Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6615: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (6): Sem Título 3
1. Em mensagem do dia 17 de Junho de 2010, o nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, enviou-nos mais um "Sem Título" para a sua série "20 Anos depois da Guiné, à procura de mim".
DEPOIS DA GUINÉ, À PROCURA DE MIM
20 ANOS DEPOIS (6)
SEM TÍTULO 3
Mas eu não pedi nada a ninguém,
Nem a vida, nem o estar aqui,
Nem esta dor que me alcança todos os dias,
Desta vida sem sentido.
Não pedi esta ânsia
Que não me deixa dormir
O sono dos satisfeitos.
Não pedi esta paixão
Por uma vida a querer morrer.
Não pedi ao menos sequer
Esta estranha maneira de ser.
Não pedi este desespero
De viver, sem ter vivido.
Mas deram-me tudo
Sem nada ter pedido.
Obrigaram-me a viver
A suportar-me
E até a gostar de mim.
Fizeram-me sentir
O que nunca devia ter sentido.
Fizeram-me olhar e gostar
De quem nunca devia ter gostado.
Fizeram-me acreditar
Que um dia alcançaria
Aquilo que é impossível.
Fizeram-me viver cada dia
Na esperança de ser amanhã.
Esgotaram-me a esperança,
A vida, o amor,
Abriram-me o peito dorido
E nele plantaram a flor
Do horror do dia a dia.
Deram-me até às vezes,
E só para me enganar,
Momentos de alegria.
Estou morto e ninguém sabe!
Pensam que ainda falo,
Mas já não sou eu a falar.
Pensam que ainda olho,
Mas já não sou eu a olhar.
Pensam que ainda rio,
Mas não me apetece já rir.
Pensam que ainda choro,
Mas já não posso chorar.
Querem-me aqui e agora,
Agarram-me, prendem-me,
Suplicam-me o meu martírio
Mas eu já me fui embora…
92.01.21
Um abraço amigo
Joaquim
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6574: O discurso de António Barreto no dia 10 de Junho de 2010 (1) (Inácio Silva / Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6572: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (5): Sem Título 2
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Vou-te conhecendo.
Quem é que pode ficar indeferente perante a tua alegria e positivismo?
Quando tu estás, como diz a canção O VINHO CORRE A RODOS E A FESTA DURA ATÉ ÀS TANTAS.
Tu contagias e não há vacina.
Um camarigo abraço e até sábado.
Juvenal Amado
Ps: Ontem recebi um telefonema há muito esperado. O nosso camarada Carlos Filipe telefonou e vou-me encontrar com ele durante a próxima semana.
GOSTEI,FRANCAMENTE,DESTA REVISITAÇÃO INTERIOR COM QUE NOS PÕES A PENSAR SOBRE A VIDA,ESTA DÚVIDA EXISTENCIAL,ESTE SOBRESSALTO QUE NOS LEVA À INTERROGAÇÃO SOBRE SE TERÁ VALIDO A PENA.
"VALE SEMPRE A PENA QUANDO A ALMA NÃO É PEQUENA...
E A TUA,CARÍSSIMO,É ENORME.
UM ENORME ABRAÇO AO HOMEM GRANDE,E SOBRETUDO GRANDE HOMEM JOAQUIM MEXIA ALVES.
MANUEL MAIA
Enviar um comentário