quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Guiné 63774 - P10708: (In)citações (45): O Cão, o Geba, o melhor amigo da tropa de Mansambo... o meu amigo Geba (Torcato Mendonça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > "Eu e o Geba"...

Foto:  © Torcato Mendonça (2012). Todos os direitos reservados.















Fundão > 27 de janeiro de 2007 > O Torcato Mendonça é um incrível contador de histórias... Escreve bem mas ainda fala melhor... Sobre o seu cão, o Geba, descreve-o magistralmente em três linhas... "O meu amigo, o Geba, amigo da tropa e militar, pois ia cheirando o chão junto dos homens da pica"... Sobre as peripécias da grande operação Lança Afiada (10 dias, uma eternidade, em março de 2009), ele perde-se, a falar, a falar ... de tal maneira que desde 2007 que eu estou à espera de um depoimento dele, sucinto, claro, conciso, preciso, que caiba numa folha... A4. (Esta sequência fotográfica foi obtida em 27/1/2007, na casa da minha irmã caçula, enfermeira no Fundão)...

É um dos raros grã-tabanqueiros que participou  nesta megaoperação, a Lança Afiada,  que varreu o triângulo Bambadinca-Xime-Xitole, como um verdadeiro rolo compressor... Aproveito para homenagear, no nosso blogue, este camarada de coração grande, que é arraçado de algarvio, alentejano e beirão, mas que acima de tudo é um grande português e um orgulhoso "viriato" da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Finalmente ele prometeu, ao Carlos e a mim, que vai escrever, está mesmo a escrever, um comentário sobre a tal "Lança, mais romba do que afiada"... (LG)

Fotos:  © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Torcato Mendonça, com data de ontem:

Assunto: Os cães

Carlos acabei de ver A Guerra e fiquei apardalado. O Amadú Djaló falou bem e eu não sei como ele está de saúde. Mas eu escrevi para te enviar o Geba, cão de quatro patas e amigo di tropa, pá... Se continuarem a escrever sobre cães,  põe lá este meu amigo, o Geba. Amigo da tropa e militar,  pois ia cheirando o chão junto dos homens da pica...

Abraço T

[Comentário de L.G.: O Carlos Marques dos Santos, talvez para não ficar atrás do T., arranjou também um farejador de minas, o Xime... " Op Cabeça Rapada I... Em 25 de Março de 1969, uma semana depois da Op Lança Afiada, inicia-se a primeira Op Cabeça Rapada, com a duração de 2 dias, no itinerário Bambadinca/Mansambo. Picagens, seguranças de flanco, etc. Trabalhos de nativos em desmatação das bermas da estrada. Estava dado o pontapé de saída, para maior segurança nas deslocações na estrada Bambadinca/ Xitole. Mas, do nosso ponto de vista, maior exposição à observação IN. Só o meu cão, Xime de nome, porque o herdei da anterior Companhia aí aquartelada, era capaz de fazer a segurança completa. À nossa frente na picada, farejando, entrando e saindo da mata, flanqueando em zig-zag, detectando minas, dormindo quando eu estava de olhos abertos, de olhos, nariz e orelhas atentas quando eu dormia. Um verdadeiro guerrilheiro responsável das suas missões. Não me lembro se ficou em Mansambo, se o levei de volta ao Xime, quando regressei. Dias sem incidentes. (...)]


2. Mensagem, off record, que o T mandou ao Carlos Vinhal, em 19 do corrente:

Sou chato,  meu caro Carlos, chato mas não baribi [?] que é o chato que se aloja nos testículos do chato... pára o chato...

O Luís,  de sua Graça,  comentou e com razão. Quer a "Lança..." e eu em comentário respondi. Vai ele ler? I don´t known e não sei o mail dele. Se fizeres favor - que chato - quando ele aparecer à tua "beira",  dizes para ver o comentário e estou a escrever 'A Lança... mais romba do que afiada'...

Um abraço do T. (está no Poste das Fotos com capacete...porra que os miolos deviam ficar liquefeitos...)


Torcato Mendonça disse...

Se calhar ou, como se diz lá para o meu Sul, calhando tens razão...tanta molhadela...até na picada que em dez minutos virava rio, ir para a Operação e o "céu" a desabar em água, na emboscada e "desatar" a chover (uma tromba daiágua como se diz por aqui) e os ossos sinto-os hoje...mas servia, as primeiras chuvas de Maio, para tomar um valente banho com Lifebuoy - encarnado a cheirar a "valha-me deus" e a lica a desaparecer...

Estou a escrever, docemente, sobre o Fiofioli do meu descontentamento e um pouco do que vi, me fizeram e fiz, deviam ter feito e não o foi...ai, ai, tantos ais e há-de sair...escrever é um acto (com c porra) solitário e, por vezes, doloroso, inquietante, denunciante de isto ou aquilo, questionador, hoje e ontem (?), de tanta malvadez, de tanta solidariedade ou camaradagem, de tanto ódio gerador de tanta destruição física e não só... aquilo nunca podia ser vencido pela força das armas e, a ser, seria caso único. 

Mesmo assim, lá, queria emboscadas com tropa especial na margem esquerda do Corubal... Eu escrevo o que me for lembrando,  quarenta e tal anos passados. Era um puto,  pá, era um puto em idade pois por dentro tudo estava já quebrado, escaqueirado, e hoje mesmo remendado, não está bem... ninguém que passou por aquilo está bem. Se estiver é porque não viu, não viveu, não sentiu e tinha "ar condicionado"...estive meses sem beber água decente, sem ver casa caiada, mulher loura, morena ou ruiva, comer um pão, pá, ou beber algo fresco... Eu escrevo Ab, caro Luís. T

Segunda-feira, Novembro 19, 2012 4:52:00 p.m. 
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10674: (In)citações (44): Imagens da minha terra, tão bela e tão sofrida (Cherno Baldé)

4 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Oh Camarada, mas isto é uma vergonha.
Com tanta foto parece uma ... a mostrar o portefólio...

Mas: o cão do Carlos M.Santos é o mesmo, diferem os donos, ele ou eu o Xime para ele e o Geba para mim.Nomes... Foi herdado e entregue depois a outros. Confirmo o que ele disse. Se contasse duas "estorietas" sobre o farejar dele, O Xime ou o Geba, em encomenda ou emboscada do IN na estrada, pensavam que eu , que gosto muito de cães (sem patas ou com duas dispenso,não obrigado) como dizia, certamente pensavam estar eu avariado ou a mentir.Fica para alguém contar.
Estive para baptizar (com p) um dos meus cães com o nome Geba. Não gostaram e um dos meus filhos chamou-o de Scot que era um lateral do seu e meu Benfica.Ora bolas,que raio de nome...

Faz-se tarde e tenho assuntos a tratar.
As fotos, tantas,que dirá a nossa camaradagem bloguista? Ai a porra..

Eu vos abraço nesta manhã sem tecto, logo não vamos ter apoio da Aviação e evacuações...???Os deuses nos ajudem. AB T.

Luís Graça disse...

Não sejas envergonhado, és fotogénico, eu só quis mostrar a riqueza da "comunicação não verbal" de um grande ser humano como tu... Descobri estas fotos (e há mais ainda...) que te tirei, sem tu dares conta, quando te conheci (?), no Fundão, na casa da minha irmão, enfermeira, Ana Isabel da Graça Henriques... Não tenho ido ao Fundão, e portanto "não te apanho a jeito"...

Luís Graça disse...

Xime-Xime... é nome giro para cão, fácil de chamar, anda cá Xime-Xime... Agora diz-me lá se o teu amigo chegou a detetar alguma mina, fornilho, armadilha ou equivalente... Ou se farejava à distância o Zé Turra...

Fica bem, José!

PS - Vou ver o filme sobre o Aristides Sousa Mendes, o "cônsul de Bordéus", filho de Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, um grande "viriato" como tu... (e quase teu vizinho - e linha reta, 50 e tal km, 150 de carro). Beirão de nascimento, como tu és de adoção... E um homem de valores, como bom "viriato"...

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Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu em Cabanas de Viriato, a 19 de Julho de 1885, no seio de uma família aristocrática rural, católica e conservadora. Ocupou diversas delegações consulares portuguesas pelo mundo fora, entre elas Zanzibar, Brasil, Estados Unidos ou Guiana.

Cônsul de Portugal em Bordéus em 1940, ano da invasão da França pela Alemanha nazi na sequência da Segunda Grande Guerra, Sousa Mendes desafiou as ordens expressas do primeiro-ministro, Salazar (que, durante esses anos, manteve a neutralidade de Portugal), e concedeu mais de 30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades que desejavam fugir de França. Revelando uma coragem e determinação invulgares - e consciente do risco para sua vida e a da sua família -, recusou-se a entregar milhares de pessoas a um destino certo nos campos de concentração nazis.

Confrontado com os primeiros avisos de Lisboa, ele terá dito: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".

Aristides de Sousa Mendes faleceu na miséria, a 3 de Abril de 1954, no hospital dos franciscanos em Lisboa.

Fonte: PÚBLICO > Cinecartaz

Hélder Valério disse...

Olá Torcato!

Qual foi o resultado do 'casting' fotográfico? Contrataram-te?
Bem merecias que sim!

Quanto ao cão, tem um ar simpático, sim senhor e seria interessante saber se alguma vez detectou algo estranho.

Abraço
Hélder S.