1. Mensagem do António Carvalho, ex-Fur Mil Enf, CART 6250/72, Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74 (*)
Caro Luís Graça
Desde há algum tempo tenho vindo a pensar que nem sempre éramos correctos no nosso relacionamento com os civis e que essa faceta raramente ou nunca tem sido aqui objecto de qualquer relato. Parecendo-me que esta perspectiva da nossa (con)vivência com a população também faz falta à verdadeira história da guerra do ultramar ou colonial, eis-me aqui a falar de mim, falando dos meus pecados (**):
Em Mampatá havia, em 1972, uma escola construída pelos “MORCEGOS”. Logo no início da comissão, recebemos ordem de Bissau para a construção de outra. Feita a escola, vieram mesas e cadeiras novas, de Bissau. Aquilo encheu-me de satisfação e ajudava a pensar na bondade da nossa presença e a acreditar numa política de desenvolvimento e promoção dos guineenses.
Sucedeu que, num determinado dia, desapareceu da escola nova, uma cadeira e uma mesa. Grande chatice!... mobiliário instalado e logo desaparece um conjunto de mesa e cadeira. Há que saber quem foi o indivíduo, certamente contrário à política spinolista. Seria isso ou antes uma atitude própria de um rapazinho que não tinha, na sua própria casa, um tal luxo?
Identificado o Bacari, resolvo eu, num excesso de zelo, dar-lhe uns tabefes. O Bacari defendeu-se e também me acertou com alguma sapatada. Esta sua legítima reacção resultou no envolvimento de outro camarada que, intervindo a meu favor, sanou ali o problema.
Pergunto: tratou-se de uma atitude racista? Julgo que não pois, passados quinze anos, aqui na minha freguesia, corri sobre dois rapazolas que se entretinham a arremessar uns arbustos para dentro da escola…Sucede que eles fugiram e…ficou por ali. Hoje ambos são meus amigos.
Quanto ao Bacari, estou certo que, esteja onde estiver, me perdoará . De facto, não só não me competia fazer justiça como também aquela não seria a melhor forma de resolver o problema.
Caro Luís, no mínimo dará coragem a outros para escreverem sobre este lado, se achares algum interesse, publica, caso contrário, lixo com o escrito.
Um abração para ti , teus ajudantes e todos os tabanqueiros.
Carvalho de Mampatá
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3200: Tabanca Grande (86): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
(**) Vd. último poste da série: 21 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5138: O segredo de... (9): Fur Mil J. S. Moreira, da CCAV 2483, que feriu com uma rajada de G3 o médico do BCAV 2867 (Ovídio Moreira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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6 comentários:
Agora entendo porque me estás sempre a provocar.
Caro Carvalho, são pecados que não mancham a pessoa.
Um abraço para ti e por extensão a toda a Tabanca Grande.
Não sou católico, mas aqui aplica-se perfeitamente "quem nunca pecou que atire a primeira pedra".
Um abraço
BS
CLARO...o cipaio tinha por obrigaçaõ de meter os putos na ordem,á chapada.Se fosse hoje,como
é Régulo,seria com moral.
Um grande abraço amigo Carvalho.
CANCELA
Caro António Carvalho
Realmente, se tens 'convivido mal' com esse epidódio, bem podes passar a dormir descansado!...
É claro que a 'pedagogia' da chapada não deve ser exaltada, mas tenho para mim que uma palmada aplicada a preceito na ocasião certa (a dificuldade estará em determinar o momento e a força) pode ajudar a resolver muitos problemas, na ocasião e no futuro! Quem sabe se não foi isso que faltou a alguns dos nossos (des)governantes...
Um abraço
Hélder S.
Carvalho,
Mau Maria!
Eu já sou conhecido de um gajo que antecede, e que me temia com medo de levar uns pontapés no cú.
Durante a vida, enquanto militar, enquanto pai, recorri algumas (poucas) vezes ao acto punitivo - um tabefe. Mas explicava a razão motivadora. Esperei sempre, até que o punido me desse conta da apreensão dessas motivações, e assimilasse o bom comportamento reflexo.
Nunca foram punições de partir a loiça (excepto uma vez em Angola, mas foi auto-defesa) e não me parece que deva ser segregado por isso. Como bem alerta o Helder, a excessiva tolerância pode redundar em laxismo, e isso corresponde ao contrário do dever de educar.
Abraços
J.Dinis
Amigos pedia se algum de vos me poderia ajudar meu falicido pai esteve na ultramar a foto que tenho que meu pai mandou para o meu avo a data dis Mozambique 1967 a outra guine 1971meu Pai era Fuzileiro numa dessas fotos esta um numero 1699/5 ja me disserao que o numero 5 devia de ser 1699/65 e o outro numero s.p.m 5138 mas nao sei qual e o nome do batalhao agora que os meus avos ja ca nao estao nao sei como encontrar o batalhao que meu pai serviu por favor se alguem encontrar o batalhao onde o meu pai serviu por favoro meu email address e lucianonunes@ hotmail.co.UK ate la felicidades para vos todos
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