Emblema da CCAÇ 2382 de autoria do seu Comandante o ex-Cap Mil Carlos Nery.
Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"
Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"
Foi o Alf Curado e Silva quem me disse: "Capitão, a rapaziada gostava de ter um emblema que pudesse pôr sobre o bolso da camisa da farda e que identificasse a Companhia..."
Eu era alérgico a grandes aparatos assumindo falsos "espíritos de corpo" mas naquele momento senti que, no nosso caso, havia já bastante união e camaradagem para podermos usar algo que nos identificasse. Entrei no meu gabinete, puxei pelo meu velho jeito para a bonecada e, durante umas horas daquela noite de Buba, lá estive, de esferográfica em punho, puxando pela imaginação.
Achei que devia homenagear o soldado comum, possuidor daquela sagacidade, coragem e suficiente boa disposição que lhe permitiria voltar aos braços dos seus pais, das suas noivas, dos seus familiares, terminados os cerca de dois anos de Guiné. Fiz o desenho sem uma emenda, acho que estava inspirado... Depois foi encomendar os guiões, crachás e emblemas e... Creio que foi um sucesso!...
Quando aguardávamos embarque, em Brá, ainda apareciam militares de outras unidades, que eu nem conhecia, pedindo-me, por tudo, um guião! Chegaram-me também alguns reparos: parece que eu não havia respeitado as regras de heráldica militar! Claro que isso foi o que menos me preocupou... O engraçado é que descobri, recentemente, que a maioria da rapaziada nem sabia que tinha sido eu o autor do desenho... Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante...
Este foi o comentário que deixei no Poste 2791 do Furriel Manuel Traquina da CCAÇ 2382. Repararam no minha satisfação? Mas há certos assuntos, próprios da intimidade da caserna, que ficam por lá... O Capitão é o último a saber... Alguns só me foram contados há pouco tempo quando já se não receava a "minha justa ira", para usar a expressão tão ao gosto de Carlos Fabião...
Vem isto a propósito do distintivo da CCAÇ 2382, desenhado por mim numa serena noite de Buba...
O assunto assemelha-se a uma cebola a que se vão tirando camadas para surgirem outras mais profundas...
Primeiro descobri que muitos militares, o Traquina, por exemplo, não faziam ideia de quem tinha sido o autor do desenho... Mas logo esclareci o assunto. O Traquina ainda teve tempo de modificar o texto do Capítulo "O Distintivo da Companhia" do seu livro Os Tempos de Guerra, dando o "seu a seu dono" no que respeita à autoria do Distintivo... Confesso que fiquei mais sossegado... E logo me agarrei a outra tábua de salvação que volto a transcrever: "Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante..."
O pior, amigos, é que já não estou tão confiante...
Vou contar:
Este ano, no almoço que reuniu as CCAÇ 2381 e CCAÇ 2382, eis-me a falar com o Cancela, soldado da minha companhia e membro da Tabanca Grande... A conversa andou por estes temas, o Cancela entusiasmado com o nosso blogue e entusiasmando-me a colaborar também nele. Não sei porquê falo no distintivo... Que pensava escrever qualquer coisa sobre ele... Na expressão do Cancela passa uma nuvem de desagrado... "Aquele emblema"... E num trejeito desagradado: "Os Palhaços"...
Como podem calcular, isto é demais para um homem só... Afinal nem toda a gente gosta da minha obra-prima... Claro... Afinal o não cumprimento das regras e do espírito da heráldica militar tem o seu preço...
Olho melhor para o distintivo... Bem... De facto aquilo tem pouco de marcial... "Por Estradas Nunca Picadas"... "Por Picadas Nunca Estradas"... Uma gracinha nada mobilizadora de uma atitude bélica... E a figura central? O tal "Zé do Olho-Vivo"? Um boneco engraçado, talvez... Mas não teria sido preferível colocar ali um bicho? Um Leão, uma Pantera ou um Tigre? Ou até um Gato, de preferência Negro? Olha, uns camaradas nossos optaram por ser os "Morcegos de Nhala"... Bom, também... Quanto aos amigos da CCAÇ 2381 são os "Maiorais"... Que tal?... Há um sugestão de autoridade, no Oeste... Outros levam lenços de côr mal embarcam: "Os lenços Vermelhos, Azuis, Verdes, sei lá... Côr-de-rosa, acho que não"...
Mas essa do Zé do Olho Vivo... Ainda por cima ostentando um nariz redondo e vermelho... Sim... Eu estava a pedi-las naquela noite, em Buba...
Bem, a idéia era ir buscar uma inspiração talvez ao Bordalo, à figura do Zé Povinho... Que se identificasse com o Zé Soldado, de olho alerta, atento, corajoso, capaz de passar além das minas e armadilhas existentes nas picadas da vida...
Olha: Eu gostei... E gosto... E aqui já não há mais camada que me incomode... Desculpa lá, ó Cancela, soldado amigo... Eu gosto!
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: (Ex)citações (63): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou connosco, em Contabane, a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)
Vd. poste de 23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina)
Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6479: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (2): Noite longa em Contabane
11 comentários:
Carlos: Eu também gosto. O humor é sempre subversivo e... saudável! Parabéns! Era preciso ser arejado, iconoclasta, irreverente para um capitão miliciano, como tu, desenhar um distintivo como o vosso. Temos aqui matéria para várias teses de doutoramento... É pena ainda haver malta que não consegue falar destas coisas, com graça, com sentido de humor, descomplexadamente...
Um Abração. Luís (E já que estamos em maré de brincadeira, até um dia destes em... Alfragide!).
PS - Nota ao leitor: Somos vizinhos, mas ainda não conseguimos encontrar-nos no "café da esquina"... para nos conhecermos "ao vivo"
Estou à espera desse dia... Descomplexadamente, claro... Mas antes disso talvez nos encontremos no dia 26... Quero ver se convenço o Barbot a alinhar, vamos a ver... Abraços! CNery
Carlos: O meu problema é que não tenho passado nenhum fim-de-semana em Alfragide... Temos mais malta a morar por aqui: lembro-me, por exemplo, do Humberto Reis, do Manuel Amaro...
Qualquer dia fazemos uma Tabanca, a de Lisboa, juntando da malta da "linha de Sintra"...
Carlos: O meu problema é que não tenho passado nenhum fim-de-semana em Alfragide... Temos mais malta a morar por aqui: lembro-me, por exemplo, do Humberto Reis, do Manuel Amaro...
Qualquer dia fazemos uma Tabanca, a de Lisboa, juntando da malta da "linha de Sintra"...
Caro camarada
Uma pequena recteficação, não são os Morcegos de Nhala, mas sim os Morcegos de Mampatá, Cart. 2519
Um abraço
Mário Pinto
Meu Capitao,caro amigo.
Desculpe ter sido tao frontal no que respeita ao boneco do nosso guiao,mas ainda nao esqueci passados todos estes anos que fomos alvos de chacota por quase toda a cidade de Bissau.
Mas pela minha parte,mesmo que nao
goste muito,tá perdoado.
Um grande abraço do seu ex soldado
e AMIGO Zé Manel Cancela
Chacota? Sério? Não estarás a exagerar? Ou não seria uma pontinha de inveja de outras unidades com menos prestígio? Contudo, ninguém era obrigado a ostentar o "Zé do Olho Vivo"... Mas diz-me agora, olha para ele com calma... Não é diferente? Ser diferente é sempre complicado... Mas pronto, eu gosto... Abração...
Amigo Mário Pinho, estive em Mampatá e em Nhala. Boas recordações, ao fim e ao cabo... De Mampatá recordo muita coisa. Não sei porquê não me esqueço do bailado dos pirilampos na noite que aí vinha... Mas achei graça ao vosso motivo: Os "Morcegos de Mampatá"... Também era diferente...
Meu Capitao e caro amigo.
Note bem,que eu nunca disse mal,dos seus dotes como desenhador.vou guardar o crachá
religiosamente,com o guiao da nossa companhia,assim como o conjunto,caneta esferografica,que nos foi oferecido pela companhia no fim de comissao.Para mim sao valores inistimaveis.
Aquele abraço,de Buba a Mampatá
J.M.M. Cancela.
Certo, bom amigo Cancela... É um crachá bonito e, por muita brincadeira que suscitasse, desde que foi distribuído todos o usámos. Gostei de o ter concebido, pois gostei. E dediquei-o a vocês, militares que comigo tinham vivido quase dois anos de vida. Gosto dele, sim e tenho vaidade da minha obra... Um abraço forte.
Em Monte Real, pus na camisa o crachá metálico da CCaç 2382. Não é que o Cancela se aproxima com "pezinhos de lã" e me pergunta se eu lhe dava um... Que o dele tinha sido roubado... Como podem calcular fiquei estupefacto!Um objecto tão propício a troças! Roubado? Para quê? Alguém o quereria? E o Cancela querer ter um, agora? Sim esse mesmo o soldado Cancela da minha companhia o tal, tão "frontal"... Eu já só tinha três mas, como sou boa pessoa,passei a só ter dois... Mandei-lho, pois... E por correio azul! Não quis que o rapaz ficasse muito tempo sem ser alvo de mais chacota... Abração amigo!
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