1. Em mensagem do dia 13 de Junho de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada,
1968/70), enviou-nos esta interrogação. Pensemos.
O que será a paz?
por Zé Teixeira
Olá!
Eu sou a Joana e tenho cinco anos.
Os meus pais chamam-me Joaninha voa voa.
Eu não sei voar como as joaninhas
de capa vermelha às pintinhas!
Quando for grande, quero aprender a voar.
A minha mãe disse-me para eu vos falar de paz.
Eu perguntei-lhe o que quer dizer paz.
A minha mãe disse-me que paz é
quando uma pessoa se zanga com outra
e depois ficam outra vez bem…
E eu não percebi nada…
Quando a minha avó nos vem visitar, traz-me um chocolate.
Depois, vai-se embora e a minha mãe diz-lhe: “vai em paz”.
Mas elas não estavam zangadas!
A avó até traz sempre um bolo para o lanche!
Quando os meus pais se zangam,
o meu pai grita para a minha mãe “deixa-me em paz”
e fecha-se no gabinete.
Bate a porta com tanta força que até me assusta e eu choro…
E a minha mãe chora comigo.
Não brincam comigo…
Nem falam um para o outro!
O meu pai, quando está a ler a Bola,
não quer brincar comigo. Grita-me:
“Joana, deixa-me em paz!”
Nem me chama joaninha…
Na escolinha,
a minha professora é amiga de todos os meninos e meninas.
Brinca com todos nós.
Conta historinhas…
Ensina-nos coisas bonitas!...
Eu gosto muito dela.
Às vezes, depois do almoço, vai ler uma revista.
Eu vou ter com ela.
A minha professora senta-me no seu colinho e deixa-me ver as figurinhas.
Ela é mesmo fixe!
Quando dois meninos pegam à bulha,
a minha professora vai separá-los.
Primeiro, fica zangada e ralha, ralha mesmo,
mas ela não é má.
Depois limpa-lhes as lágrimas.
Sacode-lhes a roupa…
E diz-lhes: “agora dêm o abraço da paz”!
Os meninos dão um abraço e vão brincar.
E fica tudo bem…
Não percebo mesmo nada…
O que será a paz?
José Teixeira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 10 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16190: (In)citações (92): Uma troca trágica (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
José Teixeira meu grande camarada e amigo:
Parabéns pelo lindo texto que escreveste. Isto é poesia em prosa e poesia da melhor.
Confesso-te que fiquei contagiado pela emoção humana e estética que o texto transmite e tive que reprimir uma lágrima rebelde. Que a paz nunca te falte para teres bons momentos na vida e para compartilhares momentos poéticos e emotivos, como este,connosco.
Um abraço. Francisco Baptista
Caro Zé Teixeira,
É tão singelo e tão alegoricamente apresentado este texto, que ninguém pode arguit desconhecer a paz, a relação de respeito, tolerância e compreensão entre dois ou mais individuos.
E só num estado de paz é que se pode atingir a felicidade. Com excepção da lágrima, subscrevo o comentário do Francisco. Vá lá saber-se porquê (provocação a um gajo porreiro).
Um grande abraço
JD
Meus bons amigos Xico e Zé Dinis não é fácil falar de paz. Desde a Pax romana que de paz não tinha nada, até aos tempos de hoje. Tanto se fala de paz e tanta guerra se faz em nome de uma "paz" de interesses, que não é paz.
Pus uma criança a falar de paz e vede a confusão que vai naquela cabeça inocente...
Fraternal abraço do
zé teixeira
Zé, o Francisco tem toda a razão. É um texto poética de primeira água...Tomei a liberdade de "fixar o texto", de modo a podermos dizê-lo em voz alta, pausadamente... Vê se não fica melhor...
O importante é o conteúdo mas a forma pode torná-lo mais atraente... Vê se concordas, se não voltamos à primeira... forma.
Um abraço, um beijinho para a tua Joaninha a quem, em miúda, por certa que contavas muitas vezes esta história de encantar... LG
Luís!
Obrigado pela sugestão. Tão bela!
Eu, tentei "roubar" à Joaninha, toda a visão poética da palavra "paz", própria da sua inocente idade. Conseguiu-o em parte, mas não lhe dei forma de poesia.
Confesso que sabe bem melhor fazer a sua leitura no formato que lhe deste. Obrigado.
Beijinhos para tua Joaninha, que com certeza também ouviu lindas histórias do papá.
Abraço do Zé Teixeira
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