terça-feira, 14 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10264: CCAÇ 3325, Cobras de Guileje (1971/73): Parte I (Orlando Silva)





Fotos nºs. 2/3/4- Estado do Quartel aquando da nossa chegada. Vedação a reconstruir, Caserna-Abrigo em construção e uma DO-27 caída junto à pista.

Fotos: © Orlando Silva (2009). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Orlando Silva:


De: José Orlando Silva [ orlandosilva1948@hotmail.com ]
Data: 8 de Agosto de 2012 00:35
Assunto: Fotos sobre Guileje


Caro amigo,

Antes de mais, gostaria de informar que autorizo a mostragem/publicação de todas as fotos existentes no meu blogue (http://guileje3325-vamos falar verdade).

Tenho muito mais que poderei enviar, no entanto, receio ferir algumas pessoas que têm emitido opiniões menos de acordo com a verdade, no terreno, pois algumas dessas fotos vêm de alguma forma, contrariar algumas afirmações mais fantasiosas.
No entanto... Já por diversas vezes afirmei, que o que me/nos move, é simplesmente contar a verdade sobre Guileje. Nada mais. Tem-se falado muito, mas na maior parte das vezes com pouca verdade, e sem ouvir as vivências dos outros. Tem de ser dada a palavra a quem pensa de forma contrária, pois viveram o mesmo local, a mesma guerra, e que, por terem trabalhado de forma diferente, foram bem sucedidos. Isto não é crime.

Sabemos que as situações se podem tornar diferentes, dependendo da forma como cada um actua. Agora generalizar a actuação de alguns como sendo a única verdade, isso não concordamos.


Respeitamos todas as opiniões. Gostaríamos no entanto, que fossem ouvidas as pessoas mais avalizadas para falar de Guileje: o Coronel Parracho, o nosso "mui digno" Comandante. Qualquer um dos outros (Oficial, Sargento ou Praça), comungam da mesma verdade. E este nosso Comandante da CCaç 3325 é a pessoa que melhor pode enriquecer o debate sobre Guileje, quer pela sua seriedade civil e militar,  competência superiormente comprovada e registada, frontalidade e por ser extremamente defensor da ética militar. 

Um abraço por hoje.
Orlando Silva - Aveiro

 2. CCAÇ 3325, Cobras de Guileje, 1971/73 > Introdução

Como ex-Alferes Miliciano da Companhia Independente de Caçadores 3325, Cobras de Guileje, que em 1971 ajudou a defender Guileje, e ouvindo constantemente comentários e reportagens de pessoas que ignoram totalmente o que foi a Guerra do Ultramar, nomeadamente da nossa Zona de Acção de Guileje, não posso deixar de colocar, com verdade, algumas questões a todas as pessoas minimamente inteligentes deste País.

Muito se fala das dificuldades que os nossos soldados passaram no cumprimento das suas missões. É verdade, e é preciso reafirmá-lo repetidamente: “o facto de termos de nos ausentar da protecção e companhia da família, pais, namoradas, esposas, e filhos, principalmente, o clima tropical doentio, a alimentação, a manutenção de uma vida sã, são algumas delas”.

Uma forma de as esquecer um pouco, é manter o tempo ocupado. Para isso, temos o trabalho de reconstrução/construção de Casernas/Abrigos, novos postes de iluminação à volta do Quartel, colocação de novo arame farpado, capinagem constante à volta do Quartel e da Pista de Aviação, limpeza da zona das bolanhas onde nos fornecemos nos poços a céu aberto de água para cozinhar e tomar banho (que nunca é pura e na época das chuvas é barrenta), a recolha de pedra numa pedreira para essas construções, etc. (ver fotos do antes e após o nosso trabalho).

Para complicar e aumentar todos estes problemas, temos a actividade operacional. Tornou-se norma desta Companhia, a realização de patrulhamento constante, sem dia nem hora, percorrendo todos os locais da nossa Zona de Intervenção, por forma a surpreender o IN (a nossa ZI era comandada pelo Nino Vieira) e mantê-lo afastado do Quartel.

Procurámos no dia a dia, percorrer todos os trilhos conhecidos, e verificar se apareciam alguns novos. Paralelamente, tentámos encontrar e armadilhar todas as bases de fogos do IN. Sempre que o quartel de Guileje era flagelado, no dia seguinte íamos procurar essa base armadilhando-a de imediato.

Tentámos, pois, fazer sempre o melhor no cumprimento da nossa missão e com o mínimo de custos pessoais. É verdade que a nossa acção teve custos humanos, sim, e em memória desses heróis, limitamo-nos a respeitar a sua memória de uma forma sã, pois já nos basta o que sofremos.

O maior prémio que recebemos no final da comissão de serviço, consistiu no facto de podermos sentir a satisfação pelo dever cumprido.

Coloco aqui duas questões:

- Será que, para se fazer um juízo correcto, e informar devidamente o povo Português, não seria aconselhável ouvirem outras pessoas (nomeadamente o Coronel Parracho), que tendo cumprido galhardamente a sua missão neste Quartel como Comandante da Companhia de Caçadores 3325 – “Cobras de Guileje”, alargou a Zona de Acção até ao seu limite? E essa Zona era comandada pelo Nino Vieira;

- Por último, porque será que nas reportagens mostradas nas televisões, só se realçam as actuações dos nosso adversários combatentes do PAIGC, denegrindo a actuação das nossas tropas?

NOTA:

Chamo ainda a atenção para o seguinte: Neste País, ainda não foi contada a verdadeira história do Ultramar Português por falta de coragem patriótica dos nossos governantes. Não foi também contada a verdade sobre o assassínio de Sá Carneiro, embora todos saibam. Não foi dita a verdade aos Portugueses e aos Estrangeiros, sobre quem matou o Dr. Amílcar Cabral. Que não foram os Portugueses, isso não, pois o próprio General Spínola estava em negociações/conversações com ele.

(Continua)




Página de rosto do blogue do Orlando Silva, ex-alf mil da CCAÇ 3325, que esteve em Guileje, de janeiro a dezembro de 1971.


3. Comentário do editor:

Meu caro Orlando: Interpreto a tua mensagem como sendo uma manifestação de interesse e de vontade em integrar esta nossa Tabanca  Grande sob cujo poilão, simbólico, se abriga um crescente número de camaradas que estiveram no TO da Guiné, entre 1961 e 1974. Agradeço.-te do fundo coração a tua generosidade, permitindo-nos reproduzir as tuas fotos (e as respetivas legendas, o mesmo é dizer o texto que publicaste no primeiro e único poste do teu blogue, com data de 21 de dezembro de 2009).

Com a tua autorização vamos publicar, por partes,  esse texto, relativo à história da tua companhia, bem como as respetivas fotos  em formato extra-grande. Ganhamos todos, dada a audiência do nosso blogue. Ganhas tu, com a tua versão sobre Guileje do teu tempo, ganham todos os "cobras de Guileje" que deram o melhor do seu esforço para defender aquela posição estratégica que era o quartel de Guileje, servindo de tampão ao corredor do mesmo nome, ganham todos aqueles camaradas que passaram por Guileje, e enfim ganhamos todos nós, teus camaradas, com o teu depoimento.

Gostaria que, na volta do correio, me confirmasses a aceitação do meu convite, da tua parte. Como mandam as regras do nosso blogue (publicadas na coluna do lado esquerdo), deves-me mandar também uma tua foto atual, digitalizada. Sei que vives em Aveiro. Falas-nos um pouco mais de ti, do que fizeste, do que tens feito. Um Alfa Bravo do Luís Graça

PS - Sobre o teu capitão, Jorge Parracho, temos ainda poucas  referências... assim como sobre a tua CCAÇ 3325... A aceitares o nosso convite, serás o primeiro grã-tabanqueiro dessa subunidade,l o que é também uma honra para nós.

4 comentários:

gil moutinho disse...

Amigo Orlando
Pela matrícula do avião acidentado,será civil,talvez dos TAGCV da altura.

Gil Moutinho

Anónimo disse...

Caro Orlando Silva:
"sabemos que as situações se podem tornar diferentes dependendo da forma como cada um actua" Com esta frase quererás dizer que, em 1971, o comportamento da C.Caç 3325 foi mais eficiente do que o conseguido por companhias posteriores.Não tenho qualquer dificuldade em aceitar isso como verdadeiro nem o contrário. Quem sou eu para duvidar? Na verdade não estive lá, nem em 71 nem em 73. Estive só em Mampatá. Há porém uma questão que completa a compreenção da tua frase
que transcrevi, no início do comentário e que pode ser posta nestes termos: numa guerra de guerrilha ou clássica as situações podem tornar-se diferentes, quer em função dos nossos méritos ou capacidades quer em função dos méritos ou capacidades do adversário. Por outras palavras, o exercício da guerra não é unilateral mas sempre a dois. Ora eu insisto que o PAIGC, em 1973, usou meios, em quantidade e sobretudo em qualidade, nunca antes utilizados.Com isto não me atrevo a pôr em causa o mérito da 3325, na contenção da guerrilha, em 1971.

Um Abração

Carvalho de Mampatá

Carlos Pedreño disse...

Caro Orlando
Ainda bem que se dispõe a relatar a "estadia" dos Cobras em Guilege. Estive consigo em Nhacra, era o furriel do COP 8 e penso que trará para a nossa História elementos importantes para a compreensão sobre a diferença de actuação entre tropa bem comandada, disciplinada e motivada e a outra...?!?!
Carlos pedreño Ferreira

JOSE CASIMIRO CARVALHO disse...

O Carvalho de Mampatá acabou por dizer em duas palavras,o que eiria dizer em muitas mais.Não posso falar de 1971, era empregado de mesa,mas posso falar de 1972,quando cheguei a Guileje,onde substituí "Os Gringos"até 22 Maio de 73, donde saímos,infelizmente por ordem do Cmdt do Cop 5,face ao deplorável estado do quartel face às investidas do IN. No vosso tempo abatiam a aviação ?
Um Grande abraço deste camarada também de Guileje.