quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11031: O Spínola que eu conheci (26): Talvez só um dos melhores generais dos exércitos europeus do seu tempo (António J. P. Costa / José Carlos Lopes)

Foto nº 41



Foto nº 42

Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 42: O gen Spínola possivelmente em março de 1969, por ocasião da Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969), em que o com-chefe se empenhou muitissimo, tendo estado inclusive com as NT no final, na Foz do Rio Corubal, na Ponta do Inglês (*) ...  Em, segundo plano, à esquerda o ten cor Manuel Pimentel Bastos (o Pimbas), até então comandante do BCAÇ 2852 (de óculos, careca, virado para o fotógrafo)... Será um das vítimas da ira de Spínola depois do ataque a Bambadicna, em 28 de maio de 1969...  Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos (, aqui, junto ao helicanhão, foto nº 41). 

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)

1. Comentário do nosso camarada Tó Zé [António J. Pereira da Costa, cor art ref] ao poste P11024:

O Caco Baldé acaba por ser um nome carinhoso para materializar a popularidade o prestígio de um chefe. Sabemos bem que essa alcunha casa o monóculo (Caco) com um apelido frequente na Guiné (um espécie de Silva ou Oliveira) e nada mais.

Creio que realizou uma aprendizagem e aproximação lúcida à vida do seu tempo. O sue modo de pensar terá evoluído desde o 345 até à Guiné73 que só poderia desembocar no 25 de abril.  Tenho para mim que era um dos melhores generais dos exércitos europeus. Ele tinha mais de 30.000 homens sob o seu comando e mais de meio milhão de civis à sua responsabilidade.

Se tomarmos como referência os países da NATO não vejo nenhum que tivesse algo para lhe ensinar, na prática (bem entendido). Exceptuando os americanos que, riquíssimos em meios, perdiam a guerra do Viet-Nam e os franceses que também não ganharam a da Argélia, todos andavam a "brincar aos soldados" em cenários hipotéticos em que o "insidioso, ardiloso e mauzinho In" vinha de Leste a correr pela Europa fora com uma foice numa mão, um martelo na outra e uma estrelinha no alto da cabeça.

Enquanto que ele tinha operações todos os dias (de todos os tipos e formas); logística (má e insuficiente) todos os dias; gestão de pessoal (insuficiente) todos os dias e todo o resto... e era tudo par ter efeitos ontem, porque amanhã já era outro dia com novos problemas. Depois veio o período mais conturbado que nenhum dos estrangeiros atravessou, mesmo os que poderiam ter tido intervenção na condução da política dos seus países. Andou mal. Poderia ter andado melhor. Talvez, mas os homens que não fazem asneiras normalmente também não fazem mais nada.

Um Ab.

António J. P. Costa (**)
__________

Notas do editor

(*) Vd. I Série > 14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

(...) Publica-se a quarta e última do extenso relatório da Op Lança Afiada, que decorreu entre 8 e 18 de Março de 1969, na região compreendida entre a linha Xime-Xitole e a margem direita do Rio Corubal, até então considerada como um "santuário do IN".

A operação, comandada pelo coronel Hélio Felgas (o patrão do Agrupamento 2947, mais tarde comando operacional de Bafatá, COP 7, se não me engano), coadjuvado por dois tenentes-coronéis, Jaime Banazol (liderando o Agrupamento Táctico Sul, com mais de 500 homens que partiram do Xitole e de Mansambo) e Manuel Pinto Bastos (comandante do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), que encabeçava o Agrupamento Tático Norte (com cerca de 750 homens, que partiram do Xime). Ao todo 1300, entre soldados metropolitanos, milícias e carregadores...

Foi uma das últimas grandes "operações de limpeza", realizadas no primeiro ano de Spínola, enquanto Governador Geral e Comandante-Chefe (que fez questão de estar presente, junto das NT, no Dia D + 9, ou seja, 17 de Março de 1969, partilhando inclusive o transporte naval que levou os nossos esgotadíssimos camaradas da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês, no regresso ao Xime. (...)


10 comentários:

Luís Graça disse...

Tó Zé: Vindo de um "artilheiro", é um grande elogio a um "cavaleiro"... Privaste com o Spínola ? Tens fotos dele no teu tempo de Guiné ?

Pessoalmente confesso que, no início, quando fui mobilizado para o To da Guiné, tinha uma ideia "pré-formatada",enviesada, do nosso Com-Chefe...

Antº Rosinha disse...

Sempre houve muita inibição em falar do desempenho extraordinário de Spínola, na guerra colonial.

Os oficiais superiores até por causa do desaire da morte dos 3 majores no chão manjaco, se retraiam em o fazer.

Mas como foi durante muitos anos, politicamente incorrecto, e ainda é hoje, defender a política portuguesa para África, diferente da inglesa e francesa (e soviética/americana), talvez por isso se evite fazer um retrato real da figura de Spínola.

Mesmo aqui neste blog, quanto mais na imprensa e nos historiadores, parece que há vergonha de falar no que na realidade fez sobressair este homem de qualquer outro português da sua época.

Como militar um dia se fará o verdadeiro retrato.

Mas como Governador Geral, vai ser difícil, porque os guineenses da sua época, régulos, e homens e mulheres grandes da sua época não sabem escrever e não "podem falar" em público.

O grande sucesso de Spínola na Guiné, foi político e social, mais do que militar.

Muitos não concordarão contigo A J P Costa, mas Vê-se qu já outros te acompanham.

Cumprimentpos

Luís Graça disse...

... Nós, portugueses, não somos muito diferentes de outros povos: não valorizamos o que é nosso; somos parcos em elogios aos nossos (, aos melhores dos nossos, nos mais diferentes domínios, da ciência à literatura); desconhecemos muitas coisas a nosso respeito, a respeito da nossa história, da nossa terra; temos uma terrível terrível tendência para ler tudo a "preto e branco"... Rosinha, falta-nos "distãncia" em relação em relação a Spínola e o seu papel na história... Vou trabalhar... Um abraço. Luis

José Júlio Nascimento disse...

Se o General Spínola fosse norte-americano e tivesse estado no Vietname, talvez já fosse êxito de bilheteira numa qualquer saga heróica, mas como é PORTUGUÊS...

Torcato Mendonca disse...

Concordo com o comentário do Cor. António Pereira da Costa.

O Snr Marechal Spinola, que eu conheci em Brigadeiro quando chegou á Guiné, sabia bem como conduzir aquela guerra e esperava uma tomada de posição politica de Lisboa. Merece o meu profundo respeito. A partir de certa data é assunto que prefiro não falar e nada tem a ver com a guerra.
Muitas vezes nem nós compreendíamos a protecção, excessiva para nós, de algumas posições dele para com as populações e até em operações. Aqui seria mais extenso e isto são uma ou duas notas. Para com os militares era duro e compreensível. Conhecia-nos com a sua prodigiosa memória. Lembro-me agora de dois acontecimentos - um em Mansambo e outro em Candamã. No ultimo ganhou em cada homem do meu Grupo um admirador...
Depois as Fotos e não me parece o Ten.Cor P. Bastos que , na Lança Afiada devia estar no Xime. Sobre esta Operação tens toda a razão Luís Graça e, para teres mais, não publiques esses postes ou certos escritos sobre o que aconteceu. As NT não têm que se sentir mal,no seu comportamento ou em serem cobaias. Aconteceu, foi duro, tivemos o acompanhamento constante do Com-Chefe e não concordamos com ele nalguns pontos (forma de não aniquilar o IN com emboscadas na margem esquerda do Corubal etc).
Tenho muito escrito no papel e quando tiver mais vagar passo á tecla e acabo.
Ultima nota fora deste poste: O Cap. Peralta foi capturado em Nov/69. Vi-o pelo vidro da porta -de relance - no H. Militar em Bissau quando fui tratar de assuntos da Companhia (estava a comanda-la quando do embarque).
Tanto para dizer e aqui n "estórias"..
Ab, T.

Luís Graça disse...

Torcato, não conheci o Pimentel Bastos. Quando cheguei a Bambadinca na 3ª semana (?) de julho de 1969, ele já tinha sido substituido pelo Corte Real, se não erro...

Não falar disto ? Aconteceu, o Spínola foi um "disciplinador", goste-se ou não... Muitos oficiais superiores temiam-no, por que ele não perdoava a quem falhava, ou não se mostrava à altura das circunstâncias...

Este seu lado "justiceiro" e "populista" fazia as delícias do Zé Povinho, da populaça... Sempre foi assim ao longo da nossa história... E depois as coisas invertem-se, os heróis de ontem são os vilões de hoje... Não falo do que aconteceu depois do 28 de setembro, por que essa é outra história, que não cabe no nosso blogue e na nossa partilha de memórias...

Os seres humanos são cruéis, são animais, primatas, grandes símios, hominídeos... É bom lembrar o que dizem de nós os zoólogos, os primatólogos, os etólogos, os antropólogos, os sociobiólogos...

Um abraço grande, de Bambadinca a Mansambo. E continuo à espera da "tua versão" da Op Lança Afiada... Estou a ser cruel ?...

Torcato Mendonca disse...

Olá Luís Graça, estive cerca de uma hora a falar com o Carlos Vinhal.Por ele vou sabendo como giram as memórias partilhadas da Guiné. Não falamos só disso claro.
Vou tentar encontrar aqui uma foto do Cor. P. Bastos, excelente homem.
Saiu de Bambadinca devido ao ataque de Mai/69. Regressou a Portugal no mesmo dia em que eu vim, 4/Dez/69. Ele era o Cmdt Militar do barco (Cmdt de Bandeira? não sei).Ainda encontrei a esposa em Lisboa.

Vou mandar-te então a foto e já perdi a Quadratura do Circulo e o A. Costa.Vai para o mail do blogue.

A Lança Afiada irá...

Ab, T.

Anónimo disse...

Olá Camaradas
Não privei com o General. Ele visitou a CArt 1692 (Cacine), em MAI/JUN68, e eu não fiquei com nenhuma foto do evento. Já contei noutro post que foi a partir daí que o dispositivo daquele sector se começou a alterar e a história, até 1973/74, está bem documentada cá no blog. Foi apenas uma vez a Mansabá pelo Natal72, para uma curta conversa, sem consequências. Entre 68 e 73 observei-o "de longe" e conclui que "sobrevivia" bem no(s) ambiente(s), jogando com uma visão mais clara, exacta e atenta das coisas da "guerra", (por isso sabia ouvir) uma certa dose de demagogia, prática da intimidação a alguns (os famosos "pares de patins" talvez tenham sido injustos em alguns casos e necessários, mas não aplicados noutros) promoção (às vezes discutível) de outros, à mistura com certos "ódios de estimação (artilharia, estado-maior, etc.) e ideias preconcebidas. Quero enfatizar as suas decisões de atacar o In no estrangeiro, que não sei até quanto poderiam contar com a "cobertura e aceitação" da sua hierarquia e a tentativa de contactos com o PAIGC através do presidente do Senegal. Sabemos bem quão sacanas e hipócritas eram os políticos do seu tempo. Os rapazes do PAIGC apareceram, agora, nos programas do Furtado e denegrir esta tentativa. Foi um jogo de tudo ou nada em que quiseram prosseguir. Imaginem só o que seria a obtenção de um cessar-fogo na Guiné, à revelia do governo de Lisboa. É, no mínimo, discutível a opção do PAIGC de só negociar com o governo central e não com o opositor directo. O que poderia ter sido poupado em vidas e esforço! A comunidade internacional não deixaria cair o assunto e...
Bem, isto já são hipóteses. De qualquer modo volto a repetir que o General, como todos nós, era um bombeiro que chegava atrasado ao fogo florestal com todas as condições para continuar a arder.
Posso testemunhar as grandes melhorias a nível da logística que se operaram, desburocratizando uma série procedimentos e lançando no canal de reabastecimentos tantos artigos necessários. Saliento também a aproximação (absurdamente tardia e sem nunca reverter grandes contingentes para o controlo das autoridades) às populações. Era imperiosa, mas creio que num fenómeno sociológico como aquele que vivemos era tarde para resultados mais positivos. Tinham passado mais de 500 anos entre a descoberta e o início da "guerra" e a Guiné ainda era aquilo que vimos ao chegar e deixámos para trás.
Foi uma valentia sua aceitar um último esforço para tentar fazer algo de positivo. Já tenho dúvidas na aceitação de uma "missão votada ao fracasso", e isso ele não fez. Mas isso, já são contas de outro rosário...
Concordo, em absoluto, com o Júlio Nascimento. Era uma boa oportunidade para se criar um branqueamento em que os "maricanos" são especialistas. Fabricam heróis quando têm necessidade deles e querem actuar sobre a mentalidade do seu povo e do estrangeiro. Eles hoje até estão convencidos que ganharam no Viet-Nam... Para mim, os homens têm qualidades e defeitos e o branqueamentos das suas personalidades e acções só os diminui à medida que a poeira da História assenta. É a verdade da vida dos homens bem divulgada que faz deles grandes.
Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

A diferença que este homem teve para qualquer outro português da sua geração, nunca se pode medir por mais tiro menos tiro, mais erro menos erro, (mesmo a tragédia do chão manjaco).

O exemplo dele foi copiado em Angola por governadores de distrito, como Soares Carneiro e outros, como capitão Branco Ló, que tiveram sucessos políticos e sociais em coordenação com GE's, com resultados estrondosos ao ponto de quando se deu o 25 de Abril nem sinal da presença dos movimentos se sentiam em regiões do tamanho de 2 Guinés.

Mas vai ser difícil um dia escrever o que foi esta guerra, até porque para calar o barulho ensurdecedor de certas claques, vai demorar muitos anos.

E essas claques não permitem que se escreva a história porque eles não entram nela.

Anónimo disse...

ENTÃO É ASSIM


Disciplinador dos "maiorais incompetentes",populista,visionário,estratega,humanista q.b.,ambicioso,patriota,megalómano q.b.,arrivista q.b.,destemido.....qualidades e defeitos de um grande português.

Sabiam que o "caco" era apenas um adorno,aquilo não tinha graduação.
Via mal sim,ao perto..quando necessitava ler punha os óculos competentes para corrigir o astigmatismo.

C.Martins