terça-feira, 14 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10263: In Memoriam (124): Dia 24 de Agosto de 2012, em Valbom - Pinhel, homenagem póstuma a José António Mata da CART 6250, falecido em Bolama no dia 10 de Julho de 1972 (José Manuel Lopes)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Lopes (ex-Fur Mil da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74) com data de 14 de Agosto de 2012:

Bom dia Carlos Vinhal
Se fosse possível pedia que fosse publicado no Blog.

A minha Companhia, a Cart 6250/72, "Os Unidos de Mampatá", homenageou todos aqueles que caíram na Guiné. Falta cumprir a promessa com o José António Mata, natural da aldeia de Valbom, Concelho de Pinhel.

O José António faleceu no dia 10 de Julho de 1972, juntamente com o Alferes Figueiredo, de Viseu.
Deixou a mulher grávida duma filha que nunca veio a conhecer.

A mulher emigrou para Paris, onde a sua filha cresceu e ainda vive. Conseguimos o seu contacto e falamos-lhe da nossa intenção de homenagear o seu pai. A sua reação foi comovente, pois com a voz carregada de emoção me disse que ficaria muito feliz e que isso a ajudaria a preencher um vazio que sempre a angustiou, o não ter conhecido o Pai. Referiu ainda que estava ansiosa por conhecer os camaradas do pai, pois talvez pudesse ver em cada um deles um pouco do pai que nunca conheceu.

Emigrante em Paris desde criança, nem todos os anos vem a Portugal, mas este ano está cá, telefonou-me, aguarda a nossa visita e a tão tardia homenagem ao JOSÉ ANTÓNIO MATA.

Só foi possível encontrar uma data, o dia 24 de Agosto (Sexta-feira), assim, quem puder estar presente será pelas 15 horas no cemitério de Valbom (Pinhel).

Será colocada uma lápide com um poema:

Gostava de vos falar
dos esquecidos
dos heróis que a história
não narra
que as viúvas choraram
mas já não recordam
daqueles
que nem tempo tiveram
para ter filhos
que os amassem
descendentes
que os lembrassem
daqueles que nunca
tiveram o dia do pai
vítimas de guerras
que não inventaram
em tempo que já lá vai
falar deles é prevenir
de guerras que possam vir
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.

Alguém sugeriu que seria bonito cada um levar uma recordação para a filha do José António. Eu levarei uma caixa do meu vinho, o Carvalho um ramo de flores, quem tiver uma foto do Mata seria uma optima prenda, um doce regional, etc,etc.

A todos os Unidos um abraço e aos que puderem ir, até ao dia 24.

O ponto de encontro poderá ser em Pinhel, num restaurante que se encontra depois da Zona Industrial à saida para Valbom.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10235: In Memoriam (123): Com a morte do Senhor Coronel Fernando Cavaleiro estou de luto, estamos todos de luto (Maria Teresa Almeida)

10 comentários:

ze manel cancela disse...

Bravo ´Ze Manel,bravo Carvalho,eu estou muito feliz,em vos ter escolhido como amigos. Grande abraço aos dois,e obrigado pela vossa amizade...............

José Marcelino Martins disse...

O tempo passa,
O futuro já é amanhã,
E sem estarmos "refens" do passado,

Os combatentes, jamais o esquecerão.

Parabens Artilheiros do 6250.

José Marcelino Martins disse...

O tempo passa,
O futuro já é amanhã,
E sem estarmos "refens" do passado,

Os combatentes, jamais o esquecerão.

Parabens Artilheiros do 6250.

Juvenal Amado disse...

É uma ideia fantástica esta de promover o encontro da filha com os camaradas de seu falecido pai.
É assim que se vai fechando e fazendo contas com o passado numa caixa de recordações por vezes bem tristes como é o caso.
Também tive o previlégio de me encontrar com a filha do meu camarada de Cancolim falecido em combate antes dela nascer.
Foi um momento único para mim e para ela.

Um abraço e promovesse mais estes encontros pois serão bons para as duas partes.

Quanto ao poema gostei e faço votos que se cumpra.

Joaquim disse...

Amigo Zé Manel:
Já te tinha ouvido falar desse teu camarada que não chegou a conhecer a filha.
Partindo de ti, não me admira a homenagem que querem fazer.
Tal como diz o Cancela, tenho muito gosto em ter amigos como tu.
Um grande abraço
Peixoto

Manuel Carvalho disse...

Caro Amigo Zé Manel

Vós Cart 625o sois diferentes das companhias que eu conheço e para melhor. O vosso nome de guerra Os Unidos de Mampatá já diz alguma coisa. Os vossos convívios, não são num restaurante como a maioria, montais acampamento em casa de um camarada que tenha condiçoes e que se oferece para isso, toda a gente leva aquilo que muito bem entende e pode e toda a gente come e bebe de tudo como se de uma família se tratasse. Como sabes já assisti a alguns dos vossos convívios é um ambiente único. Também sois diferentes na forma como honrais a memória daqueles que vos deixaram. Um bem haja para todos vós
Manuel Carvalho
CCaç 2366 Jolmete

Luís Graça disse...

Zé Manel: O vosso gesto é de grande nobreza e honra todos os camaradas da Guiné. No dia 24 de agosto, peço-te que leves à família do José António Mata e a todos os "unidos de Mampatá" um grande abraço de solidariedade e de homenagem, em nome de toda a nossa Tabanca Grande.

Recordo, aos nossos leitores, que o poema que transcreves, faz partes do Poemário do Josema, já por nós reproduzido... Josema é o teu pseudónimo literário... Desse poemário restaram umas escassas dezenas versos. A maior parte da tua produção poética foi consumida pelo fogo, numa daquelas noites de dúvidas, insónias, pesadelos que te assaltaram, e que assaltaram qualquer um de nós que conheceu o duro TO da Guiné...

Aqui vai o texto fixado do poema, fixado por mim:


Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai.


Falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
guerras que possam vir,
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.


Josema


[Sem título, s/l, s/d]

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/06/guine-6374-p8416-blogpoesia-151-gostava.html

Zé Teixeira disse...

Bom amigo Zé Manel.
Creio que só de ti sairia uma iniciativa destas.Permito-me parafrasear o José Marcelino Martins para afirmar que são atitudes como esta tua que nos vai libertando dum passado que fomos obrigados a trilhar, sendo que, libertar não siginifica esquecer, mas dar outra dimensão para podermos continuar a recordar sem que o sofrimento atrapalhe.
Bem hajas pela tua bela iniciativa.
Abraço fraterno
Zé Teixeira

Anónimo disse...

Ainda hoje não sei se este maravilhoso poema - verdadeiro grito contra a imbecilidade da guerra- foi criado nos momentos ou horas sequentes ao trágico acontecimento do 10 de Julho em Bolama.Tenha sido assim ou não, em cada verso do Zé Manel, estão os corpos inanimados do Mata e do Figueiredo, duas vidas bruscamente interrompidas, pagando imerecidamente pelas faltas dos outros.
A 6250 vai pagar uma dívida...não mais do que isso.Quanto ao autor do poema, o que o Zé Manel pretende, mais do que a sua inscição na lápide fúnebre de homenagem ao Mata, é que
a mensagem antibelicista nele contida seja interiorizada por todos nós.
Um abração
carvalho de Mampatá

Luís Graça disse...

Zé Manel: Foste lembrado, com muito carinho, por mim, pelo Zé Teixeira e pelo Moutinho, no último emcontro da Tabanca de São Martinho do Porto... Eu trouxe uma garrafinha do teu vinhinho, e eles também trouxeram mais algumas... É mais um "filho" que tens, tu e a Luísa, dois apaixonados da terra, do Douro, da vida...

Que os bons irãs sempre vos protejam... LG