quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9151: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (17): Quando Paulo VI visitou o Santuário de Fátima

1. Mensagem do dia 10 de Novembro de 2011, o nosso camarada Belmiro Tavares (ex-Alf Mil, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), enviou-nos mais uma das suas histórias e memórias.


HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (17)

Maio de 1967
Paulo VI visita o Santuário de Fátima

No dia 1 de Junho de 1966, acabado de chegar da Guiné, fui colocado no Colégio Militar, como alferes miliciano, em regime de voluntariado.

No ano seguinte, em Abril, mandaram-me ir a Fátima para conseguir que a entidade que tratava das cerimónias atribuisse ao C.M. um pedaço de terreno onde uma delegação daquela Escola pudesse acampar durante uns dias para assistir às comemorações.
O C.M. seria representado por cerca de 20 alunos, o capelão, 2 ou 3 oficiais, 1 sargento, cozinheiros e soldados.

No dia 9 de Maio segui de novo para Fátima “capitaneando” uma coluna de viaturas diversas levando comigo o pessoal de apoio e o material considerado necessário para montar o acampamento: instalar tendas, montar cozinhas, cavar latrinas, etc.

No dia 11 à noite quando os restantes elementos chegaram, já tudo estava em ordem – tudo funcionou na perfeição... possível.

No dia 12, ao fim da tarde, tive uma visita muito especial (provavelmente quase tão importante como a do Papa – digo eu): a minha noiva, uma prima brasileira já viuva e a sua dama de companhia.
Pensei que se tratava apenas duma visita de cortesia ou, quando muito, que se auto-convidavam para o jantar. Mas não! Elas pretendiam algo bem diferente.
Deslocaram-se a Fátima sem reserva de alojamento; pretendiam pernoitar algures que não fosse dentro do carro (já lá dormia o condutor) nem ao relento.

Os hotéis e similares de Fátima deitavam clientes pela “cova do ladrão”; uma multidão das mais variadas gentes “invadiu” aquela povoação para assistir às cerimónias... e ver o Papa.

No nosso acampamento havia ainda uma tenda disponível. Falei com o sargento e em poucos minutos a tenda estava armada e pronta para alojar as ilustres visitas que se fizeram convidadas... ou quase. Já não havia “burros” de campanha (uma espécie de cama articulada com um pedaço de lona a servir de colchão). O sargento mandou espalhar no chão uma espessa camada de palha, colocaram um cobertor por cima, 2 lénçois e outro cobertor. Para campanha não estava mal! Foi uma autêntica dádiva... do Papa!

Acompanhei as três senhoras até junto da tenda; estava ali o sargento, muito solícito; explicou como tudo funcionava e, compenetrado, perguntou:
- As senhoras não são alérgicas à palha, pois não?!
Nenhuma respondeu: coraram e cerraram os lábios. Se abrissem a boca sairia uma estrondosa gargalhada em resposta às boas intenções daquele sargento.

Pela manhã, elas transmitiram que dormiram muito bem, que ficavam clientes e que, pela primeira vez na vida tiveram direito a um pequeno almoço de pé, com o copo de inox na mão e... sem pagar qualquer verba! Nada mau!

Aquela prima brasileira falava pelos cotovelos! Durante anos, sempre que nos encontrávamos, comentava jovialmente:
- Gostei muito daquela noite junto da tropa! Foi única! Acima de tudo gostei de saber que não sou alérgica... posso comer palha!

Belmiro Tavares
Lisboa, 10 de Novembro de 2011
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9033: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (16): As cábulas

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caro Belmiro Tavares

Poder-se-à dizer que foi um 'santa experiência' para toda essa gente?
Estou em crer que sim!
E irrepetível!
E, já agora, memorável!

Abraço
Hélder S.