[Foto à direita, o Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-colon e retornado, como ele gosta de dizer com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar ...]:
Data: 3 de agosto de 2015 às 19:46
Assunto: É possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens Africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau.
Como é possível fechar a Europa aos jovens de toda a África, se não foi possível fechar as entradas de jovens de toda a Guiné-Bissau dentro de Bissau que é uma ilha?
Em 1980 eram tantos milhares de jovens na cidade de Bissau, vagabundeando na Praça, que Luís Cabral tentou fechar na Chapa Bissau, na estrada de Antula e na estrada que vinha de Bor, com polícias e camiões para recolher, registar os sem emprego e recambiá-los para as suas tabancas.
Eu já escrevi isto, mas agora serve para comparar exactamente tudo, mas tudo mesmo, aquilo que se passa hoje com toda, mas toda mesmo, a juventude africana, com aquilo que se passava nos anos a seguir à independência da Guiné para as mãos do PAIGC.
Isto é, toda a juventude Bissau-guineense, viu a demora em aparecerem os resultados prometidos e apregoados pelo Regime e pelos heróis da Independência e o instinto de defesa muito presente no povo africano não demorou, de uma maneira passiva, mas bem vincada, manifestou-se com uma autêntica invasão maciça da capital, vagabundeando o dia inteiro pela praça, sem qualquer preparação, sem discursos e sem armas, apenas com a sua presença, sempre em movimento, e isto diariamente até que o governo reagiu.
Luís Cabral, reagiu e caíu.
Mas já em 1980, milhares de guineenses sabiam que era preciso "fugir" mesmo da cidade de Bissau porque tal como hoje assistimos, todas as capitais africanas ficaram literalmente inabitáveis.
Não havia perspectiva de uma independência africana à «maneira europeia» sem se ter feito uma colonização europeia real em toda a África Subsariana.
Como tal aquela áfrica vai recorrer à colonização selvagem de árabes e de chineses.
A Europa vai pagar tudo com juros suportando as reclamações dos jovens africanos, pois é apenas a reclamar, aquilo que os africanos estão a fazer em Calais e no Mediterrâneo e em Ceuta.
Em Portugal há muitas reclamações há muitos anos, principalmente na freguesia de São Sebastião da Pedreira.
O primeiro ministro inglês e o presidente francês, estão na situação em que Luís Cabral estava em 1980, sem saber o que fazer com tantos «pretos».
Mas que porra, quem diria?
Havia pessoas que tinham a razão do seu lado, mas não tinham a força das armas.
Seria pior? Seria melhor? Pelo menos seria diferente.
Cumprimentos
Antº Rosinha
_____________Nota do editor:
Último poste da série > 7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14583: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (37): Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso
8 comentários:
Ora viva, caro António Rosinha.
Mas que grande confusão.
Independência 'à maneira europeia', havia outras ? 'à maneira americana', 'à maneira australiana', 'à maneira asiática', 'à maneira africana???'. Com certeza que foi 'à maneira europeia'. Não podia ser doutra maneira.
Colonização selvagem de árabe e chineses? Colonização árabe já existia em Moçambique, quando lá chegou o Gama, e no interior da Guiné também. Eram os árabes que vendiam os escravos aos civilizados europeus que ganharam bom dinheiro fazendo comércio com os selvagens. Os chineses? Mas há na Guiné RENs, GALPs e/ou outras coisas do género? Afinal o que é que os selvagens chineses vão fazer para a Guiné que os europeus não possam ir para lá fazer o mesmo civilizadamente?
Mas que grande confusão.
Abraços
Valdemar Queiroz
As corruptas elites político-económicas africanas,os senhores da guerra,os traficantes de drogas e de seres humanos näo säo os que infelizmente se encontram a nadar no Mediterräneo na busca de encontrar nas nacöes europeias (as tais anteriormente täo criticadas) as assistëncias básicas,sociais,medicas e educacionais,näo existentes,ou destruídas,nos seus países de origem.
As factuais consequëncias dos colonialismos muito justificaräo...mas...desde as independëncias e até hoje as décadas já säo muitas,e as verbas disponíveis em alguns países africanos näo seräo negligenciáveis.
Usadas para quë? Ou será antes...para quëm?
As descomunais verbas disponíveis,por exemplo, na Nigéria e em Angola por onde andam?
Mas os chineses...os chineses...
Um abraco do José Belo.
O leão Cecil que aquele dentista matou no Zimbábué, imortaliza com estátua que erigiram o nome do colunialista contremporâneo de Mouzinho de Albuquerque, que se chamava CECIL RHODES.
Valdemar, quando Mouzinho apanhou o Gungunhana, usava em nome de Dom Carlos umas companhias incompletas de tropa quase descalça, enquanto Cecil Rhodes já usava grandes batalhões para dominar os Zulus em nome da Rainha Victória parente do nosso D. Carlos.
Valdemar, para subjugar os africanos e criar geograficamente aqueles países, foi preciso dominar e matar régulos, sobas, cortar-lhes cabeças para exibir e aterrorizar.
Mas a seguir a esses crimes todos, o pior crime que se seguiu, foi entregar a esses povos um pau com uma bandeira, e um qualquer títere totalmente desconhecidso, apresentado como presidente.
Valdemar. esse último crime, das «independências», à excepção de Portugal, toda a Europa, mais América, China e Rússia são culpados.
Valdemar, o bopko-haram mais a china vão certamente colabvorar com a nova colonização.
Eu como Retornado, não prevíamos ver o "funil da Mancha entupido pelo refluxo do império victoriano".
Mas Valdemar, que a confusão é grande, lá isso é, mas não é tanto na minha cabeça, mas na Europa inteira.
Caro Rosinha,
O teu texto pode estabelecer confusões, na medida em que as ideias estão demasiado sintetizadas. Referes que "não havia perspectiva de independência africana à «maneira europeia» sem se ter feito uma colonização europeia real em toda a África subsariana". Concordo. Os povos manterão sempre as suas características enquanto não houver contactos suficientes que gerem a aculturação. Ou seja, enquanto não se relacionarem de igual para igual. Para tanto, torna-se necessária a identificação social e o acompanhamento dos níveis escolares e culturais, bem como o domínio partilhado dos conhecimentos técnico-científicos. Na África portuguesa - Angola e Moçambique - era o que estava a acontecer com mais evidência, mas a ideologia afro-asiática acabou por revelar-se apenas pela inveja do poder, pelas mordomias consequentes, e os povos ditos representados pelas élites combatentes apoiadas por soviéticos, chineses e ocidentais, estão hoje em condições ainda mais deploráveis.
Noutro passo referes que em consequência... "aquela África vai recorrer à colonização selvagem de árabes e de chineses" e imagino que queres acentuar a falta de empenho dos parceiros ricos no auxílio àquelas populações privadas de assistência sanitária, de escola, de capacidade de gestão nacional dos recursos, e de infraestruturas sociais que lhes permitam a distribuição de bens, o desenvolvimento descentralizado, o acesso a novas formas de energia, de alimentos, de instalações industriais, enfim, na integração digna no concerto das nações independentes.
Os portugueses fizeram-no e faziam-no, apesar de tão mal tratados pelo oportunismo da comunidade internacional e de franjas políticas da nossa sociedade. Hoje ainda vence o preconceito, disfarçado por um bouquet invejoso, supostamente anti-racista, contraditório, arrogante e ignorante das condições que ali se desenvolviam.
Portanto, não posso render estima política aos figurões que foram pregoeiros da luta anti-colonial, e que dela deram provas de exagerado desconhecimento. Enquanto cidadão do mundo, só com muita soberba poderei admitir a facilidade da exploração alheia, estribada na «liberdade» negocial de países «independentes» dominados por títeres, sob controle e em conformidade às conveniências do poder financeiro.
Por isso, hoje, também não passamos de colonizados, apesar de sermos uma das mais antigas nações do mundo. E Soares, como Cavaco, não passam de representações de Bokassas no teatro político.
Com um abraço
JD
JD, não me importava nada que fosse só na minha cabeça que existissem confusões.
Mas devemos falar sem complexos das asneiras que a Europa fez em África (e Ásia).
Asneiras em cadeia.
Mas há coisas positivas em todas as crises.
Esta crise da invasão da Europa pelos afto-asiáticos, de jovens, crianças e mulheres grávidas desesperados, dizem os «optimistas» que vai ser resolvido o problema do envelhecimento europeu.
Caro Rosinha,
Estou como tu, quem dera que fosse eu o confuso, e que os esclarecidos governassem o mundo. Não deve ter sido o caso, tendo em conta as inúmeras e flagrantes injustiças praticadas em nome da humanidade, algumas vezes com "suporte" de solidariedade, até apoiadas por crenças religiosas.
Adquiri num leilão um livro que pode interessar-te, e deve estar disponível nas boas bibliotecas: «Servindo o Futuro de Angola», de Costa Oliveira, Secretário Provincial do Planeamento e Finanças de Angola, Luanda 1972. Nele dá-se conta do desenvolvimento da Provincia, e são feitas relações sobre o progresso local, dentro de medidas de prudência sobre política social, económica e financeira. Contém grande fartura de informação quantitativa daqueles aspectos principais, tudo estribado em dados estatísticos.
Acho-o muito interessante e recomendo.
Com um abraço
JD
José Belo, espero que ao contrário de Portugal, ainda se façam 4 estações por ano pelas terras nordicas.
É que por cá, em Portugal, só temos gozado de 3 estações, estes últimos anos:Estação de Outono, Inverno e estação dos Incêndios.
Mas enquanto nas praias não cresça o capim, ficamos com uma boa área para nos refugiarmos.
Mudando de conversa, o José Belo comenta por onde andam as verbas da Nigéria e de Angola...
Em Angola já circula o YEN da China, e na China já é aceite o KUANZA de Angola.
Isto vem nos jornais, mas também vem nos jornais que é um angolano que garante o Jorge Jesus no Sporting Club de Portugal.
Não sabemos é se a assembleia geral dos régulos dos Cuanhamas e dos Ganguelas e dos Quiocos aprovou ou não que em Luanda, a 1000 Km, tomassem essas atitudes.
É que a comunicação por tambores em cadeia ainda é muito lenta.
Penso mesmo que ainda há ganguelas e quiocos e cuanhamas que não sabem que Luanda é uma cidade e é sua capital.
Cumprimentos e continuo nos antípodas
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