1. O nosso camarada Idálio Reis, Engenheiro Agrónomo reformado, natural de Cantanhede, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, 1968/69) faz questão de oferecer um exemplar autografado do livro a todos os camaradas da Guiné que aparecerem na sessão de apresentação. O livro, edição de autor, não está à venda no mercado livreiro.
O livro, cuja narrativa não está isenta de paixão e dor, não fosse o seu autor oficial miliciano da CCAÇ 2317, centra-se essencialmente na história dramática dos homens-toupeira, os heróicos construtores e defensores da Gandembel e de Ponte Balana, no corredor da morte. Começa com uma dedicatória (Relembranças) aos seus camaradas de Companhia, seus familiares e combatentes de outras Unidades que partilharam os mesmos momentos difíceis que não foram poucos, um Preâmbulo com a formação da Companhia e listagem nominal dos militares que a compunham.
Depois de um capítulo dedicado à chegada a Bissau e treino operacional, faz uma descrição da evolução da guerra subversiva na Guiné, desde 1963 a 1967.
O ano de 1968 coincide com a chegada da CCAÇ 2317 à Guiné, pelo que a partir daqui o livro entra no seu tema principal. Primeiro uma passagem por Guileje, onde, nas palavras de Idálio, a guerra não se fez esperar, depois a ida para Gandembel e Ponte Balana, em 8 de Abril de 1968, um deserto onde as condições de vida eram piores que más. Trabalhar na construção de abrigos tendo sempre à vista a G3, ferramenta bélica, companheira inseparável. Trabalho árduo, noites mal dormidas, emboscadas, ataques ao "aquartelamento" e às colunas de reabastecimento, mortos e feridos, de tudo e pior que se possa imaginar foi o inferno de Gandembel.
Idálio Reis não se cansa de ao mesmo tempo que narra os momentos mais trágicos da sua 2317, realçar a bravura dos seus heróicos militares. O livro está profusamente ilustrado, dando ao leitor a ideia do esforçado trabalho e das condições miseráveis em que sobreviviam. Depois de meses de sacrifício, o então novo Comandante-Chefe António de Spínola, contrariando a ordem do anterior, Arnaldo Schulz, de ocupação de Gandembel, torna efectiva uma ideia há muito amadurecida, a retirada da tropa daquele local. Estávamos já a 28 de Janeiro de 1969. Destino, Buba, onde finalmente souberam o que era dormir numa cama e usufruir de alimentação melhorada.
Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Terminada a odisseia da 2317, o autor fala-nos das célebres Directivas do General Spínola. A mais célebre será a 20/68 de 25 de Julho que permitiu, entre outras alterações no TO do CTIG, a retirada das NT de Gandembel.
Na sequência de leitura encontramos um capítulo dedicado a Os Gandembéis, ao seu Cancioneiro, às suas músicas e poetas. O autor publica as letras do Hino de Gandembel e do poema Os Gandembéis (90 estrofes, em oitavas decassílabas, adaptadas de Os Lusíadas).
Finalmente o livro retoma as facetas da incidência da guerra subversiva após o regresso da 2317, que contempla o período entre 1970 e 1974, fim da guerra colonial e do regime deposto em 25 de Abril.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9629: Agenda Cultural (188): Convite para o lançamento do livro Adeus até ao meu regresso, de Mário Beja Santos, dia 29 de Março de 2012, pelas 18h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Carlos Vinhal)
6 comentários:
Não é um livro.
Não. ´É um Guião de um Filme para o futuro.
É, um, dois, muitos,muitos gritos em palavras descritos do que aconteceu.
Aquilo, ali descrito e tão bem escrito aconteceu. Muitos de nós sabemos que sim.
Muitos necessitam saber o que foi aquele e muitos outros “víveres”. Aquilo foi, como disse o LGraça um trabalho de SÍssifo.
Não se lê de um fôlego, não se lê sem ,para muitos de nós, se entrar para lá….
…tem o som das saídas, dos rebentamentos, tem a luz dos rebentamentos… tem a terra a saltar, o grito a soar….tem o dente a cerrar e a resposta violenta a de nós sair…lá e, aqui e agora…
Tem a raiva a devagar de nós se ir apropriando. Paramos. Respiramos fundo e fazemos uma pausa…o Idálio Reis é meu contemporâneo na Guiné, fomos e viemos nos mesmos meses…
Este Livro deve ser lido, tem que ser lido para quem, não vivendo situações daquelas, deve saber. Par quem as viveu. Para todos e para memória futura deste Povo e no respeito que Ele merece. Eu disse ao Idálio; esperar por …é suplicio só não sei se nessa data o tenho todo lido. Li e não li camaradas…li e vou lendo…algo se apodera de nós e devemos parar, repousar e, de certeza, tu e mais tu e muitos tu’s irão sentir algo que não quero definir agora e aqui…
Porquê e Para Quê???????????????????
Eu vos abraço T
Na impossibilidade de estar em Monte Real, peço ao Carlos Vinhal para, neste seu Post pessoal, mandar um abraço ao Idálio Reis.
Alberto Branquinho
O Idálio Reis transmitiu-nos a sua ideia em relação ao acesso ao livro:
(i) aos camaradas presentes, em Monte Real, e que estiverem interessados no seu livro, fará oferta de um exemplar (autografado);
(ii) aos camaradas ausentes, por razões de força maior (conflito de datas, doença, etc.), que lhe pedirem - caso do Alberto Branquinho, por ex. - , mandará um exemplar por portador (desde que presente em Monte Real);
(iii) nos restantes casos, mandará o livro pelo correio, com porte pago pelo destinatário...
O livro, edição de autor, não está em venda nem tem preço de capa.
Nos tempos que correm, é um gesto de grande nobreza e camaradagem!
O mito de Sísifo, de Albert Camus... Um dos meus livros de cabeceira no TO da Guiné...
Camus retoma e reformula o mito de Sísifo, o homem que desafiou os deuses... Pela sua rebeldia teve uma terrível uma punição: a de ter de empurrar, para toda eternidade, uma enorme pedra até ao topo de montanha... Chegado ao topo, a pedra voltava a rolar para baixo, tendo o Sísifo de recomeçar tudo de novo...
Sísifo é o herói do absurdo... mas da rebeldia e da liberdade...
Camarigo Idálio:
Em princípio estarei em Monte Real no dia 21 e espero regressar com teu livrinho.
Depois destes elogios do Torcato, o desejo aumenta.
Um abraço
Manuel Reis
Manel Reis: Mas é preciso a inscriçãozinha... senão lerpas!
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