sábado, 25 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16236: (In)citações (93): O que será a paz? (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381)

1. Em mensagem do dia 13 de Junho de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos esta interrogação. Pensemos.


O que será a paz?

por Zé Teixeira

Olá! Eu sou a Joana e tenho cinco anos. 
 Os meus pais chamam-me Joaninha voa voa.

Eu não sei voar como as joaninhas 
de capa vermelha às pintinhas!
Quando for grande, quero aprender a voar.

A minha mãe disse-me para eu vos falar de paz. 
Eu perguntei-lhe o que quer dizer paz. 
A minha mãe disse-me que paz é 
quando uma pessoa se zanga com outra 
e depois ficam outra vez bem… 
E eu não percebi nada…

Quando a minha avó nos vem visitar, traz-me um chocolate. 
Depois, vai-se embora e a minha mãe diz-lhe: “vai em paz”. 
Mas elas não estavam zangadas! 
A avó até traz sempre um bolo para o lanche! 

Quando os meus pais se zangam, 
o meu pai grita para a minha mãe “deixa-me em paz” 
e fecha-se no gabinete. 
Bate a porta com tanta força que até me assusta e eu choro… 
E a minha mãe chora comigo. 
Não brincam comigo… 
Nem falam um para o outro!

O meu pai, quando está a ler a Bola, 
não quer brincar comigo. Grita-me: 
“Joana, deixa-me em paz!” 
Nem me chama joaninha…

Na escolinha, 
a minha professora é amiga de todos os meninos e meninas. 
Brinca com todos nós. 
Conta historinhas…
Ensina-nos coisas bonitas!... 
Eu gosto muito dela. 
Às vezes, depois do almoço, vai ler uma revista. 
Eu vou ter com ela. 
A minha professora senta-me no seu colinho e deixa-me ver as figurinhas. 
Ela é mesmo fixe!

Quando dois meninos pegam à bulha, 
a minha professora vai separá-los.
Primeiro, fica zangada e ralha, ralha mesmo, 
mas ela não é má. 
Depois limpa-lhes as lágrimas. 
Sacode-lhes a roupa… 
E diz-lhes: “agora dêm o abraço da paz”! 
Os meninos dão um abraço e vão brincar. 
E fica tudo bem…
Não percebo mesmo nada…
O que será a paz?

José Teixeira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16190: (In)citações (92): Uma troca trágica (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

5 comentários:

Anónimo disse...



José Teixeira meu grande camarada e amigo:

Parabéns pelo lindo texto que escreveste. Isto é poesia em prosa e poesia da melhor.
Confesso-te que fiquei contagiado pela emoção humana e estética que o texto transmite e tive que reprimir uma lágrima rebelde. Que a paz nunca te falte para teres bons momentos na vida e para compartilhares momentos poéticos e emotivos, como este,connosco.
Um abraço. Francisco Baptista

JD disse...

Caro Zé Teixeira,
É tão singelo e tão alegoricamente apresentado este texto, que ninguém pode arguit desconhecer a paz, a relação de respeito, tolerância e compreensão entre dois ou mais individuos.
E só num estado de paz é que se pode atingir a felicidade. Com excepção da lágrima, subscrevo o comentário do Francisco. Vá lá saber-se porquê (provocação a um gajo porreiro).
Um grande abraço
JD

Zé teixeira disse...

Meus bons amigos Xico e Zé Dinis não é fácil falar de paz. Desde a Pax romana que de paz não tinha nada, até aos tempos de hoje. Tanto se fala de paz e tanta guerra se faz em nome de uma "paz" de interesses, que não é paz.
Pus uma criança a falar de paz e vede a confusão que vai naquela cabeça inocente...

Fraternal abraço do
zé teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, o Francisco tem toda a razão. É um texto poética de primeira água...Tomei a liberdade de "fixar o texto", de modo a podermos dizê-lo em voz alta, pausadamente... Vê se não fica melhor...

O importante é o conteúdo mas a forma pode torná-lo mais atraente... Vê se concordas, se não voltamos à primeira... forma.

Um abraço, um beijinho para a tua Joaninha a quem, em miúda, por certa que contavas muitas vezes esta história de encantar... LG

Anónimo disse...

Luís!
Obrigado pela sugestão. Tão bela!
Eu, tentei "roubar" à Joaninha, toda a visão poética da palavra "paz", própria da sua inocente idade. Conseguiu-o em parte, mas não lhe dei forma de poesia.
Confesso que sabe bem melhor fazer a sua leitura no formato que lhe deste. Obrigado.
Beijinhos para tua Joaninha, que com certeza também ouviu lindas histórias do papá.
Abraço do Zé Teixeira