Tradução do nº 48 da revista PAIGC Actualités, um orgão de propaganda política do PAIGC, publicado mensalmente, em francês. Subtítulo: "A vida e a luta na Guiné e Cabo Verde". O nº 48 tem 6 páginas e é datado de Dezembro de 1972. Tradução de Vasco da Gama, a partir de cópia digitalizada fornecida pelo co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro.
Recebidos com entusiasmo e esperança pelo povo e pelos combatentes.
Uma Delegação da OUA [, Organização de Unidade Africana,] chefiada pelo comandante M’Bita, secretário executivo do Comité de Libertação Africano (na foto ao centro ), visita as regiões libertadas no sul do nosso país.
O NOSSO PARTIDO EM ÁFRICA E NO MUNDO
(O Sr e Sra Wainright no Hospital Solidariedade, onde conversam com o camarada dr. Boal responsável político do hospital)
Richard Wainright, Presidente do Partido Liberal Inglês e Administrador da Joseph Rowntree Social Trust Service, acompanhado por sua esposa, Joyce Wainright, visitam as obras do Instituto de Amizade e do Hospital da Solidariedade.
Após uma estadia em Dakar e em Ziguinchor, o casal inglês dirigiu-se ao Internato do Norte nas regiões libertadas onde as crianças apresentaram um espectáculo cultural em honra dos nossos ilustres hóspedes que de seguida partiram para a República da Guiné onde visitaram a Escola Piloto e o Jardim de Infância em Conacri e o Hospital de Solidariedade em Boké. Na região de Boé, na parte leste do país, os nossos amigos ingleses foram recebidos na Escola Internato, tendo também contactado as populações das aldeias libertadas.
A fundação Joseph Rowntree Social Trust Service concedeu ao longo deste ano uma ajuda importante às nossas escolas e hospitais.
( O escritor inglês Basil Davidson conversa com a responsável da organização dos Pioneiros do Partido no sul do país Teodora Gomes.)
O escritor e africanista inglês Basil Davidson visita pela terceira vez as zonas libertadas do nosso país. Acompanhado pelo camarada Vasco Cabral, do Comité Executivo, visita o Sul e de seguida o Leste. Nesta última frente reuniu demoradamente com o Secretário Geral do Partido, Amílcar Cabral, que se encontrava na região em visita de inspecção.
Basil Davidson, que foi o primeiro escritor da Europa Ocidental a denunciar os crimes dos colonialistas portugueses, é um amigo do nosso povo, tendo publicado inúmeros escritos sobre a nossa luta, tendo o seu livro Revolução em África sido prefaciado pelo Amílcar Cabral.
Em cima, o escritor inglês Basil Davidson conversa com a responsável da organização dos Pioneiros do Partido no sul do país Teodora Gomes.
(A delegação da NORAD na Escola Piloto na companhia do camarada Aristides Pereira)
UMA DELEGAÇÃO NORUEGUESA, MM. Jensen, director adjunto do Serviço de Desenvolvimento Internacional (NORAD ), visitou o nosso secretário geral em Outubro último.
A delegação da NORAD conversou com o camarada Aristides Pereira da Comissão Permanente do CEL a propósito da ajuda concedida pela Noruega ao nosso Partido, tendo visitado os departamentos do Instituto Amizade em Conacri e o nosso Hospital Solidariedade em Boké.
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Por ocasião da sua presença na sede das Nações Unidas em Nova Yorque , no passado mês de Outubro.
Razão pela qual o nosso líder renunciou ao uso da palavra na Assembleia Geral das Nações Unidas.
O camarada Amílcar Cabral após consulta à Direcção do Partido, explica numa carta dirigida à Assembleia Geral os motivos que o levaram a tomar esta decisão.
Senhor Presidente,
Um numeroso grupo de Estados membros da ONU, entre os quais os países irmãos de África e vários países amigos, expressou o desejo de que nos dirigíssemos à Assembleia Geral, numa sessão plenária, no decurso do debate sobre a descolonização. Esta pretensão encontrou eco favorável no seio da 4ª Comissão que encarregou o seu ilustre Presidente de efectuar junto de Vª. Exª., as diligências necessárias para a sua materialização.
(O Secretário Geral do Partido com Marcelino dos Santos, Vice Presidente da Frelimo, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque)
Na sequência de várias consultas realizadas concluímos que uma confortável maioria se inclina a favor desta nossa iniciativa cuja importância ninguém conseguirá subestimar, a não ser a transcendência política, no quadro da luta levada a cabo pelas forças anticolonialistas da ONU contra o particularmente retrógrado colonialismo português.
Tendo em consideração as manifestações de simpatia e de apoio que nos foram directamente transmitidos por parte de uma numerosa delegação presente na sessão, temos a certeza que no caso de ter havido um debate e uma votação sobre esta questão, a Assembleia Geral ter-nos-ia convidado a usar da palavra perante a Assembleia , em sessão plenária. Esta certeza constitui já para o nosso povo africano outro factor de encorajamento no conflito, infelizmente sangrento, que travamos contra o governo colonialista de Portugal sobre quem recai toda a responsabilidade.
Mesmo na minoria que se absteve ou se opôs surgem alguns estados cuja amizade e compreensão são já favoráveis ao nosso povo e também à nossa luta. Por razões que aliás não põem minimamente em causa a nossa possibilidade de nos dirigirmos à Assembleia Geral, esses estados seriam forçados, se houvesse uma votação, a abster-se ou a votar contra.
Escusado será dizer que não é com toda a certeza o caso da ínfima minoria formada pelos aliados do governo colonialista português que se opõe sistematicamente a toda e qualquer iniciativa no sentido de acelerar a liquidação do colonialismo e do racismo em África.
(Sevilha Borja, Presidente do Comité Especial da ONU que visitou as regiões libertadas no sul do nosso país, conversa com o camarada Amílcar Cabral, no decorrer da Assembleia do Conselho de Segurança sobre a agressão das forças colonialistas portuguesas contra a República do Senegal, em Outubro passado)
(O líder do nosso Partido, o primeiro combatente pela liberdade africana a usar da palavra perante a ONU com Koffi Kouamé da Costa do Marfim)
Após consulta à direcção do nosso Partido e informados que foram os representantes dos países irmãos e amigos, que ao tomarem tal iniciativa, a todos os títulos positiva, deram mais uma prova da sua solidariedade concreta para com o nosso povo e a nossa identidade com os princípios e objectivos da O.N.U., expressamos á Assembleia Geral, por intermédio de Vª. Exª. o nosso desejo para que, relativamente a esta questão, nem o debate nem a votação sejam efectuados.
Com efeito, é com a maior alegria que constatamos que uma larga maioria dos Estados Membros reconhecem o direito inalienável ao nosso povo de poder ser escutado através da voz dos seus legítimos e verdadeiros representantes, por todas as instâncias da ONU, incluindo a Assembleia Geral. No entanto não desejamos nesta etapa da nossa luta que países verdadeiramente amigos ou potencialmente solidários com a nossa causa se vejam obrigados publicamente a contradizer os seus próprios sentimentos e princípios. Uma vitória política é um bem demasiadamente precioso para um povo que luta pela sua libertação nacional contra um inimigo sem escrúpulos e fortemente apoiado pelos seus aliados. Acreditamos que, mesmo no caso vertente, há sucessos aos quais é necessário saber renunciar.
Queira aceitar, Senhor Presidente, a expressão dos nossos sentimentos e da mais elevada consideração.
O Secretário Geral do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
(assinado) Amílcar Cabral
MOSCOVO: Os camaradas André Pedro Gomes, membro do Comité Executivo da Luta e Comandante da frente NHACRA – Morés, e Júlio Semedo, do Secretariado Geral, participam na capital soviética no encontro internacional da juventude trabalhista.
O jornalista francês LAMBOTTE , do jornal Humanité, visita as frentes Sul e Leste do nosso país.
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Enquanto as populações e os combatentes no Sul do país acolhem calorosa e fraternamente a delegação do Comité de Libertação da OUA.
O NOSSO EXÉRCITO DE LIBERTAÇÃO INFLIGE PESADAS BAIXAS ÀS TROPAS EXPEDICIONÁRIAS PORTUGUESAS.
Uma delegação do Comité de Libertação da OUA constata a importância dos objectivos alcançados através da luta de libertação do nosso povo, sob a direcção do PAIGC.
Guiada pelo comandante M’Bita, Secretário Executivo do referido Comité, a delegação da OUA, que nos visitou em Novembro último, contactou os principais dirigentes políticos e militares do Sul visitando algumas unidades das nossas Forças Armadas, hospitais e postos sanitários instalados na zona, bem como outro tipo de actividades sociais levadas a cabo pelo nosso Partido.
Os nossos ilustres visitantes foram saudados pelas populações libertadas de Balana no decorrer de um grande encontro realizado na sede do Tribunal do sector. Ao dirigir-se à numerosa assistência, o comandante M’Bita após ter felicitado as populações e os combatentes pela sua coragem e determinação, afirmou que a OUA vai colaborar com todos os meios ao seu alcance, no sentido de reforçar a contribuição decisiva de África para uma mais rápida liquidação do colonialismo português no nosso país. A delegação da OUA era composta, entre outros, pelo Secretário Executivo do Comité de Libertação, o comandante Ahmed Sidki do Egipto, o capitão Macaranga da Tanzânia e os tenentes M’Bemba Queita e Komyetá da República da Guiné.
OS NOSSOS COMBATENTES REALIZARAM 75 ACÇÕES DE GRANDE RELEVÂNCIA, DAS QUAIS 60 ATAQUES CONTRA OS CAMPOS ENTRICHEIRADOS DOS PORTUGUESES E 15 EMBOSCADAS BEM COMO OUTRAS IMPORTANTES ACÇÕES.
(No regresso ao nosso país o Comandante M’Bita na companhia dos membros da delegaçã da O.U.A., reencontra o Secretário Geral do nosso Partido, o camarada Amílcar Cabral)
(A delegação do Comité de Libertação observa pormenorizadamente a defesa anti-aérea das nossas posições)
As cidades de Mansoa e Catió foram atacadas por duas vezes. Entre os quartéis atacados estão as importantes guarnições de Xime, Xitole (duas vezes), Cufar (três vezes), Bedanda (duas vezes), Fulacunda, Aldeia Formosa (no sul do país), S. Domingos (três vezes), Olossato, e Mansoa ( no norte) e Pirada no leste.
As baixas entre os colonialistas cifraram-se em 141 mortos confirmados, entre os quais um capitão e vários oficiais subalternos, mais de uma centena de feridos , 6 camiões e um helicóptero destruídos e uma quantidade enorme de material capturado pelos nossos Combatentes, sobretudo em Choquemone, onde a 25 de Novembro [de 1972] uma operação inimiga de grande envergadura se saldou num enorme fracasso.
Face às sucessivas derrotas que os nossos combatentes lhes têm infligido nos últimos meses e cada vez mais furiosos por causa da divulgação dos nossos sucessos a nível internacional, os colonialistas portugueses intensificaram em Novembro os bombardeamentos com napalm nomeadamente no Sul libertado.
Entre outras, as aldeias de Gandua, Timbo, Catchaque, Bari e Santana foram parcial ou totalmente destruídas e as tropas helitransportadas praticaram actos de terrorismo, matando 25 pessoas, sobretudo mulheres e crianças, em Caduco, Cancolia, Gambia, Mandjaque, Gamassampá e Botchebissa, onde os soldados portugueses perpetraram sevícias contra a população e violaram 5 raparigas. Tendo sido repelidos destas aldeias pelas Forças Armadas locais, o inimigo registou pesadas baixas durante os seus actos terroristas.
(No longo e difícil percurso de libertação, os nossos combatentes são filhos dignos do nosso Partido africano)
Sendo o espelho dos sentimentos do nosso povo, do qual são os legítimos representantes, os nossos combatentes dedicam o resultado das suas acções de Novembro ao povo irmão da República da Guiné, em homenagem e reconhecimento da sua histórica vitória contra a agressão imperialista portuguesa em 22 de Novembro de 1970. Novembro de 1972 regista, com efeito, o maior número de acções contra as tropas colonialistas que sofreram neste mês, uma das mais pesadas penas em vidas humanas.
Boletim de informação editada pela Comissão de Informação e Propaganda do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Correspondência: Caixa Postal 298 – Conakry (Rep. Da Guiné) Caixa Postal 239 - Dakar (Senegal)
NOTA: Este documento contou com a preciosa ajuda, na tradução do francês para o português, do nosso camarada Vasco da Gama, ex-Capitão e CMDT da célebre companhia "Os Tigres de Cumbijã", Cumbijã, 1972/74.
________
Nota de M.R.:
Vd. postes anteriores desta série em:
2 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3846: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (2): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 3-4
10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3864: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (3): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 5-6
17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 64/74 - P3905: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (4): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 7-8
18 comentários:
...
e viva a agit-prop contínua!
Caro amigo, obrigado pela publicação deste trabalho e respectiva tradução.
Carlos Filipe
CCS BCaç3872 - Galomaro/71
Pois, pois, pois.
Que é feito dos Basil Davidsons e de outros compagnons de route?
Que é feito dos heróicos (nem sempre!) comandantes da guerrilha que combateram contra nós?
Tudo engolido pela irracionalidade da luta selvagem entre os homens.
Resta, 35 anos depois, o nosso humilde abraço ao povo alegre, sofrido e infeliz da Guiné-Bissau.
António Graça de Abreu
1. Pergunta (pertinente) do Carlos Vinhal, co-editor e neste momento editor principal, de serviço:
"Caros companheiros editores:
"Acho de pouca utilidade estar a publicar propaganda do PAIGC, cheia de inverdades para inglês ver, sem uma apresentação prévia que salvaguardasse a posição do Blogue.
"Uma coisa são testemunhos pessoais, outra é propaganda que não corresponde minimamente à realidade. O que eram zonas libertadas no Sul da Guiné? Que dignidade há numa fotografia tirada no meio do mato, terra de ninguém, com duas pessoas sentadas a uma secretária tosca?
"Às tantas a malta vai começar a reagir, pois transformamos o nosso blogue num arquivo de propaganda do PAIGC. Onde estão as narrativas de ex-combatentes do PAIGC? Essas, sim, era bem-vindas, agora panfletos?
"Repensem.
"Um abraço.Carlos".
2. Ver comentário a seguir do L.G. (extenso, superior a 4 mil caracteres, daí ser publicado noutra caixa...)
Parte I
Parte I
Carlos, não me parece que, tantos anos depois, a malta vá reagir, emocionalmente, às inverdades do PAIGC...
O número de baixas, nesta guerra, foi sempre fantasioso, do lado do PAIGC como do nosso próprio lado... Admito que nós fôssemos um pouco mais contidos...
Claro que tudo isto era "propaganda política", aliás dizemo-lo logo, à cabeça... O PAIGC Actualités era uma revista mensal, de propaganda política, editada em francês, para consumo sobretudo externo (dos países vizinhos, francófonos - Guiné Conacri e Senegal- e dos demais aliados ou simpatizantes do PAIGC, em África e no resto do mundo)...
O Amílcar Cabral não era nenhum meninodo coro, e muito menos um amador... Nestas coisas, os dirigentes do PAIGC foram muito hábeis e deram-nos cartas (aos nossos dirigentes políticos e militares da época)...
Claro que o mérito vai sobretudo para o líder histórico do Partido... Sabe-se como o seu desaparecimento físico, em 1972, teve um efeito de cataclismo... O PAIGC nunca mais seria o mesmo, apesar de ter conseguido declarar unilateralmente a independência, ano e meio depois, beneficiando de um certo efeito de halo, provocado pela morte de Amílcar Cabral... Sabemos o que foi o desastre da ida dos guerrilheiros para o poder, efectivo, em Setembro de 1974, quando os portugueses voltaram para casa...
(Continua)
(Continuação)
Parte II - O Exército português também tinha o SPEME - Secretariado de Propaganda do Estado Maior do Exército... Todos lemos, mais ou menos criticamente, documentos de propaganda das autoridades políticas, civis e militares da Guiné portuguesa... O que era a política do Spínola, 'Por uma Guiné Melhor' senão uma operação de propaganda política ? O que era a acção psico-social ? Qual foi foi o papel do Otelo Saraiva de Carvalho e de outros oficiais portugueses que estavam na Rep Apsico ?
O mérito do Spínola e do seu estado-maior foi o de ter percebido que as guerras de guerrilha e de contra-guerrilha ganham-se com as ideias, com a adesão das populações, com as alianças locais, regionais, internacionais... Ou ganhavam-se. O que é a propaganda ? O primado da Política ! Ontem e hoje e amanhã...
O PAIGC tinha outros órgãos de propaganda, como a Rádio Libertação
, em Conacri... Todos ouvíamos, lá no CTIG, pelo menos de vez em quando, entre divertidos e condescendentes, a Maria Turra... Nunca ninguém ficou indignado com as alarvices, as inverdades, as bocarras ou as palavras sedutoras da Maria Turra, a convidar-nos para desertar...
A Rádio Libertação não tinha o estatuto, de isenção, de independência, de objectividade jornalística, da BBC. Mas também não tinha esse estatuto a nossa Emissora Nacional, num "país amordaçado"... Não tinha nem podia ter...
Não tenhamos medo das palavras, Carlos... Nós também fazíamos propaganda, e nisso eramos tão bons ou até melhores que o PAIGC, pelo menos a nível interno, no tempo de Spínola, no nosso tempo... De tal maneira, que o PAIGC tremeu, nessa época, e optou pela escalada da guerra... E outros, como os fulas, levaram desgraçadamente a sério a nossa propaganda segundo a qual eles eram tão portugueses como os minhotos de olhos azuis... Sabemos as consequências trágicas que isso teve para alguns dos nossos amigos e camaradas fulas que combateram ao nosso lado...
Nós também tínhamos, e ao que parece excelentes, programas radiofónicos emitidos em dialectos locais... Se alguém aparecer um dia destes com o guião de um desses programas, por que não publicá-lo no nosso blogue ?
Todos sabemos o que era a propaganda, de um lado e de outro... Julgo é que isso, hoje, não nos pode incomodar, mininimente. Hoje, quarenta anos depois, hoje que arrumámos as botas, os camuflados e as espingardas...
(Continua)
(Continuação)
III Parte -
O interesse, muito relativo, de documentos com este nº 48 do PAIGC Actualités, é sobretudo para os historiadores e outrso estudiosos da guerra colonail, mas também para nós, por que chama a atenção para a natureza (essencialmente política) daquela guerra...
O PAIGC não ganhou a guerra pela força das armas de guerra (o RPG 7, o Strela, o Katiusha...), mas pela 'inteligência', pela sedução internacional, pelas alianças e apoios políticos internacionais, a nível de intituições, organizações e personalidades (intelectuais, escritores, jornalistas, fotógrafos, beneméritos, políticos, diplomatas, negociantes, trapaceiros, etc.)...
Claro que também fez o seu trabalho de casa lutando no terreno, que ele de resto conhecia tão bem, ou pelo menos os desgraçados dos seus guerrilheiros balantas, mandingas, beafadas, nalus e outros, conheciam como ninguém...
Bato-me pelo direito à informação, incluindo a que está ainda em arquivos fechados, sejam os do PAIGC sejam os do Exército Português... Esse direito é de todos os combatentes, de um lado e de outro. Esse período de tempo tem a ver também com a minha vida, com as nossas vidas...
O nosso blogue não faz popaganda de ninguém, por que felizmente a guerra já acabou, já não há 'barricadas'... O nosso blogue não se quer substituir aos historiadores... O nosso blogue é apenas um ponto de encontro de antigos combatentes... Só é pena é sejam raros os do outro lado que nos combateram, e que nós gostaríamos que trocassem agora a velha Kalash pela teclas do computador (essas, sim, as armas do futuro)...
Continuemos a aprender a saber a ouvir os outros, mesmo os nossos inimigos do passado... Aqui temos um duplo desafio: pô-los a falar e saber ouvi-los...
Dito isto, continuo a pensar que o nosso blogue deve continuar a publicar 'materiais de propaganda' (sic), de um lado e de outro, embora desejavelmente sempre com uma pequena introdução de contextualização... (Percebo a intenção, didáctica, do Carlos, nosso editor de serviço).
Um abraço, Carlos, demais co-editores e restante malta da Tabanca Grande.
PS1 - Não te surpreendas, Carlos, desta conversa, mais ou menos pública, nas 'caves do blogue' (que são estas caixas de comentários)... Afinal, queremos também ser transparentes, francos e leais uns com os outros e mostrar o "making of" do próprio blogue, como é que ele se faz dia a dia, com a grande generosidade, criatividade, talento e entusiasmo de muita gente, incluindo tu, o Virgínio e o Eduardo, meus queridos co-editores...
PS2 - Obrigado ao Vasco, tradutor, que pôs também ao serviço de todos nós as suas competências linguísticas.
Com a mestria que é seu apanágio, o Comandante Luís Graça explicou os motivos que levaram o Blogue a publicar um texto de PROPAGANDA POLÍTICA,que o é efectivamente, datado de 1972 da autoria do P.A.I.G.C..Também penso que este documento poderá contribuir para o enriquecimento do espólio que os historiadores têm à sua disposiçao na análise da propaganda de então, já que o silêncio dos actores principais da guerrilha é incompreensível e já lá vão 35 anos...
Sorri ao traduzi-lo(conta sempre comigo Luís Graça)e até referi em correspondência particular a um bloguista amigo,que estava a traduzir 6 páginas que continham 6 mil mentiras.
Vivi no mato profundo, sem ter sequer instalações nem população, durante bastante tempo e era ouvinte habitual da Maria Turra. O meu Cumbijã, segundo a referida Maria,foi arrasado por quatro vezes,o capitão, que por acaso era eu, morreu por duas vezes e então os alferes nem vos conto nem vos digo.
Um abraço respeitoso para todos.
Vasco da Gama
P.S. Hoje o CUMBIJÃ é uma enorme Tabanca e o meu abraço solidário para aquela população está a ser dado, com a ajuda preciosa de outros Tigres, ao arranjar material escolar e mil tshirts para os pequenotes. Estamos longe da meta, mas no início do próximo ano quero ter esta missão cumprida
(passe a propaganda).
Em conversa com o Eduardo Magalhães Ribeiro, que salvou do caixote do lixo este e outros documentos que trouxe da Guiné, ele disse-me uma coisa que achou importante, a ideia de "documentação histórica"... É também isso que fazemos aqui, sem querer competir com os nossos arquivos oficiais, ou os da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, etc....
É preciso ter em conta que os arquivos do PAIGC e da Guiné-Bissau são pobres, ou têm sofrido danos irreparáveis nestes anos todos (caso da guerra civil de 1998)...
Possivelmente a própria revista PAIGC Actualités é uma raridade... Não sei se a Fundação Mário Soares tem, no Arquivo Amílcar Cabral, exemplares desta revista... Do Blufo, órgão dos pioneiros do PAIGC, sei que tem uma colecção de 22 números, do nº 1 (Janeiro de 1966) ao nº 22 (Dezembro de 1970)... Já aqui publicámos em tempos um artiguelho retirado de um nº dessa revista (jornaleco, feito a stencil), que era editada pela Escola Piloto do PAIGC...
Não sei se há a colecção completa do Blufo... Se calhar são apenas os 22 exemplares que se salvaram, ou que estavam na posse na família do Amílcar Cabral...
Quanto ao PAIGC Actualités, não me parece que a Função Mário Soares tenha exemplares da revista... Mais uma razão, para olharmos para este material, com outros olhos, com espírito crítico, sem dúvida - fazemos isso quando ouvimos as notícias do Telejornal ou lemos a primeira página do jornal diário ou do semanário -, mas também com a certeza de que a documentação, toda a documentação (qualquer que seja o seu suporte: em papel, na Internet, na pedra...) é PATRIMÓNIO, nosso e sobretudo dos vindouros...
LG
Caros camaradas
Nunca vos aconteceu, quando estão a ver um filme e, por exemplo, estar um ladrão a ser perseguido por, imaginemos, 10 polícias, e às tantas querermos que o ladrão se safe por estar em minoria?
Pergunto. Quem não combateu na guerra colonial, sendo estrangeiro, principalmente, sabe distinguir o trigo do joio?
Já tivemos a hombridade de aqui no Blogue corrigir documentos oficiais de "propaganda portuguesa". Quem corrige os panfletos do PAIGC? Nós também? Com que direito? Com que verdade?
Vosso camarada
Carlos Vinhal
Ao Luis Graca
Que sensata abordagem !
Mantenhas
NHL
Tenho uma revista de 40 págs., capa de cartolina, que recolhi num assalto a um acampamento. É o Nº.3 Prix/ 200 FG/ Janvier 1968. Recordei-me dela porque, sobre o MESMO AZUL da "PAIGC Actualités", tem escrito "GUINÉE ACTUALITÉS". Só que essa "Guinée", constatei mais tarde, era a Guiné Conacri. Como é óbvio a estrela principal é Sekou Touré.
Seriam revistas...irmãs gémeas.
Alberto Branquinho
Não será um documento de publicação dispensável devido ao estudo e á necessidade que temos de conhecer, em forma escrita, a propaganda mentirosa do PAIGC e,simultaneamente, "ver" a cara dos seus amigos anti colonialistas.
Algumas vezes falamos demais no PAIGC e se ouvirmos o que ainda hoje dizem de nós altos dirigentes- na Guerra por Ex - não ficamos chocados porque os conhecemos. Eles não ganharam a guerra. Muitos de nós éramos contra ela. Mas combatemos com dignidade e, pessoalmente e já aqui o disse, em 74, depois de Abril, só os cumprimentaria militarmente. Conviver? Porquê?
Parece mentira num homem com a minha posição politica. Não é. Aquilo é diferente - não esqueço e não perdoo. Disse no primeiro escrito. Nada diria se o Carlos Vinhal não tivesse falado assim e aplaudo. A resposta do Luís Graça é boa, bem elaborada, bem trabalhada e não posso discordar na totalidade. Mas...ainda não estou preparado;ou seja sobre a Guiné...POIS,POIS,POIS.Eles...!!
Paro.Abraços Torcato Mendonça ex-Militar do Exército Português.
Prometo que é a última vez que intervenho neste post.
Para Antª Graça, tambem pergunto a onde estão os herois de 25 de Abril, após 35 anos. A nós portugueses resta-nos a saudosa esperança passada de um Portugal melhor.
Ao Luís Graça, permita-me a expressão; não será agora nesta altura do campeonato deste Blogue que eu estimo, que poderá colocar parametros históricos ao seu conteuodo. Permita-me perguntar ao longo do temmpo de vida do blogue, a quantos documentos e quais as suas origens se recorreu nos posts publicados. TUDO É HISTÒRIA que gerações futuras apreciarão. Desde o folheto A5 deixado nas árvores até às resoluções da ONU, passando pelas publicações do PAIGC até às do Estado português e suas Forças Armadas, sobre a guerra colonial.
Se fosse divulgado o áudio de um discurso de Amilcar Cabral na ONU, ou transcrito alguma resolução da ONU alguém se atreveria a dizer que não era verdade ??? ou a menosprezá-la como documento histórico ?
Será que o estado portugues no período colonial não emitiu propaganda mentirosa, começando por esconder o número de mortos nas várias frentes de combate ???
Já agora, alguém tem conhecimento das fotografias que eram publicadas na imprensa estranjeira da época, sobre nossas acções em combate e sobre as populações ?
Não estamos suficientemente amadurecidos para "julgarmos" a história (neste caso da Guiné) se não, não seriam utilizadas expressões: bando, tropa macaca, inharro, etç. Não "esconderia-mos" outras verdades pessoais de que temos conhecimento ou fomos sujeito activo nelas. Acrescentar a esta insufeciência há a doença infantil de alguns se sentirem ainda como "operacionais" sem nada para fazer. A história não se faz só com o que nos é agradável à vista, o éticamente enquadrado no social/politicamente em que estámos localizados, nem muito menos no que as classes dirigentes permitem. É feita do registos de actos e palavras do homem e sua respectiva transformação.
Um abraço para todos e para cada um.
Carlos Filipe
ex-soldado CCS - BCaç 3872 Galomaro / 71
Oh soldado Filipe, pela sua "lingua afiada" quando o assunto e a verdade dos factos,nem precisa retornar a esta formatura.Pois,por ter dito tudo em poucas palavras, esta desde logo dispensado!
Com admiracao,
* anonimo com receio que lhe caiam em cima.
Esclarecimento do nosso co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro:
Boa tarde Amigo Luís,
Durante anos guardei muita papelada que trouxe da Guiné.
Como comecei a ver como é abordado o assunto "Guerra do Ultramar" e como são tratados os ex-Combatentes em Portugal, fiz uma limpeza no meu espólio e só guardei os Nº 48 e 54 [da revista PAIGC Actualités].
Deitei para o lixo muita coisa de que hoje me arrependo mas... está feito!
Um abraço Amigo do MR
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