Camaradas,
Aproveitei o sossego que o meu neto me deu durante algum tempo - enquanto fazia os trabalhos da escola - e sentei-me ao computador.
Segue um texto aproveitando a oportunidade para enviar aos esforçados editores e a todos os tertulianos os meus votos de um novo ano sem medos.
Se a nossa amizade se mantiver em alta havemos de sobreviver.
QUEM TEM CU… PUXA PELA CABEÇA!
Percorri o nosso blogue e, por falta de jeito ou por não existir mesmo “em carteira”, não encontrei testemunhos dos variadíssimos truques que na vida militar se usaram quando tocava a desenrascar. Não me estou a referir ao “desenrascanço” do dia a dia mas aquele “especial” quando cheirava a mobilização!
Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, que vou começar a partilhar com a nossa “Tabanca Grande”.
Não vou referir nomes mas apenas locais.
1) Um conterrâneo meu, alferes miliciano de Artilharia, já com mais de 2 anos de serviço foi “avisado” que o Spínola estava a pedir para a Guiné “carne p'ra canhão”. Embora já estivessem a mobilizar malta do curso a seguir “iam voltar a atrás” e era melhor preparar as malas para ir conhecer a Guiné…
O Alberto (nome fictício) lembrou-se de um médico amigo e teve um oportuno “ataque de asma”. Foi internado no Hospital Militar de Coimbra e ganhou algum tempo.
Mas um dia… há sempre um dia… foi informado que ia ser submetido a uma Junta Médica e que a “porra” da”sua” asma não ia dar…
Quem tem cu... puxa pela cabeça e o Alberto, na manhã do dia da Junta, foi “snifar” enxofre para a casa de banho de um amigo que estava a estudar em Coimbra.
Levou tanto a peito o seu “papel” de asmático que quando se apresentou à Junta estava doente “a sério”. Foi de charola para a enfermaria mijado de medo… Esteve uns dias”enxofrado” mas safou-se. Contra os canhões marchar, marchar e… veio para Alcobaça em vez de ter ido prá Guiné.
2) Aconteceu no HMP ,em Lisboa, onde cumpri dois anos da minha tropa.
Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, que vou começar a partilhar com a nossa “Tabanca Grande”.
Não vou referir nomes mas apenas locais.
1) Um conterrâneo meu, alferes miliciano de Artilharia, já com mais de 2 anos de serviço foi “avisado” que o Spínola estava a pedir para a Guiné “carne p'ra canhão”. Embora já estivessem a mobilizar malta do curso a seguir “iam voltar a atrás” e era melhor preparar as malas para ir conhecer a Guiné…
O Alberto (nome fictício) lembrou-se de um médico amigo e teve um oportuno “ataque de asma”. Foi internado no Hospital Militar de Coimbra e ganhou algum tempo.
Mas um dia… há sempre um dia… foi informado que ia ser submetido a uma Junta Médica e que a “porra” da”sua” asma não ia dar…
Quem tem cu... puxa pela cabeça e o Alberto, na manhã do dia da Junta, foi “snifar” enxofre para a casa de banho de um amigo que estava a estudar em Coimbra.
Levou tanto a peito o seu “papel” de asmático que quando se apresentou à Junta estava doente “a sério”. Foi de charola para a enfermaria mijado de medo… Esteve uns dias”enxofrado” mas safou-se. Contra os canhões marchar, marchar e… veio para Alcobaça em vez de ter ido prá Guiné.
2) Aconteceu no HMP ,em Lisboa, onde cumpri dois anos da minha tropa.
Na “transmissão de poderes” fui informado em voz baixa que o “cama 16” estava desenfiado. Aguardava uma ida à Junta e o 1ºCabo “chico” que eu ia substituir “facilitava-lhe a vida” porque o rapaz “dava-se mal" com hospitais… E comia e dormia melhor em casa do pai que estava ligado à construção… ou à sucata (já não me lembro bem).
Fiquei sem fala e fui eu que nessa noite dormiu mal. Não estava minimamente interessado em lavar uma “porrada” por causa de um “menino de Lisboa”…
Consegui o seu telefone e o rapaz veio à Estrela (à civil) conhecer a nova situação.
Era palavroso e usou muitos argumentos mas teve que ir a casa buscar a farda e a escova de dentes… Aguentou uns dias de internamento e foi à Junta. Safou-se obviamente.
Já naquele tempo a “sucata”… ou a “construção” faziam milagres…
3) Passou-se também no HMP em Lisboa e nesta “estória” fui comparsa… bem perto do protagonista.
Fui procurado ao fim da tarde por um Soldado-Miliciano que, com acentuada pronúncia madeirense, me pediu uma conversa a sós.
Tinha um problema complicado e pedia a minha ajuda para nessa noite correr uma hora e meia no corredor que ficava entre a enfermaria e o meu gabinete. Os “porquês” deste pedido insólito tinham a ver com uma ida à Junta no dia seguinte.
E explicou-me a necessidade da corrida nocturna.
Durante a recruta quando fazia “trabalhos de estrada” horas depois começava a urinar “sangue”. Como já estava há mais de um mês internado (e sem fazer os esforços normais de uma recruta) já não tinha os sintomas que o tinham levado ao internamento no HMP (um cálculo renal). Convém esclarecer que nesta Enfermaria de “Sífilis” –como era conhecida na gíria hospitalar - “residiam” doentes de outras especialidades (no caso de falta de camas em Medicina ou Cirurgia).
Voltando ao jovem madeirense… precisava portanto de uma corrida nocturna para mijar sangue no dia seguinte.
Confesso que hesitei um pouco por o Director do HMP da altura (Dr. Ricardo Horta Junior) ser tudo menos compreensivo. E quem fosse apanhado a “mijar fora do penico” comia pela medida grande.
Mas o nosso soldado-recruta estava tão aflito que… eu alinhei.
Voltei ao Hospital após o jantar (estava “desarranchado” ) e, depois de informar o “vela”(que era da Nazaré) que ia haver uma actividade física do “cama 30” consegui reunir condições para o rapaz do “cálculo” começar a correr. Parece-me que ainda hoje ouço a sua respiração ofegante e vejo o seu olhar angustiado…
Foram voltas e mais voltas no corredor até o jovem “sentir” que tinha conseguido atingir um “cálculo” semelhante aos esforços que era obrigado a fazer na recruta da E.P.C., de Santarém.
No dia seguinte, à tarde, arranjei maneira de estar no corredor dos Juntas Médicas.
Quando o recruta madeirense me viu e correu para mim para me dar um abraço percebi que tudo tinha corrido bem.
Meses depois visitou-me em Alcobaça e foi coberto de “mimos” da minha mãe. Boas comidas e dormidas… sem necessidade de corridas prévias…
Escrevemo-nos alguns tempos mas depois… o tempo afastou-nos.
Sabe-se lá se esta “estória” vai atravessar o Atlântico e chegar ao seu conhecimento!
Tinha a sua piada.
E no “mundo” imenso do blogue do nosso “Luís Graça & Camaradas da Guiné” tudo pode acontecer.
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)
Voltando ao jovem madeirense… precisava portanto de uma corrida nocturna para mijar sangue no dia seguinte.
Confesso que hesitei um pouco por o Director do HMP da altura (Dr. Ricardo Horta Junior) ser tudo menos compreensivo. E quem fosse apanhado a “mijar fora do penico” comia pela medida grande.
Mas o nosso soldado-recruta estava tão aflito que… eu alinhei.
Voltei ao Hospital após o jantar (estava “desarranchado” ) e, depois de informar o “vela”(que era da Nazaré) que ia haver uma actividade física do “cama 30” consegui reunir condições para o rapaz do “cálculo” começar a correr. Parece-me que ainda hoje ouço a sua respiração ofegante e vejo o seu olhar angustiado…
Foram voltas e mais voltas no corredor até o jovem “sentir” que tinha conseguido atingir um “cálculo” semelhante aos esforços que era obrigado a fazer na recruta da E.P.C., de Santarém.
No dia seguinte, à tarde, arranjei maneira de estar no corredor dos Juntas Médicas.
Quando o recruta madeirense me viu e correu para mim para me dar um abraço percebi que tudo tinha corrido bem.
Meses depois visitou-me em Alcobaça e foi coberto de “mimos” da minha mãe. Boas comidas e dormidas… sem necessidade de corridas prévias…
Escrevemo-nos alguns tempos mas depois… o tempo afastou-nos.
Sabe-se lá se esta “estória” vai atravessar o Atlântico e chegar ao seu conhecimento!
Tinha a sua piada.
E no “mundo” imenso do blogue do nosso “Luís Graça & Camaradas da Guiné” tudo pode acontecer.
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7534: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (29): Não falarei de mal-entendidos (Juvenal Amado)
6 comentários:
No fim da recruta em Tavira,no mês de Setembro do ano de 1968.Selecionavan-se voluntários.para os Comandos,em Lamego. Eu estava na galhofa com o Aspirante Miliciano Antunes,comandante do 2º pelotão da 2ª Comp. Quando o 2ºª Comandante da 2ª Comp. o Ten. Madeira o interpelou, o que se passa aí nosso Aspirante?Ao que ele respondeu, estava a convidar o nosso instruendo a voluntariar-se para os comandos,ordem imediata do nosso Ten. ele que dê um passo em frente. Disse ao Aspirante Antunes, já me lixou. Eu que queria ir para Trms.No dia seguinte lá fui ao Quartel da Graça,para a respectiva inspeção sanitária.Quando via os camaradas a saír da inspeção, a dizer que que sofriam de todas as doenças e mais algumas,pensei ,lá vais bater com so costados em Lamego.Pelo que quando chegou a minha vez,enfreitei o Alf. Médico,e o Sarg. Ajudante.Às questões se estava doente,se sofria de alguma maleita, respondi que não, senão não estava na recruta.Há pergunta se queria ser comando respondi que não.Então porque é que estava ali? Porque me mandaram dar um passo em frente.Resposta do Alferes Médico INAPTO.O Sarg Ajud. se os olhos fusilassem eu saía do gabinete morto.Resultado o Asp. Antunes e o Alf. Médico(não fixei o nome ).Nessa noite foram cobrar-me as bicas ao Café Rocha (ou Central).Junto à Ponte do Gilão.
Amigo Jero
Li com atenção as histórias do HMP, eu também apanhei o mesmo Director Hospitalar,que não era flôr que se cheirasse,entre Novembro de 1965 e fins de 66, foi o prémio de final de comissão, uma bazucadazita.
Mas vou contar uma cena também veridica em que vou adoptar o mesmo critério, nada de nomes até porque o interveniente já partiu.
Na altura, estando eu já no Anexo, mais vulgarmente chamado de Texas, o responsável pela alimentação, era um Sarg.Ajud. que por ter sido condutor de oficiais na guerra de Espanha, oficiais que eram manda chuvas em 1965 e que tinham uma grande amizade pelo citado S.A., que "não deixavam"
ele ser mobilizado, sendo ele do Serv.Material.
Mas ouve um descuido e o nosso amigo foi parar á Guiné, mais precisamente ao quartel do S.Mat. em Bissau, não se conformando ele com a nomeação.
Como ele sofria de miopia, não teve com meias medidas, baixou ao HM241, com queixas de que não via quase nada.
Depois de observado, o médico disse-lhe que o que ele tinha, a miopia, não era motivo para ser evacuado, ao que ele, o S.A. respondeu:
O SrºDrº vê lá ao longe aquela coisa azul, o médico disse, vejo concerteza, pois SrºDrº eu não consigo vêr.
Um abraço e um bom 2011
Rogerio Cardoso
Cart643-Aguias Negras
Meu caro Jero,
Passei pelo mesmo serviço, no HMP, em 1968/69, então chamado de Dermatologia. Não vou contar nenhuma das histórias vividas, mas são de arrepiar.
O Dr. Médico, Director, Brigadeiro Horta era pai dos grandes heróis "civis", Ricardo Baião Horta e Basílio Horta.
Não dá para contar, porque passaríamos por mentirosos, as histórias das Juntas Médicas e dos seus resultados.
No meu tempo, um dos "doentes" que se besuntava com vinagre antes da Junta, e que se "livrou", foi durante muitos anos, Director Hoteleiro, num 5 estrelas de Lisboa, sem qq problema de saúde.
Mas era assim... e nós eramos jovens, bem intencionados, cumpridores, meio inconscientes...
Bom Ano 2011.
Um Abraço
Manuel Amaro
Caro Jero
As coisas eram como eram e se calhar continuam na mesma.Uns safavam-se usando de artimanhas ou influencias,equanto outros ...
Em lamego,no curso de Comandos,um amigalhaço levou com um pedaço de bala que ricocheteou no chão durante a inst.Comb.(queda na máscara),bala essa que se lhe alojou,ao que me parece recordar,próximo do coração.
Foi evacuado de urgencia e de heli
para o Hospital.
Três anos passaram e em Bissau,por alturas de regresso à Metrópole,calhou de nos encontrarmos,o que muito me surpreendeu!
Tinha acabado de chegar e mantinha a bala no corpo,que tinham acabado por não tirar por ser demasiado arriscado.
Luis Faria
Caro Jero
O HMP, só o vi e mal uma unica vez (interiormente), pois quando lá entrei ia com os olhos meio abertos e meio fechados, porque se apanhamos hoje, se manifesta tempos depois.
Minha comissão na Guiné, foi toda passada no HM241, na questão de saúde não havia mal que nos chegasse, pensavamos nós, pois tinhamos as prevensões necessárias para tal.
Como quando escrevia para meus pais, punha no remetente:
Meu nome, sold. Cond, nº. 202/68 - S P M 0438, não convencia minha mãe de que estava num Hoapital, se assim fosse, tinha uma morada.
Tive de cá vir.
Tendo, para isso, me enviado dinheiro.
Não vim de vontade, não sou supresticioso, mas infelizmente, foi a uma sexta-feira 13 de Junho de 1969, tendo voltado para a Guiné
35 dias depois, no dia 18 de Julho e se não estou em erro junto com o nosso Camarada que foi evacuado duas vezes e meia, Hugo Guerra.
Cinco dias depois de cá ter chegado, senti que comigo tinha viajado um passageiro clandestino:
O Sr. Paludismo, que me pagou a boleia com 41º de febre, por muito que pensasse, para melhor tratamento teria de recorrer ao HMP.
O médico que me viu, dise-me logo:
É paludismo, vai ter de cá ficar por a temperastura ser muito alta.
Mas vim para casa, depois de lhe dizer que estava de férias, tinha vindo de um Hospital e não queria meter-me noutro, que faria a medicação á risca.
Confiou, mas veio o conselho:
- Se nas próximas 24 ou 48 horas...não sentir melhoras, tem de cá voltar.
Não gostei do conselho.
Passei 4 dias em casa, mas uma coisa é certa...o Sr paludismo teve morte eficaz, até hoje, felizmente, nunca mais me chateou.
Um abraço
António Paiva
Boa ideia amigo Jero.
Aí vão duas verdadeiras.
Estava eu a estagiar no H. M. do Porto, quando me saiu na rifa um Cabo miliciano que se fazia de Gay,(à data, "paneleiro")
pensando que assim se iria safar.
O coitado baixou ao hospital, suponho que com uma boa cunha, como doente psiquiátrico.
A noite, apanhava os companheiros de enfermaria a dormir e metia-se na cama deles. durante o dia fixava-se num e... era um gozo pegado
Desde uma carga de porrada, a contos e ditos, insinuações, etc, a tudo estava imune.
Resolvemos convidar duas "meninas" para visitar o camarada ao lado, na condição de se sentarem na cama dele e o provocarem.
Claro que o pseudo Gay, não aguentou e ... calculem o resto.
Uma outra situação bem mais hilariante foi-me contada pelo barbeiro do Hospital.(Creio que toda a gente sabe que antes de se ir à Junta Médica,passava-se pelo barbeiro para dar um corte ao cabelo.
Um tempo antes de eu chegar, andou por lá um mancebo que se fazia de surdo. Durante quinze dias fizeram-lhe trinta por uma linha, mas ele sempre se aguentou.
No dia antes de ir à J.M. foi ao barbeiro, o qual era natural do mesmo Concelho e disse-lhe a gaguejar: SEeee eu fiiiicar livreee, tragoooo-te um garrraaafão de vinho.
Quinze dias depois, lá apareceu com o garrafão, para gáudio do conterrâneo.
Zé Teixeira
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