Relógio de Ponto
Camarigos,
"Em 20 de Novembro de 1888 William Bundy, joalheiro nova-iorquino, inventa o 1.º Relógio de ponto”, quando li esta efeméride recordei o relógio de ponto que conheci quer na tropa quer na vida civil.
Numa Unidade Militar do Norte, onde estive, cada ronda ao quartel demorava uma hora certa. Os Cabos Milicianos faziam a ronda com um relógio de ponto parecido com o da imagem.
A chuva, o frio e o nevoeiro eram o nosso inimigo nas noites de um impiedoso Inverno de 1969. O ano de um terramoto em Portugal Continental.
Certa noite encontrei uma sentinela a dormir dentro de uma guarita. Tirei-lhe a G3 e passados uns momentos acordei-o. Atrapalhado pela falta da arma esqueceu-se da contra senha.
Naquele tempo a senha e a contra senha eram importantes mas a falta da arma é que era o problema. Depois de verificar que o Homem estava bem acordado disse-lhe onde estava a arma.
Também encontrei um soldado com uma “menina” no local de vigilância à sua responsabilidade. Naquela noite a “menina” dormiu sob um tecto. Havia tantas “meninas” à volta do quartel para ganhar uns Escudos.
Nunca participei qualquer ocorrência. Qualquer delas era grave especialmente num quartel onde tinham furtado uma pistola. Em Agosto de 1971 encontrei um Alferes Miliciano, num voo da TAP, Bissau – Lisboa, e o caso da arma de imediato foi conversa.
Na manhã seguinte o Oficial de Dia verificava o registo do relógio e caso houvesse anomalias de imediato havia inquéritos oficiais. Geralmente eram ultrapassados pelas artimanhas aprendidas pelos utilizadores do relógio.
Foto: domínio público a circular na NET
Quando o relógio de ponto avariava era “noite santa” no quartel. Eu não saía do quarto.
Nas matas do leste do CTIGuiné as rondas, dentro do quartel de Galomaro, sem relógio de ponto, por vezes, tinham por companheira uma lanterna nas noites escuras como breu. Um dos inimigos especialmente para os militares continentais.
Uma História e não Estória que um relógio, utilizado, num quartel, recorda.
Na vida civil o relógio de ponto era um dos nossos pensamentos durante a vida activa de trabalho.
Abraço
António Tavares
Foz do Douro, Domingo 22 de Novembro de 2015
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1 comentário:
Nunca usei mas conheço o aparelho pois era usado na empresa onde trabalhei e mais tarde o meu sogro usava também um no parque campismo CCA na Costa da Caparica.
Cá não fiz rondas só reforços com um capote até aos pés e de capacete de aço. O medo de esquecer a senha e contra senha, bem como de ser apanhado a dormir, obrigava-me a andar de um lado para o outro ou a olhar pelas frestas da guarita da sentinela para as ruas desertas à volta do RI6 na cidade do Porto. Era um bocado mal passado porque nunca tive a esperteza de arranjar companhia de uma "menina" que me ajudasse a passar o tempo.
Mais tarde na Guiné nos adidos, tive que fazer ronda de FBP ao tiracolo e verdade seja dito, ninguém respondeu ao meu chamamento. Eu bem chamava, mas por fim seguia a diante não fosse algum cacimbado acordar e dar-me um tiro.
No fim entreguei a arma ao meu substituto que deve ter procedido como eu, pois nada foi alterado no relatório.
Em Galomaro fiz uma vez ronda com furriel escriturário e a única anomalia considerável foi o facto de termos dado com o comandante a curtir uma das muitas que apanhava no passadiço entre a messe e o quarto dele.
"Oh Amado vamos apanhar o nosso comandante e deitá-lo na cama? Negativo meu furriel é que ele assim, não sabe que nós o vimos bêbado e é melhor para ele e para nós".
Um abraço Tavares
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