O Jorge Narciso, hoje (2009, foto à esquerda) e ontem (1967, cartão da BA 1, com 17 anos). Esteve na Guiné entre Março de 1960 e Dezembro de 1970.
1. Texto e fotos do Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esopecialista MMA (BA12, Bissalanca, 1968/69), enviadas em 13 do corrente:
Aí vai o percurso do Jorge Narciso, na FAP, arrumado cronologicamente... entre os 17 (nasceu em Maio de 1949) e os 21 anos (Dezembro de 1970)
(i) Out 66/Set 67 - 3ª/66 - BA 2 / Ota - Recruta e Curso MMA.
(ii) Meados de 67 - Centro de Inspecções (em resposta a concurso interno, ao qual concorremos 3 alunos): Inspecção (durante cerca de 3 semanas), para o Curso de Sargentos Milicianos Pilotos, do qual , e apesar de considerado Apto, fui preterido por elementos ainda civis (que tinham ficado adiados em Inspecção anterior), reinspeccionados na mesma altura
(iii) Out 67/Mar 69 - BA 1 / Sintra - Linha da frente dos T-37
(iv) Inicio de 68 - 1ª Nomeação (já não me recordo para onde), sendo no entanto imediatamente desnomeados, 7 dos 8 MMA, colocados na BA1, por considerados imprescindíveis ao serviço !!! (tem uma história que talvez um dia venha a contar), tendo o 8º classificado (como sabemos, as nomeações eram por ordem decrescente de classificação na especialidade) sido premiado com uma colocação ou em Cabo Verde ou S. Tomé (de certeza uma destas, sinceramente já não me lembro qual)
(v) Abr de 69 - 2 ª Nomeação, já perfeitamente inesperada para mim e outro companheiro, com mais de 30 dos 48 meses de contrato cumpridos, os restantes eram de 6 anos, sendo então os 3 piores classificados ido para... a Beira e os 4 melhores para... a Guiné (epilogo da história que atrás refiro).
Na passagem pela Inspecção médica, pré-embarque, os Serviços detectaram na minha ficha o registo anterior de aptidão para a Pilotagem, sendo-me proposta a troca imediata de Bissau por S. Jacinto, ao que perguntei qual a contrapartida no tempo de serviço me foi respondido que teria de assinar um novo contrato, agora de 6 anos, ao qual apenas seria descontado o tempo de recruta (3 meses) que já tinha cumprido na Ota. Ou seja, somado esse novo tempo ao entretanto já cumprido, seriam (sem nó) mais de 100 meses no total…Proposta recusada.
(vi) Abr de 69/Dez de 70) - BA 12 / Bissalanca - Linha da frente dos Alouette III (onde ao fim de pouco tempo, e devido à tardia nomeação, apesar dos meus 20 anos, comemorados aliás no Saltinho durante uma missão de abastecimento, era o cabo especialista mais antigo - tempo de FAP - da mesma linha).
Fiz ali algumas centenas de horas de voo, só não sei quantas, porque a minha caderneta de voo (que não sei porquê me obrigaram a entregar no regresso, diziam que para entrega posterior) está em parte incerta, se é que ainda existe (penso que não é caso único)
(vii) Dez de 70 - BA 1 / Sintra - Disponibilidade ... (ainda com 21 anos e 50 meses e picos de FAP, dos quais só me contam os 19 que estive na Guiné para efeitos de Segurança Social porque não trabalhei, antes de 1971)
Ilustrando agora o percurso acima, junto (sem exagerar a quantidade) mais algumas fotos:
Sintra > BA 1 > 1967 > o Pessoal (estou assinalado pela seta) da linha de frente dos, entretanto abatidos, T-37 cujo Comandante de Esquadra (à época Ten Cor Amaral) também na foto, reencontrei na Guiné. Num destes aviões (aliás o que está exposto em pedestal à entrada da BA1 - Matrícula 2424) tive o meu baptismo de voo (Foto à esquerda).
O. Pinto - Foto do chefe Oliveira Pinto (que muitas dezenas de membros da linha doshelis reconhecerão de imediato, pelos muitos anos que ali passou), neste caso no intervalo duma operação em Buba (está datada de Dez 69), comigo (de camuflado) com o Gabriel (fato de voo e a abastecer) e um dos miúdos nativos que como era habitual por ali cirandavam (Foto à direita).
Heli - Na linha, com um heli tão limpo que até parece que saiu duma estação de serviço, apesar do enquadramento talvez melhor esta para me identificar que a tipo passe.. (Foto à esquerda)
Petisco - Algures ainda em 1969. Pessoal da linha (sou o 5º a contar da direita - de camuflado) dos Helis, petiscando: ou um porco do mato ou uma gazela (pato da bolanha só por uma vez, pois mesmo com dois dias em vinha de alho, era igual a peixe assado), que de vez em quando marchavam. (Foto a em baixo, a seguir).
Únicas nostalgias que me ficaram de todo este tempo, para além do convívio com alguns companheiros mais próximos, que apesar de tudo se vai concretizando, quer através do telefone e dos outros novos meios de comunicação, quer presencialmente através de encontros mais ou menos regulares, ficaram-me dois desejos, ainda não satisfeitos:
1º - Voltar a voar de Heli: por impedimento profissional, não o fiz em 2006 em Beja, em que foi dada a oportunidade (boleia/voltinha) aos presentes durante a homenagem à minha ex- Esquadra "Os Canibais". Este estou a ver que vai ter de ser satisfeito em heli de turismo.
2º - Voltar um dia à Guiné, revisitando em passeio sereno, descontraído e sem traumas, locais e gentes (e situações associadas) guardados há 40 anos na memória, dum (então) menino de 20 anos, com cargas, cujo contexto seguramente se revelará agora completamente diferente.
Este parece finalmente, com o projecto em curso, com alta probabilidade de concretização. Vejo que as inscrições vão gradualmente aparecendo e, grão a grão ...
Um abraço. Jorge Narciso
(Está também em linha no blogue
Especialistas da BA12, Guiné 1965/1974)
2. Comentário de L.G.:
Como dizia há dias o teu/nosso camarada Miguel Pessoa, o primeiro piloto da FAP a ser 'strelado', em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje, a rapaziada do Exército conhecia a Guiné por baixo e vocês por cima... Enfim,. duas perspectivas complementares, a celestial e a terrena. Falta aqui a abordagem, mais líquida, da Marinha (que anda rarefeita)...
Fora de brincadeiras, cada um de nós terá o seu bom e o seu mau bocado de Guiné, que é como quem diz, do inferno, da terra e do céu... Jorge, estás apresentado à Tabanca Grande, onde há de tudo um pouco: casernas, hangares, aeródromos, heliportos, bases navais, quartéis, destacamentos, bolanhas, lalas, pontes, palmeiras, poilões, bissilões, irãs, tempestades tropicais e sei lá o que mais... Isso terás que ser tu a descobrir... Acomoda-te a um canto e saca lá das tuas memórias...
Um dia destes dou-te um abraço, ao vivo, no Cadaval ou na Lourinhã... Até lá, felicitemo-nos por este mundo, afinal, ser pequeno e o nosso blogue... ser (ou parecer) grande (*).
Um Alfa Bravo. Luís
___________________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
14 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5270: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): O Jorge Narciso e o Humberto Reis reencontram-se, 40 anos depois...
28 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5176: FAP (35): O trágico acidente aéreo de 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa (Carlos Coelho / Jorge Félix / Jorge Narciso)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Caro Jorge Narciso
Já te encontras entre nós.
E desta vez não te vais sentir, com certeza,"ultrapassado"!!
Diz-me cá uma coisinha:não achas que sendo o T.O. Guine´considerado o mais exigente e difícil, os melhor preparados (classificação)deviam ir dar lá com os costados?
Foi o que te fizeram mas,pelos vistos tardiamente,como aconteceu a muitos.
Um abraço
Luis Faria
CARO JORGE NARCISO,
SÊ BEM-VINDO À TABANCA.
MANDA-NOS OS TEUS ESCRITOS.
UM ABRAÇO
MANUEL MAIA
Caro Luis Graça
Começo por agradecer, por teu intermedio, a toda a tertulia a expressão de boas vindas e a formalização da minha admissão neste grande espaço que, apesar de ter como base a expressão e discussão de cruas e tantas vezes brutais memórias duma guerra, consegue ser um exemplo de livre e inteligente civilidade.´
Quanto à minha participação, naturalmente que cá do meu "canto" da Tabanca e fazendo uso das "prorrogativas" ora obtidas, podes contar com a "participação nos trabalhos", que a a minha memória permitir.
E memória talvez e também de curto prazo, assim se concretize a projectada viagem à Guiné no anbito do "BA12".
Nota de rodapé:
No cabeçalho da minha apresentação só uma pequena correcção : o meu periodo de estada na Guiné foi: 1969/70 e não 1968/69
Com um até breve e enquanto não se efectivar o tal abraço; seja no Cadaval (onde acabei de chegar), na Lourinhã, em Lisboa ou noutro qualquer sitio, recebe um outro, virtual mas sincero
Caros Luis Faria e Manuel
Estendo-lhes naturalmente o agradecimento pela amável recepção.
Relativamente ao comentário do Luis, quem sabe a tua pergunta me tenha dado o mote para uma próxima participação:
A forma como tão tardiamente fui parar à Guiné, incluindo essa questão da "melhor preparação" para o TO
Recebam um abraço
Jorge Narciso
Ola de novo Luis (Graça)
Esqueci-me de te chamar a atenção para a foto de grupo (Petisco);
o último da direita é alguem que bem conheces: exactamante o Manuel Rosário, que aliás a namorada do meu filho também reconheceu e sabe onde mora.
Um dia destes bato-lhe à porta.
Abraço
JN
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