Incêndio de combustível perto do paiol
Sempre fui avesso à fuga como forma de escapar a um problema, em especial se a fuga for desordenada. Ela conduz invariavelmente ao pânico e aí a nossa cabeça deixa de funcionar correctamente, conduzindo as nossas acções ao insucesso. Essa minha postura foi vital para o episódio que passo a relatar-lhes.
Aconteceu num belo dia no quartel de Có, estava eu de oficial de serviço e encontrava-se um auto-tanque de combustível a descarregar gasóleo e a abastecer outra viatura, mesmo em frente à entrada para o paiol subterrâneo.
Como nestes transvazes era sempre derramado combustível para o chão, neste caso em areia, o terreno já se encontrava de algum modo saturado de gasóleo.
Já começava a escurecer e para iluminar a operação de transvaze havia um candeeiro que, acidentalmente, caiu ao chão, partiu-se e incendiou a areia que estava ensopada no combustível.
Eu estava perto dos mecânicos a assistir à operação de descarga, quando vejo o chão incendiar-se e as chamas a encaminharem-se para a entrada do paiol.
A primeira reacção instintiva que se tem é a fuga, se eu o fizesse, possivelmente os restantes militares seguir-me-iam o exemplo ou pelo menos provocaria alguma hesitação.
Isso seria o suficiente para o desastre se dar, porque se as chamas chegassem à entrada do paiol que estava a cerca de cinco metros, a explosão arrasaria o quartel.
Felizmente tive a serenidade suficiente para gritar a todos os militares que estavam perto para atirarem areia para as chamas, sabendo de antemão que esta decisão era o tudo ou nada, porque quando nos apercebêssemos que o combate às chamas tinha falhado, já não haveria fuga possível.
O chão, como eu disse atrás, era arenoso e todos em simultâneo com as mãos atirámos quanta areia pudemos para cima das chamas logo no inicio de eclodirem, conseguindo apagar o fogo.
Guiné> Região do Cacheu > Pelundo > Có > 1968 > Vista aérea do aquartelamento.
Julgo que, uma pequena hesitação que houvesse, seria o suficiente para já não se conseguir controlar as chamas. As pessoas mais experientes com incêndios sabem bem a rapidez com que os fogos se propagam e podem imaginar a sorte que tivemos naquele dia de má memória.
Creio que nessa altura o Capitão Vargas Cardoso se encontrava ausente do quartel e eu nem queria imaginar o que aconteceria se, quando ele voltasse, encontrasse o quartel em ruínas.
Raul Albino
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Nota do co-editor CV
Vd. último post da série, de 23 de Agosto de 2007> Guiné 63/74 - P2065: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (8): Furriel Amorim, morto em combate
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