segunda-feira, 15 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11395: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11 / CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte XI): O fur mil op esp Pechincha, era do meu pelotão e um grande artista...


Foto s/ nº > "Os operacionais da CART 11: o Pechincha está entre mim e o Macias,. ma primeira fila, da esquerda para a direita". [E,s e não me engano, o último da direita, da terceira fila - meio agachado - é o meu amigo Renato Monteiro, o "homem da piroga"]..


Foto s/ nº > Lisboa > 1969 > Furrieis da CART 2479 > "Jantar de despedida antes do embarque para a Guiné, com o nosso 1º sargento, Ferreira, que chegou a major e já falecido". [O camarada que, no último plano, está a nível acima dos outros, parece ser o mesmo que aparece em igual posição na foto de cima... À sua direita, parece-me ser o Pechincha. E à sua esquerda estaria o Renato Monteiro].



Foto s/ nº > No T/T Tinmor, o Pechincha, o Queiroz e eu (da esquerda para a direita)


Foto s/ nº > Eu, na nossa messe em Nova Lamego, decorada pelo Pechincha


Foto s/ nº > Os desenhos (humorísticos) do Pechincha, na nossa messe (1)


Foto s/nº > Os desenhos (humorísticos)  do Pechincha, na nossa messe (2)


Fotos (e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (*) [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (*).

O Pechincha já aqui foi magistralmente evocado pelo Hélder de Sousa (**),  Sabemos que era de Moscavide, vizinho e conhecido do Humberto Reis {[, o nosso "cartógrafo", ] e que, antes da tropa, era desenhador na Câmara Municipal de Lisboa...Ele, Hélder de Soura, "pira", conheceu-o Em Bissau, "apanhado do clima", como ficávamos (quase) todos nós na última parte da comissão... Depois, perdeu-se-lhe o rasto.

O Abílio Duarte acrescentou mais os seguintes elementos, para esclarecimento  do Hélder de Sousa e nosso:

(i) O Pechincha Furriel de Operações Especiais, da Escola de Lamego;

(ii) Éramos os dois do mesmo pelotão, desde Penafiel até Nova Lamego [CART 2479 / CART 11]

(iii) Só que o malandro era desenhador, e quando chegamos ao Gabú, deram-nos o Quartel de Baixo, Como era conhecido na altura. Como aquilo estava abandonado, e não tinha muitas condições, o nosso Capitão desafiou-o a fazer uns desenhos para as casas de banho e outras, para quando fosse a Bissau ir ter com o padrinho dele, que era o Cor Robin de Andrade, para arranjar uma cunha e ter materiais de construção para nós fazermos as obras;

(iv) O que aconteceu foi que os desenhos eram tão bons que o Pechinchja foi para Bissau, e nunca mais voltou. Mas os materiais vieram;

(v) A seguir souberam que o meu Alf cmdt de pelotão era Eng Civil, e foi também para os reordenamentos, e também nunca mais voltou. Nem foram substituídos;

(vi) O mais giro desta foto, mas não se consegue ver, é que o Pechincha nos seus desenhos punha os bonecos com frases do Spinola, e a nossa preocupação era, se aparecesse o Spinola, termos sempre uma brigada pronta para apagar as bocas do Pato Donaldo e companheiros.

(vi) É esse Pechincha que conheceste em Bissau, e garanto-te que era um artista, aí lá se era.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 5 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11346: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11 / CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte X): Xime, Canquelifá, Bissau...

(**) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)

Como vos disse cheguei a 9 de Novembro [de 1970], quase na véspera do S. Martinho, e o desembarque deu-se um dia antes de todos aqueles que foram no Carvalho Araújo.

Fiquei alojado num quarto das instalações de Sargentos em Santa Luzia, em Bissau, num espaço cedido para colocar uma cama articulada facultada pelos meus amigos, colegas e conterrâneos vilafranquenses, Furriéis José Augusto Gonçalves (o Bate-Orelhas, como carinhosamente lhe chamávamos na Escola Industrial de Vila Franca de Xira por causa da sua (dele) habilidade de movimentar as orelhas como um abano com um simples esticar de queixo) e Vitor Ferreira, os quais compartilhavam o quarto também com o Furriel Pechincha (só me lembro do apelido), que estava em comissão no QG e tinha estado durante meses numa Companhia nativa, também não me lembro o nome (naqueles dias iniciais os nomes não assumiam personalidade, como já vos disse antes) mas que creio que me pareceu que alguns camaradas presentes durante a apresentação do filme As duas faces da guerra se referiram a ele como tendo estado na zona de Bambadinca.

Pois este amigo Pechincha, que era, salvo erro, de Moscavide e trabalhava como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, tinha fama de estar um bocado apanhado e com uma pancada enorme, mas acho que aquilo era mais para ganhar fama e beneficiar dela.

Digo isto porque tive com ele algumas conversas, muito interessante e educativas, que me elucidaram bastante sobre a situação que se vivia e como ele pensava que se iria desenvolver, o que, no essencial, não divergiam muito do que eu pensava.

Mas também não deixava a sua fama por mãos alheias e logo na noite de 11 para 12 de Dezembro fui testemunha privilegiada duma dessas situações.

Nessa noita comemorava-se o S. Martinho. Eu fui portador para os amigos vilafranquenses de alguns quilos de castanhas e de um garrafão de água-pé (por sinal, bem forte!), além de outros mimos. Com um bidão, em frente às camaratas onde os quartos se encontravam, fez-se o assador e então vá de comer chouriços assados, salsichas e castanhas, tudo bem regado com a dita água-pé e outras bebidas estranhas, em grandes misturadas (cerveja, uísque, coca-cola, etc.), tudo a animar uma simulação de uma emissão de rádio protagonizada pelos camaradas das Transmissões com jeito para a coisa, como por exemplo o Furriel Roque.

Com o avançar das horas era tempo de serenar, descansar os corpos e retomar forças para o dia seguinte. Acontece é que, como sempre sucede em situações semelhantes, nem todos estavam pelos ajustes e com a previsão para breve da viagem de regresso do Carvalho Araújo havia alguns, cujos nomes não ficaram registados na minha memória, que integrariam essa viagem final para a peluda, como diziam, e estavam dispostos a prolongar a sua festa, até com atitudes menos próprias e profundamente negativas, principalmente para quem tinha fortes experiências no mato, como seja arremessar as garrafas vazias para cima dos telhados de zinco dos quartos o que, como calculam, a mim ainda não produzia efeito mas para quem já tinha reflexos condicionados era bastante aborrecido.

Ora o nosso bom Pechincha avisou solenemente os meninos que ou paravam imediatamente a graçola ou tinham que se haver com ele à sua maneira. Dada a fama que tinha, que não regulava lá muito bem e que era bem capaz de usar arma, os ânimos serenaram quase de imediato e na generalidade mas, também como sempre sucede, há sempre alguém que procura forçar a sorte e um deles, que também me disseram que estava apanhado (afinal, quem é que não estava?, acho que dependia do grau) resolveu irromper no nosso quarto com uma panela na cabeça e a bater com duas tampas como se fossem pratos duma banda de música.

Entrou, com ar de quem estava muito contente da vida e satisfeito por desafiar as ordens, mas o que eu vi de imediato foi o nosso amigo Pechincha, que estava estendido sobre a sua cama e que era logo a primeira à entrada, estender o braço sobre a cabeceira da cama, agarrar numa espécie de um dos dois machados nativos que estavam lá a enfeitar e sem mais explicações nem argumentos arremessou-o para o intruso, acertando-o na panela que estava na cabeça, deixando-o com o ar mais aparvalhado de perplexidade que vi até hoje, deixar o quarto a tremer e a balbuciar "este gajo está de facto mais apanhado do que eu!".

Uma outra vez, estava com o Pechincha na zona da baixa de Bissau, passámos junto ao Taufik Saad que, naquela ocasião, tinha tido a boa iniciativa de efectuar uma promoção de um artigo qualquer que já não me lembro, mas a infeliz ideia de dizer que era "uma autêntica pechincha". Estão a ver a cena? O Pechincha resolve entrar de rompante na loja, cartão de identificação na mão, onde se podia confirmar que Pechincha autêntico era ele, portanto a "falsificação" teria que ser imediatamente retirada da montra!

E não é que foi mesmo!?

Era assim o Pechincha! Para muitos foi mais uma demonstração do seu apanhanço mas eu, que estava com ele, e éramos só nós os dois naquela ocasião, percebi muito bem que foi tudo encenado.... Ah, ganda Pechincha! se por acaso nos visitares e leres isto, junta-te a nós!

Uma outra recordação dos meus contactos com ele tem a ver com o que se chamou Operação Mar Verde. Cheguei à Guiné cerca de duas semanas antes da sua ocorrência mas bem em tempo da sua preparação em fase avançada. Nas longas conversas que tinha com o Pechincha, fosse pela minha habilidade em saber coisas, fosse pela habilidade dele em me transmitir coisas, pela necessidade de desabafar e aliviar a pressão a que estava submetido ou por ter percebido algum do meu posicionamento em relação à guerra e à participação nela, a verdade é que fiquei a saber algumas coisas (que pude confirmar depois quando li o livro que relata aquela operação) as quais, com alguma prudência e alguma imaginação, relatei em inocente aerograma para uma amiga vilafranquense, do género fazendo todas as afirmações que queria fazer mas dizendo para não acreditarem nelas, pois certamente as iriam ouvir dos inimigos da nação mas tudo não passariam de atoardas....

E foi tudo com o Pechincha. No início de Dezembro fui para o mato, para Piche, voltando em Junho de 1971 para Bissau para integrar o Centro de Escuta mas nessa altura já o Pechincha tinha voltado e nunca mais soube nada dele. (...)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Abílio: Vê os meus palpites, em complemento das tuas legendas... LG

duarte.oiliba.abilio@gmail.com disse...

Olá Luis,
os teus palpites estão certos.
O Sousa está nas duas fotos na mesma posição, e o Renato é aquele que identificas, O Pechincha toda a gente sabe quem é. Quanto ao Aurélio não tenho o seu contacto. Mas ele ficou um bocado atrapalhado, e salvo erro teve um processo de averiguações, pelo COmChefe.Sei por alto o que se passou, mas não quero especular.
Um Abraço.

Hélder Valério disse...

Olá camaradas

O que escrevi sobre o Pechincha está essencialmente correcto, conforme se comprova por estas achegas. Acho que aquela referência que fiz a Bambadinca é que deve estar 'deslocada', seria então Nova Lamego.

Também encontrei duas fotos que me foram enviadas pelo Fur. Fernando Roque, que cito no texto, e que ilustram a tal emissão da "Rádio Lacrau", bem como a "saudável loucura" existente. E ainda não tinha tido visibilidade o "Good morning Vietnam!", o qual pode muito bem tido sido assim um plágio....

Vou ver se consigo tratar dessas fotos e enviá-las.

Abraço
Hélder S.