sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9644: Agenda Cultural (189): Apresentação do livro A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana, de Idálio Reis, dia 21 de Abril de 2012 no Palace Hotel de Monte Real (Carlos Vinhal)




1. O nosso camarada Idálio Reis, Engenheiro Agrónomo reformado, natural de Cantanhede, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, 1968/69) faz questão de oferecer um exemplar autografado do livro a todos os camaradas da Guiné que aparecerem na sessão de apresentação. O livro, edição de autor, não está à venda no mercado livreiro.




O livro, cuja narrativa não está isenta de paixão e dor, não fosse o seu autor oficial miliciano da CCAÇ 2317, centra-se essencialmente na história dramática dos homens-toupeira, os heróicos construtores e defensores da Gandembel e de Ponte Balana, no corredor da morte. Começa com uma dedicatória (Relembranças) aos seus camaradas de Companhia, seus familiares e combatentes de outras Unidades que partilharam os mesmos momentos difíceis que não foram poucos, um Preâmbulo com a formação da Companhia e listagem nominal dos militares que a compunham.

Depois de um capítulo dedicado à chegada a Bissau e treino operacional, faz uma descrição da evolução da guerra subversiva na Guiné, desde 1963 a 1967.

O ano de 1968 coincide com a chegada da CCAÇ 2317 à Guiné, pelo que a partir daqui o livro entra no seu tema principal. Primeiro uma passagem por Guileje, onde, nas palavras de Idálio, a guerra não se fez esperar, depois a ida para Gandembel e Ponte Balana, em 8 de Abril de 1968, um deserto onde as condições de vida eram piores que más. Trabalhar na construção de abrigos tendo sempre à vista a G3, ferramenta bélica, companheira inseparável. Trabalho árduo, noites mal dormidas, emboscadas, ataques ao "aquartelamento" e às colunas de reabastecimento, mortos e feridos, de tudo e pior que se possa imaginar foi o inferno de Gandembel.


Idálio Reis não se cansa de ao mesmo tempo que narra os momentos mais trágicos da sua 2317, realçar a bravura dos seus heróicos militares. O livro está profusamente ilustrado, dando ao leitor a ideia do esforçado trabalho e das condições miseráveis em que sobreviviam. Depois de meses de sacrifício, o então novo Comandante-Chefe António de Spínola, contrariando a ordem do anterior, Arnaldo Schulz, de ocupação de Gandembel, torna efectiva uma ideia há muito amadurecida, a retirada da tropa daquele local. Estávamos já a 28 de Janeiro de 1969. Destino, Buba, onde finalmente souberam o que era dormir numa cama e usufruir de alimentação melhorada.

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > Sem comentários!... Uma das fotos famosas do nosso blogue que nos acompanha há anos!.. As grandes fotografias dispensam legendas. Esta é uma das fotos-ícones da guerra da Guiné. Tem uma tremenda força dramática! Está lá tudo: o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, também tinha alma de poeta e sabia transformar a pá do trolha em viola de baladeiro, ou guitarra de fadista! Estamos lá todos nesta fotografia de um camarada, sozinho, no palco da guerra, no cu do mundo, enrodilhado num manta, dedilhando a sua viola ou a sua guitarra e cantando para um público imaginário as suas alegrias, as suas tristezas, a sua coragem, a sua solidão, a sua saudade, as suas esperança, os seus medos, os seus sonhos... Trata-se do nosso camarada Idálio Reis, na altura Alf Mil da CCAÇ 2317... Podemos imaginá-lo no intervalo de um dos 372 ataques e flagelações a que os nossos camaradas foram submetidos, entre 8 de Abril de 1968 até 28 de Janeiro de 1969, os nove meses em que, em tempo-recorde, construiram de raíz um aquartelamento, defenderam-no galharda e heroicamente e receberam ordens para o abandonar!...Um verdadeiro Suplício de Sísifo!... Noutro país, esta epopeia teria dado um grande filme, um grande livro, uma grande exposição fotográfica!... Gandembel, quer se queira ou não, faz parte da nossa história, dos portugueses e dos guineenses... É bom invocável para que não ouçamos amanhã a resposta dos nossos filhso e netos: Gandembel ? 'Não, nunca ouvi falar'... Em 1969, a música mais popular entre a nossa tropa era o Hino de Gandembel...

Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Terminada a odisseia da 2317, o autor fala-nos das célebres Directivas do General Spínola. A mais célebre será a 20/68 de 25 de Julho que permitiu, entre outras alterações no TO do CTIG, a retirada das NT de Gandembel.

Na sequência de leitura encontramos um capítulo dedicado a Os Gandembéis, ao seu Cancioneiro, às suas músicas e poetas. O autor publica as letras do Hino de Gandembel e do poema Os Gandembéis (90 estrofes, em oitavas decassílabas, adaptadas de Os Lusíadas).

Finalmente o livro retoma as facetas da incidência da guerra subversiva após o regresso da 2317, que contempla o período entre 1970 e 1974, fim da guerra colonial e do regime deposto em 25 de Abril.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9629: Agenda Cultural (188): Convite para o lançamento do livro Adeus até ao meu regresso, de Mário Beja Santos, dia 29 de Março de 2012, pelas 18h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Carlos Vinhal)

6 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Não é um livro.
Não. ´É um Guião de um Filme para o futuro.
É, um, dois, muitos,muitos gritos em palavras descritos do que aconteceu.
Aquilo, ali descrito e tão bem escrito aconteceu. Muitos de nós sabemos que sim.
Muitos necessitam saber o que foi aquele e muitos outros “víveres”. Aquilo foi, como disse o LGraça um trabalho de SÍssifo.
Não se lê de um fôlego, não se lê sem ,para muitos de nós, se entrar para lá….
…tem o som das saídas, dos rebentamentos, tem a luz dos rebentamentos… tem a terra a saltar, o grito a soar….tem o dente a cerrar e a resposta violenta a de nós sair…lá e, aqui e agora…
Tem a raiva a devagar de nós se ir apropriando. Paramos. Respiramos fundo e fazemos uma pausa…o Idálio Reis é meu contemporâneo na Guiné, fomos e viemos nos mesmos meses…
Este Livro deve ser lido, tem que ser lido para quem, não vivendo situações daquelas, deve saber. Par quem as viveu. Para todos e para memória futura deste Povo e no respeito que Ele merece. Eu disse ao Idálio; esperar por …é suplicio só não sei se nessa data o tenho todo lido. Li e não li camaradas…li e vou lendo…algo se apodera de nós e devemos parar, repousar e, de certeza, tu e mais tu e muitos tu’s irão sentir algo que não quero definir agora e aqui…
Porquê e Para Quê???????????????????
Eu vos abraço T

Anónimo disse...

Na impossibilidade de estar em Monte Real, peço ao Carlos Vinhal para, neste seu Post pessoal, mandar um abraço ao Idálio Reis.
Alberto Branquinho

Luís Graça disse...

O Idálio Reis transmitiu-nos a sua ideia em relação ao acesso ao livro:

(i) aos camaradas presentes, em Monte Real, e que estiverem interessados no seu livro, fará oferta de um exemplar (autografado);

(ii) aos camaradas ausentes, por razões de força maior (conflito de datas, doença, etc.), que lhe pedirem - caso do Alberto Branquinho, por ex. - , mandará um exemplar por portador (desde que presente em Monte Real);

(iii) nos restantes casos, mandará o livro pelo correio, com porte pago pelo destinatário...

O livro, edição de autor, não está em venda nem tem preço de capa.

Nos tempos que correm, é um gesto de grande nobreza e camaradagem!

Luís Graça disse...

O mito de Sísifo, de Albert Camus... Um dos meus livros de cabeceira no TO da Guiné...

Camus retoma e reformula o mito de Sísifo, o homem que desafiou os deuses... Pela sua rebeldia teve uma terrível uma punição: a de ter de empurrar, para toda eternidade, uma enorme pedra até ao topo de montanha... Chegado ao topo, a pedra voltava a rolar para baixo, tendo o Sísifo de recomeçar tudo de novo...

Sísifo é o herói do absurdo... mas da rebeldia e da liberdade...

Manuel Reis disse...

Camarigo Idálio:

Em princípio estarei em Monte Real no dia 21 e espero regressar com teu livrinho.
Depois destes elogios do Torcato, o desejo aumenta.

Um abraço

Manuel Reis

Luís Graça disse...

Manel Reis: Mas é preciso a inscriçãozinha... senão lerpas!