Caro camarada, Carlos Esteves
Sou o José Cardoso da Silva Almeida,
Ex-1.º Cabo Mecânico Eletricista do BENG 447 - Companhia de Construções.
Embarquei para a Guiné a 3 de Abril de 1971 e
regressei a 14 de Abril de 1973.
Mal tive tempo de pôr os pés em terra e já estavam a preparar a primeira de muitas saídas.
Nova Lamego com destino a Pirada.
Passei por Bajocunda, Bula, Piche, Buruntuma, Bafatá, Bambadinca, Contuboel, Cacine, Catió, Tite, Teixeira Pinto, Farim, Susana, S. Domingos, Aldeia Formosa e Buba. Em alguns locais estive mais do que uma vez e bastante tempo.
Terra nunca esquecida, Aldeia Formosa por ter sido mordido por uma cobra que estava dentro da sapatilha. Calcei uma e na outra, quando meti o pé, senti que tinha uma coisa mole. Então meti a mão e saiu ela agarrada ao dedo. Sacudi a mão e corri para a enfermaria, tentando com a outra mão fazer um garrote.
Apareceu um enfermeiro e o médico que me medicaram com três ou quatro injeções na cabeça do dedo e prognosticaram-me quinze minutos de vida.
A minha salvação foi um africano que se apercebeu, entrou na enfermaria e extraiu-me o sangue até ao sitio que tinha o garrote e depois foi só dormir até às 11 horas do dia seguinte.
A minha primeira reação quando acordei foi dizer: eu estou vivo, e correr até ao posto médico e mandar vir.
Desculpem ser tão maçador mas parece que estou no local certo.
Tenho mais algumas histórias mas ficam para mais tarde.
Bom trabalho.
José Almeida
2. Comentário do editor:
Caro camarada José Almeida, deixa que te diga que para quem teve um prognóstico de 15 minutos de vida, há cerca de 40 anos, estás com óptimo aspecto.
Já que estás vivinho da Silva, bem-aparecido nesta Tabanca de ex-combatentes da Guiné, onde poderás permanecer até aos 100 anos de idade. A partir desse marco é forçosa a passagem à reserva.
Muito obrigado por te juntares a nós. Pelo que descreves, foste um andarilho na Guiné, fruto da tua especialidade, mas deixa que te diga que não foste ao sítio mais importante da Guiné, digo eu, Mansabá. Se passasses por lá até Fevereiro de 1972 ainda me encontravas.
Se bem me lembro chegámos a precisar de técnicos especializados em geradores já que um deles, tínhamos dois, nos dava alguns problemas. Estivemos uns quantos sabichões à volta daquilo, mas nem sei quem resolveu o problema. Acho que o motor trabalhava mas o gerador não cumpria a sua missão de dar à luz.
Voltando a ti, ficamos então à espera das tuas histórias, que devem ser muitas, tais e tantas as deslocações que tiveste ao longo da tua comissão de serviço. Situações inesperadas como a que hoje nos contas, hás-de ter algumas, não tão trágicas, esperamos.
Se tiveres fotos dos locais por onde passaste, também as poderemos publicar.
E de Bissau, também queremos fotos e memórias. Tudo o que tenhas por aí tem valor para o nosso espólio.
Disseste no teu primeiro contacto que és inexperiente na informática. Não te atrapalhes porque com a prática chegas acabas por adquirir conhecimentos que farão de ti um óptimo utilizador destas máquinas infernais. E também poderás contar com a nossa ajuda. Não é que saibamos muito, mas dá para desenrascar.
Posto isto, queremos que nos saibas ao teu dispor para qualquer esclarecimento.
Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Janeiro de 2014> Guiné 63/74 - P12615: Tabanca Grande (419): Duarte Manuel Sousa da Cunha, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 e 3ª CART do BART 6523 (Bachile e Nova Lamego), 1973/74
4 comentários:
Caro camarada José Cardoso
A apresentação e os conselhos já foram dados pelo Carlos Vinhal, por isso pouco posso acrescentar.
Pelas particularidades do teu 'ofício' e tendo em conta a listagem de locais por onde estiveste, terás certamente uma visão bastante abrangente de boa parte do território. Será interessante tentar perceber em que medida te foi possível reconhecer as facilidades ou dificuldades de cada local onde estiveste.
No ano em que chegaste, Abril de 71, estava em Piche, e ainda fiquei por lá até ao final do mês de Maio, mas não tenho ideia de ter passado por lá nesse período
pessoal do Beng. A esta distância temporal isso não significa nada, pode muito bem ter passado e não me recordar.
A tua história com a cobrinha é um bom exemplo das surpresas com que tínhamos que lidar com frequência. Todo o cuidado era pouco mas ao fim de algum tempo sentíamos confiança e às vezes....
A intervenção do nativo foi, pelos vistos, decisiva. Tal benfeitoria não foi só a ti que aconteceu. Se conseguires ler por aí podes ver quantas situações em que nós, 'metropolitanos', estamos agradecidos aos nossos amigos guineenses.
Aguardamos mais recordações.
Abraço de boas vindas.
Hélder S.
Caro camarada J.C.A.
Bem-vindo à tertúlia.
Aproveito para esclarecer que sobre a mordedura de cobra não foi o facto de o sangue ter sido "chupado" que te salvou a vida mas tão somente a cobrita não pertencer à espécie das que matam em 15 ou 20 minutos.
Provavelmente foi-te inoculado soro anti-ofídeo que contribuiu esse sim para não teres consequências de maior.
Contrariamente ao que diz o sangue não deve ser "chupado".
O seu a seu dono.
Um alfa bravo
C.Martins
Caro Almeida, ex. colega de trabalho [ENVC]e também camarada da Guiné.
Já lá vão por aí dois anitos que conversamos para pertenceres a esta grande família, pois até que enfim resolves-te, e bem, Aqui conhecerás se calhar, alguns camaradas que contigo partilharam as vicissitudes davida. Recordo em que estivemos à conversa no Xime, junto ao cais em 1972, estavas em transito mais para Leste, para Piche ou Nova Lamego,tinhas acabado de desembarcar da "LDG" (Lancha de Desembarque Grande). Por outro lado quero dizer à tertúlia que és Vianense (Mazarefes)quase meu visinho e que foste funcionário dos ENVC com Motorista.Deixo-te um abraço e desfruta desta camaradagem.
Sousa de Castro
Caro amigo José Almeida:
Para começar essa bela história da cobrinha, nada mau, 5 estrelas. Bom pronúncio de muitas histórias para contar.
Um grande abraço do camarada e amigo
Manuel Reis.
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