domingo, 14 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14745: Fotos à procura de... uma legenda (54): Marchas populares, marchas militares, tropa-fandanga, tropa-macaca... Qual a diferença ?




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Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14

Lisboa > Av da Liberdade > Noite de 12 para 13 de junho de 2015 > Desfile das marchas populares de Lisboa...


Fotos (e vídeos): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Confesso que, em 40 anos, a viver e a trabalhar em Lisboa, foi a primeira vez que tive ocasião de assistir, horas a fio, a um desfile destes... Para mais, sentado no chão... Fui acompanhar um casal de sobrinhos do norte, gente gaiteira...

Para não me aborrecer, levei a máquina fotográfica, fiz vídeos e fotos... E depois até me consegui divertir um pouco com as bocas brejeiras e "sexistas", sobretudo,  delas, as mulheres, da assistência, gente popular dos bairros populares de Lisboa que ainda teimam em sobreviver, em Lisboa: "Ai faneca, comia-te todo!"; "A sardinha é liiiiiinda!"; "A tua sardinha é boa, mas ainda melhor é o meu carapau";  "Ai, querido, que vais tão lindo"; "Alfama é que é!"; "Oh!, cameraman, vira o coiso pra cá que a gente também somos filhos de Deus!"...

De regresso a casa por volta da uma e tal da noite, depois de me ter perdido do meu  grupo (, que a confusão era muita, com manga de turistas à mistura!), e visionar as fotos, comecei a pensar na possível relação entre marchas (militares e populares) e expressões como "tropa-fandanga" e "tropa-macaca" (*)...

Os seres humanos "adoram" tanto a "festa" como a "guerra"... E sobretudo precisam da "festa" depois da "guerra"... Sei que a cerveja esgotou na avenida da Liberdade... À uma e tal, quando o exército dos "almeidas" (os "jagudis" de Lisboa), num ápice varreram e  limparam a avenida e as laterais,  de alto a baixo, tive que me contentar com um copo de sangria... E se eu já a merecia uma "bejeca"!

Fica aqui o desafio para o leitor para legendar as fotos, à escolha (**)... se tiver humor e pachorra! Aqui vai uma ajudinha, socorrendo-me da "sabedoria" dos provérbios populares:

"Folguemos enquanto podemos, que noutra hora choraremos" ou "Enchida a pança, vamos à dança"...Ou ainda: "Em mulher de Alfama, homem do mar e relógio das Chagas, pouco há que fiar",,, Ou mas eu adoro é aquele provérbio que garante: "Em Lisboa, nem sangria má nem purga boa"... Também gosto deste: "Se não é no baile que se emprenha, é lá que se engenha".. E deste: "O soldado paga com sangue a fama do capitão"... É verdade em todas as guerras, e foi verdade na Guiné...

E já que o Santo António de Lisboa dá para a brejeirice, tomem lá mais este (que também tem a ver com tropa): "Matrimónio, praça sitiada: os de fora querem entrar, os de dentro querem sair"... Mas não percamos o fio à meada: o mote é mesmo "marchas (populares e militares), tropa-fandanga e tropa-macaca... No meio de tudo isto, fica o povo, que é quem mais... ordenha! (porque ordenar, ordenar, ordena pouco ou nada!, hoje como ontem...). O povo que é que mais... ordenha!,,, E quem mais marcha!... (Sempre foi assim, não foi ?!).

2. Estamos a falar da 83.ª edição das Marchas Populares de Lisboa, que contou com 20 marchas em competição e duas fora de concurso (A Voz do Operário e a dos Mercados) a descerem, como é da tradição,  a Avenida da Liberdade. Vi, na Net, horas depois,  que o bairro do Alto da Pina foi a marcha vencedora... . O segundo e o terceiro lugares foram atribuídos às marchas de Alfama e de  Alcântara, respetivamente.

Coisa que eu não sabia:  as marchas populares de Lisboa são avaliadas numa escala de 0 a 20 pontos em dois momentos, no MEO Arena, e no desfile na Avenida da Liberdade, nas categorias de Coreografia, Cenografia, Figurino, Melhor Letra, Musicalidade, Melhor Composição Original e Desfile,

Por categorias, o Alto do Pina levou ainda para casa o título de melhor figurino e melhor desfile da Avenida. Já a marcha de Alfama venceu nas categorias de melhor musicalidade, melhor composição original, com "Marinheiro de Alfama", e melhor coreografia, neste caso ex-aequo com a marcha da Madragoa. Alcântara venceu na cenografia e a marcha de São Vicente conquistou o título de melhor letra. E para o ano há mais!...

Este ano, as marchas em concurso foram as seguintes: Bela Flor, Mouraria, Santa Engrácia, Marvila, Alfama, Graça, São Domingos de Benfica, Carnide, Madragoa, Benfica, Bica, Alcântara, Bairro Alto, São Vicente, Olivais, Baixa, Lumiar, Alto do Pina, Beato e Ajuda. Como convidados, desfilaram também, na  Avenida da Liberdade,   o Agrupamento de Macau, a Marcha Popular de Faro, a Marcha da Madeira e o Agrupamento CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (de que não tenho infelizmente fotos)... Desfilaram ainda os gloriosos 32 noivos de Santo António.

______________

Notas do editor:

(*) Origem da expressão "tropa-fandanga".... Recorro ao incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ("espaço de esclarecimento, informação, reflexão e promoção do idioma oficial dos países integrantes da CPLP, via Internet"):

"O termo tropa-fandanga é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjetivo fandanga.

"Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de 'troupeau', «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim 'turba', «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que atuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.

"A palavra fandanga é a forma feminina do adjetivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjetivo fandango, com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em dicionários portugueses no início do século XX.

"Cria-se, assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada, indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente desprezível.

"Maria Regina Rocha 2 de julho de 2013". [Reproduzido com a devida vénia].



(**) Último poste da série > 3 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14693: Fotos à procura de... uma legenda (53): Ou le(ge)ndas e narrativas.. à procura de fotos (Luís Graça)

4 comentários:

Luís Graça disse...

E a expressão "tropa-macaca" ?... Ja aqui correram rios de tinta (leia-se: kilobytes...) a propósito desta expressão que nós próprios utklizamos, com sentido de humor de caserna... "Tropa-macaca" era a malta do exército (brancos e pretos) que estava no mato, e fazia operações no mato, a penantes...

Foi depois associada a "bando", com uma conotação próxima da expressão "tropa-fandanga"... Recorde-se que a "palavra "bando" deu brado aqui no blogue, há uns anos atrás... Foi usada pelo gen Almeida Bruno, na série do Joaquim Furtado, "A Guerra":

(...) "Eu digo-lhe com toda a franqueza, sem qualquer crítica aos meus camaradas, mas esta é a verdade e a verdade tem de se dizer. A maioria esmagadora eram BANDOS, que estavam atrás do arame farpado, à espera que o inimigo atacasse para se defenderem. Havia muito pouca iniciativa, com excepção, como lhe disse, dos pára-quedistas e dos fuzileiros, isso de facto, esses nunca perderam, nunca perderam o rumo". (Transcrito, tal como está na gravação) (...)

28 DE MARÇO DE 2009

Vd. poste de Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/03/guine-6374-p4089-guerra-ii-sjorge.html

Não queremos, obviamente, ressuscitar esta polémica... Mas tão só perceber melhor a origem e o sentido da expressão "tropa-macaca" que, quanto a mim, pode ter até uma conotação racista...

Luís Graça disse...

E já que falamos de Santo António (que nasceu em Lisboa em por volta de 1191/1195, e morreu em Pádua, Itália, em 1231)... É bom lembrar que o padroeiro de Lisboa não é ele, é São Vicente!...Como recorda a historiadora Madgda Pinheiro, do ISCTE, em entrevista dada esta semana ao "Expresso",o culto do São João, no âmbito das festas dos santos populares, era mais antigo e popular do que o do Santo António...

A recuperação do Santo António insere-se numa tentativa de gente ligada à Igreja Católica e à monarquia, nos finais do séc. XIX, para travar a crescente influência anticlerical e republicana que domina a capital. Há uma comissão que organiza a comemoração do nascimento do Santo António, com fogo de artifício e projeção de luz. É uma operação de marketing político e religioso!...

A associaçºão do Santo António aos casamentos, às marchas, às festas de rua, às sardinhas, etc., bom, isso é posterior, remonta aos anos 30 e ao Estado Novo.... Nascem assim as primeiras festas "institucionalizadas", enquadradas pelo Secretariado Nacional de Propaganda (mais tarde SNI), do António Ferro... Os intelectuais e a oposição de esquerda nunca foram à bola com as "festas popullares" do Santo António até aos anos 60... Depois com o 25 de abril, o poder democrático local e a revitalização das coletividades, as coisas mudam.

No final dos anos 60, o São João morre mesmo (em Lisboa)... A 70 km de Lisboa, na minha terra, Lourinhºa, a festa, com fogueiras e altares, era (e é) a do São João...: "Lá vai Santo António, depois São João, depois vem São Pedro para a reinação», era assim que a gente cantava quando eramos putos... e ainda não nos tinham roubado a infância.

"A componente de festa de Lisbioa é mais cosmopolita que a do Porto. E, por outro lado, há um bairrismo mais afirmativo", afirma a historiadora.

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Luis, obrigado pela reportagem. Gostei, nela há várias leituras subjacentes.
Um Abç.
JS

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
As "Marchas Populares" são um divertimento popular de Lisboa.
Poderemos criticar ou apoiar, mas não é uma "Tropa Macaca" não sentido que habitualmente lhe damos.
Poderemos perguntar o que fazem ali as "marchas/coreografias" que não pertencem aos bairros de Lisboa, mas isso não é assunto de ex-combatente. Talvez mais de cidadão...
Um Ab.
António J. P. Costa