A fotografia nº. 1 representa uma cena da mudança de linhas de um corte já explorado para outro a explorar, e mostra pessoal que transporta um segmento de carril;
A fotografia nº. 2 mostra o Muriandambo, o capataz geral no Munguanhe - 2 com quem aprendi bastante;
A fotografia nº. 3 revela uma imagem do rio que margina a colina e o acesso à mina. Não era um grande rio, mas atente-se na caudal que era permanente. Fizemos desvios de caudais naturais ainda mais notórios, para caudais artificiais, por vezes com extensões apreciáveis, para exploração dos respectivos leitos;
A fotografia nº. 4 revela um momento do refeitório durante uma refeição;
A fotografia nº. 5 mostra a tropa privativa da Companhia em desfile domingueiro no Dundo. A sua função seria sobretudo de obter informações e marcar presença. O carocha ali captado, representa o modelo de viaturas ligeiras mais frequentes naquela área;
A fotografia nº. 6 fixa uma imagem de trabalho num corte de mina clássica, com padejamento de cascalho, e enchimento de vagonetas que o transportavam à lavaria;
A fotografia nº. 7 mostra uma roda de canto, uma bomba hidráulica e um par de botas. As rodas de canto são os instrumentos onde curvam e mudam de direcção os cabos circulantes onde atrelam as vagonetas;
A fotografia nº. 8 exibe uma ponte sobre um canal, que estudei e mandei construir em substituição da anterior degradada. Os materiais de madeira, desde os troncos que constituíam o tabuleiro, às travessas por onde era permitida a passagem de viaturas, foram cortados à medida em serração da Empresa. A minha congeminação assentou no manual militar de engenharia - minas e armadilhas, um calhamaço que ficou por lá, de que tenho saudades e ocasionais necessidades. Se alguém ainda preservar um exemplar que não o queira mais, ESTOU COMPRADOR. Em segundo plano vê-se o saudoso 1300, e em último, a luxuriante vegetação com inimagináveis anos de idade, e objecto da devassa das explorações.
Fotos (e legendas): © José Manuel MatosDinis (2016)- Todos os direitos reservados
1. Quinta crónica da série, enviada a 22 do corrnte:
Caros amigos, com vista à continuação da série As minhas memórias do tempo da Diamang, envio a Parte V, um conjunto de fotografias que ilustram aspectos da vida naquela região, durante o período de 1972/4, e uma estória acessória.
Abraços fraternos, JD
[Foto à direita:
nosso grã-tabanqueiro e adjunto do régulo da Magnífica Tabanca da Linha, Jorge Rosales,;
depois do seu regresso a casa, a Cascais,
em janeiro de 1972, vindo da Guiné,
rumou até Angola, em maio de 1972,
para ir viver e trabalhar na Lunda,
na melhor empresa angolana na época,
a famosa Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, com sede no Lundo;
aqui casou (por procuração),
aqui nasceu o seu primeiro filho:
desafiado por nós justamente
a falar da sua experiência angolana ~
em meia dúzia de crónicas memorialísticas, aceitou galhardamente o desafio
e está a cumprir o prometido.] (*)
Em Cassangudi a vida era bastante rotineira, e eu corria o risco de engordar, tal a quantidade alimentar das refeições, como o número delas em cada jornada.
Já conhecia muitas pessoas no âmbito da Companhia, principalmente no Dundo, onde era costuma deslocar-me durante os fins-de-semana, e fizera um razoável número de amigos, sobretudo entre os da minha geração.
Mas esses dias eram ainda de comes e bebes, uma forma de convívio característica das gentes lusas. Dizia-se com graça, que os albuns fotográficos estavam amplamente preenchidos com retratos de refeições, quer à mesa, quer em piqueniques
Uma ocasião fui informado sobre uns jogos que cobriam a província, uma espécie de FNAT [Federação Nacional para a Alegria no Trabalho] (hoje INATEL) da época que abrangia muitas e diferentes modalidades. Logo em Cassanguidi foi resolvido participar, mas em que modalidade, dada a dificuldade de providenciarmos equipes, para mais com o rinque multi-usos em mau estado? - Tinha ali acontecido hóquei em patins, ténis, andebol e futebol de salão.
Quando anunciaram também a modalidade de xadrez, logo alguém indicou o Julien Martan (Júlio Martins de nome verdadeiro, que era o único residente praticante da modalidade. Mas o "cangabuca" - enfermeiro diplomado) não estava para aí virado, que não queria ter o azar de se deslocar a um ponto longínquo de Angola, e alguém se lembrou de mim, questionando-me se sabia jogar xadrez. Respondi que sabia deslocar as pedras, mas saber jogar é coisa muito diferente. Pronto, inscreve-se o Dinis e já temos lugar no mapa.
A coisa funcionava por eliminatórias numa única deslocação. Calhou-me em sorte o campeão de Angola, que em data aprazada se deslocaria a Cassanguidi. Primeiro azar meu, não iria passear a qualquer localidade. A Companhia proporcionou o transporte ao adversário, um cavalheiro de meia idade, com bons modos, que carregava uma mala. Fomos apresentados na Casa do Pessoal, e depois de uns momentos de apresentação e descontracção, escolhemos uma mesa para a disputa da partida perante uma assistência civilizada de meia-dúzia de pessoas. Nunca tinha jogado com relógios federativos que marcavam o tempo para cada jogada, nem nunca tinha anotado os movimentos das peças, como o faria o campeão que anotava as passagens de linhas e casas.
Dei corda aos cavalos como se de uma táctica de guerrilha se tratasse, e comecei a constatar que o campeão vacilava com facilidade perante o meu jogo, pouco pensado, e quase espontâneo. Já acumulava muito material inimigo, e sentia-me confiante. A partida não durou duas horas, principalmente, porque o meu adversário dava mostras exemplares de muita ponderação.
Até que, inopinadamente, sofri o cheque-mate. Não soube como aconteceu, mas não tinha saída salvadora. O campeão mostrara que mesmo em dificuldades, sabia da poda. Depois admitiu que pensara perder a partida, mas apontou que nas últimas jogadas eu fora displicente, ao que respondi ter sido por cansaço, mas na realidade fora incompetência.
Uma ocasião fui informado sobre uns jogos que cobriam a província, uma espécie de FNAT [Federação Nacional para a Alegria no Trabalho] (hoje INATEL) da época que abrangia muitas e diferentes modalidades. Logo em Cassanguidi foi resolvido participar, mas em que modalidade, dada a dificuldade de providenciarmos equipes, para mais com o rinque multi-usos em mau estado? - Tinha ali acontecido hóquei em patins, ténis, andebol e futebol de salão.
Quando anunciaram também a modalidade de xadrez, logo alguém indicou o Julien Martan (Júlio Martins de nome verdadeiro, que era o único residente praticante da modalidade. Mas o "cangabuca" - enfermeiro diplomado) não estava para aí virado, que não queria ter o azar de se deslocar a um ponto longínquo de Angola, e alguém se lembrou de mim, questionando-me se sabia jogar xadrez. Respondi que sabia deslocar as pedras, mas saber jogar é coisa muito diferente. Pronto, inscreve-se o Dinis e já temos lugar no mapa.
A coisa funcionava por eliminatórias numa única deslocação. Calhou-me em sorte o campeão de Angola, que em data aprazada se deslocaria a Cassanguidi. Primeiro azar meu, não iria passear a qualquer localidade. A Companhia proporcionou o transporte ao adversário, um cavalheiro de meia idade, com bons modos, que carregava uma mala. Fomos apresentados na Casa do Pessoal, e depois de uns momentos de apresentação e descontracção, escolhemos uma mesa para a disputa da partida perante uma assistência civilizada de meia-dúzia de pessoas. Nunca tinha jogado com relógios federativos que marcavam o tempo para cada jogada, nem nunca tinha anotado os movimentos das peças, como o faria o campeão que anotava as passagens de linhas e casas.
Dei corda aos cavalos como se de uma táctica de guerrilha se tratasse, e comecei a constatar que o campeão vacilava com facilidade perante o meu jogo, pouco pensado, e quase espontâneo. Já acumulava muito material inimigo, e sentia-me confiante. A partida não durou duas horas, principalmente, porque o meu adversário dava mostras exemplares de muita ponderação.
Até que, inopinadamente, sofri o cheque-mate. Não soube como aconteceu, mas não tinha saída salvadora. O campeão mostrara que mesmo em dificuldades, sabia da poda. Depois admitiu que pensara perder a partida, mas apontou que nas últimas jogadas eu fora displicente, ao que respondi ter sido por cansaço, mas na realidade fora incompetência.
Antes de sair ainda referiu ter achado que fiz jogadas interessantes, e que ia prestar atenção ao desenvolvimento da partida durante as reconstituições que faria. Pronto, ficamos assim a saber, que a modalidade de xadrez implica estudos sucessivos para exercitar a mente na tomada de decisões mais adequadas, ao contrário do que eu fazia, que era tomar as decisões mais rápidas.
Posto isto, segue-se um conjunto de retratos que vou legendar [vd. série de 8 fotos, acima]
(Continua)
Posto isto, segue-se um conjunto de retratos que vou legendar [vd. série de 8 fotos, acima]
(Continua)
__________________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 12 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16193: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte IV: algumas estórias da "kamanga"
(*) Último poste da série > 12 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16193: As minhas crónicas do tempo da Diamang, Lunda, Angola (1972-1974) (José Manuel Matos Dinis) - Parte IV: algumas estórias da "kamanga"
5 comentários:
Obrigado, Zé, belo conjunto de fotos de trabalho (um tema que aprecio muito, e estas tem bastante interesse documental)...
Afinal, a Diamang não era só "dolce vita", piqueniques, jogatanas, bem-bom... Trabalhava-se no duro...
Tens de explicar melhor ao pessoal o papel da "polícia privativa" da CDA... Composição, comando, enquadramento, treino, armamento, métodos, histórias... Eram simples "securitas" ou eram mesmo uma força paramilitar ?...
Dá para uma crónica, mas imagino que não saibas grande coisa desta malta...
Boa continuação, saúde e alegria... no trabalho. Kandandu. Luis
Caro Luís,
Antes do mais quero referir um erro de identificação de uma viatura na imagem que mostra a "tropa" privativa em desfile. Não se trata de um "carocha", mas de um Ford Escort. Mas o "carocha" era o modelo mais usado e que a CDA disponibilizava para o pessoal na região, que os empregados não adquiriam, para não haver tentações sobre a manutenção. Ética, ou obrigação assumida? Nunca soube a verdadeira razão.
Sobre as questões que levantas a propósito da "tropa", pouco poderei acrescentar por falta de conhecimento.
A par desta tropa privativa, cuja capacidade bélica, incluindo armamento, disciplina e treinos desconheço em absoluto, ainda pairavam na Lunda companhias da OPVDCA, essas equipadas como as companhias do exército, com G-3, morteiros e basucas. Sei que eram integradas por elementos contratados sem a necessária experiência de guerra, e aglutinava alguns elementos nitidamente preguiçosos, que só queriam uma vida fácil (salário, cama, mesa e roupa lavada). Direi mais tarde (espero não me esquecer), no período pós-revolucionário, alguma poucas más impressões que me causaram, mais próprias de arruaceiros do que de forças militarizadas.
Da "tropa" privativa não tenho ainda, mas talvez venha a ter, a ideia do nível de competência atribuídos, nem do nível de treinos e eficácia. No meu entender era mais uma tropa de presença e, aventualmente, de recolha de informações.
Com um abraço
JD
Luís,
Esqueci-me de referir sobre a polícia privativa, que também havia. Conheci dois elementos contratados ou deslocados da Polícia Judiciária - não lhes conheci o estatuto profissional, mas que trabalhavam mais na sombra, que deviam ter funções de análise sobre movimentos, conflitos, informações, fiscalização sobre a vida dos funcionários e familiares que pudessem envolver-se no tráfico, provavelmente com base em informações prestadas pelas outras forças. Francamente, nunca me despertou o interesse averiguar, e como era jovem e levava uma vida com outros interesses (praticava desporto diariamente, alinhava em comezainas, fiz algumas leituras, fiz relacionamentos e fui pai), essa e muitas outras questões passaram-me ao lado. Adiante, no entanto, fui um bocado interventivo.
Outro abraço
JD
Amigo e camarada José Dinis:
Gostei da tua crónica, desta vez muito desportiva, onde revelas os teus rápidos lances de génio, que deixavam o teu adversário do xadrez desorientado. Acho que essa rapidez de raciocínio faz parte da tua personalidade, tu acabas de expressar uma opinião e o teu cérebro já formou outra que te apressas a debitar e com isso cansas esse galego, o teu Comandante Rosales, mais calmo e parecido comigo a pensar e a falar. Consegui ver muitas fotografias interessantes e em boas condições, dessa tua curta vida de colono.
Um grande abraço. Francisco Baptista
Luís Graça, na Lunda terra de Quiocos, não se diz Kandandu, diz-se para tudo "MOIO".
À chegada e à partida, qualquer cumprimento "MOIO".
O nosso JD que nos presenteia com uma coisa muito diferente para quem passou por Paunca, Pirada e outros cús de Judas, ao lado de cubanos e soviéticos a pensar em diamantes, ouro e outras maravilhas, sem sangue, por ser novo (monandengue) não conheceu o MOIO.
E OPVDCA ((Organização Provincial dos Voluntários da Defesa Civil de Angola) fundada em 1961 foi criada na emergência de falta de forças armadas em Angola.
Quem tivesse prestado serviço militar há pouco tempo e quisesse receber alguma nova preparação era-lhe estipulado um determinado ordenado e ficavam sob um comandante militar.
Prestavam protecção na apanha do café no Norte, ou a algum empreiteiro, (neste caso a Diamang)libertando assim militares para responsabilidades maiores.
Era um «tachito» aproveitado para um desempregado, por exemplo, mas era tudo uma brincadeira para quem como o JD esteve no leste da Guiné.
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