Vídeo (0' 58''), alojado em You Tube > Luís Graça
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Lisboa > Av da Liberdade > Noite de 12 para 13 de junho de 2015 > Desfile das marchas populares de Lisboa...
Fotos (e vídeos): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
1. Confesso que, em 40 anos, a viver e a trabalhar em Lisboa, foi a primeira vez que tive ocasião de assistir, horas a fio, a um desfile destes... Para mais, sentado no chão... Fui acompanhar um casal de sobrinhos do norte, gente gaiteira...
Para não me aborrecer, levei a máquina fotográfica, fiz vídeos e fotos... E depois até me consegui divertir um pouco com as bocas brejeiras e "sexistas", sobretudo, delas, as mulheres, da assistência, gente popular dos bairros populares de Lisboa que ainda teimam em sobreviver, em Lisboa: "Ai faneca, comia-te todo!"; "A sardinha é liiiiiinda!"; "A tua sardinha é boa, mas ainda melhor é o meu carapau"; "Ai, querido, que vais tão lindo"; "Alfama é que é!"; "Oh!, cameraman, vira o coiso pra cá que a gente também somos filhos de Deus!"...
De regresso a casa por volta da uma e tal da noite, depois de me ter perdido do meu grupo (, que a confusão era muita, com manga de turistas à mistura!), e visionar as fotos, comecei a pensar na possível relação entre marchas (militares e populares) e expressões como "tropa-fandanga" e "tropa-macaca" (*)...
Os seres humanos "adoram" tanto a "festa" como a "guerra"... E sobretudo precisam da "festa" depois da "guerra"... Sei que a cerveja esgotou na avenida da Liberdade... À uma e tal, quando o exército dos "almeidas" (os "jagudis" de Lisboa), num ápice varreram e limparam a avenida e as laterais, de alto a baixo, tive que me contentar com um copo de sangria... E se eu já a merecia uma "bejeca"!
Fica aqui o desafio para o leitor para legendar as fotos, à escolha (**)... se tiver humor e pachorra! Aqui vai uma ajudinha, socorrendo-me da "sabedoria" dos provérbios populares:
"Folguemos enquanto podemos, que noutra hora choraremos" ou "Enchida a pança, vamos à dança"...Ou ainda: "Em mulher de Alfama, homem do mar e relógio das Chagas, pouco há que fiar",,, Ou mas eu adoro é aquele provérbio que garante: "Em Lisboa, nem sangria má nem purga boa"... Também gosto deste: "Se não é no baile que se emprenha, é lá que se engenha".. E deste: "O soldado paga com sangue a fama do capitão"... É verdade em todas as guerras, e foi verdade na Guiné...
E já que o Santo António de Lisboa dá para a brejeirice, tomem lá mais este (que também tem a ver com tropa): "Matrimónio, praça sitiada: os de fora querem entrar, os de dentro querem sair"... Mas não percamos o fio à meada: o mote é mesmo "marchas (populares e militares), tropa-fandanga e tropa-macaca... No meio de tudo isto, fica o povo, que é quem mais... ordenha! (porque ordenar, ordenar, ordena pouco ou nada!, hoje como ontem...). O povo que é que mais... ordenha!,,, E quem mais marcha!... (Sempre foi assim, não foi ?!).
2. Estamos a falar da 83.ª edição das Marchas Populares de Lisboa, que contou com 20 marchas em competição e duas fora de concurso (A Voz do Operário e a dos Mercados) a descerem, como é da tradição, a Avenida da Liberdade. Vi, na Net, horas depois, que o bairro do Alto da Pina foi a marcha vencedora... . O segundo e o terceiro lugares foram atribuídos às marchas de Alfama e de Alcântara, respetivamente.
Coisa que eu não sabia: as marchas populares de Lisboa são avaliadas numa escala de 0 a 20 pontos em dois momentos, no MEO Arena, e no desfile na Avenida da Liberdade, nas categorias de Coreografia, Cenografia, Figurino, Melhor Letra, Musicalidade, Melhor Composição Original e Desfile,
Por categorias, o Alto do Pina levou ainda para casa o título de melhor figurino e melhor desfile da Avenida. Já a marcha de Alfama venceu nas categorias de melhor musicalidade, melhor composição original, com "Marinheiro de Alfama", e melhor coreografia, neste caso ex-aequo com a marcha da Madragoa. Alcântara venceu na cenografia e a marcha de São Vicente conquistou o título de melhor letra. E para o ano há mais!...
Este ano, as marchas em concurso foram as seguintes: Bela Flor, Mouraria, Santa Engrácia, Marvila, Alfama, Graça, São Domingos de Benfica, Carnide, Madragoa, Benfica, Bica, Alcântara, Bairro Alto, São Vicente, Olivais, Baixa, Lumiar, Alto do Pina, Beato e Ajuda. Como convidados, desfilaram também, na Avenida da Liberdade, o Agrupamento de Macau, a Marcha Popular de Faro, a Marcha da Madeira e o Agrupamento CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (de que não tenho infelizmente fotos)... Desfilaram ainda os gloriosos 32 noivos de Santo António.
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Notas do editor:
(*) Origem da expressão "tropa-fandanga".... Recorro ao incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ("espaço de esclarecimento, informação, reflexão e promoção do idioma oficial dos países integrantes da CPLP, via Internet"):
"O termo tropa-fandanga é formado de duas palavras: o substantivo tropa e o adjetivo fandanga.
"Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de 'troupeau', «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim 'turba', «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que atuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.
"A palavra fandanga é a forma feminina do adjetivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjetivo fandango, com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em dicionários portugueses no início do século XX.
"Cria-se, assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada, indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente desprezível.
"Maria Regina Rocha 2 de julho de 2013". [Reproduzido com a devida vénia].
(**) Último poste da série > 3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14693: Fotos à procura de... uma legenda (53): Ou le(ge)ndas e narrativas.. à procura de fotos (Luís Graça)
(*) Origem da expressão "tropa-fandanga".... Recorro ao incontornável Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ("espaço de esclarecimento, informação, reflexão e promoção do idioma oficial dos países integrantes da CPLP, via Internet"):
"Tropa é um termo oriundo do francês troupe, redução de 'troupeau', «rebanho» (final do séc. XII), provavelmente do latim 'turba', «multidão em desordem ou movimento». Começou por designar um bando de animais e uma grande quantidade de pessoas juntas, uma multidão. No século XV, já a palavra era utilizada como designação de conjunto de homens de armas: este significado permanece, coexistindo, ao longo dos séculos, com o de grande quantidade de pessoas. No plural (as tropas), o termo passa a designar essencialmente os corpos militares que compõem o exército, o próprio exército, enquanto no singular tem várias acepções, da qual importa aqui a de «bando, multidão». Por curiosidade, refira-se que esta palavra é da família de trupe (tem a mesma etimologia), que significa conjunto de artistas, de comediantes, de pessoas que atuam em conjunto e, ainda, na gíria coimbrã, um grupo de estudantes trajados dispostos a exercer a praxe.
"A palavra fandanga é a forma feminina do adjetivo fandango, formado do substantivo que designa a conhecida dança popular sapateada, termo este que entra em Portugal, vindo de Espanha, apenas no século XVIII. Pela conjugação da vivacidade da música, do ritmo, do barulho provocado pela dança e dos que nela participavam, o substantivo fandango passa a ser usado, em sentido figurado, na acepção de «balbúrdia». Surge, então, o adjetivo fandango, com o significado de «ordinário», «desprezível», «caricato», registado em dicionários portugueses no início do século XX.
"Cria-se, assim, o termo tropa-fandanga, que significa gente desordenada, indisciplinada, grupo de pessoas que não merecem consideração, gente desprezível.
"Maria Regina Rocha 2 de julho de 2013". [Reproduzido com a devida vénia].
(**) Último poste da série > 3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14693: Fotos à procura de... uma legenda (53): Ou le(ge)ndas e narrativas.. à procura de fotos (Luís Graça)
4 comentários:
E a expressão "tropa-macaca" ?... Ja aqui correram rios de tinta (leia-se: kilobytes...) a propósito desta expressão que nós próprios utklizamos, com sentido de humor de caserna... "Tropa-macaca" era a malta do exército (brancos e pretos) que estava no mato, e fazia operações no mato, a penantes...
Foi depois associada a "bando", com uma conotação próxima da expressão "tropa-fandanga"... Recorde-se que a "palavra "bando" deu brado aqui no blogue, há uns anos atrás... Foi usada pelo gen Almeida Bruno, na série do Joaquim Furtado, "A Guerra":
(...) "Eu digo-lhe com toda a franqueza, sem qualquer crítica aos meus camaradas, mas esta é a verdade e a verdade tem de se dizer. A maioria esmagadora eram BANDOS, que estavam atrás do arame farpado, à espera que o inimigo atacasse para se defenderem. Havia muito pouca iniciativa, com excepção, como lhe disse, dos pára-quedistas e dos fuzileiros, isso de facto, esses nunca perderam, nunca perderam o rumo". (Transcrito, tal como está na gravação) (...)
28 DE MARÇO DE 2009
Vd. poste de Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/03/guine-6374-p4089-guerra-ii-sjorge.html
Não queremos, obviamente, ressuscitar esta polémica... Mas tão só perceber melhor a origem e o sentido da expressão "tropa-macaca" que, quanto a mim, pode ter até uma conotação racista...
E já que falamos de Santo António (que nasceu em Lisboa em por volta de 1191/1195, e morreu em Pádua, Itália, em 1231)... É bom lembrar que o padroeiro de Lisboa não é ele, é São Vicente!...Como recorda a historiadora Madgda Pinheiro, do ISCTE, em entrevista dada esta semana ao "Expresso",o culto do São João, no âmbito das festas dos santos populares, era mais antigo e popular do que o do Santo António...
A recuperação do Santo António insere-se numa tentativa de gente ligada à Igreja Católica e à monarquia, nos finais do séc. XIX, para travar a crescente influência anticlerical e republicana que domina a capital. Há uma comissão que organiza a comemoração do nascimento do Santo António, com fogo de artifício e projeção de luz. É uma operação de marketing político e religioso!...
A associaçºão do Santo António aos casamentos, às marchas, às festas de rua, às sardinhas, etc., bom, isso é posterior, remonta aos anos 30 e ao Estado Novo.... Nascem assim as primeiras festas "institucionalizadas", enquadradas pelo Secretariado Nacional de Propaganda (mais tarde SNI), do António Ferro... Os intelectuais e a oposição de esquerda nunca foram à bola com as "festas popullares" do Santo António até aos anos 60... Depois com o 25 de abril, o poder democrático local e a revitalização das coletividades, as coisas mudam.
No final dos anos 60, o São João morre mesmo (em Lisboa)... A 70 km de Lisboa, na minha terra, Lourinhºa, a festa, com fogueiras e altares, era (e é) a do São João...: "Lá vai Santo António, depois São João, depois vem São Pedro para a reinação», era assim que a gente cantava quando eramos putos... e ainda não nos tinham roubado a infância.
"A componente de festa de Lisbioa é mais cosmopolita que a do Porto. E, por outro lado, há um bairrismo mais afirmativo", afirma a historiadora.
Luis, obrigado pela reportagem. Gostei, nela há várias leituras subjacentes.
Um Abç.
JS
Olá Camaradas
As "Marchas Populares" são um divertimento popular de Lisboa.
Poderemos criticar ou apoiar, mas não é uma "Tropa Macaca" não sentido que habitualmente lhe damos.
Poderemos perguntar o que fazem ali as "marchas/coreografias" que não pertencem aos bairros de Lisboa, mas isso não é assunto de ex-combatente. Talvez mais de cidadão...
Um Ab.
António J. P. Costa
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