Trigésimo quarto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.
Província da Guiné Portuguesa, anos de Cristo, 1964, 1965, 1966, já lá vai muito perto de meia centena de anos.
O que se passou neste mundo, onde felizmente ainda vivemos, durante todos estes anos? Milhões e milhões de modificações.
Os laboratórios descobriram novos remédios, portanto, se não nos envolvermos em guerras, vamos viver mais anos, a tecnologia avançou, entre os laboratórios e a tecnologia, existe assim uma comparação como a “paz e a guerra”, pois se os laboratórios tentam descobrir meios de combater a morte, a tecnologia ao ser aplicada, tenta a maneira de matar o ser humano, mais rápido e em maior quantidade, pelo menos em caso de conflito.
Na opinião do Cifra, se há quase meio século atrás dissessem ao Curvas, alto e refilão, que era o tal soldado, amigo e companheiro do Cifra, que tinha algum desprezo pela sua vida, pois a sua mãe abandonou-o ainda criança, e diziam que “andava na vida” e nunca teve o carinho, ou a companhia de ninguém que lhe perguntasse se tinha fome ou frio, que no futuro poderia viajar pelo mundo, com imagens e tudo, através de um computador, talvez se não lhe dissessem que estavam sobre a influência de um cigarro feito à mão, era capaz de ir buscar uma granada e dizer logo que lhe partia o focinho com essa mesma granada!
Sim avançámos, mas alguns antigos combatentes, felizmente ainda vivos, continuam neste mundo, e as memórias horríveis do que passaram em cenário de guerra, continuam a acompanhá-los, até dizem que é stress de guerra, talvez seja, mas se passaram sacrifícios e fome, entre outras coisas, naquele tempo, continuam a passar, alguns estão sózinhos, muitos não querem convivência, tentam sobreviver, e se lhes falam, respondem com uma voz alterada, tal como faziam debaixo de uma emboscada, gritando, para ver se com essa atitude, faziam ir para longe, o medo que naquela altura sentiam.
A nova geração deve ter algum orgulho em dizer que o avô, ou a avó, foram combatentes, pois normalmente, os antigos combatentes, tanto o homem como a mulher, eram sofredores e com bons princípios, que quase sempre constituíam família e tinham coragem para a fazer crescer, também com bons princípios, por isso a nova geração, hoje, normalmente tem escola superior, vestem roupas modernas, usam telemóveis e computadores, e têm que se lembrar, nem que seja por um bocadinho, que estão aqui neste mundo com a ajuda desses homens e mulheres combatentes, que tinham bons princípios e tinham coragem para constituírem família e educá-la, e que são hoje seus avós.
O Cifra já está cansado de moral, mas ajeitou aqui umas fotos “cinco estrelas”, tal como esses jovens hoje, no ano de Cristo de 2013, dizem, e pode ser, que ao abrirem o seu computador, mesmo sem querer, ao verem figuras de jovens, leiam o texto!
Tony Borie, 2013
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Nota do editor
Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12205: Bom ou mau tempo na bolanha (33): A sua boina (Toni Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
O meu comentário é simples: obrigado pelas palavras a todos dedicadas.
Que sejam relembradas. Sempre.
Caro amigo "Cifra"
Palavras justas, palavras sábias.
De vez em quando faz bem, porque faz falta, haver assim uma espécie de 'abanão' do género deste teu escrito.
Não o entendi como um lamento 'lamechas' mas sim como um alerta, até talvez uma certa esperança, de poder servir para que uma parte, ínfima que seja, das gerações mais recentes possam reflectir como e quem lhe criou condições para terem hoje o usufruto das condições que têm.
Abraço
Hélder S.
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