sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15477: Notas de leitura (787): "Nos Celeiros da Guiné - Memórias de Guerra", de Albano Dias Costa e José Jorge de Campos Sá-Chaves, ex-alf mil da CCAÇ 413 (1963/65)

1. Mensagem do nosso camaradada, de Torres Novas,  Carlos Pinheiro [, ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70]


Data: 11 de dezembro de 2015 às 15:09
Assunto: Nos Celeiros da Guiné - Memóriasde Guerra


Nos Celeiros da Guiné - Memórias de Guerra


Caros companheiros, camaradas e amigos

Tomei hoje conhecimento, através de mão amiga, da edição do Livro com o titulo em epígrafe, obra de Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves, com prefácio do general António Ramalho Eanes e edição da Chiado Editora.

Ainda não o li tudo, nem mais ou menos, mas já li o suficiente para o poder classificar como um dos melhores livros que retrata passagens das Guerras de África.

Sem qualquer tipo de interesse, permitam-me que vos recomende a leitura desta magnifica obra que foi conseguida pelos autores com a ajuda do Arquivo Geral do Exército e do Arquivo Histórico Militar que disponibilizaram para consulta toda a documentação relativa às unidades em que a CCAÇ 413 esteve integrada, da Viúva do Comandante da Companhia pela documentação disponibilizada, relativa à actuação da Companhia na Guiné e a muitas outras entidades,  sem esquecer os ex-combatentes da CCAÇ 413 que facultaram fotografias, documentos e testemunhos pessoais.

Esta obra é dedicada pelos autores "À memória dos camaradas da CCAÇ 413 que não envelheceram, tombados na Guiné, no cumprimento da missão de serviço que lhes foi imposta, o Ataliba Pareira Faustino, o Francisco Matos Valério, o José Gonçalves Pereira, o José Basilio Moreira, o José Rosa Camacho, o José Pereira Rodrigues, o José Ramos Picão e o Joaquim Maria Lopes, em relação aos quais carregamos a culpa de continuarmos vivos".

Permitam-me ainda que transcreva uma pequena passagem do Prefácio, com o titulo "Metamorfose dolorosa":

 "Encontros anuais que pretendem ser festa, mas que, no fundo, são de mágoa, mágoa sentida pela incompreensão do País, do Exército, dos seus próximos até, pelos sacrificios, pelo tempo passado na Guiné que, não tendo morto neles a esperança, matou muitos dos seus sonhos, muitas das suas certezas, muitos dos percursos de vida almejados. Não aceitam nem conseguem aceitar, ainda, que os tenham mandado para a guerra com desfile, fanfarra e discursos patrióticos, e que os tenham "descartado" depois da guerra, desembarcando-os discretamente, condenando-os a uma quase "clandestinidade social", sem reconhecimentoi público, sem apoio psicológico para os que dele careciam, sem apoio médico especializado para todos mas em especial para aqueles que na guerra se perderam e não mais conseguiram econtrar motivação e sentido suficiente para a vida.

Não constitui este não reconhecimento, esta preversa negligência, excepção na nossa vida histórica... Lembre-se, a propósito, a razão intemporal que terá levado o grande Padre António Vieira, em 1669, a afirmar: "Se serviste à Patria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devieis, ela o que costuma".

Se com este pequeno escrito consegui motivar os meus amigos para a leura do livro, fico satisfeito. Se não o consegui, paciência.
´
Um abraço para todos,

Carlos Pinheiro



2. Ficha técnica

Título: Nos Celeiros da Guiné
Editora: Chiado Editora, Lisboa
Data de publicação: Maio de 2015
Número de páginas: 382
ISBN: 978-989-51-2859-4
Colecção: Bíos
Género: Biografia
Preço de capa: 16 €


Sinopse

A guerra é, para o combatente, uma metamorfose dolorosa, de enorme custo, de insuportável sofrimento, em que se morre um pouco com a morte de cada camarada. Metamorfose, sim, mas em que a fase final é um recomeço da vida, já sem sonhos, já desgastado e, mesmo, frustrado pela incompreensão dos sacrifícios sofridos.

E se os cínicos lhes perguntarem porque não abandonam a guerra, os olhos dos combatentes, marejados de lágrimas, respondem: quem pode abandonar, trair um camarada irmão, sobretudo o que morreu por nós, também?

Sentindo-me um irmão ex-combatente, destes ex-combatentes da CC 413, entendi não os abraçar com uma frase para a capa do livro, como me pediram, mas, sim, abraçá-los com este manifesto despretensioso, pequeno, mas sentido manifesto de solidariedade.

António Ramalho Eanes

Fonte: Chiado Editora, com a devida véniagoogle+

3. Sobre os autores:

Albano Dias Costa nasceu em 1939, em Luanda, tendo-se licenciado em Letras e em Direito pela Universidade de Coimbra.

Em 1963, com a especialidade de sapador de Infantaria e com o curso de explosivos, minas e armadilhas, foi mobilizado para a Guiné como alferes miliciano atirador.

Desmobilizado em Maio de 1965, regressou à Faculdade de Letras de Coimbra, onde apresentou a dissertação “O Crioulo da Guiné, uma Abordagem Etno-Linguística,” preparada a partir das notas que coligiu naquela ex-colónia, e onde foi também co-autor do “Curso de Língua Portuguesa para Macuas,” solicitado pelo Estado-Maior do Exército para o ensino do português aos soldados Macuas de Moçambique, depositado no Arquivo Histórico Militar.

Licenciado também em Direito, enveredou pelo exercício exclusivo da advocacia, no Porto, como profissional liberal e como assessor jurídico em organismos do Estado.

José Jorge de Campos Sá-Chaves nasceu em 1937, em Lisboa.

Licenciado em Educação Física, fez estudos curriculares de Mestrado em Ciências da Educação, na UTL [Universidade Técnica de Lisboa]

Leccionou, durante mais de duas décadas, nos ensinos básico e secundário.

Por concurso público, foi colocado no CIFOP da Universidade de Aveiro como docente para a orientação da Formação em Serviço.

Desempenhou, durante oito anos, funções como Vice-presidente e Administrador dos Serviços de Acção Social da Universidade de Aveiro, tendo sido nomeado representante do Conselho de Reitores no Conselho Nacional da Ação Social no Ensino Superior.

Aposentado, ingressou na Fundação João Jacinto de Magalhães como responsável pelo Gabinete Editorial.

Como militar, frequentou o CEPM e estagiou no CIOE. Mobilizado em Julho de 1962,  integrou a CCAC 413 cumprindo missão, como Alferes Miliciano, na antiga Província Ultramarina da Guiné.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15476: Notas de leitura (786): “IMF no Palácio do Governador”, por Hildovil Silva e Iramã Sadjo, Ku Si Mon Editora, Bissau, 2011 (Mário Beja Santos)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Carlos Pinheiro

Fizeste bem em fazer esta divulgação.
Não conhecia e nem ainda 'tropecei' nele nas estantes dos livreiros.
Mas o pedaço que escolheste para nos motivar é muito sugestivo e incorpora muito da generalidade das críticas que vamos ouvindo.
E com razão.

Abraço
Hélder S.

Luís Graça disse...

Vd. também poste 9 DE NOVEMBRO DE 2015

Guiné 63/74 - P15343: Notas de leitura (774): “Nos Celeiros da Guiné”, por Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves, Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/11/guine-6374-p15343-notas-de-leitura-774.html

(...) Não se trata de uma convencional história de companhia independente, recheada de depoimentos e reprodução de relatórios, é um poderoso documento que, digo-o sem hesitação, se configura num indispensável material auxiliar para compreender a Guiné entre 1963 e 1965. Quanto ao título, os autores mostram uma imagem, conhecida de todos, e explicam aos seus leitores, poderá acontecer que haja leitores que não passaram pela Guiné: “Em quase todas as pequenas localidades, havia, junto do edifício do posto administrativo, um celeiro da administração, desocupado na sequência do início das hostilidades, que veio a ser utilizado como caserna pelos destacamentos militares entretanto instalados nessas povoações”. (...)

(...) Estamos perante um documento que dá que pensar: como se passou da aparente acalmia para a guerrilha dura e pura, tanto no Morés como à volta do Cacheu, em escassos meses a liberdade de movimentos deu origem a deslocações sempre com riscos de minas e emboscadas; surgiram as milícias, as populações em autodefesa, a ação psicossocial improvisada, iam-se distribuindo armas pelas populações e procurava-se, a todo o transe, fixar os destacamentos onde havia população. Como se sabe, continua a descer um manto de silêncio sobre o período de 1963 a 1968, às vezes até se insinua que não houve capacidade de resposta e que se espalharam abusivamente as tropas por todo o território. Enquanto o período do General Spínola está largamente documentado, os tempos correspondentes ao Brigadeiro Louro de Sousa e General Arnaldo Schulz permanecem na neblina. Deixa-se aqui o recado aos historiadores da guerra da Guiné. (...)

Luís Graça disse...

Segunda parte da nota de leitura do Beja Santos:

13 DE NOVEMBRO DE 2015

Guiné 63/74 - P15359: Notas de leitura (775): “Nos Celeiros da Guiné”, por Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves, Chiado Editora, 2015 (2) (Mário Beja Santos)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/11/guine-6374-p15359-notas-de-leitura-775.html

(...) A fotonarrativa é abundante, integra dados da preparação, a instrução em Faro, imagens em Mansoa, em inúmeros lugares por onde a Companhia andou disseminada, mostra-se o seu armamento, a sua alimentação, os lazeres, os trabalhos nos aquartelamentos, a vida dura em Encheia e em Cutia, as relações com a população, a atuação operacional, os convívios, imagens daqueles que voltaram à Guiné e que percorreram os aquartelamentos de outrora, deixando-nos imagens deslumbrantes de uma natureza que não se rende às dores de uma economia parada.

Um documento que nos obriga a pensar na chegada daqueles jovens a Bissau e depois a Mansoa, tudo parecia pacífico até que tudo se tornou explosivo e devastador para os nervos. É um longo documento sobre a metamorfose e o endurecimento. Só temos a ganhar em ler um relato destes primeiros combatentes que tiverem que se abrigar nos celeiros da Guiné. (...)