!...  Não te esqueças de dar os meus cumprimentos aos teus pais.
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Nota do editor:

6 comentários:

jdeferraz disse...

Companheiro e Camarada Luis:gostaria de acrescentar a esta anedota que nessa epoca se dizia que por cada dia de de prisao desciplinar agravada se tinha que servir mais um mes de comissao nao sei se isso e verdade ou nao.. mas estava cheio de medo se assim o fosse. O furriel que participou de mim era um F..da
P. a dita Comp de Transportes no dia do meu embarque fui visita-lo ao seu quarto e dei-lhe as minhas "despedidas" chiva como um rato...

jdeferraz disse...

chiva deve ler Chiava

jdeferraz disse...

Luis: se me lembro agora o chefe da justica militar era o TC Baiao.

jdeferraz disse...

Carissimo Luis mais uma memoria o CM era se bem me lembro era o BRIG_NASCIMENTO que conhecia socialmente por amizades de familia>

Luís Graça disse...

No teu e no meu tempo, o Comandante Militar (ou 2º Comandante Militar ?) era o Brigadeiro Eugénio Castro Nascimento, já falecido...

Ele não era apenas amigo da tua família e não foi apenas generoso contigo... Também o era da família do Paulo Raposo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405 (Mansoa, Galomaro, Dulombi, 1968/70)...

O Paulo, que é membro sénior da nossa Tabanca Grande,e organizou em 2006 o nosso 1º encontro nacional, teve a infelicidade de lhe morrer o querido seu pai, quando ainda estava no CTIG... O Brig Nascimento interveio pessoalmente, facilitando-lhe a viagem a Lisboa para assistir ao funeral... Como ele já aqui relatou, no nosso blogue:

(...) "Era Setembro, e eu estava na altura em Galomaro, juntamente com uma companhia de paraquedistas. O Major Pardal dirige- se a mim, passa-me a mão pelas costas e diz-me:
"- O teu pai acabou de falecer; o Brigadeiro Nascimento mandou um heli buscar-te, reservou o lugar do Governador na TAP e tens na repartição de pessoal uma licença para seguires viagem."(...) (*)
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(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P912: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (12): A morte de um pai

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006/06/guin-6374-p912-o-meu-testemunho-paulo.html

Luís Graça disse...

Como eu há dias te tinha dito, temos aqui vários camaradas que participaram na Op Lança Afiada, como tu... Um deles é justamente o Paulo Raposo...

Podes ler aqui o seu testemunho:

6 de Julho de 2006
Guiné 63/74 - P941: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (13): Operação ao Fiofioli


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/
2006/07/guin-6374-p941-o-meu-testemunho-paulo.html