Assunto: General António Spinola - Caco Baldé.
Olá, Luis Graça,
Sobre a tertúlia do momento (*), quem era o Gen Spinola, tenho que dar o meu testemunho.(**)
Nunca esperei, ao ir para o Ultramar, ter tantas vezes contactos e próximos com o Com-Chefe, que até parecia que estava em todo o lado. Talvez por essa proximidade, e sem qualquer preconceito, me despertou uma grande admiração pela pessoa, como militar e Comandante. É evidente, que ele não podia agradar a todos, mas quem andava no mato, sentia a sua liderança.
A primeira vez que o vi, ao vivo e a cores, foi nos adidos em Bissau, onde ele foi fazer a recepção aos militares, que tinham chegado, no Navio Timor, onde estava a minha CArt 2479 / CArt 11 / CCaç 11.
Estávamos nós alinhados, na Parada, e subindo ele a pé desde a Porta de Armas, com os seu Estado Maior, onde se destacava o Cap Almeida Bruno, o General parecia um manequim da Casa Butler. Onde raio foi ele arranjar aquele camuflado?. Foi logo o nosso comentário.
Foi nesse primeiro discurso, pois ouvi vários, que ele, ao falar aos militares, entre várias frases de alento e incentivo, para as dificuldades que nos esperavam, teve aquela qu, na nossa Companhia, foi sempre referida por todos, " Na Guiné nada acontece por acaso ", e assim foi. Nada acontecia por acaso.
Depois visitou a nossa CArt em Contuboel, onde estávamos a dar instrução aos militares de origem guineense, por três vezes, incluindo um dia que estavámos a fazer instrução de tiro algures no mato e o General apareceu lá, sem mais nem menos, e aquilo, quer queiram ou não, impunha respeito.Vi-o depois em Bissau, aquando do Juramento de Bandeira dos militares que iriam formar a CArt 11 e a CCaç 12. Outro discurso, de envolvimento, em que o pessoal reconhecia a sua capacidade de oratória.
A prenda que tivemos, nesse dia à noite, foi que em vez de nos prepararmos para regressar ao Leste (Contuboel), fomos de prevenção fazer a segurança próxima ao Hospital Militar, pois constava que estava lá um ferido importante, chegou a correr o boato que era o General, mas não, era o cubano Capitão Peralta, e por isso ficamos quase uma semana em Bissau, ao monte nos Adidos.
Atravessei-me com ele novamente em Bissau, no Hospital Militar, quando lá estive para me tratar de doença tropical. Aparecia sempre. Depois ainda o vi mais duas vezes, em Pirada e Nova Lamego.
Há uma coisa, que lhe reconheço, e ninguém pode negar, ele foi comandante Militar numa Guerra, mas também o principal protagonista para o fim da mesma, ao escrever o livro "Portugal e o Futuro", e a controvérsia que esse livro criou, ajudou a acabar com a mortandade da juventude portuguesa, e não só. Por isto tudo, terá sempre a minha admiração e respeito.
Abílio Duarte
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11028: Facebook...ando (22): O Spínola que eu conheci... Opiniões e depoimentos de Francisco Palma, Torcato Mendonça, J. Pardete Ferreira, José Basílio Costa, Bernardino Cardoso, Armando Ferreira Martins, Armandino Oliveira, Manuel Reis, João Guerreiro, José Tavares, Francisco Gomes
(**) Último poste da série > 29 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11024: O Spínola que eu conheci (24): Alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epiteto... "Caco Baldé"... Qual a origem ? (Cristina Allen / Luís Graça / Jorge Cabral / Carlos Fabião / Cherno Baldé)
2 comentários:
Abílio, parece haver um "desacerto" de datas, a captura do Peralta foi em 18 de novembro de 1969, e o juramento de bandeira dos nossos soldados (futuras CCAÇ 11 e 12) foi em 26 de abril de 1969... Se estivestes a fazer segurança ao HM241, nessa altura, em abril de 1969, não pode ter sido por causa do capitão Peralta, deve ter havido outra razão para vos reterem em Bissau...
Vejamos o que está escrito aqui no blogue. Um abraço do Luís
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(i) História da CCAÇ 12
(...) Tendo embarcado no Niassa a 24 de Maio, juntamente com outras Companhias independentes como a 2591 e 2592 [, futuras CCAÇ 13 e 14,], chegamos ao CTI da Guiné em 29, pelas 21 h, tendo desembarcado no dia seguinte de manhã.
A 31, no Depósito de Adidos, Sua Excia, o Comandante-Chefe das Forças Armadas, Brigadeiro António de Spínola, passa revista às tropas em parada e dirige-lhes palavras de boas-vindas. Também já não me lembro do discurso, de circunstância, pronunciado naquela inconfundível voz de ventrícola do nosso Homem Grande (Reconhecê-la-ia até no inferno).
Colocados em Contuboel (Sector L2, Zona Leste, a norte de Bafatá, a meio caminho da fronteira norte), a fim de darmos a segunda fase de instrução ao nosso pessoal africano, embarcamos em LDG [Lancha de Desembarque Grande] para o Xime, a 2 de Junho, tendo seguido depois em coluna auto até ao local destinado. Um dia de viagem, exaustivo, extenuante, com o primeiro grande banho de pó e de emoções: íamos descobrindo a Guiné profunda, da tensa viagem entre o Xime e Bambadinca, com a ponte do Rio Udunduma, recém-dinamitada e parcialmente destruída pela guerrilha, na mesma noite do ataque a Bambadinca (28 de Maio de 1969)...
Os quadros da CART 2479 [futura CART 11 e depois CCAÇ 11, a que pertenceu o meu amigo Renato Monteiro, o homem da piroga] já tinham dado, entretanto, a instrução básica àsas nossas praças africanas, de 12 de Março a 24 de Maio, em Contuboel.
A cerimónia do Juramento de Bandeira realizara-se em Bissau, a 26 de Abril, na presença do Comandante-Chefe (sempre Excelentíssimo). A instrução da especialidade teve início imediatamente a seguir à nossa chegada a Contuboel. Ao longo de um mês e meio, em plena época das chuvas, os nossos graduados aprenderam a conhecer os elementos dos seus futuros grupos de combate.
Integrada na "nova força africana", a futura CCAÇ 12 receberia a visita, durante a semana de tiro, Brigadeiro António de Spínola que se inteirou pessoalmente do nível de instrução ministrada às nossas praças africanas.
Os exercícios finais da especialidade efectuaram-se de 6 a 12 de Julho, a 10 km ao norte de Contuboel. A 18 de Julho, finda a instrução, a CCAÇ 2590 [futura CCAÇ 12] é dada como operacional, sendo colocada em Bambadinca (Sector L1, Zona Leste).(...)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/05/guine-6374-p6466-minha-ccac-12-2-de.html
(ii) Cap cubano Pedro Peralta
(...) O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças pára-quedistas do BCP 12 e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. Enviado para Lisboa, foi devidamente tratado no Hospital Militar Principal. Foi julgado emTribunal Militar e condenado em 2 anos e 2 meses de prisão. Depois do 25 de Abril de 1974, o capitão Peralta foi libertado, em troca, ao que parece, por um agente da CIA, preso em Havana. (...)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/11/guine-6374-p5230-memoria-dos-lugares-52.html
OLÁ lUIS, TERÁS RAZÃO, MAS ESTAVA, CONVENCIDO, COMO OUTROS CAMARADAS, QUE ERA O CAPITÃO PERALTA. DE CERTEZA QUE ERA ALGUÉM IMPORTANTE, POIS FOI
BASTANTE GRANDE A ACTIVIDADE ENTRE, O HOSPITAL,REG. ENGª, E ADIDOS, PRINCIPALMENTE, NAS TRASEIRAS DOS MESMOS, ATÉ AO RIO OU BOLANHA, QUE ALI HAVIA.TUDO BEM AGRADEÇO O TEU ESCLARECIMENTO.
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