terça-feira, 23 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10558: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (4): 5.º episódio: Partida para o CTIG em Agosto de 1965

Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > Partida para a Guiné, em 18 de Agosto de 1965
Foto: © Veríssimo Ferreira (2012). Todos os direitos reservados


1. Em mensagem do dia 18 de Outubro de 2012, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), mandou-nos o 5.º episódio da sua odisseia militar, correspondente aos melhores 40 meses da sua vida; diz ele e nós acreditamos.


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

5.º episódio - Partida para o CTIG, em 18 de agosto de 1965

Em Abrantes, estava mais perto de casa, o que me agradou. Lá se foi passando o tempo e coube-me ajudar o Oficial instrutor, ensinando novos militares. Porque alguns de nós, os recentes cabos milicianos, estávamos já a ser mobilizados, fui-me preparando. Contudo, tal mobilização só veio a acontecer, quando já houvera prestado 20 meses de tropa.

Entretanto em Abril de 1965 e "por equivalência a seis meses consecutivos em Unidade Operacional, condição a que satisfaz para promoção ao posto imediato" (sic) , fui promovido a Furriel Miliciano. Estava então em Tomar a preparar outros jovens, que afinal acabaram por ser os que,  fazendo parte da Companhia de Caçadores 1422, embarcaram comigo para a Guiné, em 18 de Agosto.

Quando digo "embarcaram comigo", em vez de "embarquei com eles", deixem que explique: Quer o Comandante, quer os restantes Oficiais e Sargentos, haviam partido uma semana antes, de avião, ficando apenas connosco, um senhor Sargento-ajudante, pessoa com alguma idade e peso e que era chefe de secretaria. A ele pertenceria comandar-nos antes do embarque, no desfile perante as autoridades... perante os nossos familiares presentes.

No último momento, nomeia-me para o fazer. Tamanha responsabilidade, fez-me tremelicar... mas ordens não se discutem.

COMANDEI!... Correu lindamente, marchámos com garbo e eu nunca mais esqueci essa, que considero a mais subida honra que o exército me proporcionou.

Lá chegámos a Bissau e novas emoções apreendemos... novos cheiros... aquela paisagem... o bulício, mas certos dos perigos a enfrentar. Na Amura ficámos e sem local ainda definido para o futuro, foram-nos treinando, "permitindo-nos" acompanhar algumas operações em curso no mato e em situações de combate.

Assim, passei por Bissorã, Mansabá, Cutia e Mansoa, mais ou menos uma semana em cada. Até que e em data que não consigo precisar, mas que julgo ter sido em meados de Outubro, mandam-me e apenas com a minha secção (nove homens) para o Pelundo. Zona calma e a cerca de doze quilómetros de Teixeira Pinto e vinte e tantos de Bula. Tinha um jeep e nele me deslocava, ora para tomar café aqui, ora além. Tais actos, poderiam ter sido "a morte do artista".

Não tive problemas, sabe-se lá porquê, mas a partir de Janeiro de 1966, a coisa tornou-se deveras perigosa. Porque será que não me comeram vivo? Seria porque estávamos protegidos pelo "homem grande" em casa de quem aquartelávamos, na tabanca? Seria que a nossa missão de lhe guardar o cofre e o recheio deste movimentou influências? Ou seria que tinham mesmo medo de nós? Intrigante e de tal forma, que ainda hoje passados 47 anos, não encontro respostas.

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Um dia antes de abandonar aquele local, chegou um pelotão que me substituiria, e fui informado para onde iria, juntar-me à CCAÇ a que pertencia, mas fui convidado para que nessa noite desse um salto a Jolmete, em visita de cortesia.

Chegados que fomos e estando a jantar opiparamente... eis senão quando... lá vem disto:
- Pela primeira vez o quartel é atacado e estragaram-me o repasto.

BOLAS... BOLAS... BOLAS.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10543: Os melhores 40 meses da minha vida Veríssimo Ferreira) (3): 4.º episódio: Passagens por Amadora, Lamego, Tancos e Lisboa

5 comentários:

Manuel Carvalho disse...

Caro camarada Veríssimo

Tenho lido e achado interessantes as tuas narrativas.Nesta falas do Pelundo onde eu estive em Junho/68, nesse tempo estava lá um pelotão.O Régulo era o Vicente um fulano relativamente novo á volta de 30 anos, muito esperto e diziam que ele chutava para as duas balisas.A propósito de tu diseres que ainda hoje pensas como não te aconteceu nada nas tuas viagens de jipe vou contar-te uma estória.
Nós iamos a Teixeira Pinto todos os dias buscar água com um atrelado e abastecimentos, num Unimoge iamos umas vezes 6 outras 8 com o furriel e o condutor depois levava-mos toda a populaçao que conseguisse acomudar-se no unimoge nunca tivemos qualquer problema.O pelotão que nos veio substituir não davam boleia e tiveram logo uma mina nos primeiros dias.Ao sair eu ia ao posto de radio informar e eles enviavam uma mensagem para Teixeira Pinto e quando chegava a Teixeira Pinto tambem informava o posto de rádio da chegada, se não chegasse no espaço de meia hora saiam forças ao nosso encontro. Mas eu continuo a pensar que a nossa verdadeira segurança era a população a quem davamos boleia e talvez o Regulo Vicente que chutava para os dois lados segundo se dizia.
Alguns furrieis e muitos soldados andaram por aqueles caminhos da Guiné em grupos de 6, 8 e 10 por sítios bem perigosos e ainda hoje não sabemos como não fomos apanhados á mão.
Um grande abraço para ti e para todos.

Manuel Carvalho

Omis Syrev Ferreira disse...

Caro Manuel Carvalho, obrigado pelas tuas (isto do tu, para cá e para lá, ainda não entrei bem na coisa, mas sendo "obrigatório"...). Na verdade, tenho omitido nomes e continuarei, mas o homem chamava-se mesmo "Vicente". Portanto é decerto o mesmo embora me parecesse ser pessoa aí para os quarenta e tantos. Boa comida nos fornecia e no quartel que era na sua tabanca (tenho uma foto que enviarei) até nem faltou nunca, a boa bebida que partilhava connosco. Abraços do
Veríssimo

Omis Syrev Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Carvalho disse...

Caro Veríssimo

Relativamente á idade do Vicente o teu número deve estar mais certo que o meu.Tu ao fim de um mes no Pelundo foste jantar a Jolmete a convite e eu tambem fui convidado para me juntar ao resto da companhia que já estava em Jolmete, onde estivemos cerca de um ano. Se tiveres interesse em ver fotografias de Jolmete de 68 que ainda tem aquele barracão enorme de sibes do teu tempo 65 vai ao poste 10191.Para veres fotos do quartel novo clicas nos marcadores Manuel Resende ou Augusto Santos. Esse barracão grande parece que era o armazém de um comerciante.Um dia vou mandar para o blogue algumas fotos do Pelundo para tu veres como era o quartel em 68.Fico á espera de ver a continuação da estória em Jolmete e como regressas-te depois do ataque.Para já fico por aqui.
Um grande abraço para ti e para todos.

Manuel Carvalho
C Caç 2366

Manuel Seixas disse...

Amigo e companheiro do K3 estou lendo coisas daquele tempo a gente nunca vai esquecer, daqui te envio um abraço,eu sou o Seixas das transmições ok