Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de Janeiro de 1971 a Outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.
Foto: © Morais da Silva (2012). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 26 de Janeiro de 2013:
Caros Luís Graça/Carlos Vinhal,
Envio a minha modesta contribuição para o gigantesco trabalho, que vocês magistralmente desenvolvem e administram.
FANTASMAS DO FUNDO BAÚ
4 - QUEM VEM LÁ???
Quando cheguei a Gadamael, para assumir o comando do 23° Pel Art, lá pelos meados de 1970, encontrei uma Companhia em fim de comissão (tinham acabado de evacuar Ganturé), logo em seguida veio uma Companhia de Infantaria, e se seguiram alguns agitados dias.
É desses tempos, tentando responder a perguntas de um Camarada Historiador, o que, diga-se de passagem, não consegui fazer a contento, que surgiram do "fundo do baú", alguns "causos", cuja "gravação" era um pouco mais nítida.
Foi num dia, o que na altura se entendeu como tentativa de invasão do quartel. Lembro que alguém informou que o IN estava no fim (começo) da pista, o Capitão duvidou, contudo, por segurança, mandou uma Panhard fazer um reconhecimento. É um facto conhecido, que o apontador foi morto e o condutor voltou "transtornado"; em seguida, desencadeou-se um dos piores ataques a Gadamael no período (aliás no P7142 e no P7186 tem foto da parede da messe com os estilhaços desse dia).
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Ex-edifício do comando, com vestígios de estilhaços
Foto e legenda: © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados
A outra suposta tentativa de invasão, penso "in the best of my recollection" (lá vem o recurso ao famigerado anglicismo), que o Comando já era do então Capitão de Artilharia Morais Silva, lembro ainda, que lá estavam os Comandos Africanos sob o comando do então Alferes Zacharias Sayeg. Julgo, que foi nessa data que fizemos disparo direto com o obus (10,5) para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos, o que foi um erro meu, pois, entrei na "reserva estratégica" (que me perdoem os Artilheiros se não é este o termo exato); soube mais tarde por Oficiais lotados no comando da Artilharia, que por esse erro, o "Paizinho" pensou em me punir, o que não se concretizou.
Nesse dia, após uma violenta flagelação, com aproximação até à pista de pouso, aconteceu algo inusitado, que quase acabou em tragédia. Alguém falou que o IN tinha entrado no quartel no fim do ataque, então, o Capitão, serenamente, mandou todos para as valas, e ordenou que eu fizesse a volta no sentido contrário ao dele, e o encontrasse no Posto de Comando, assim, em tese, não haveria dentro do perímetro do quartel, ninguém em pé além de nós dois.
Como eu não tinha hábito de usar arma, havia um soldado do PelArt, Meta Camará, que além de excelente Artilheiro era atirador de elite (morreu com um tiro de um franco atirador numa viagem a Cacine), que normalmente me acompanhava, quando eu achava necessário. Disse a ele, sem deixar margem a dúvidas, que à minha ordem de fogo, ou se eu me atirasse no chão, deveria disparar a G3 da melhor maneira possível.
Eis senão quando, a meio caminho entre os obuses e o comando, junto à divisão com a tabanca (o trajeto fica bem claro na foto de Gadamael de autoria do Coronel Morais Silva) surgem dois vultos. Numa fração de segundo, que eu nunca soube precisar, decidi perguntar "quem vem lá", ... eram dois graduados da Companhia de Comandos, que provavelmente estavam na tabanca, e não ouviram a ordem do Capitão!!!
Eh, depois de mais de quarenta anos, fica assim...
forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Fantasmas do fundo do baú (Vasco Pires) (3): A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva, 1º comandante da CCAÇ 2796, e meu amigo
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Caro camarada Vasco Pires
Enfiares 200 tiros de obus 10,5 em tiro directo no fundo da pista ...é obra...merecias uma "porrada".
Julgo que com 2 ou 3 tiros os "gajos" do paigc se lá estivessem punham-se a milhas.
O 10,5 era mesmo bom material..alemão claro..fabrico krugger...como não rebentaste com os hidráulicos tiveste muita sorte..julgo que é por isso que referes a "reserva estratégica", é que ficar sem um obus operacional para mais em gadamael..enfim todos nós fizemos asneiras.
Também eu enfiei um tiro directo para o outro lado do "rio", e qual não foi o meu espanto quando um sentinela veio ter comigo desvairado e histérico a dizer que muitos estilhaços caíram junto ao posto de sentinela.."porra...porra não faça mais tiro nenhum que ainda nos mata a todos" exageros..a verdade é que não voltei a repetir a "gracinha".
Um alfa bravo
C.Martins
Caro Camarada C. Martins,
Cordiais saudações.
Muito obrigado por tua observação.
Lamento muito, não ter siso suficientemente claro.
Quando disse: "Julgo, que foi nessa data que fizemos disparo direto com o obus (10,5) para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos", talvez, a melhor redação fosse: "...fizemos alguns disparos diretos para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos". Assim mesmo, reconheço o erro pelo elevado número de disparos, contudo, o disparo direto foi feito consciente; poderia não atingir o IN que estava no fim da pista, mas, com a certeza de que pelo menos assustaria.Quando falei em "reserva estratégica", sem a certeza de ser o termo correto, queria-me referir ao número mínimo de granadas que deveríamos manter.Aliás, quando li um depoimento teu, em que dizes, como magistralmente controlavas esse estoque mínimo, disse:"Oh pá, porque não pensei nisso antes"
forte abraço
Vasco Pires
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