domingo, 4 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13096: (Ex)citações (229): O MFA na Guiné-Bissau: comentário do ten cor ref Jorge Sales Golias sobre os acontecimentos de 26 de abril de 1974, em Bissau: o gen Bethencourt Rodrigues e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com deferência e cordialidade (Carlos Pinheiro / Bento Soares)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro [ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70, e nosso grã-tabanqueiro, foto à esquerda]

Data: 2 de Maio de 2014 às 23:35

Assunto: MFA na Guiné-Bissau


Camarigo Luis Graça, camarigo Carlos Vinhal


Perdoem-me,  os meus amigos,  mas sinto-me obrigado, mas também muito honrado, em transmitir-vos a mensagem abaixo do meu Comandante do STM em Bisssau, então Capitão Bento Soares, hoje Major General na Reforma sobre os dias 25 e 26ABR74.

Um abraço com amizade

Carlos Pinheiro


2. Mensagem de Bento Soares, maj gen  ref, e leitor do nosso blogue, e de quem não dispomo de nenhuma foto:

Caro amigo Carlos Pinheiro:

Como sabe,  tomei por seu intermédio conhecimento do Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné, TO onde batalhamos no STM e por isso vejo sempre com agrado as historietas do Blog que regularmente fazem o favor de me enviar.

No último envio do blog deparei-me com o relato do Cor Vaz  Antunes sobre os dias 25 e 26 ABR74. Fiz então um reenvio para camaradas amigos meus que estiveram na Guiné.

Porque a todos interessa a verdade exacta sobre os documentos históricos (como é o caso daquele relato), envio-lhe um comentário do TCor Jorge Golias que viveu pessoalmente os acontecimentos narrados e, aliás, é citado no próprio relato.

Autorizou-me este oficial a fazer uso do seu comentário pelo que lhe pedia a fineza de o endereçar para os responsáveis do Blog, uma vez que o meu amigo é ali uma figura grada e conhecida.

Um abraço amigo
Bento Soares

3. Comentário ten cor ref Jorge Sales Golias Jorge Sales Golias, [ex-cap, eng trms, membro do MFA, Bissau,   adjunto do CEME, Gen Carlos Fabião - 1974/75, administrador de Empresas] [, foto à direita, cortesia da página Avenida da Liberdade, da associação 25 de Abril]

26 de Abril de 1974 em Bissau

O MFA resolveu actuar em face de uma escuta telefónica em que o senhor General Bethencourt Rodrigues deu ordem à PIDE para seguir os movimentos dos capitães do MFA em Bissau e pelo facto de não ter reconhecido a JSN [, Junta de Salvação Nacional], tal como já havia feito o Comodoro Almeida Brandão, comandante marítimo.

A entrada no gabinete do General comandante foi feita por oficiais desarmados que apenas lhe comunicaram que vinham depô-lo porque ele não reconheceu a JSN. Ele perguntou se se devia considerar preso e foi-lhe dito que não, que se considerasse detido em nome do MFA, e que preparasse a bagagem para embarcar para Portugal.

O Brigadeiro Leitão Marques dramatizou, dizendo que se solidarizava com o General e que queria que o fuzilassem. Foi esta a parte dramática e que teria sido bem escusada porque a intervenção do senhor Brigadeiro não tinha qualquer justificação. Tanto assim que o General comandante se levantou e, com toda a liberdade de movimentos, interpelou um a um os seus principais operacionais,  questionando-os por terem sido tão leais e agora estarem a colocá-lo naquela situação. Foi-lhe respondido que ele não soube assumir a posição que se esperava, naquela altura dos acontecimentos.

A carga dramática advém ainda do facto de todos nós considerarmos o General Bethencourt Rodrigues como um dos mais brilhantes do Exército, mas que na altura certa estava do lado errado da História.

Quanto ao senhor Coronel Vaz Antunes, soubemos no local que o mesmo tinha abandonado as instalações do Comando-Chefe na Amura sem autorização, dado que a PM [, Polícia Militar,] tinha ordens do Capitão Sousa Pinto, para não deixar sair nem entrar ninguém e receou-se que fosse ao COMBIS tentar obter meios para atacar os militares do MFA. Talvez por isso estava à sua espera um pelotão dos comandos africanos, mas esta parte eu só tomei conhecimento através do escrito no blogue Luís Graça [& Camaradas da Guiné].

En suma,  que fique claro que o senhor General Bethencourt e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com toda a deferência que lhes assistia e com a máxima cordialidade da nossa parte.

O capitão miliciano José Manuel Barroso (e não Alfredo Barroso) falou com o Comodoro Almeida Brandão, mandatado pelo MFA, porque era o único que o conhecia. A sua mulher, ao tempo, Dra. Emília Barroso, era professora em Bissau e foi depois distinta professora universitária em Lisboa.

O Tenente-Coronel Mateus da Silva foi indigitado pelo MFA para Encarregado do Governo, aceite provisoriamente pelo General Spínola, que ao tomar conhecimento dos factos sucedidos em Bissau o saudou e lhe disse que iria rapidamente nomear um substituto, que seria o Brigadeiro Carlos Fabião.

2 de Maio de 2014

Jorge Sales Golias

[Negritos do editor, L.G.]

[Vd. também Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril > J. Sales Golias > A descolonização da Guiné .]

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)

4 comentários:

Luís Gonçalves Vaz disse...

Boa noite a todos:

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Camarigo Carlos Pinheiro e claro, também ao sr. Tenente coronel Jorge Sales Golias, este mesmo "Artigo", primeiro porque dá importância e valor aos Artigos e às questões aqui levantadas, segundo porque ficamos todos mais esclarecidos sobre "O Golpe Militar em Bissau no dia 26 de Abril de 1974", aos dois o meus sinceros agradecimentos.
Gostava ainda de apresentar aqui um pequeno excerto do "Blogue da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA)", para percebermos especificamente "os movimentos e que tropas" estiveram envolvidas nesses mesmos dias, a saber: "... Aos nossos homens do Movimento colocados em todas as guarnições da Guiné, e que estavam há dias alertados, foram dadas pela Coordenação de Bissau a indicação de transmitirem aos comandos que ou aceitavam a nova “ordem nacional” ou eram imediatamente substituídos. O poder na Guiné era já e a partir daqui do MFA da Guiné. Muito poucos comandos foram afastados, pois nas guarnições a maioria eram supervisionadas por Capitães ou Majores aderentes ao Movimento quer nas próprias guarnições quer nos COPs(Comando Operacional) ou CAOPs (Comando de Agrupamento Operacional).Os contrariados, não aderentes “marcharam” para Bissau. Embarcariam para Lisboa dias depois.
Enquanto isso, propriamente no dia 25 de Abril, e em Bissau, já com todas as unidades submetidas ao Movimento, quer o Comando Chefe quer os Comandantes Militares, não tomaram posição de adesão ao mesmo. A PIDE /DGS não se manifestou pois não tinha qualquer força sem o apoio militar embora recebesse instruções de Spínola para continuar com as suas acções normais, mesmo contra os capitães revoltados. As unidades colocaram-se em alerta, prontas a avançar: Batalhão de Comandos, Batalhão de Paraquedistas, Batalhão de Intendência, Grupo de Artilharia, Agrupamento de Transmissões e de Engenharia e outras.
No dia 26, de manhã, avançou a Companhia de Polícia Militar, comandada pelo capitão Sousa Pinto, que tomou pacificamente as instalações do Comando Chefe dando apoio a uma delegação do Movimento, composta por alguns oficiais da comissão coordenadora (J.Golias, M.Gomes e P. Brandão) e sobretudo com oficiais de impacto, como os Comandantes do R.Comandos (Major Folques) e o do R.Paraquedistas (Major Mensurado) e bem assim do Tenente-coronel Mateus da Siva que decidíramos iria ser o representante provisório da JSN. Foi interpelado o Comando Chefe Gen. Betencourt Rodrigues, que entretanto reunira todos os seus oficiais e aos quais se dirigiu “ vencido mas não convencido “. Ficou à nossa disposição e com outros oficiais que foram seleccionados como não tendo aderido aos novos ventos da história, foram “ convidados “ a seguir, uns dias depois, por avião para Lisboa...."

in: http://aofaportugal.blogspot.pt/2014/04/descolonizacao-guine-o-25-e-abril-e-o.html

Boa Semana para todos

Luís Gonçalves Vaz

Anónimo disse...

Aproveito este espaço para enviar um grande "alfa-bravo" para o Sr. General Bento Soares, um beirão genuíno e meimoense de "quatro costados".

C.Martins

Anónimo disse...

Estes os tais do MFA e que são os vencedores e que sabem tudo, mas são piores do que os outros de quem dizem que não sabiam o que os soldados sofriam.Mas agora há muitos ex soldados a dormirem na rua e sem mente.Mas os garbosos MFA s pavoneiam-se de palestra em palestra bem comidos e bem nutridos e com os bolsos chorudos e viva o MFA.Não conheço nenhum magrinho.Estão todos anafados.

Anónimo disse...

E os da PM foram sempre os esbirros do poder antes do 25 e depois do 25 até se emerdarem todos, desculpem a frase (mas é a melhor que herdei do francês).E em pouco tempo portaram-se pior do que a pide.Em Lisboa ate davam banho de agua fria com mangueiras a civis no covil da Ajuda comandado por um grande democrata.Grandes guerrilheiros!!!