À procura da história. Mensagem enviada ao José Milhazes em Moscovo.
Chamo-me Virgínio Briote e sou um dos editores do http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/
Tenho lido os seus trabalhos sobre o envolvimento da extinta URSS nas ex-colónias portuguesas e quero manifestar o nosso apreço pelo indiscutível valor do seu trabalho.
Autoriza-nos a publicar algumas das suas peças no nosso blogue?
Cumprimentos,
vb
Resposta pronta do José Milhazes.
Caro Virgínio Briote, retire do meu blog tudo o que achar necessário e publique.
Cumprimentos,
JMilhazes
Contributos para a História de Portugal
"União Soviética treinava guerrilheiros na Crimeia"
Na aldeia de Perevalnoe, no quilómetro 21 da estrada Simferopol-Aluchta, na Crimeia, esteve instalado, entre 1965 e 1990, o Centro de Treino Nº 165 para Preparação de Militares Estrangeiros junto do Ministério da Defesa da União Soviética.
Aí, no Sul da Ucrânia, durante 25 anos, militares soviéticos prepararam cerca de 18 mil combatentes de países como Afeganistão, Etiópia, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Madagascar, Mongólia, Cuba, Mali, Vietname, Laos, Cambodja, Nicarágua, Iemen, Líbano, Líbia, Palestina, Zâmbia, Tanzânia, Congo, São Tomé e Príncipe.
O primeiro grupo, constituído por 75 guerrilheiros, veio precisamente da Guiné-Bissau e foi recebido pelo tenente-coronel Vladilen Kintchevski, então comandante do Centro de Treino.
"Recordo-me quando eles desciam pela escada do avião, eram todos pretos como a fuligem" - declara Kintchevski ao diário russo "Komsomolskaia Pravda", e acrescenta: "Tínhamos de arranjar um tradutor que falasse na língua dos guineenses. Descobrimos que só um máximo de dez falava português e que os restantes falavam em dialectos tribais. Mas não havia nada a fazer, tivemos de lhes ensinar a arte militar".
Em Dezembro de 1970, aquando da celebração do 50º aniversário da formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o campo foi visitado por Amílcar Cabral, secretário-geral do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde.
"Primeiramente, é preciso ensinar contra quem disparar e só depois ensinar como disparar" - dizia o coronel Antipov, que leccionava marxismo-lenismo nesse centro de preparação militar.
Porém, os alunos nem sempre se mantiveram fiéis a essa máxima. Por exemplo, dois dos guineenses treinados no Campo de Treino Nº 165 participaram, a 30 de Janeiro de 1973, no assassinato de Amílcar Cabral, depois de terem sido recrutados pelos portugueses.
Outro caso dramático. Vinte guerrilheiros foram detidos quando chegavam ao seu país, o Zimbabwe, e enforcados. A polícia descobriu de onde vinham, porque um deles trazia no pulso um relógio "??????" ("Oriente") com a inscrição "??????? ? ????" ("Fabricado na URSS").
Anualmente, a União Soviética gastava por cada aluno entre 7 e 9 mil rublos (1rublo era igual a 60 cêntimos americanos).
Actualmente, nesse Campo de Treino está aquartelada a 84ª Brigada Mecanizada do 32º Corpo do Exército da Ucrânia.
Os treinos dos guerrilheiros eram realizados na Crimeia devido ao facto de esta região ser a mais semelhante, do ponto de vista morfológico, climatérico, etc. , aos países de onde eles vinham.
Títulos e texto recolhidos daqui.
Com o nosso agradecimento ao José Milhazes.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
De Antº Rosinha,
Com tantos milhares de Guineenses, angolanos, moçambicanos, que tiveram formação militar, escolar e universitária, nos paises de leste e Cuba, e não há meios de aparecer literatura "negra", africana sobre esta guerra. Pois existe imensa gente com formação literária para escrever em português e ou russo, assuntos como este do Milhases, e muitas peripécias mais.
O que é que inibirá essa gente de escrever?
Digo escrever, para africano ler...
Porque um ou outro escritor francófono que aparece, escreve dentro de pontos de vista "políticamente europeus".
No entanto, no caso da guiné, toda a gente sabe o que foi essas idas para o leste de meninos e jovens, em situações familiares que..."por enquanto passo à frente".
Que saia o livro de Beja Santos.
Já ontem era tarde.
Enviar um comentário