terça-feira, 16 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11408: Revivendo (Felismina Costa)

Mais um belo trabalho escrito da nossa amiga tertuliana
 Felismina Costa / Felismina Mealha


 Igreja Matriz de Santiago do Cacém
Com a devida vénia à Câmara Municipal de Santiago do Cacém


Revivendo

Longa a Planície entre Santiago do Cacém e Alcácer do Sal!
O dia, já Primaveril, favorecia o abrir das flores que salpicavam o chão por debaixo dos pinheiros e sobreiros.
O amarelo dos tojos e das giestas alegram e suavizam a rusticidade da paisagem.
De quando enquando, o branco sujo dos saramagos, faz-se notar aqui e além, destacando-se no tapete verde, muito bem tecido em toda a extensão observada.
Sob a ponte, o Sado corre turvo, sujo da terra que arrasta consigo na corrente forte. Algumas garças sobrevoam-no elegantemente.
Alguns braços de rio, alagam as zonas baixas, onde o sol quando espreita, se reflete alegremente.
As estevas floridas pareciam árvores de Natal da minha infância, salpicadas de algodão branco que substituía a neve, que raramente ali caia.
As nuvens, na linha do horizonte, desenham uma barra onde em camadas se sobrepõem, que rápidamente crescem desenhando contornos fabulosos.
A planície vai ficando para trás à medida que se aproxima a serra de Grândola, onde o sobreiro é rei.
A noroeste, a serra da Arrábida evidência o castelo altaneiro rodeado pelo desenho extraordinário das nuvens que o ladeiam. Numa linha longitudinal a serra vai crescendo até se despenhar no verde e lindíssimo Oceano que ela segura.
Pelas curvas da serra o silêncio reina. As aves, são ainda poucas as que se mostram. Há um sussurro que os meus ouvidos atentos registam!
O som da terra!
Um som familiar que canta e encanta. Que acalma e exalta, que nos adormece e acorda para a espantosa realidade do milagre de cada dia.
Dentro em breve, toda a terra florescerá em desenhos e cores esplendorosas, e o silêncio agora reinante, será então um entoar de hinos à Mãe Natureza, por ter guardado a semente e a fazer germinar mais uma vez.
Eu sou eternamente grata, por me ser dado observar mais uma vez, o parto magnífico donde emergem as mais belas flores e o pão da vida.
Mas, de novo na cidade, mergulho na correria das gentes apressadas, que convergem para os mesmos locais, na presa de se encontrarem como os filhos que crescem longe de si, fechados numa creche ou entregues a si próprios, sem verem crescer as flores e ouvir o cantar das aves.
E sinto pena!

Felismina mealha
2/4/2013
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8 comentários:

Bispo1419 disse...

Olá Felismina, minha cara vizinha!

Cheguei agora ao blogue e dou-me com este texto que, em muitas frases, me faz recordar o dia de ontem. Passei todo o dia no Alentejo, na zona de Montemor-o-Novo, completamente imerso numa extensa floresta de sobreiros e azinheiras onde, em alguns espaços, uma filha minha se dedica à agricultura biológica. Foi um dia em cheio e este seu texto tão bonito aparece-me agora como quase podendo ser uma resenha das minhas emoções, sentidas durante o meu dia "alentejano" de ontem.
Até me parece que vou dormir melhor.

Um beijo
Manuel Joaquim

Anónimo disse...

Muito bom, parece que estou por lá a passar.

Obrigado Amiga Felismina.

Um Beijinho e até Monte Real.

Joaquim Sabido
Évora

Tony Borie disse...

Olá Felismina.
Saber transmitir o que se vê ou se ouve, com a sensibilidade de quem lê ou ouve a mensagem, lhe dê a sensação que está a passar por lá, ou que lá viveu, essa sensibilidade não se aprende, nasceu dentro da pessoa, é um "Gift", com que o Criador a contemplou.
A Felismina, tem esse dom.
Parabéns, Tony Borie.

Cesar Dias disse...

Boa tarde Felismina
Ainda ontem quando vinha de Santiago para Setubal, no IC3 , no alto da serra, vinha comentando com os meus botões, uma paisagem linda repleta de estevas em flôr, e ainda há pouco tempo era uma terra queimada, pois tinha havido um incendio. A natureza tem muita força, acaba por repôr quase tudo.
Bem haja Felismina
César Dias

Anónimo disse...

Olá Vizinha
Há muito tempo que não tinha notícias suas.
Li, com atenção e gostei. É o costume.
Mas diga-me: aquilo de escrever mealha em vez de Mealha é do novo acordo "pornográfico"?
Olhe que eu leio tudo até à assinatura do escritor.
Um Ab. e até dia 08JUN.
António Costa

jpscandeias disse...

Lendo a sua prosa até parece que tudo vai bem no reino do sobreiro, infelizmente assim não é. É um dor de alma atravessar a serra de Grandola onde a arvore nacional, o sobreiro, aos milhares, se apresenta em estado decrépito com os seus braços sem folhas erguidos para o ceu a implorar por ajuda de que tanto necessita mas tarda em chegar. O que se passa neste Alentejo que nunca se encolheu ou deixou dominar nos tempos do Estado Novo e fica agora como que anestesiado e indolente a este flagelo. Penso que a referencia a serra de Grandola merecia uma nota sobre a arvore mais emblematica do Alentejo que,porque por andar, em breve deixará de ser rei. Uma espreitadela ao programa Biosfera pode ser uma nova prespectiva sobre a serras de Grandola, Cercal, etc onde em tempos ainda recentes foi rei o sobreiro e que em breve será substituido e sem golpe de monarquia pelo eucalipto.
Faça de assim o entender uma pesquisa no you tube, para lá chegar basta pesquisar por - biosfera entrevista joao candeias.
Gostei da prosa que tem uma mensagem de afecto e familia que também aqui começa a mudar, com a novas estrutura familiar.

Anónimo disse...

Caro João Candeias

Agradeço a sua intervenção para explanar esta triste realidade. Já fui ao You Tube ver e ouvir a sua entrevista e fiquei triste. A minha realidade, é a de quem passa correndo e se lembra do passado em que viveu, onde havia muita coisa má, mas também muita coisa boa, como o ar puro, as estações certinhas, e tudo me era grato e me sentia agradecida.
Lamento que a realidade presente seja essa e desejo, que quem de direito tome as devidas resoluções...Será que há solução?
Todos perdemos, mas os proprietários certamente muito mais, e não é por acaso que o povo diz que (a quem dói o coração é ao dono do furão.)
Desejo que seja remediável, o que duvido.

Obrigada pelo alerta e aceite os meus melhores cumprimentos.

Felismina mealha

Anónimo disse...

"Caríssimo Vizinho"

Sr. Coronel António M. Pereira da Costa, muito boa-noite, como está o Sr. e sua Esposa?

Agradeço o comentário e prometo que vou aparecer mais vezes por aqui, pois tenho-me dispersado muito.

Quanto ao mealha pequenino, não tem nada a ver com acordo nenhum, ou melhor, é um acordo entre mim e o papel: escrevo o nome, como uma frase em que a penas a primeira palavra tem direito a maiúscula. Manias, mas prefiro ser a frase correcta.

Abraço fraterno.

Felismina mealha