Toadas de Inverno
Toadas de Inverno
Num Outono cadente.
Trovoadas acesas
Nas eiras de pão.
Está tudo trocado.
Chovem grãos de cevada
Nas searas de trigo
Escorre óleo de rícino,
Em vez de azeite.
Nem o centeio voraz
É capaz de crescer.
Pendem mirradas
As uvas sem suco.
Ardem gargantas
Com gretas de fome.
Nem as tetas das vacas
Segregam as natas de leite.
Os carros de bois
Voltam tão tristes para casa
Com os fueiros acesos,
Sem nada em cima.
Apagaram-se as luzes da estrada
Campeiam fantasmas
Pelas veredas da aldeia.
Só falta tocar a rebate
E chamar os bombeiros
Que apaguem depressa
Esta fogueira de fome,
Enquanto a água não seca.
Ouvindo concerto nº 1 para piano de Tschaikowsky Zehlendorf, 7 de janeiro de 2013
9h34m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10923: Blogpoesia (316): Apat(r)ia... (J.L. Mendes Gomes)
2 comentários:
Camarada JL Mendes Gomes,obrigado
pelo "Toadas de Inverno",e se me permite,sugiro-lhe a gravação do
Concerto nº1 de Tchaikovsky,por Evgeny Kissin/Herbert von Karajan.
Há aqui ecos de fomes viscerais que vêm do fundo dos tempos. E a fome, senhores, estava sempre associada a outras desgraças... Fomes, pestes e guerras... "Da peste, da fome e da guerra - e do bispo da nossa terra!, libera nos, Domine!" [Livrai-nos, senhor!]...
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