1. Mensagem de Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 8 de Setembro de 2009:
Luís Garça e equipa editorial
Com um abraço de muita amizade, aqui deixo mais um apontamento sobre a vivência da CART 6250 em Mampatá - Guiné.
Um pequeno episódio que mostra um pouco o cenário em que se viveu.
Luís Marcelino
OS UNIDOS DE MAMPATÁ (3)
Onde mora o perigo
Como já anteriormente referi, a partir de finais de 1972 e boa parte de 1973, a actividade principal de CART 6250, foi fazer segurança à construção da estrada entre Aldeia Formosa e Nhacobá, para o que fornecia, por norma, diariamente, dois grupos de combate.
Um dos trabalhos que invariavelmente se fazia todos os dias, logo de manhã, antes da chegada dos homens e máquinas da Engenharia, era efectuar a picagem do acesso e zona de trabalhos com vista a detectar eventuais minas que pudessem ser colocadas nesses locais.
Foi o que aconteceu no dia 29 de Janeiro de 1973.
Estabelecido o esquema de segurança, como era norma naquelas circunstâncias, logo de madrugada iniciaram-se os trabalhos que consistiram em montar um dispositivo de segurança na frente e laterais da zona de trabalhos da Engenharia.
Enquanto se montava este dispositivo de segurança, o GCOMB incumbido de fazer a picagem de todo o acesso ao local onde iriam decorrer os trabalhos, procedeu à referida picagem.
A determinado momento, um dos militares picou num ponto que indiciou existir uma mina.
Dado o alerta, todo o efectivo parou adoptando a atitude adequada de segurança.
Chamado o Furriel de minas e armadilhas que fazia parte da força, examinou o local, confirmando existir ali uma mina anti-carro, colocada num local onde passaria o rodado de qualquer viatura que por ali passasse.
Como era provável que pudessem por ali existir mais minas, procedeu-se à picagem minuciosa de toda a zona envolvente.
Encontraram-se mais 12 minas anti-pessoais, colocadas junto a árvores ali existentes. Todas foram levantadas com sucesso.
Quanto à mina anti-carro, depois de devidamente descoberta, o Furriel dispunha-se a levantá-la.
Não o autorizei, dando-lhe indicações de que deveria utilizar a corda que existia para o efeito.
Respondeu-me que não a tinha trazido, que tinha ficado no quartel, e que certamente conseguia levantá-la.
Não obstante a boa vontade do militar, exigi que se fosse buscar a corda, aguardando-se o tempo necessário para isso.
Lá foi ao quartel buscar a referida corda.
Regressado, colocou o grampo existente na extremidade da corda lateralmente à mina e, depois de todo o pessoal estar a distâncias e condições de segurança, a corda foi esticada.
Logo que foi puxada, deu-se um enorme estrondo e abriu-se no local um grande cratera.
Como era evidente, a mina estava armadilhada!
Naturalmente o Furriel ficou pálido e nem queria acreditar no que via.
A sua vida podia ali ter sido ceifada bem como a de outros em paga de uma ingénua generosidade.
Curioso também foi o local onde estavam as minas anti-pessoais; colocadas junto às árvores, eram os locais naturais onde o pessoal se abrigaria para se proteger, uma vez ouvido o barulho do rebentamento da mina anti-carro, caso não fosse detectada.
Na verdade, nunca ninguém sabia onde morava o perigo.
Ele espreitava em todo o local e de muitos modos.
O que era preciso era estar atento, não confiar e... sorte.
Mina AC TM-46, levantada no Bironque, estrada Mansabá/K3, com auxílio de uma corda, como mandavam as regras de segurança.
Fotos de David Guimarães e Carlos Vinhal
Editadas por Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4697: Os Unidos de Mampatá, por Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Mampatá, 1972/74 ) (2): Descuido fatal!
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Camaradas,
Aqui no blogue já comentei a sorte que muitos tiveram pelo levantamento de minas AC. Hoje, pela primeira vez, dei com o recurso à corda e, por acaso, tratava-se de uma mina armadilhada. Sempre recorri à corda, mas não tive a surpresa do rebentamento.
Pois se era tão fácil o recurso ao "rato" para armadilhar as minas, só os sortudos desconhecedores e aventureiros podiam arriscar-se. E aconteceram casos.
Abraçosb fraternos
J.Dinis
CARO MARCELINO,
A MINA ERA,E AINDA É,O INSTRUMENTO BÉLICO MAIS COBARDE.
INFELIZMENTE PAÍSES COMO A CHINA CONTINUAM A VENDÊ-LA AOS MILHÕES.
ABRAÇO A TODA A TABANCA.
MANUEL MAIA
Não sei quem foi o maluco que queria levantar a mina mas, cá para mim, só podia ser o apancado do Vilas Boas que, numa certa ocasião, não encontrando as minas que o próprio tinha instalado, resolveu pôr-se aos saltos a ver se as encontrava. Bem... o Vilas Boas - bom rapaz e grande amigo - às vezes embebedava-se ou ficava zorca ou as duas coisas.
Vai um abraço para ele e para o Marcelino, já agora para todos.
Meu Caro Marcelino
Além de grande HOMEM também foste um grande capitão. Passei a ter muito mais admiração por ti e por todos aqueles camaradas que combateram na Guiné. Já to tinha dito e reafirmo aqui.
O nosso almoço não está esquecido. Um abraço do teu camarada CarlosP.
Caro Marcelino:
Dessa ainda me escapei, estava de férias. Foi a partir daí que elas começaram a doer a sério!
Das minas e da sua cobardia acho que não podemos acusar ninguém, nós também fizémos o nosso estrago nomeadamente no corredor de Missirã sobretudo em Baramboli.
Quanto ao Vilas Boas conhecia-o bastante bem, era do meu pelotão. Tenho-o por grande amigo e sempre me pareceu competente e responsável q.b. As atitudes que às vezes tomávamos, aparentemente menos ponderadas, eram devidas não só ao cansaço físico mas também psicológico a que fomos sujeitos. A nossa companhia CART 6250 teve, diariamente, durante meses seguidos três GCombate na protecção à estrada e o outro tinha que fazer a segurança diária e nocturna ao quartel e os serviços diários de água, lixo etc. Se a tudo isto juntarmos os meses de comissão que já tínhamos, estará então tudo dito. Arrastávamo-nos. Só a nossa raiva nos fazia andar!
Gostava ainda de observar para evitar mal-entendidos, relativ/ a um comentário, que ninguém saia para o mato em estado de embriaguês. Bastava sair ao arame para ficar sóbrio. No quartel, sim, alguns de nós, eu incluído, de vez em quando encharcávamos a vela. Desculpem-me os abstémios.
Um abraço
C.Farinha
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