O Rogé Henriques Guerreiro, que vive em Cascais, e que foi 1.º Cabo Op. Cripto, na CCAÇ 4743 (Gadamael e Tite, 1972/74), telefonou-nos há dias, manifestando o seu desejo de se tornar, também ele, um grã-tabanqueiro. Conhece, entre outros membros da nossa Tabanca Grande, a residir no concelho de Cascais, o Rogério Cardoso e o Jorge Rosales. Disse-nos também que ainda não se sentia muito à vontade com o computador e a Internet, mas que com o tempo lá chegará.
Em seu nome, a sua mulher, Teté Guerreiro, adicionou as duas fotos da praxe na nossa página no Facebook, em 28 de abril último.
https://www.facebook.com/tete.guerreiro
Recorde-se que a CCAÇ 4743/72 foi mobilizada pelo BII 17, partiu para a Guiné em 27/12/72 e regressou a 31/8/74. Esteve em Gadamael e Tite. Teve 3 comandantes: Cap Mil Inf Manuel Bernardino Maia Rodrigues; Cap QEO Manuel Jesuíno da Silva Horta; Cap Mil Cav Germano do Amaral Andrade.
O Rogé tem história dos duros dias da batalha de Gadamael (maio / junho de 1973) (**).
Um das suas obrigações, como novo grã-tabanqueiro (n.º 555) é partilhá-las connosco, com os seus camaradas que o saúdam.
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Notas dos editores:
(*) Vd. poste de 28 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9820: O Nosso Livro de Visitas (134): Rogé Henriques Guerreiro, que vive em Cascais, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 4743 (Gadamael e Tite, 1972/74)
(**) Vd excerto de Guerra Colonial, 1961-1974 > Gadamael - o verdadeiro inferno!
Em Maio de 1973, a guarnição de Gadamael, constituída pela Companhia de Caçadores 4743, que dependia operacionalmente do COP 5, com sede em Guileje, constituía a retaguarda deste posto e era o seu único ponto de apoio para o reabastecimento depois de a acção do PAIGC ter tornado intransitáveis as ligações por terra para Bedanda e Aldeia Formosa.
O interesse militar de Gadamael resumia-se a servir de ponto de reabastecimento a Guileje, pois situava-se no último braço de mar do rio Cacine que permitia a navegação a embarcações de transporte.
O interesse militar de Guileje tornara-se, por sua vez, muito discutível, pois a guarnição fora ali instalada ainda no tempo do dispositivo territorial montado pelo General Schulz, para anular as infiltrações de guerrilheiros vindos da grande base de Kandiafara, na Guiné-Conacri, pelo célebre «Corredor de Guileje». Mas os guerrilheiros tinham conseguido ultrapassar esse obstáculo, fixando-se em toda a zona da península do Cantanhez, o que reduziu Guileje a um ponto forte onde as forças portuguesas resistiam e marcavam presença territorial.
Em 1973, [Guileje] não servia já como base de apoio a operações lançadas na margem sul do rio Cacine, limitando-se a assegurar a presença das tropas portuguesas entre este rio e a fronteira com a Guiné-Conacri, em conjunto com as guarnições de Cacine e Gadamael. Mantinha-se naquele local aguardando situação mais favorável que permitisse a sua transferência, sem ser como resultado directo da pressão do adversário, dispondo, como ponto forte, de instalações defensivas, que lhe permitiram resistir sem baixas significativas a fortes ataques de artilharia.
Tinha, contudo, a grave limitação do abastecimento de água, que era transportada em depósitos a partir de uma fonte situada no exterior do quartel, e este movimento diário constituía a grande vulnerabilidade das tropas ali entrincheiradas.
Após a retirada de Guileje, a guarnição de Gadamael ficou constituída por duas companhias (a CCav 8350, vinda de Guileje, e a CCaç 4743, que ali se encontrava do antecedente), um pelotão de canhões S/R, com cinco armas, e um pelotão de artilharia de 14cm, com três bocas de fogo. Este conjunto de forças passou a constituir o COP5, tendo sido nomeado para o seu comando o capitão Ferreira da Silva, em substituição do major Coutinho de Lima.
Ao contrário de Guileje, Gadamael dispunha de más condições de defesa, por se situar em zona pantanosa onde era difícil construir abrigos. Se as condições já eram más para os militares da guarnição, a situação piorou significativamente com a chegada da coluna vinda de Guileje, que não dispunha de abrigos, nem de condições de alojamento para ali permanecer. Pior ainda, a duplicação de efectivos aumentou a concentração de pessoal dentro do espaço exíguo do quartel e tornou-o alvo altamente remunerador para ataques de artilharia do PAIGC.
De facto, as forças do PAIGC, moralizadas pela vitória obtida em Guileje, transferiram para Gadamael os seus esforços e entre as 14 horas, de 31 de Maio e as 18 horas, de 2 de Junho bombardearam o quartel com setecentas granadas, uma média de treze por hora, provocando cinco mortos e catorze feridos, além de avultados prejuízos materiais.
A violência destes bombardeamentos fez com que a guarnição de Cacine, a cerca de dez quilómetros para jusante do rio, difundisse uma mensagem a comunicar que Gadamael fora destruída, no entanto, a posição manteve-se, embora com o aquartelamento parcialmente destruído e a defesa imediata com brechas.
Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos.
Em 2 de Junho foram recolhidos pela lancha Orion cerca de trezentos militares que se haviam refugiado nas bolanhas em redor de Gadamael, para escapar aos ataques.
Ainda neste dia desembarcou uma companhia de pára-quedistas e um pelotão de artilharia, passando o comando do COP5 para o comandante dos pára-quedistas.
Entre 3 e 4 de Junho caíram em Gadamael duzentas granadas, que provocaram mais dois mortos e quatro feridos. Em 4 de Junho, o PAIGC realizou uma emboscada a menos de um quilómetro do aquartelamento, causando quatro mortos e quatro feridos e capturando três espingardas G-3 e um emissor de rádio. O comandante do COP5 pediu autorização para retirar de Gadamael, o que não lhe foi concedido, recebendo ordem para defender a posição a todo o custo.
Em 5 de Junho, uma lancha da Marinha, botes dos fuzileiros e embarcações sintex do Exército evacuaram de Gadamael os mortos e os feridos, além de militares que não se encontravam em condições de combater, passando o COP5 a ser comandado pelo tenente-coronel Araújo e Sá. No mesmo dia ocorreu novo ataque com setenta granadas, que provocaram cinco feridos graves e cinco ligeiros.
A partir de 12 de Junho, foi colocada uma terceira companhia de pára-quedistas na região, ficando todo o Batalhão de Pára-Quedistas 12, empenhado no Sul, para «segurar» Gadamael.
As forças portuguesas sofreram nesta acção vinte e quatro mortos e cento e quarenta e sete feridos.
O PAIGC conseguira ocupar uma posição militar portuguesa e apresentar esse feito na conferência da OUA, lograra esgotar as reservas de forças de intervenção portuguesas (o Batalhão de Comandos mantinha-se inoperacional depois das baixas sofridas no ataque a Cumbamori de 19 de Maio) e limitara seriamente a acção aérea. Estavam, pois, reunidas as condições para se realizar uma grande acção política no interior do território, o que aconteceu [na região de ] Madina do Boé, em Setembro, com a declaração unilateral da independência, na presença de numerosos convidados estrangeiros.
Fonte: Guerra Colonial, 1961-1974 > Operações > Guiné Maio de 1973: O Inferno > Gadamael, o verdadeiro inferno.
http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413
Vd. último poste da série de 3 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9846: Tabanca Grande (335): Maximino Guimarães Alves, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do Centro de Escuta do Agrupamento de Transmissões de Bissau, 1972/74
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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10 comentários:
Olá camarada H.Guerreiro
Pela foto julgo que me lembro de ti.
Bem-vindo ao blogue.
QUERO AQUI FAZER UMA RECTIFICAÇÃO.
ÀS VEZES AFIRMAÇÕES NÃO CORRECTAS DE TANTAS VEZES REPETIDAS TORNAM-SE VERDADES.
GADAMAEL NÃO SE SITUAVA NUMA ZONA PANTANOSA.
O AQUARTELAMENTO SITUAVA-SE NUMA ZONA EM DECLIVE DESDE A PISTA ATÉ AO RIO E A CCAV ESTAVA PARALELA À PISTA.
EXISTAM ABRIGOS,E POSTERIORMENTE HOUVE UM REFORÇO COM A CONSTRUÇÃO DO ABRIGO DE TRANSMISSÕES E DA ENFERMARIA.
NÃO HOUVE ABANDONO NEM DEBANDADA NEM DESERÇÕES.FAZ-SE SISTEMATICAMENTE CONFUSÃO COM A DISPERSÃO DA POPULAÇÃO E DE MILITARES, ALGUNS DELES FERIDOS.
A RECOLHA FEITA PELA ORION FOI DA POPULAÇÃO E DE ALGUNS MILITARES.
FORAM TEMPOS DIFÍCEIS,MAS SEM O DRAMATISMO QUE ALGUNS REFEREM,SALVO CASOS PONTUAIS.
C.MARTINS
PS
Se foram recolhidos 300 militares, então Gadamael ficou sem ninguém.
Acho piada ao número de granadas caídas,foram muitas é verdade,mas ninguém as contou,pelo menos eu não conheci lá nenhum "contador de granadas".
Claro que foi uma estimativa.
E assim se vai fazendo a história
C.Martins
Caro C Martins :
Na realidade,quando se está NO INFERNO, não se contam as achas que nos estão a queimar o rabo,mas que houve algumas fugas para o mato (debandada?!) e desorientação acentuada das tropas, ai isso houve ,se houve,acho até que durante um periodo,não havia cadeia de comando e assim sendo o resultado só podia ser o...que se passou.
Caro Rogé
Não fazia ideia que tinhas passado pela Guiné, e pelos vistos somos vizinhos, então quando passares, pára, para batermos um papo, como dizem os brasucas.
Rogerio Cardoso
Cart643-AGUIAS NEGRAS
^Estavam, pois, reunidas as condições para se realizar uma grande acção política no interior do território, o que aconteceu na região de Madina do Boé, em Setembro, com a declaração unilateral da independência, na presença de numerosos convidados estrangeirosª.
Agora digo eu
Isto ja cansa, sempre a mesma conversa. A falta de seriedade e rigor com que se fazem afirmacoes falsas.
Sabemos hoje que idependencia da Guine Bisau, nao foi declarada em Madina do Boe, nem sequer em Lugajole, mas numa floresta bem dentro do territorio da Guine Conacry, com os representantes estrangeiros convencidos de que estavam no interior da Guine Bissau.
Parem com as mentiras e falsificacoes da nossa Historia,
esta no ADN deste blogue respeitar a verdade dos factos.
Abraco,
Antonio Graca de Abreu
Oh caríssimo camarada J.Casimiro
Meu "ganda murcãoooe".
O que dizes é verdade ..e quê?
No meio daquela confusão toda, certamente alguns se desorientaram..é natural e humano.
"Rambos" só nos filmes idiotas.
Um grande alfa bravo.
C.Martins
Caro camarigo Rogé Guerreiro
Que sejas bem vindo a este espaço.
Não te deixes abater pela severidade de alguns comentários pois eles são normalmente fruto de 'leituras apressadas' e também de falta de companheirismo.
Digo-te isto porque alguns amigos não se aperceberam que a referência à quantidade de granadas ou projécteis com que Gadamael foi contemplada e também o resto do artigo não foste tu que escreveste (a tua intervenção directa neste 'post' quase se resume à apresentação das tuas fotos) mas sim retirada da transcrição dum artigo bem referenciado quando se indica a fonte e que está lá no fim do artigo: Fonte: Guerra Colonial, 1961-1974 > Operações > Guiné Maio de 1973: O Inferno > Gadamael, o verdadeiro inferno.
http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413.
De resto a 'problemática' da quantidade de granadas parece-me um tanto irrelevante. Acho que o número 'redondo' de duzentas lá referido tem apenas a finalidade de nos dar a noção de que não foram 3 ou 4 mas 'muitas' e podiam ser 'só' 150 que, para o caso, para quem estava 'debaixo de fogo', seriam sempre 'muitas'... Admito não haver nenhum 'contador de granadas,' nem seria de esperar que houvesse, mas, ir por aí? para quê?
A questão da 'debandada', das 'deserções' (esta, para mim, é nova) não a consigo descortinar no contexto deste 'post', por isso não te posso ajudar a 'descodificar' as críticas.
No que diz respeito à questão apontada por AGAbreu, que já o cansa, e que o leva por isso a empertigar-se contra a 'falta de seriedade e de rigor' e a proclamar para se parar "com as mentiras e falsificações da nossa Historia", acho que ele seria mais didáctico se te informasse que essa questão, a da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau por parte do PAIGC, já foi largamente debatida aqui, no nosso Blogue, e parece ter ficado bem demonstrado que esse acontecimento não ocorreu onde a propaganda e a acção diplomática (bem conseguida, aliás, se me deixarem ter essa opinião) fizeram constar.
Hoje, nós, aqui no Blogue, sabemos isso, mas ainda não foi feita a correcção histórica por quem o podia e devia fazer (o Blogue pode dar a conhecer mas não tem 'força de lei' para tal...), por isso, em minha opinião, teria sido mais amigável o AGAbreu ajudar a esclarecer o nosso novo amigo desses factos do que aproveitar para 'atirar-se', não se percebe muito bem a quem, podendo levar o nosso novo companheiro de Blogue a pensar que fosse com ele.
Para a parte que o AGAbreu pede rigor, e que obviamente é igualmente transcrita da mesma 'fonte' acima indicada, o próprio AGAbreu também diz que a tal cerimónia não ocorreu onde os escritos existentes e que seguem as indicações da propaganda oficial do PAIGC citam mas sim "numa floresta bem dentro do território da Guiné Conacry, com os representantes estrangeiros convencidos de que estavam no interior da Guiné Bissau", ou seja, reconhece que houve pessoas que acreditaram estar onde se dizia que estavam.
Concordo com ele que essas pessoas deviam ser esclarecidas mas... como fazer? Zangamo-nos muito aqui no Blogue e procuramos saber quem são e depois enviamos a nossa verdade? E quanto aos 'historiadores'? Fazemos o mesmo?
Seja o que for, repito, só não me parece bem 'brindar' o novo 'periquito' com a aparente irritabilidade que me pareceu ler.
Abraços
Hélder S.
Oh camarada H.Valério
O meu comentário tem apenas a ver com o artigo que vem a seguir à apresentação do nosso camarada.
Se ele ou alguém se sentiu ofendido com o meu comentário, peço desculpa.
Aproveitei para repor a verdade dos factos, não só do que está neste artigo como também do que tenho lido.
Realço que eu estava lá,não assisti a tudo,não tenho o dom da ubiquidade,mas aquilo que afirmo foi vivido e observado por mim.
Quanto ao "contador de granadas" é evidente que é ironia da minha parte..no final digo.."claro que foi uma estimativa".
Um alfa bravo
C.Martins
Alguém esteve lá, mas não viu tudo. Faz, no entanto, afirmações absolutas. Deve ser falta de domínio na expressão.
JD
Este Diario foi escrito entre 1972 e 1974, a luz do AGA da epoca. Passaram se 40 anos. Viajei muito, vivi oito anos fora de Portugal.
Alguma coisa mudou em mim, naturalmente. Hoje tenho mais respeito e admiracao pelo esforco e sacrificio de todos nos, na Guine. Respeito tambem pela verdade historica, respeito pelas opinioes de cada um.
O meu Diario e um testemunho de uma guerra a serio, nao de uns acampamentos de militares em Africa a brincar aos conflitos belicos. Morria muita gente e, com os governantes da epoca, Portugal estava num beco sem saida. Isso transparece nas minhas palavras do Diario.
Mas reparem no que tambem digo, em Maio de 1973, os que me acusam de entao afirmar uma coisa e agora dizer outra
Continuo a acreditar que esta guerra está longe de se resolver no campo militar e terá, só Deus sabe quando, uma solução negociada, política.
Creio que continuamos em vantagem sobre os guerrilheiros, dominamos os centros urbanos e as maiores povoações da Guiné, existem aquartelamentos espalhados por todo o território e temos muitos mais militares do que eles.
Digo tambem, com rigor, em Junho de 1973, apos a fuga de Guileje
Os guerrilheiros estao a exercer uma enorme pressao mas, pelo que conheco deles, nao me parece que tenham hipoteses de repetir a ocupacao de qualquer aquartelamento NT.
Digo ainda, em Novembro de 1973
A aviacao actua, os Fiats fartam se de bombardear aqui em redor, n uma cintura ai de quarenta quilometros.
Agora digo
E verdade que em Abril e Maio de 1973, a aviacao quase deixou de voar, foi o auge dos Strela, mas depois voltamos a ter muito e eficaz apoio aereo.
Esta tudo no meu Diario, e so ler.
Quanto ao cagaco, quem tem cu tem medo.
Existem uns sujeitos raros no blogue que nao tem cu, e so costas do pescoco ate as pernas. Sao pessoas doentes.
Abraco,
Antonio Graca de Abreu
Desculpem a falta de acentos, hifens e aspas. Estou a escrever num computador made in China, no Minho, numa aldeia do verdissimo concelho de Vila Verde.
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