sábado, 7 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)



1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira - JERO -, (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos a seguinte mensagem: 


A CAMINHO DE IEMBERÉM COMO VOLUNTÁRIA DA “AD”

Camaradas,


Remeto-vos mais um texto que, nos tempos que correm, julgo ser um  grande exemplo de generosidade e amor pelo próximo. Uma senhora, que  poucos meses depois da reforma, resolve ir fazer voluntariado para a  Guiné, para a zona da Mata do Cantanhez.

Família, amigos(as), ex-colegas, ex-vizinhos:
 
Chegou o dia da partida. Hoje às 21.30 embarco para a Guiné-Bissau. No Domingo bem cedo,às 6 da manhã, farei a viagem para o Sul, para Iemberém, onde ficarei a residir nos próximos 6 meses. Vou contente, esperançosa, de muito aprender e, quem sabe, ensinar também.
 
Obrigada a todos os que partilharam comigo estes meses de preparação desta viagem, àqueles que me ajudaram de uma ou outra forma, àqueles que nos últimos dias me têm contactado para um último adeus.
 
Parece que vou para o fim do mundo mas não é assim. São só 3300 Kms de distância, 4 horas de voo e até dá para lá ir de carro. A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.
 
Aqui fica para cada um de vós um grande abraço e um até breve.
 
Anabela Pires
(6.Janeiro.2011)


Fotografia: © João Graça (2009). Direitos reservados.

Voluntariado na Guiné 

Conheci a Anabela Pires, em Coimbra, no dia do falecimento de sua Mãe.Já lá vão um bom par de meses. A conversa foi de circunstância e a minha presença na cerimónia religiosa ,no dia do funeral, deveu-se à minha relação fraterna com a sua irmã Margarida Pires, professora em Alcobaça e camarada de boas causas (Defesa de Património Cultural e outras). 

No último Verão soube pela Margarida que a sua irmã Anabela queria fazer serviço voluntário na Guiné. Falei-lhe do nosso Pepito (nickname do Engenheiro Agrícola Carlos Schwarz da Silva), que vive e trabalha em Bissau desde 1975, sendo um dos fundadores da AD - Acção para o Desenvolvimento. 

O mundo é pequeno e a Anabela Pires tinha sido colega e amiga da Alice Carneiro, mulher do nosso Editor Luís Graça. 

Poucos dias depois estava a falar com as pessoas certas e em poucos meses “arrumou” a sua vida para cumprir esse seu velho de sonho de fazer voluntariado em África. 

Esteve em minha casa na passada 4ª. feira, dia 4, a despedir-se e, obviamente a fazer-me perguntas sobre a “nossa” Guiné. Respondi-lhe gostosamente e tentei atenuar alguns dos seus receios em relação “a cobras e lagartos”. E ofereci-lhe um exemplar do meu livro “Golpes de Mão’s” com uma dedicatória em que lhe chamava “Mulher Grande”. 


Pedi-lhe para escrever alguma coisa para o nosso blogue. Agradeceu o convite mas disse-me que era cedo. Escreveria “quando tivesse feito alguma coisa de bom na Guiné”.
Recebi hoje o e.mail que reproduzi no início deste texto. E respondi como segue.

«Olá Anabela




Relendo o texto fixei-me de novo na parte do e.mail da Anabela em que diz:

«A alguns, os(as) mais atrevidos(as), eu espero um dia receber em Iemberém.»

Sinceramente passei ,a partir deste momento, a ser candidato a uma viagem à Guiné.
O futuro o dirá.

Em ano de crise percorrer 3.300 kms…não é (quase) nada!

E por uma boa causa…valerá sempre a pena.

JERO
Fur Mil da CCAÇ 675 
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 




Obrigado em meu nome e ,julgo poder dizê-lo, em nome de todos que passaram pela Guiné fazendo a guerra mas recordando, essencialmente, a paz..

Que tudo corra bem e parabéns aos Guineenses por terem junto deles a partir de hoje uma Mulher da sua raça. Uma Mulher (de) Grande (coragem).

Até breve.

Com todo o afecto (com “c”) aceite um apertado abraço do JERO».

6 comentários:

manuelmaia disse...

Caro Jero,

Por favor faz chegar à D. Anabela Pires,todo o meu reconhecimento enquanto ex-combatente,pela extraordinária atitude de solidariedade manifestada,
e se alguma vez passar por Cafine ou Cafal-Balanta que deixe por mim um olhar de saudade à terra e às gentes que nunca poderei revisitar,mas que nunca esquecerei.
Para ti um abraço do tamanho do Cumbidjã.
manuelmaia

Luís Graça disse...

JERO:

O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ontem falou-se muito de ti, no aeroporto de Lisboa, terminal 1... Falaram de ti, falámos de ti. A Anabela Pires, a irmã e o cunhado (que vivem aí em Alcobaça e são teus amigos), eu, a Alice... Estivemos no embarque da Anabela, que é também amiga da minha mulher... Infelizmente, ela não pôde embarcar por causa do visto (que o Pepito lhe arranjou mas que não foi aceite pela TAP)... Tentámos tudo, falámos com o Pepito, com a TAP, e nada... Irredutíveis, os tipos da TAP!...

Ficámos todos dececionados, mas a Anabela (que tem o "bichinho" de África e do serviço social) não perdeu a calma nem a compostura. É uma mulher de armas... Irá na próxima, resolvido o "problema burocrático"...

Hoje, logo às 6 da manhã, estava previsto ela partir, com o Pepito, julgo, para Iemberém. Tencionava lá ficar 6 meses, para trabalhar como voluntária no projeto do ecoturismo. (Ela, aqui, está reformada do Ministério da Agricultura).

Não a conhecia pessoalmente. Fui lá levar-lhe um CD com as cartas da região de Tombali, que ela me pedira por email. E a Alice foi lá deixar-lhe uma pequena encomenda para Alicinha de Farim do Cantanhez...

Soube que a Anabela andava a ler o teu penúltimo livro, o da Guiné... Ela já tinha aceite, há tempos, o meu convite para integrar o nosso blogue. Espero que muito proximamente isso aconteça. Um grande abraço para ti, um beijinho para a Anabela, abraços para os demais novos amigos de Alcobaça (irmã e cunhado da Anabela)... Abração também para o Pepito, se nos estiver a ler...LG

José Marcelino Martins disse...

D. Anabela Pires e, a partir de agora, Querida Camariga

Saudo e enalteço a sua firmeza ao partir para terra desconhecida, mas "muito nossa" há muito tempo.

Desejo-lhe as maiores venturas.

Alcobaça (terra de alguns dos meus antepassados) e a Guiné (minha segunda pátria) estarão, para sempre, ligadas por este seu abraço.

Beijo-lhe as mãos, antecipadamente pelo bem wue vai fazer àquelas gentes.

José Martins
Gato Preto, de Canjadude (leste)

Anónimo disse...

Informo que lá não querem saber do "visto".

Só querem o "fim de semana".

Sobre as formalidades da TAP,máximo rigor para lá (segurança e outros) e para cá (zero ...segurança e tudo o que a vossa imaginação quiser).

Desejo uma estadia agradável.
Aquele povo merece estes actos de solidariedade.

C.Martins

Anabela Pires disse...

Caros camarigas:

Obrigada, do fundo do coração, pelos vossos votos,pelas vossas cartas/mapas, pelo livro do Jero, que estou a ler.

Ainda nada fiz, só estou para embarcar, com sorte na próxima 6ª feira, dia 13.

Quando estava no aeroporto para embarcar,no dia 6, o que não sucedeu, recebi de uma amiga um livro de Paulo Freire,4ª edição de 1984, intitulado "Cartas à Guiné-Bissau". Na contracapa li "....o verdadeiro sentido da ajuda,aquela em cuja prática os que nela se envolvem se ajudam mutuamente, crescendo juntos no esforço comum de conhecer a realidade que buscam transformar. Assim, o ato (a ajuda) não se distorce em dominação do que ajuda sobre o que é ajudado.". Terei esta frase sempre presente e a minha ajuda não será,neste sentido, fácil, uma vez que vou trabalhar no projecto ecocantanhez. Há que ter, em primeiro lugar, presente a realidade, os intereses da população mas também a noção de qualidade dos "clientes", provavelmente provindos de culturas bem diferentes. Haja "engenho e arte"!

Bem, ao fazer este comentário, acabei por aceitar,muito antes do que tinha previsto, o honroso convite para me associar à Tabanca Grande!

Um abraço para todos(as),

Anabela Pires

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Esta notícia que o JERO nos enviou, com todos os ingredientes que a compõem, bem assim como as achegas que vieram dos comentários, tem várias coisas que são notáveis.

A primeira é, obviamente, a decisão de Anabela Pires em ocupar a sua reforma em algo que lhe é útil (também) mas em que dirige os seus conhecimentos, saberes e força de vontade em algo que enriquece quem toma esse tipo de atitudes e que é o de 'ajudar os outros'. Provavelmente o seu nascimento em África pode ter contribuído para o 'apelo' mas acho que o 'contágio' com a Guiné explica-se através do que foi referido sobre os contactos e os conhecimentos.

Depois, serve também para sabermos como os problemas burocráticos, as necessidades de 'afirmação' de pequenos peões se acabam por agigantar e complicar o que pode ser simples. Nem toda a gente tem a paciência necessária para enfrentar essas contrariedades, o que, felizmente, não é o caso de Anabela Pires.

Saltando por cima de mais algum outro pormenor sublinho agora o comentário que a Anabela faz em que toca exactamente no ponto essencial do que deve ser (ou não) uma atitude correcta em termos de cooperação. É isso mesmo!
Já tinha lido num relatório de actividades da AD alguma posição crítica à forma como algumas 'cooperações' foram feitas e como disso nada resultou e às vezes 'antes pelo contrário' e a chave do sucesso è sempre o que a Anabela acabou por citar. Igualmente o mesmo tipo de conclusão já me tinha sido feito chegar pela aminha amiga Marta aquando dos seus relatos como cooperante onde se apercebeu perfeitamente dessa situação de troca de conhecimento e de reciprocidade de ganhos.

Do meu ponto de vista a Anabela está no caminho certo, vai ter sucesso na sua actuação e vamos ter conhecimento de várias situações relatadas ao vivo e actuais.

Boa viagem e bom trabalho.

Quanto ao JERO, o mesmo de sempre. Grande sensibilidade, bom 'olho' para os bons valores e sempre aquela disponibilidade desinteressada que o caracterizam.

Abraço
Hélder S.