domingo, 10 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7107: Historiografia da presença portuguesa em África (37): António da Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte I) (Carlos Cordeiro)


Guiné-Bissau > Bissau > Agosto de 2004 > Ex-Casa Gouveia, com o Rio Geba ao fundo  > Foto do Rui, membro habitual da Expedição anual à Guiné-Bissau, organizada pela Associação Humanitária Memórias e Gentes, de Coimbra, e de que é presidente da direcção o nosso camarada  José Moreira (Ex-Fur Mil da CCaç 1565, 1966/68).


Fonte: Picasa > Galeria do Rui (2008). (Com a devida vénia...)













Lisboa > Câmara dos Deputados >  Excertos de um debate parlamentar em que intervem o representante da Guiné, o deputado António Silva Gouveia, fundador da  Casa Gouveia, com sede em Bolama >  Sessão nº 18, de 26 de Dezembro de 1911 > (...)

(...)O Orador: - O Sr. José Barbosa disse, e muito bem, que nós estamos num estado de atrasamento impossível em toda a costa de África. Eu tenho a felicidade de conhecer toda a África, ocidental e oriental, fui moço e marinheiro, piloto e capitão de navios; só não fui menino de coro. Em Conakri, em 1893 nem uma casa existia, hoje é uma cidade de 1.ª ordem. Bolama [, sede de concelho em 1871, elevada à categoria de cidade em 1913, capital da província até 1941,] 
está mais atrasada do que quando fui para lá em 1879. Do que lá há feito, não quero elogios, mas quero que a Câmara o fique sabendo, é feito por este seu criado. Não imaginam os ódios e rivalidades a que isto tem dado lugar, porque sou português.

Em Bolama não há um relógio que marque as horas oficiais. Sabem V. Exas. qual é o relógio? É uma barra de ferro, a essa barra de ferro chega o soldado e bate, pim, pim, pim; e são assim conhecidas as horas oficiais!

Mas eu não quero desviar-me da questão que desejo tratar. V. Exa. sabe qual é a despesa no orçamento da Guiné? 160:000$000 réis (#)  para o elemento militar, mas não tem soldados; tem mais oficiais do que soldados.

O Boletim Oficial que agora saiu traz posturas municipais que não existem nem em Paris, nem em Lisboa.

Eu quero mostrar à Câmara o seguinte: como disse aqui o Sr. José Barbosa, a Guiné é tão rica, tão produtiva, que o gentio da Guiné trabalha só o suficiente para se embebedar, porque ele tem tudo, tem a banana, a papaia, o caju, tudo o que a terra lhe dá; é um gentio que se faz dele o que se quer; mau só ali há o gentio papel, mas, mesmo esse, sabendo-o levar, com facilidade se amolda. (...).

1. Texto de Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, RAA (foto à direita)

Camaradas e amigos,

Em comentário ao P7083 sobre o ciclo de conferências “A República e as Colónias”, o Luís chamou a atenção para o facto de “a historiografia da nossa presença na Guiné-Bissau parece[r] passar muito ao lado d[aquele] ciclo de conferências”.

Como, por afazeres da minha vida profissional, sou habitual visitante do site da Assembleia da República para consulta dos debates parlamentares* do século XIX e primeira metade do XX, fui lá verificar o que havia sobre a Guiné no período da I República. 

Há muitos diários da Câmara dos Deputados (e também do Senado) em que aparece a palavra “Guiné”. Enviei, como curiosidade, alguns ao Luís, que – sempre persuasivo – me respondeu que seria interessante publicar algumas das intervenções, com pequenas notas de enquadramento. Acedi com gosto. É deste compromisso que estou a tentar desenvencilhar-me.

Algumas notas prévias:

(i) A história da Guiné nunca fez parte das minhas preocupações de investigação. Portanto, não poderei apresentar aqui o conveniente enquadramento histórico.

(ii) Não fiz investigação para o contextualizar as intervenções. Seria importante, por exemplo, pesquisar a documentação da AR [, Assembleia da República,] sobre as eleições de 1911 na Guiné, já que não encontrei nada publicado sobre o assunto (o que não quer dizer que não exista).

(iii) Alguns “panos de fundo” resultam da leitura e interpretação pessoal de diversos debates sobre questões da Guiné. Achei desnecessário apresentar a lista de todos os Diários consultados, até porque estão disponíveis online.

(iv) Para não dificultar a edição, optei por colocar entre parêntesis a data dos Diários da Câmara dos Deputados, (DCD) sempre que tal se justifique.

A 15 de Junho 1911 tiveram início os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Depois de intenso debate, a “Constituição Política da República Portuguesa” seria aprovada em 21 de Agosto do mesmo ano, dando-se por findos os trabalhos da Assembleia em 25 do mesmo mês.

Por dificuldades de comunicações e, por na Guiné se ter verificado um surto de febre-amarela (DCD 31/7/1911) (***), a Guiné não esteve representada na Constituinte, o que não deixaria de ser criticado por alguns deputados (DCD 5/7/1911; 24/7/1911; 31/7/1911; 1/8/1911).

Os deputados da Assembleia Nacional Constituinte dividiram-se em dois grupos: para o Senado transitaram 71 deputados; para a Câmara dos deputados, cerca de 160. Os trabalhos da Câmara dos deputados tiveram início logo a 26 de Agosto. O deputado pela Guiné iria, então, participar na Câmara dos Deputados, mas só a partir de 2 de Dezembro de 1911 (DCD 2/12/1911), ou seja, quase meio ano após o início dos trabalhos da Constituinte.
O deputado era, nem mais nem menos, António Silva Gouveia (**), o proprietário da famosa Casa Gouveia (##). 

Como se poderá ver pela sua intervenção (a primeira que fez no parlamento), terá sido uma espécie de aventureiro – só não foi “menino de coro” – com instrução rudimentar, e que enriqueceu não se sabe (não sei, melhor dizendo) bem como.

Sabe-se também, por outras intervenções que fez, que andava por África (e não só pela Guiné) havia mais de quarenta anos, que já em 1911 tinha negócios com a CUF, que foi um dos fundadores (1912) do Partido Republicano Evolucionista, de António José de Almeida, assumindo o lugar de tesoureiro da sua Comissão Directora (Ernesto Castro Leal, Partidos e Programas: o campo partidário republicano português 1910-1926, Coimbra, IUC, 2008, p. 52).

António Silva Gouveia já não integrará o Parlamento na legislatura seguinte, que teve início em Junho de 1915. Seria substituído por António da Costa Godinho do Amaral, que, contrariamente ao seu antecessor, fraquíssima participação teria nos debates. Coutinho do Amaral tomou assento na Câmara dos Deputados em meados de Janeiro do ano seguinte, ou seja, também cerca de meio ano após o início dos trabalhos (DCD 17/1/1916).

Uma nota final em pano de fundo: da leitura, ainda que em diagonal, das intervenções parlamentares sobre a Guiné transparece um ambiente nebuloso e às vezes crispado relativamente à política e administração locais. Há queixas contra as autoridades, boatos que circulam pela imprensa, críticas ao funcionamento da administração, acusações de nepotismo, etc. 

Pela intervenção do deputado Godinho do Amaral na Câmara dos Deputados, fica-se até com a ideia de que o governador da Guiné, Andrade Sequeira, não apreciava o modo como era exaltada, na imprensa portuguesa (e no próprio Parlamento), a figura do capitão Teixeira Pinto (DCD 22/2/1916).

[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]

_____________

Pode entrar-se pelo Google – “parlamento”. Nos links clicar em “Intervenções e debates”. Abre a página e clica-se em “debates parlamentares”. Depois é só escolher o regime e a câmara parlamentar. O separador “pesquisa avançada” é o mais prático. Entrei por “Guiné” e depois por “Silva Gouveia”.

(**) Nos Diários, às vezes aparece como António da Silva Gouveia

(***) Excerto:

(...) O Sr. Egas Moniz [, médico, futuro Prémio Nobel da Medicina, em 1949]:

- Desejo chamar a atenção do Sr. Ministro da Marinha para o caso das eleições do Ultramar.

Desde que se entende que as colónias devem ter representantes proprios aqui, nesta Assembleia, julgo que essas eleições se devem concluir de maneira a que os eleitos aqui compareçam.

Succede que algumas colónias já teem eleitos os seus representantes ; outras ainda os não elegeram.

É para este facto que chamo a attenção do Sr. Ministro da Marinha.

Numa das colonias - na Guiné - a eleição ainda não se fez, estando só marcada, parece-me, para o fim do mês que vem!

Peço, pois, a S. Exa. que apresse as eleições nas colónias, porquanto convem a todos que as colonias tenham aqui os seus representantes, a bem da Constituinte e da seriedade d'esta Camara.

O Sr. Ministro da Marinha (Azevedo Gomes):

- Sr. Presidente: concordo absolutamente com o exposto pelo Sr. Egas Moniz, mas o facto de não estarem hoje nesta Assembleia todos os representantes das colonias é consequencia de se ter posto logo em execução na metropole o decreto de 14 de março ultimo, com um periodo de revisão do recenseamento muito reduzido, por haver todo o empenho em convocar rapidamente as Constituintes.

O Governo já sabia que só muito mais tarde os Deputados pelas colonias podiam vir á Assembleia.

Devo dizer mais a V. Exa. e á Assembleia que o decreto de 14 de março saiu, com respeito ás colónias, muito incorrecto. Teve de fazer-se uma remodelação em 5 de abril, quer dizer, só depois de publicada a lei eleitoral. Para a Guiné foi em 17 de maio, devido á epidemia da febre amarella que ali grassava. Nestas circunstancias, não admira que seja aGuiné que mais tarde venha a ter representação no Parlamento.

Felizmente recebi hoje um telegramraa do governador da Guiné no qual se diz que o ultimo caso averiguado de febre amarella tinha sido no dia 8 d'este mês. A opinião do medico, que mandei para ali para dirigir os trabalhos de prophylaxia, é de que se pode considerar extincta a epidemia, mas que é necessario continuar os trabalhos de prevenção ainda por muito tempo.

Eram estas as explicações que tinha a dar ao illustre Deputado. (...)
___________

Nota de L.G.:

(#) Recorder-se aqui que , pelo decreto de 22-5-1911, a República "reformou profundamente, sob o ponto de vista técnico, o sistema monetário que vigorava em Portugal, alterando a denominação de todas as moedas, o material, o peso, e as dimensões das moedas de bronze e substituiu, pelo escudo de ouro, o real. 

"Dividido em 100 partes iguais, denominadas centavos, o escudo correspondia, quer no valor, quer no peso de ouro fino, à moeda de 1 000 réis" (...) . Fonte: Wikipédia.

(##) Elisée Turpin, um dos históricos do PAIGC, seu co-fundador, em 1956, foi empregado de 1958 a 1964, da Casa António Silva Gouveia (mais conhecida por Casa Gouveia), de 1958 a 1964. De 1964 a 1973, exerceu a função de Gerente da ANCAR. Contrariamente a outros nacionalistas guineenses, nunca terá sido descoberto (e importunado) pela PIDE/DGS...

No meu tempo (1969/71), fiz muitas vezes segurança, no Mato Cão, ao barco da Casa Gouveia, que fazia o trajecto Bissau-Xime-Bambadinca (e vice-versa; julgo que também chegava, naquele tempo, a Bafatá; este troço do Geba Estreito está hoje completamente intransitável devido ao assoreamento do rio; destas patrulhas ao Mato Cão, estão bem recordados outros camaradas nossos, que passaram pelo Sector L1 - Bambadinca, como o Beja Santos, o Jorge Cabral, o Humberto Reis, o António Marques, o Joaquim Mexia Alves, e tantos outros). E também viajei, pelo menos uma vez, até Bissau nesse barco. No Leste, a Casa Gouveia tinha estabelecimentos pelo menos em Bambadinca e Bafatá. Mas sei que também tinha em Farim, Fajonquito e noutros sítios...

Por acordo entre o Governo Português e o Governo Guineense, em 1976, a empresa António Silva Gouveia SARL foi integrada na estrutura empresarial denominada Armazéns do Povo da Guiné-Bissau, "mediante a atribuição de uma justa compensação, a estabelecer por uma Comissão Mista Paritária" (sic)

14 comentários:

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Achei muito interessante este artigo. Um trabalho de fôlego do Carlos Cordeiro, a quem presto o meu agradecimento.

Ao ler os excertos desse debate, dessa intervenção, ficamos a saber que, afinal, as coisas não mudaram assim tanto, pelo menos na sua essência.

Por outro lado está bem patente como a nossa incapacidade como colectivo para 'fazer coisas' acabou por permitir o aparecimento e o cresscimento de Dakar, a norte e Conakry, a sul do território da 'nossa' Guiné, com influência directa relativamente a Cabo Verde, já que retirou dali uma parte substancial do tráfego marítimo, alegadamente até por custos mais baixos...

É bom conhecer o passado para perceber melhor como estão as coisas hoje!

Um abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

Obrigado, caro Hélder, pelas referências. Mas, não querendo alijar as minhas "responsabilidades" no poste, gostaria de salientar que mandei o material a esmo. Foi o Luís que teve o trabalho de transcrever, incluir notas, encontar fotos, no fundo, editar o material. Quando vi o poste só pensei no trabalhão que o Luís teve para o editar convenientemente.
Sei, evidentemente, que pensas o mesmo. Mas, como agora tive esta experiência concreta, não podia deixar de fazer uma referência à altíssima competência dos nossos editores "comandados" pelo Luís.
Um abraço amigo,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Ainda não fui, mas quero ver a exposição, que está na Cordoaria Nacional, em Lisboa,at+e ao dia 1 de Dezembro: "Viva a República 1910-2010"


Diz o Guia do Lazer, do jornal Público:

Uma extensa exposição documental, dividida em diversos núcleos, para marcar o Centenário da República. Até 1 de Dezembro na Cordoaria Nacional, em Lisboa.
Sem dúvida um dos ciclos políticos mais marcantes da história recente portuguesa, o advento da República é mostrado nesta exposição por meio de nove núcleos: "Modo ordeiro ou revolução? - Revolução! (1873-1910)", "Pátria e República. Um governo provisório revolucionário (1910-1912)", "Governação Republicana - Primeiros sucesso, grandes desilusões (1913-1917)", "Primeira Grande Guerra - O palco internacional da República", "Sidonismo - A República Nova", "Refundação da República - A Nova República", "A Queda da República e a Resistência Republicana", e ainda núcleos dedicados ao Desporto, "Os homens fortes de amanhã" e à Cultura, "Entre a Tradição e a Modernidade".

http://lazer.publico.pt/artigo.asp?id=258817

Aproveitem os "nossos seres, saberes e lazeres"... e os fins de semana (quem ainda trabalha).

Luís Graça

Torcato Mendonca disse...

Caro Carlos Cordeiro
Sem dúvida alguma que, o trabalho dos Editores deste Blogue é mais que meritório e a sua pedra base. Transcrevem, corrigem, "lançam água em certas fervuras"e muitos eteceteras. Não sei como o conseguem. Mas, ainda na continuação do P7083, agradeço-te o despoletar deste trabalho e ao Luís Graça igualmente. Creio que ficamos a saber, concretamente embora só um pouco, de como era feita a colonização na Guiné, dita portuguesa. Até ficamos a saber,no concreto,a evolução implementada por outra(s) potências coloniais nos países limítrofes.
Este e outros trabalhos dão, com toda a subjectividade, a quem passou pela Guiné uma noção, talvez diferente da nossa passagem de cinco séculos por lá.
Ou reforce certas interrogações!
Não me alongo mais. Curioso os barcos da Casa Gouveia ou Ultramarina virem Geba acima e nós em segurança no Mato Cão...se eram delas...outro assunto.

Agradeço o Vosso Trabalho e mantenho o que disse, apesar de ter lido ontem e relido hoje "já aprendi algo neste dia de Outono". Se não sair continuarei a ler - O Bom Inverno de João Tordo - recomendo e estou atrasado na leitura.

Abraço fraterno para os dois e, se me permitem, estendo-o aos outros Editores e a todos, quer gostem ou não de História e da nossa colnização...

Manuel Reis disse...

Caro Carlos Cordeiro:

Bonito artigo este, que nos permite constatar que após um século, tudo se mantém.
A classe política em Lisboa põe e dispõe de modo a satisfazer os seus apaniguados, agora como dantes!
Por outro lado, os que estão no terreno e conhecem as carências lutam por mudar o que de errado encontram, mas as suas limitações políticas coartam-lhes a capacidade na arte de bem gerir.
Notável a referência ao nosso atraso em relação às outras colonizações, todos nos ultrapassaram.
Espantosa a desproporção nas forças militares entre oficiais e soldados, lá estacionadas, e ainda o seu elevado contigente, face à realidade que se vivia.
É muito enriquecedor este artigo em termos históricos e toca a actualidade dos nossos conturbados tempos.
Ele mostra-nos como a actual República enferma, passado um século, de algus dos erros e vícios que herdou da 1ª.
Ao Carlos e ao Luís a minha gratidão por este trabalho tão valioso.

Um abraço amigo

Manuel Reis

Anónimo disse...

Visto assim de relance, este António Silva Gouveia faz-me lembrar a figura dos lançados, tangomãos ou tangomaus, os Portugueses, de origem europeia, que exploravam por conta e risco a Costa da Guiné (Senegâmbia).

Criavam relações especiais com soberanos locais que os protegiam. Um dos mais conhecidos, no Séc. XVI, chamava-se João Ferreira: falava vários dialectos e acabou por casar com uma princesa do reino Denianke, do Norte do Senegal, de quem terá tido descendência.

Eram indivíduos, provavelmente como o Gouveia, aventureiros, destemidos, "self-made men" (diriamos hoje), com um grande capacidade de adaptação à terra e às gentes da África ocidental, subsahariana, ao ponto de se deixarem “cafrealizar”...

Tinham, por seu turno, um capital de queixas contra a Metrópole e a administração portuguesa que os perseguia, tal como a Igreja, por alegadamente darem uma má imagem de Portugal e da fé cristã entre os “gentios”.

Por outro lado, estes homens, muitos ao que parece de origem cristã-nova ou com antecedentes criminais, punham em causa o “monopólio real” imposto ao comércio atlântico, e em especial com a Senegâmbia. Eram homens que não tinham escrúpulos em negociar com os nossos rivais, os ingleses, os holandeses e os franceses, que graças às suas manifacturas tinham mais e melhores mercadorias para oferecer…

Luis Graça

Anónimo disse...

Caros camaradas,

Ao Carlos o que é do Carlos e ao Luís o que é do Luís. No fim temos um artigo soberbo, enriquecedor em termos de conhecimento e história.

Ainda, de realçar o entendimento, a entreajuda entre os camaradas envolvidos e, usando as palavras do Carlos, a competência dos nossos editores. Gostaria de acrescentar que a dedicação destes não tem pararelo, é única!

Do artigo se depreende que, depois de um século passado, a máquina evolutiva gvernamental sempre emperrou nas boas intenções. Marca muito passo, raramente se aventura a sair da parada e, quando o faz, dá uma voltinha à volta do quarteirão. Por outras palavras, faz um esforço tremendo para não se cansar.

Neste artigo, também somos levados a perceber que muito do que foi feito naquela ex-província ultramarina se ficou a dever à iniciativa privada.

No caso presente, a Casa Gouveia fou uma das que mais se ditinguiu. Para o Sr. Gouveia, a máquina governamental não ajudava. No entender dele, a administração pública constituía um peso financeiro e era um impecílio à evolução tanto pela inação como a desviar braços válidos do trabalho.

Para vosso conhecimento, em Bassarel e São João havia edifícios, casas residenciais e barracões, que tinham pertencido à casa Gouveia (talvez continuassem a pertencer).

Tanto num caso como no outro aqueles edifícios estavam ocupados pelas forças militares.

No caso de Bassarel, os edifícios albergavam totalmente o único pelotão ali sediado e o comando e serviços. Em São João os edifícios estavam ocupados por algumas famílias dos pelotões nattivos #s 56 e 66.

Um abraço amigo,
José Câmara

admor disse...

Após ter lido tudo apetece-me dizer só isto:
Agora e sempre por todos os séculos, assim foi...
Se aimda não conseguimos fazer quase nada por nós, como conseguiríamos fazer qualquer coisa pelos outros.
Só nos resta rogar a todos os deuses menores e MAIORES, para intercederem por nós e por todos os pobres do mundo.

Um grande abraço para todos,

Adriano Moreira

Carlos Vinhal disse...

Já os Romanos diziam na antiguidade que não percebiam "estes Lusitanos" que não se governavam nem se deixavam governar.

"Felizmente" ainda hoje somos assim. Será sina ou será dos genes?
Venha o FMI, os Romanos da actualidade.

Abraço
Carlos Vinhal

Luís Graça disse...

Seria interessante continuarmos a fazer o levantamento dos estabelecimentos (lojas, armazéns e outras estruturas) da Casa Gouveia, na Guiné, uma empresa que estava no nosso imaginário mas da qual, ao fim e ao cabo, sabíamos muito pouco...

Da biografia do fundador do Grupo CUF, Alfredo da Silva (1871-1942), retiro os seguintes elementos:

"(...) Em 1918 sobe ao poder Sidónio Pais, é conhecido o seu apoio pelo industrial [, Alfredo da Silva,] que durante este período será eleito senador, e também designado para o Conselho Superior Económico.

"Com a guerra terminada, lança-se na criação de uma nova empresa, que será crucial para o futuro da CUF, de seu nome Sociedade Geral de Indústria Comércio e Transportes.

"Esta empresa fundada em 1919, iria ainda antes de se lançar no ramo dos transportes marítimos (1922), estava apta a adquirir ou fazer parte do capital de outras empresas que interessassem ao projecto de expansão da CUF, foi esse o caso da Casa Gouveia na Guiné. Assentava na exploração agrícola, centrada na palma, no mendobi (amendoím) e gergelim, que passariam a ser carregados em barcos da SG e passariam a ser transformadas em óleos comestíveis no Barreiro".[, v.g. óleo fula]. (...)

Fonte:

O Grupo CUF - Elementos para a sua história, blogue de Ricardo Ferreira.

SEGUNDA-FEIRA, 9 DE JULHO DE 2007
À memória de Alfredo da Silva 1871-1942

http://industriacuf.blogspot.com/2007/07/como-comeo-deste-meu-blogue-no-poderia.html

Anónimo disse...

Interessante documento que nos possibilita compreendermos melhor que povo é este alojado nesta costa marítima. Já nessa altura padecíamos do problema de incompetência e mais qualquer coisinha, parece sina (existe?).
Que povo este capaz de viver as coisas boas de igual forma como suporta tantas coisas más.
Parabéns a todos os que contribuiram para este belíssimo trabalho.
Um abraço
BSardinha

Anónimo disse...

Camaradas
O post em presença revela à saciedade a qualidade desorganizativa dos portugueses. Se, por um ledo, somos capazes das maiores aventuras, como aqui se descreve do Gouveia e do Princípe no norte do Senegal, por outro, damos de nós essa infeliz imagem dos incompetentes e acéfalos, que têm um exército de oficiais sem praças. Talvez se compreenda, se os oficiais ali colocados iam só fazer pé-de-meia, ou cumprir ostracismos sem condenação. A natureza lusitana não parece ter mudado tanto, o que significa que, a par dos anseios e sacrificios de uns, prospera a arrogância e despesismo de outros.
Falta-nos carácter para impor sistemas de prevenção e fiscalização às instituições.
Abraços fraternos.
JD

Antº Rosinha disse...

Fomos muito mal governados pelos ingleses, desde que o João VI foi para o Brasil.

Anónimo disse...

Caros Camaradas

Como já li também os restantes comentários, apenas me resta associar-me ao que todos disseram.

Ao abrir esta caixa para comentar, fi-lo em primeiro lugar para dizer muito do que outros já expressaram, uma vez que a leitura daquelas queixas do Deputado ASGouveia despertaram-me os mesmos sentimentos, já expostos.

De facto, estamos "como dantes...", pois será esta a sina deste Povo?

Dakar, roubou naquele tempo o movimento aos Portos de Cabo Verde, devido, em parte talvez, aos tributos que cobravam, mais baixos do que os nossos.
Mas não é o mesmo que nos tempos modernos tem acontecido ao "roubo" do movimento portuário português, por espanhois e outros?

Dou só o exemplo do BACALHAU.
No Porto de Aveiro (situado no concelho de Ílhavo, malandrice...), que barcos descarregam actualmente Bacalhau?
Ainda há bem poucos anos até os navios russos aqui vinham descarregá-lo...
E agora? Apesar do grande número de Empresas que o comercializam terem as sedes e armazéns na Gafanha da Nazaré, onde estão os cais portuários. Zero.
E porquê? Porque as taxas que pagam são incomparavelmente superiores áquelas que pagam na Galiza.
A esses comerciantes fica-lhes mais barato descarregar lá fora e pagar o transporte por via terrestre, do que descarregar no cais em frente dos seus armazéns.
Mas agora, por último, esses mesmos comerciantes até colocam o bacalhau mais barato em Portugal, descarregando-o na Holanda?!
E depois, acabaram por gastar "pipas de massa"
numa linha ferroviária, para fazerem 1 viagem de mercadorias por dia? Se é que dá essa média...

Abraços para todos

Jorge Picado