1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART
6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos um convite para o lançamento do
seu novo livro, que é já no próximo dia 10.
Camaradas,
Aqui fica o meu convite pessoal dirigido a todos vós, para a
apresentação da minha nova obra "O TRILHO", que vai decorrer em 10 de Maio de 2012, na Biblioteca
Municipal José Saramago, em Beja.
Guiné, território trilhado por Jesus,
personagem principal do romance
“O TRILHO” é, meramente, um romance que vagueia por épocas completamente distintas. Trabalho pela rama o virtual, o mundo de memórias utópicas, cruzo gerações, a faina da ficção e fixo-me em 2050 onde a tecnologia impera. Trata-se, no fundo, de um romance onde reinam exequíveis deambulações de uma vida longa, cujo fio condutor nos transporta a 100 anos de existência.
Claro que Jesus é uma personagem construída. Um ser humano que se depara amiúde com as adversidades que a vida a todos propõe. A sua realidade é semelhante, por certo, ao vulgar companheiro com o qual diariamente nos cruzamos na rua.
Na imensidão do tempo percorrido, Jesus, tal como o mais vulgar cidadão, depara-se com o serviço militar obrigatório. Os tempos eram outros. Foi ranger e mobilizado para a Guiné.
Fica aqui sublinhado no blogue Luís Graça & Companheiros da Guiné, uma pequena narrativa dessa passagem da personagem “mítica” por território guineense.
… “A Guiné, província palmilhada pelo jovem Jesus, apresentava-se como um território substancialmente contraditório às tropas portuguesas. O clima era rude e o terreno propício para as emboscadas do inimigo. A mata fechada escondia o imprevisto. O simples mexer do capim provocava um alvoroço. “Não é nada!”, comentava-se. A palavra passava e o grupo recompunha-se da tremedeira inicial. Nunca acreditar na sorte! “Antes um cobarde vivo que um herói morto”, comentava o soldado desconhecido com um buraco no fundo das costas. As picadas eram caminhos de terra consideradas normalmente como trilhos desconhecidos e de perigo iminente. O mato denso metia respeito. A água das bolanhas apresentava sinais de adversidades. Um pequeno ruído assumia-se como uma precaução imediata. Testava-se o imprevisto, concluía-se a razão do sinal de alerta e, por fim, a malta retomava o andamento ciente de que o falso alarme não passara de uma sombra que o medo momentâneo determinava.
No mato, substancialmente denso, o pessoal confrontava-se com as mais díspares situações. Os enxames de abelhas e as formigas formavam autênticos esquadrões de linhas de combate. Impunha-se, pois, um cuidado redobrado.
As noites no mato eram passadas preparando uma emboscada encarada, por norma, como um manto de canseiras. Na época do cacimbo, as horas apresentavam-se dolorosas. Sairmos do quartel às 5 horas da tarde com uma temperatura sufocante acima dos 40 grau e de madrugada o termómetro a acusar uma temperatura quiçá negativa, constituía uma situação adversa para qualquer ser humano. O cacimbo parecia perfurar os ossos. Enroscado a um ponche carregado de buracos, o militar descansava com os olhos bem abertos.
Na época das chuvas, as intensas trovoadas rompiam o silêncio da noite. Os relâmpagos sucessivos quase transformavam a noite em… dia. As turbulências noturnas pareciam ecos de uma África sem tréguas. Nem os buracos das árvores de grandes portes se assumiam como contemplativas para um jovem que nada pediu para se encontrar naquele lugar. Exclamava-se: “Que mal fiz eu a Deus para vir aqui parar?... “O que faço neste sítio?”… “Isto é deles… não é nosso!”… “Quem me dera estar na metrópole junto dos meus familiares e amigos!”… “E as belas moças para namorar!”… “A malta de Madina está a ser atacada!”...“Ena pá, aquela foi mesmo para aviar”… “Pergunta ao gajo do rádio se há mortos ou feridos!”… “Fala baixo porque isto é perigoso!”... “Não são horas de ir andando para o quartel?”... “Bolas, esta noite foi terrível, o cacimbo atacou em forte!”... “E os mosquitos não deram tréguas!”... “São cinco da manhã!”... “Finalmente a emboscada chegou ao fim!”... “Ainda bem que esta noite não houve chatices!”... Calmamente, a malta retirava-se, consciente de mais um dever cumprido e zurzindo naqueles que, um dia, o mobilizaram para sítios nos quais nunca ousara pensar…”
Moita Flores, autor do prefácio do livro “O TRILHO”, refere num pequeno conjunto de palavras a globalidade, embora sintética, do conteúdo geral da obra.
… “a narrativa que o autor nos apresenta numa escrita simples, idílica, cravada de memórias e de utopias, remete-nos para o confronto com os sinais do tempo que marcam a nossa história recente.”…
Um abraço camaradas deste alentejano de gema,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
2 comentários:
Caro camarigo José Saúde
Agradeço a divulgação e o convite, mas não posso comparecer.
Desejo sucesso, que bem mereces, e que, através do teu livro, mais pessoas possam tomar conhecimento com o, por vezes penoso, dia-a-dia dos jovens que 'fizeram' a guerra, particularmente a da Guiné.
Posteriormente cuidaremos de saber como adquirir "O trilho".
Abraço
Hélder S.
José Saúde
Afinal Jesus sempre passou pela Guiné, pois sempre ouvi aos naturais dizer que se Jesus andou na terra não passou na Guiné, referindo-se á miséria que imperava.
Um abraço amigo
César Dias
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