1. Recebi hoje, com pedido de publicação, da Ana Duarte, esposa do nosso Camarada Humberto Duarte, ex-Furriel Miliciano do BCAÇ 4514/72, 1973/74, a seguinte mensagem:
Coragem e Dignidade
Magalhães,
A ti só tenho que agradecer, conseguistes uma coisa que vários militares, ainda no activo me diziam ser impossível, honras militares feitas por Op Esp.
Agradeço também ao Pedro Neves e a outros Amigos que souberam do que se está a passar por telefone e ou vieram cá a casa ou telefonaram. O Filipe O.E., que fez o curso em Mafra com o Humberto, está nos Açores e já falaram, e choraram ao telefone, comigo a fazer de ponte. Alguns ex-combatentes que não nos conhecem, enviaram e-mails de solidariedade, houve até quem me telefonasse e alguém que enviou uma música linda!
A todos esses o nosso muito Obrigado. Mas revolta-me ver o Humberto perguntar por este ou aquele, não menciono nomes, e depois ficar magoado porque até agora nada disseram. A maioria são Op Esp e lembro-me sempre de eu dizer tenho mais consideração por qualquer ex-combatente que esteve lá fora fosse qual fosse a sua arma, até o cozinheiro do que tenho por meninos que tiraram o curso de O.E. pós-25 de Abril 74 e só por isso se acham muito importantes.
As pessoa valem pelo que fazem e não pelo que são ou dizem. Percebo que uma pessoa prefira recordar um Amigo como ele era e não quando o físico se está a degradar dia para dia, até consigo aceitar que custe falar directamente com a pessoa, mas nem enviar uma palavra amiga?!
O Humberto tem defeitos como todos, eu mesma tive problemas com ele por causa do seu stress mas tem uma Dignidade e uma Coragem que muitos nunca vão ter.
Peço que todos os que não tiveram coragem de dizer sequer uma palavra por e-mail, que na despedida não venham com palavrinhas mansas para mim e muito menos no dia 10 de Junho.
Não sou uma ex-combatente, nunca fui nem queria ser militar, sou uma entornada de Moçambique com muito mais coragem e dignidade que muitos.
Se quiseres podes publicar este desabafo no teu site e mais onde quiseres, porque o que eu digo, faço-o na cara das pessoas e não por trás.
Um abraço grande de Ana e Humberto.
P.S: Eu tinha escrito "gostava que publicasses isto no teu site" mas o Humberto pediu para pôr "se quiseres". Um pedido dele é uma ordem para mim.
2. Às 13h15, respondi assim à Ana e ao Humberto Duarte:
Coragem e Dignidade - RESPOSTA
Bom dia Amiga Aninhas e Amigo e Camarada Humberto,
Não só vou colocar nos blogues, como vou enviar este e-mail àquele pessoal de quem tenho contactos.
Também tenho um bloguesito dedicado aos RANGERS na net:
Basta clicares duas vezes sobre o endereço indicado e vais lá directamente.
Da vossa coragem conjunta não tenho palavras para definir.
Peço-vos que mandeis os nomes do pessoal com quem o Humberto gostava de falar, pois de muitos não tenho qualquer contacto, mas vou tentar arranjar.
É bem provável que muita malta ainda não saiba da situação de saúde do Duarte.
Um beijo para ti Aninhas e um abração Amigão para o RANGER Humberto.
P.S. - Amanhã ligo-vos ok!
3. Às 13h37, tive que complementar o meu anterior e-mail, para repor uma verdade inequívoca:
Coragem e Dignidade - RESPOSTA
Mais uma vez Bom dia, Amiga Aninhas e Amigo e Camarada Humberto Duarte,
Peço desculpa mas, nas pressas de ir colocar a vossa mensagem nos blogues, deixei por esclarecer um facto fundamental.
O seu a seu dono deve pertencer!
Por favor não digas que fui eu que consegui as cerimónias militares de Op Esp, mas sim pelo menos a 3 pessoas, com maior ou menor grau de responsabilidade na imediata e inequívoca decisão desta prestação.
Um foi o nosso bom amigo comum, o Sr. Coronel António Feijó, que sei, logo que soube do estado de saúde do HD, se apressou a enviar um reforço solidário do vosso pedido ao Exmo. Sr. Comandante do CTOE.
Depois a resposta imediata e afirmativa, do Exmo. Sr. 2º Comandante do CTOE, TCOR Valdemar Lima, que tenho a certeza absoluta, em pleno acordo e anuência com o Exmo. Sr. Comandante do CTOE.
Deixo aqui um grande abraço AMIGO para estes três HOMENS.
Por motivos óbvios, envio este e-mail com conhecimento a todos os meus contactos a quem havia enviado o anterior e-mail.
Para vós, mais um beijo para ti Aninhas e outro abração Amigão para o RANGER Humberto
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série, referente a este mesmo assunto, em:
12 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5638: Banco do Afecto contra a Solidão (8): Humberto Duarte, ex-Fur Mil Op Esp, BCAÇ 4514, 1973/74, trava o seu último combate (Magalhães Ribeiro)
6 comentários:
Sou dos velhinhos ainda de farda amarela.
Caro Humberto, eu sou dos que acredito, que para além da última batalha haverá sempre um lugar de repouso, para os que fizeram na Guerra da Vida muitas Batalhas.
Não tenho a honra de te conhecer pessoalmente.
Mas daqui vai o maior e o melhor abraço, para a tua Dignidade e para a mulher que te acompanha.
Não me interessa que sejas crente ou não! O maior interesse para mim é ter a certeza que há Alguém que recebe com amor todos aqueles que fizeram desta vida um acto de dignidade e amor.
Solidário o abraço forte do Ranger que sempre estará contigo.
Mário Fitas
A vida também feita destes momentos
infelizmente.
Bafejados são aqueles que sabem fazer frente e com dignidade à desdita.
Ninguém é imortal mas também raramente se pensa nesse momento em que o caminho se aproxima do fim.
Encarar o ultimo combate de frente é levar de vencida a própria morte e deixar o entes queridos com parte da dor mitigada.
Toda a coragem será recompensada alguém escreveu. Eu espero que sim, pois temos que acreditar que algo nos espera e nos recompensa pelo que somos.
Um abraço solidário para camarada Humberto Duarte e esposa.
JuvenalAmado
Acabei de ler estes textos e não posso deixar de sentir uma forte incomodidade pelo seu conteúdo.
Sabemos, de saber certo, que faz parte da essência da Vida o seu contrário, a Morte.
Que isso é inexorável e que está garantido para todos e cada um de nós. Mas custa-nos sempre o aproximar do momento 'da passagem'.
Gostaria de deixar aqui palavras de conforto, de esperança, mas não o sei fazer.
Espero que por isso, por não saber transmitir essas palavras, me desculpem.
Mas gostava, isso sim, de deixar aqui bem expresso que compreendo muito bem o relativo conforto que o Humberto encontraria se muitos dos seus antigos companheiros se interessassem pela sua situação e se, em conformidade, expressassem com genuinidade, com autenticidade, a solidariedade que se exige, nem que seja apenas mental.
Caro amigo e companheira, um forte abraço.
Hélder S.
Humberto e Ana:
Não vos conheço pessoalmente mas os amigos dos amigos... nossos amigos são... E, para mais, Humberto, foste/és um camarada da Guiné...
Já vi que tens a teu lado uma mulher que merece todo o nosso respeito e admiração. Para já, o que te podemos oferecer é um lugar nesta caserna virtual, a que chamamos Tabanca Grande, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Aqui já tens, para já, um ombro amigo, que é o do Eduardo... É para isso que servem os amigos, como há tempos escrevi num poema, a que chameo Poemombro:
(...
Se @s amig@s têm algum préstimo
É justamente para saber ouvir.
Ouvir, escutar, entender
Mais do que falar, analisar ou compreender.
Para estar contigo.
Simplesmente para estar ao pé de ti.
Ou para te segredar ao ouvido
Qualquer coisa que te faça sorrir.
Ao ouvido, baixinho.
E sobretudo para te oferecer
o ombro amigo.
Pode até ter pouco préstimo
Mas sempre é mais macio e quente
Do que a pedra do caminho.
http://blogueforanadaevaodois.blogspot.com/2005/09/blogantologias-ii-2-poemombro-ou-um.html
Caro Camarada Humberto,
Desculpa-me a forma pouco elaborada como redigirei estas linhas, mas tenho verdadeira dificuldade em o faser, sabes...
À semelhança de tantos outros que já o escreveram, não nos conhecemos, partilhámos,isso sim, algum do espaço na Guiné e isso basta para que me consideres teu camarada. Obrigado, basta-me para te considerar de igual forma e mesmo não sendo da tua arma, aqui estar a dizer pronto e a dedicar-te estas linhas, como um camarada.
A condição desfavorável em que te encontras sente-se melhorada quando sabes ser escutado por aqueles a quem estendes as mãos, aceita por isso a minha neste momento difícil, embora sabendo nada mais poder fazer para a tua verdadeira e efectiva recuperação.
É com verdadeira admiração pela forma digna como encaras a brutal verdade e pelo apreço que continuas, apesar disso, a dedicar a todos que, como teu camarada, me despeço com um forte abraço.
Belarmino Sardinha
(Ex-1º Cabo Radiotelegrafista do STM 1972/74)
Caro Humberto,
Tocou-me particularmente este teu apego à vida querendo ouvir os teus camaradas dizer PRESENTE ! e, na pequenez da minha solidariedade, permite-me mandar-te um abraço bem apertado de um querer imenso que mantenhas a lucidez pela Mulher que tens ao teu lado que grita num apelo sincero aos teus camaradas para que se te juntem nesta hora de grande dignidade e interioridade.
Faço-o na convicção absoluta de que não estarás a partir para lado algum mas sim a chegar a uma existência espiritual onde já outros estão.
Julgo que só superiormente nos libertamos da tacanhez da vida terrena para complementarmos a caminhada que nos foi traçada.
Sejam quais forem as tuas convicções, confesso a minha grande dificuldade num discurso deste género, desde logo por ter "embarcado" na toada da despedida quando tal veleidade se me afigura miserável.
Quem sou eu para me permitir a um adeus ?
Não te conheço e gostava de me manter anónimo neste texto.
Se as manhas informáticas não me traírem, assim será mas estou disponível para te responder a qualquer comentário que te apeteça fazer.
Desejo-te a melhor noite possível,tranquila, serena, e com paz.
Um abraço
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