1. Em mensagem do dia 17 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos mais este pensamento...
O Cifra já sabe que, depois de verem o título, vão pensar
outra vez, que vai sair coisa, que não tem nada a ver com
emboscadas e guerra, com tiros, granadas, mortos e feridos, mas
desta vez tem a ver com “Canhões”, que são muito mais fortes e
mortais, que todas essas armas ligeiras, que os militares de
acção, usavam no conflito triste e horroroso porque passámos, e
talvez vão dizer como costume, os que viverem no mundo que fale
inglês:
- It’s good that story has some sense.
No mundo que fale francês, dizem:
- Il est bon que
l’histoire a un sens.
No mundo que fale germânico, friamente, dizem:
- Es ist
gut, dass die Geschichte einen Sinn hat.
No mundo que fala espanhol, entre dois ou três “zzz”,
dizem:
- Es bueno que la historia tiene un sentido!.
Os chineses, põem os pauzinhos de parte, se estiverem a
comer, e depois dizem:
Perceberam?. Não. Deixem lá, pois o Cifra, também não percebeu.
E nós portugueses, depois de encolher os ombros, dizemos:
- É bom que a história tenha algum senso.
Pois é verdade, depois de pensar, e sempre com receio que os
amigos antigos combatentes, o Luís Graça, o Carlos Vinhal e os
restantes editores deste grande blogue, e todos aqueles que têm a pachorra para ainda lerem estes
escritos, não fiquem a pensar coisas que não são, pois os
sentimentos do Cifra são só única e simplesmente bons, e tenta
escrever uma linguagem decente,
embora com alguns erros que o
Carlos Vinhal, com toda a
dedicação, corrige, mas não
pode resistir a contar esta
história, um pouco comovente,
pois estes pais deram tudo e
sofreram para que a sua filha
fosse feliz, e finalmente o
acaso trouxe-lhes a felicidade
da sua extremosa e educada
filha.
A sua mãe, quando soube
que a trazia no ventre, era a mulher mais feliz do mundo, sempre
teve os cuidados que uma mãe moderna e informada tem, nasceu
numa clínica, não daquelas do Estado, mas numa daquelas com um
nome sonante, para que no futuro constasse no seu bilhete de
identificação, teve o carinho da sua extremosa mãe, do seu
dedicado pai, e demais membros da família, assim como algumas
“Babás”, que era como chamavam às dedicadas mulheres que se
alugavam ao dia para tomarem conta de bebés ricos. Frequentou a
escola privada de crianças quase bebés, foi para uma escola
primária particular, depois um colégio com nome, em seguida a
universidade, onde o seu pai era professor-doutor, fez um
estágio de pós-graduação numa universidade no estrangeiro, para
lhe dar nome, e para que constasse no seu currículo, tudo isto
tinha esta jovem, mas não se sentia feliz.
Os pais, definhavam-se, e perguntavam o que teriam que fazer
mais para que a sua adorada filha se sentisse uma pessoa normal e tivesse alguma alegria em viver neste mundo, pois não sabiam o
que tinham feito de mal na educação dela.
Um dia, fazem uma viagem ao estrangeiro, a um país exótico,
onde num daqueles programas de intretenimento que os hotéis
vendem para que as
pessoas não passem
todo o tempo bebendo
“martinis” e outras
bebidas, lá “encurralados”, vão dar um
passeio de barco, num
rio da selva, onde
dado ao evoluir das
mentalidades
revolucionárias,
rebenta, nesse
preciso momento, uma
revolução armada, e
são feitos
prisioneiros de
guerra. O pai e a sua
extremosa mãe
choravam, e para
surpresa de todos,
ela assim que viu um
canhão, daqueles compridos, agarra-se a ele, e mostrou no seu
rosto ser a rapariga mais feliz do mundo.
O que ela precisava para ser feliz era um canhão dos
compridos, daqueles que não param de disparar, por muitas horas
seguidas, que quando apontam, são certeiros e firmes, ajudam a
viver e protegem quem os possui, há muitas guerras que começam
ou acabam por sorte de quem tem o canhão maior e mais potente,
ela, estudada e sabedora desse pormenor, juntou-se à guerrilha,
passou a ser uma combatente no verdadeiro sentido da palavra,
deram-lhe um canhão, dos bons, grande e comprido, ficou feliz,
em outras palavras, assim que se via agarrada ao canhão, era a
criatura mais feliz do mundo, como podem observar na fotografia
em cima.
Finalmente, os seus pais estavam felizes, a sua filha
encontrou aquilo que procurava há muito, que era um canhão, dos
compridos, como aquele que a fotografia mostra.
Dizem que Deus escreve direito por linhas tortas.
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 17 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10952: Humor de caserna (28): Estou a fazer voar o meu pensamento (Tony Borié) (1): Cansada de guerra
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário