1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 21 de Março de 2012:
Alguns dados biográficos sobre o último CEM do CTIG, Coronel do Corpo do Estado Maior, Henrique Manuel Gonçalves VAZ
Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, em 1972, quando desempenhava as funções de CEM (Chefe do Estado-Maior) da Região Militar do Porto. É visível o símbolo da Região Militar do PORTO, no seu braço esquerdo, a cruz azul no escudo branco.
HABILITAÇÕES PROFISSIONAIS MILITARES
- CURSO DE CAVALARIA DA ESCOLA DO EXÉRCITO ( 1944 / Com 14 VALORES).
- CURSO GERAL DO ESTADO MAIOR ( 1955 ).
- CURSO COMPLEMENTAR DO ESTADO MAIOR ( 1958/59 “Aprovado” no C. C. E.M./ O.E. nº15 - 2ªSérie de 1 de Setembro de 1960).
- Em 1959 termina o Curso Complementar do Estado Maior e é considerado “Idóneo”, pela Comissão Técnica do Serviço do Estado Maior, para o ingresso no Corpo do Estado Maior.
Em 1958, o então Capitão Vaz, realizou um estágio na Alemanha, numa unidade Americana, no âmbito do Curso Complementar do Estado Maior (fotografia do capitão Henrique Gonçalves Vaz)
- Ingressou no Quadro do Corpo do Estado Maior, por portaria de 8 de Janeiro de 1960.
- Em 1963 é nomeado para servir em comissão militar na Região Militar de Angola, embarcando em Lisboa em 20 de Novembro. Nesta província irá desempenhar, nos anos de 1963/64, as funções de Adjunto da 4ª Repartição e de Chefe da Secção de Planeamento e Controle da 4º Repartição do Q. G. da Região Militar de Angola. No ano de 1965 desempenhou as funções de Chefe da 1ª Repartição do Quartel General da Região Militar de Angola.
- Entre 1966 e 1972 desempenha no Q. G. do Porto as funções, primeiro de subchefe e nos últimos três anos a de Chefe do Estado Maior da Região
- Militar do Porto. Os serviços prestados no Q. G. do Porto foram largamente reconhecidos superiormente pelas altas entidades de então, nomeadamente o Comandante da Região Militar do Porto e pelo Ministro do Exército, traduzindo-se estes reconhecimentos em louvores ao Coronel Henrique Vaz pelas mesmas entidades
- Entre 1972 e 1973 Comanda o Regimento de Cavalaria Nº6, no Porto. Devido ao notável Comando desta unidade pelo Coronel Henrique Vaz, uma vez mais será Louvado pelo Comandante da Região Militar do Porto, “pela maneira altamente distinta e plena de dignidade como comandou o Regimento de Cavalaria Nº6 .... que revelaram um oficial distinto que valorizou a sua unidade e prestigiou a Região e as Instituições Militares ...”.
- Em 1973 é nomeado para servir novamente no Ultramar e embarca em Lisboa, em 7 de Julho, com destino desta vez para o C.T.I.G. (Comando territorial independente da Guiné), onde é colocado como Chefe do Estado Maior, e sob o comando do General Spínola, posteriormente do General Bethencourt Rodrigues. Esta missão, numa altura de grandes ofensivas do inimigo de então, o P.A.I.G.C., é levada até ao 25 de Abril, com alguns incidentes, sempre ultrapassados com muito “Mérito Profissional”, nomeadamente a “estadas forçadas” em aquartelamentos no teatro de operações, devido a ataques do inimigo (flagelações) a essas pequenas unidades militares na altura em que o Coronel Vaz as visitava como Chefe do Estado Maior, bem como a sobrevivência à explosão de uma bomba (22/02/1974) que colocaram no Q.G. (Quartel General), tendo-lhe causado apenas pequenas escoriações.
- A partir desta data (25 de Abril), e como militar que “aderiu ao MFA”, mas com grandes responsabilidades a nível de comando1, no Exército Português, neste teatro de operações, leva outra missão até ao seu términos, a de em colaboração com as restantes autoridades civis e militares, entregar paulatinamente, os territórios até então sob a administração portuguesa, ao P.A.I.G.C. . Também terá simultaneamente de acantonar e desmobilizar algumas das tropas portuguesas africanas e de implementar o regresso de milhares de soldados portugueses ao Continente. Só regressará a Lisboa no dia 14 de Outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril. Esta missão só será terminada na Comissão Liquidatária em Lisboa., onde permanecerá até Dez. de 1976.
1 - O Comodoro Almeida Brandão desempenhou as funções de comandante-chefe interino e o tenente-coronel Carlos Fabião as de delegado da Junta de Salvação Nacional e de representante do Governo Português na Província da Guiné.
Algumas das suas condecorações:
- Condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos Com Palma (OE. Nº18 2º série – 1965).
- Condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 2ª Classe. (O. E. Nº 12 – 2ªSérie, de 15/6/1966).
- Agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (O. E. nº 20-2ª Série, de 15/11/1971).
- Concedido o uso da nova passadeira da Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, com a legenda «GUINÉ 1973-1974», Por despacho de 20 de Dezembro de 1974 do Comandante Militar e por delegação do General Chefe do Estado Maior do Exército (OS. nº 47 de 26 de Dezembro de 1974 da Comissão Liquidatária dos Q. G. /C C F A G – C T I G).
"Notícias sobre alguns militares a condecorar nas cerimónias do 10 de Junho de 1966, na cidade do Porto. Jornal Comércio do Porto, 4-6-1966"
Alguns dos seus muitos Louvores:
Em 1965, o Ministro Joaquim da Luz Cunha , Louvou este oficial (na altura Major do CEM, "...devendo os serviços prestados à Região Militar de Angola serem considerados extraordinários, relevantes e DISTINTOS..." - (Ordem do Exército nº18 2ª Série de 1965). Mais tarde, já na Metrópole, e devidos às funções desempenhadas na Região Militar do Porto, como Sub-chefe e como Chefe do Estado-Maior, foi novamente Louvado por outro Ministro do Exército, o ministro Horácio de Sá Viana Rebelo, pois segundo este, "...,evidenciou excelentes qualidades que o cotam como colaborador do Comando digno do maior apreço. Oficial muito Distinto, dotado de elevadas qualidades de trabalho ... este oficial cujos serviços muito honraram as Instituições Militares que com tanta dignidade vem servindo (Ordem do Exército nº80, de 5 de Abril de 1972). Além destes Louvores de Ministros, o coronel Henrique Gonçalves Vaz, foi Louvado por todos os Comandantes das Regiões Militares onde serviu, apenas no CTIG, na Guiné não o foi, talvez pelo facto do General Comandante Chefe e o Comandante do CTIG terem sido "Destituídos" dos seus cargos devido ao Golpe Militar do 25 de Abril, como tal, tenho dado visibilidade neste nosso Blog, a essa parte da sua carreira militar, para Honrar a sua Memória.
Ø Faleceu em 26 de Agosto de 2001 na freguesia de S. José de S. Lázaro, Concelho de Braga, alguns dias após uma crise cardíaca ocorrida em sua casa de Levandeiras.
Ø Foi sepultado no Cemitério de Barcelos com Honras Militares prestadas por um pelotão de cavalaria do Regimento de Cavalaria de Braga (R. C. Nº6), unidade que comandou entre 1972 e 1973.
No rio Chiloango em Cabinda, 1964. Deslocação no TO na ZN em Angola .O Major Henrique Vaz , na altura Adjunto da Secção de Planeamento e controle da 4º Rep. no Q. G. da Região Militar de Angola, em Julho de 1964
Major Henrique Vaz, preparado para mais uma, das muitas missões de reconhecimento, realizadas no noroeste de Angola.
Major Henrique Vaz em visita ao aquartelamento do Esquadrão de Cavalaria 681, comandado pelo Capitão de Cavalaria, Carlos de Azeredo (na fotografia, ao lado direito do Major Vaz)
BRAGA, 21 de Março de 2012
Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)
___________
Nota de MR:
(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em:
21 DE MARÇO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9634: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (6): Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74 (Luís Gonçalves Vaz)
3 comentários:
Dizes, meu caro Luís Gonçalves Vaz, num comentário teu a comentários ao último extraordinário relatório "muito secreto" que publicaste no blogue:
"2º) A percepção do meu falecido pai da Guerra da Guiné, não correspondia com este relatório, pelo menos cerca de ano depois..."
O teu pai foi um militar distinto e brilhante.
Se a sua percepção do conflito não correspondia à do fantástico relatório , não me leves a mal se te perguntar, com todo o respeito.
Qual era a percepção do teu pai, como militar, da fase final da nossa guerra na Guiné?.
Abraço,
António Graça de Abreu
Olá camarigo Graça de Abreu:
És "tramado"! lês com pormenor os meus comentários! Saiu-me naturalmente essa observação, como tal devo satisfazer-te alguma dessa legítima curiosidade meu caro, pois mereces!
É assim, como deves imaginar, eu sou o 2º filho mais novo do coronel Henrique Vaz (somos 7 filhos), e comigo, na altura eu era muito novo... não falava desses assuntos com profundidade... Quando digo o que disse, baseio-me no que li posteriormente, das suas notas (tenho sido o seu biógrafo) e especialmente "presumo" o que eventualmente ele pensaria, com base num "discurso de apresentação das necessidades do QG/CTIG ao CEME (Chefe do Estado Maior do Exército)no ano de 1974, aquando de uma visita deste ao TO da Guiné, mas neste momento ainda não o posso divulgar, talvez mais tarde!
Mas posso dizer-te já o seguinte, se ele estivesse "convencido" de que a guerra na Guiné estivesse "tão mal", ao ponto de Bissau estar em vias de ser bombardeada (como se teme no dito relatório), não tinha levado para Bissau, a mulher e os seus 3 filhos mais novos, em Julho de 73!!!! E em Maio/Junho (altura da reunião de Comandos que deu à luz o relatório em questão)um oficial com responsabilidade em Bissau, diz-lhe textualmente o seguinte; "... Vaz não tragas para Bissau a tua família,nem pensar... pois a situação aqui está muito mal! vens assistir já ao fim da guerra, como tal não penses trazer a família...".
Mesmo assim, e depois de reflectir e se calhar consultar algumas outras fontes... decidiu levar, a mulher (a senhora minha mãe)e os seus 3 filhos mais novos consigo...
Acho que este facto deve esclarecer parte das tuas dúvidas!
Mas digo-te também que na noite de 25 para 26 de Abril de 74, quando lhe ligaram aqui da Metrópole a avisar de que tinha havido o golpe militar... ele teria desabafado "porreiro... estava difícil aguentar esta situação por muito mais tempo...", e sei que ele como CEM/CTIG, teve de se deslocar a vários locais da frente, para "PESSOALMENTE", convencer e dar ânimo aos nossos combatentes... Sei também que ele "Apostava e acreditava no aumento do potencial de combate, com recurso às Mílicias na Guiné...
É o que de momento te posso adiantar meu caro! Não penses que tenho uma visão "definida da situação", não tenho, estou honestamente a partilhar "material que tenho" com todos vocês, ainda por cima, nem combatente fui! o que não impede de ter vivido a "realidade da guerra" muito de perto........ Hoje fico por aqui!
Grande Abraço.
Luís Gonçalves Vaz
Caro Luís Vaz
Sente-se o orgulho que tens no teu Pai, o que só te fica bem.
Já aqui foi dissecado por várias vezes o tema do "colapso militar" na Guiné.
Não vou comentar ou analisar o que se sentia ou pensava nas altas patentes do Q.G.,consubstanciado nos respectivos relatórios, e que tinham como ninguém um conhecimento geral do T.O.da Guiné.
Teriam ?
Tenho muitas dúvidas, a começar pelo último relatório que deste a conhecer.
Vou apenas falar da minha experiência como combatente e depois durante as conversações para o cessar fogo.
É verdade que estávamos a ficar exaustos de tantos anos de guerra a vários níveis, nomeadamente de oficiais sub-alternos do quadro.Não falo de sargentos, porque estes, salvo raras excepções,não combatiam, exerciam essencialmente funções administrativas.
A guerra era dirigida no terreno praticamente por quadros milicianos, com as implicações inerentes.
Só que o então IN, estava quase na mesma situação.
Foi por bem e a contento de todos que com o golpe militar de 25A se pode terminar a guerra.
Pessoalmente só me insurjo quando alguns vêm dizer que nós...blá..blá.. e o Paigc estava cada vez melhor etc. e tal
Só o faço por dois motivos:
1.º- Não era verdade,estava muito complicado, mas daí até a um colapso militar ia uma grande distância, a não ser que o poder vigente o quisesse(a tal retaguarda).
2.º- Por DIGNIDADE pessoal.
Aqui sinto-me à vontade para falar e com moral suficiente até,pelo simples facto de que quando fui para a Guiné, tinha a perfeita noção de que não ia defender a Pátria,isto é, a tal Pátria do Minho a Timor, mas sim tão só ser solidário para com os que tinham combatido e estavam a combater.
O meu pensamento era apenas defender-me e defender os que estavam sobre a minha responsabilidade, devido à especificidade da minha especialidade de artilharia.
Se alguns não entendem este meu ponto de vista, estão no seu pleno direito,só não tolero argumentos falaciosos e mentiras.
Alguns não entendem ou não querem entender que quando aqui comento determinados factos, foi porque os vivi ou tive conhecimento através de quem os viveu,de ambas as partes.
Um alfa bravo
C.Martins
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