sábado, 16 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

1. Mensagem de António Martins de Matos  [ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref; membro da nossa Tabanca Grande]

Data: 10 de julho de 2016 às 16:03
Assunto: Blindados

Caro amigo:

Vi ontem no canal Memória da RTP a repetição de um episódio do Joaquim Furtado, onde refere a cerimónia da "Independência da Guiné", ocorrida na área libertada do Boé (dizem eles), no Boé da vizinha Guiné-Conacri (digo eu).

Nesse filme aparecem 2 viaturas de transporte de pessoal acompanhando o desfile das forças em parada.

Farto das conversas sobre Migs, (que sim, que não, que talvez…) e porque penso que, até agora, nunca se falou sobre a estória dos blindados PAIGC, talvez seja a altura de abordar o assunto.

Para inicio do tema, já sabemos que "alguém" lhes deu o diesel e um outro "alguém" lhes forneceu os mapas, (tudo pessoal amigo), aqui deixo o repto.

Blindados PAIGC:

Desde quando? Que tipo? Armados? Só para transporte de pessoal?

Empregues onde?

Quem os viu em operações? VIU DE VER e não de ouvir, que ruídos na noite... propagam-se facilmente (moro a 6 quilómetros do aeroporto de Lisboa e, de noite, oiço o C-130 da FAP a pôr em marcha)

Abraços
AMM


2. Comentário do editor:

António, obrigado pela tua sugestão. Boa sugestão de verão, em que é preciso continuar a alimentar o blogue, apesar da modorra e preguicite aguda que nos dá nesta estação do ano...

Na realidade, pouco se tem escrito, aqui,  sobre as tais viaturas blindadas do PAIGC.  Há uma ou outra referência.  Tudo indica que o PAIGC já as tivesse, no final da guerra, estacionadas do outro lado da fronteira (na Guiné-Conacri)... Teria uma ou a outra à experiência, e para "tuga ver" ou "sueco ver".... O problema devia ser a falta de unhas para as conduzir e manobrar... Terão sido usadas (mal) contra Copá (em 7/1/1974) e em Bedanda (em 31/3/1974).n Em Copá custou a vida aio comandante das forças atacantes, Mamadu Cassambá.

O alf mil António Graça de Abreu e o asp mil Miguel 
Champalimaud,  do CAOP1,  em janeiro de 1974, 
no aeroporto de Cufar.  Foto de A, Graça de Abreu (2012)
Uma dessas referências, às famosas viaturas blindadas do PAIGC,  é do nosso amigo e camarada (e grã-tabanqueiro de longa data) António Graça de Abreu, ex-al mil,  CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).

Ele estava perto, em Cufar, quando Bedanda foi atacada, em 31 de março de 1974,  com morteiros 120 mm, foguetões 122 mm, RPG2 e RPG7, armas automáticas e outras armas pesadas em duas viaturas blindadas do tipo autometralhadora:


(...) Cufar, 3 de Abril de 1974

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.

Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPG, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar.

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.

Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.

Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.

Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.

Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa. (...)

Fonte: António Graça de Abreu, Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007,  p.  220. (**) [Imagem da capa do livro, à direita]


Há um comentário ao Poste P9375 (*) do nosso leitor António Rodrigues (, de Vila Real, e que se apresenta como alferes mil, colocado em Bedanda naquela altura, e a quem convidadamos para "dar a cara" e um dia destes se sentar aqui connosco, à sombra do poilão da Tabanca Grande):

Caros camaradas: Estava colocado em Bedanda aquando do ataque com viaturas blindadas, onde era alferes miliciano. As viaturas com que fomos atacados eram as BTR 152 (soviéticas), equipadas com metralhadoras. A sua quase entrada no perímetro deveu-se ao facto de elas terem atacado a partir da zona onde se situavam as tabancas da população civil e isso impedir que quer as "bazookas" quer os canhões sem recuo [tenham ripostado]. Abraços, António Rodrigues.


Outro António Rodrigues, mas, esse, nosso grã-tabanqueiro, registado, e um dos bravos de Copá, ex-sold cond auto da 1ª CCAV / BCAV 8323 ( Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 1973/74), autor da notável série "Memórias de Copá" (de que se publicaram pelo menos 6 postes), escreveu aqui o seguinte (**)

(...) Ora nós em Copá, no dia 7 para 8 de Janeiro de 74, enfrentámos o assalto do PAIGC ao nosso aquartelamento, precisamente com dois blindados, um dos quais chegou a entrar dentro do aquartelamento e nós na altura, só com 27 homens (bazucas uma) e muita sorte, lá os conseguimos repelir.

(...) Soube recentemente, através de uma pessoa que se deslocou à Guiné e a Copá e falou com os guerrilheiros da altura, que lhe disseram que, durante os combates na noite de 7 para 8 de Janeiro de 74, com carros de combate do PAIGC, lhes matamos o comandante que os comandava nessa noite. E a minha conclusão é que esta foi mais uma razão para eles retirarem ao fim de 01,10 horas e assim termos escapado a uma quase eminente captura. (...) .


Ramón Pérez Cabrera, em "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), tem um capítulo sobre a guerra na Guiné (pp. 135-184) e a participação  dos "internacionalistas" cubanos.

A Op Abel Djassi [, nome de guerra de Amílcar Cabral], na sua 2ª fase (época seca de 1973/74) é descrita com detalhe: o início da operação começa justamente a 3/1/1974, com  a ofensiva contra Copá, por intermédio de forças de infantaria e artilharia, "apoiadas por quatro blindados (...) BTR".

O comandante das FARP era Mamadu Cassamba que, "tripulando um dos BTR, penetrou temerariamente na instalação militar"... Teve o azar do seu BTR  acionar uma mina A/C que lhe causou a morte instantânea. As forças do PAIGC conseguiram resgatar o veículo e, dentro dele, o cadáver do seu comandante.

Uma das raras fotos de viaturas blindadas, alegadamente ao
ao serviço do PAIGC no final da guerra. Foto (pormenor) do
Arquivo Mário Pino de Andrade / Casa Comum /
Fundação Mário «Soares. Clicar aqui para ver o original.
  

Face a esta grande contrariedade, o comandante da Frente Leste, Paulo Correia, mandou suspender os assaltos com a infantaria, continuando com as flagelações da artilharia, durante todo o mês de janeiro, até que as NT, como é sabido, abandonam Copá em 12/13 de fevereiro  de 1974, por ordem do Com-Chefe.

Nesta 2ª fase da Op Djassi (a primeira tem a ver como os três G - Guidaje, Guileje e Gadamael, maio / junho de 1973, ainda no tempo do Spínola), Ramon Pérez Cabrera diz que participaram "14 internacionalistas cubanos", um dos quais, um jovem oficial que tinha partido de Cuba por via aérea em 13/12/1973, e que vai  encontrar a morte nas imediações de Copá (ou de Canquelifá ?),  às 8 da manhã do dia 8 (ou 7 ?) de janeiro de 1974, surpreendido por tropas portuguesas.

O seu corpo terá do  "levado para Buruntuma", mutilado e exumado, diz Ramón Pérez Cabrera.   [Tratar-se-ia, quanto a nós,  da mesma emboscada em que terá sido apanhado vivo, o caboverdiano Jaime Mota, 1940-1974, alegadamente executado depois. Ramón Maestre Infante terá sido o último dos 9 internacionalistas cubanos a morrer na "guerra de liberación" da Guiné-Bissau. Enfim, mais um caso para alimentar a nossa série Controvérsias (***)], e o nosso Jorge Araújo vai, por certo, querer explorar, ele que agora tem em mãos o "dossiê médicos cubanos"..


Excerto de: Ramón Pérez Caberra - "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), p. 1979 [Com a devida vénia...Sublinhados nossos]  [Extensas partes do livro podem ser consultadas, em modo de pré-visualização, no portal da Kilibro]
______________

Notas do editor:

(*) 20 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9375: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (5): ): "Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda [, em 31 de março de 1974]"...

(**) 23 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7320: Controvérsias (111): Copá: Quero aqui repor a verdade dos factos! (António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323)

Vd. também postes de:

4 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15327: Louvores e condecorações (10): Os bravos Copá, da 1ª C/BCAV 8323/73, que resistiram durante mais de um mês ao cerco do PAIGC

7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14128: Memórias de Copá (3): Janeiro de 1974 (António Rodrigues, ex-sold cond auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 11973/74)

(...) 7 de janeiro de 1974: o dia mais infernal por que já passei

(...) Novo ataque às 23h50 junto ao arame farpado, com apoio de viatura blindadas e artilharia... Mas Copá resistiu!

E as viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá e cerca das 23 horas e 50 minutos tudo parou e o ruído deixou de se ouvir, (a falta de iluminação facilitou-lhes as manobras e a instalação à vontade de todo o seu dispositivo) e ficamos na expectativa à espera de mais um momento terrível daquela noite e o meu pressentimento veio a concretizar-se, era exactamente meia noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo.
Aí teve início mais uma hora e cinco minutos horrorosos, infernais e terríveis de enfrentar, aí o inimigo estava 10 metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada, tinha junto ao arame farpado 3 secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante 1 hora e 5 minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava já preparada para disparar e assim sucessivamente, mas para além destas secções de homens armados de metralhadoras tinham um auto-blindado (tipo ZIG Russo) junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e na retaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado durante a tarde, esta encontrava-se a cerca de 1 Km também apoiada por outro auto-blindado do mesmo tipo. (...)

(***) Último poste da série > 8 de março de  2016 > Guiné 63/74 - P15832: Controvérsias (130): O "nosso Cabo Miliciano", que em 1965 ganhava 90 escudos de pré (34,24 euros, hoje), fazendo o serviço de sargento... (Mário Gaspar)

19 comentários:

António J. P. Costa disse...

António, Àkanus não tóvia!

Não restam dívidas de que uma presença mais intensa de "operacionais" cubanos modificou o curso da guerra (para pior para as "nossas" cores). É uma forma de guevarismo muito em uso, naquele tempo.
Pelos depoimentos e documentação colhidos dos dois lados parece que, neste caso, estamos a falar de uma ameaça real.
Parece que se estava numa fase experimental. Não sei bem como é que o PAIGC viria a aplicar estas armas. Em massa? Atribuindo-as às suas unidades de infantaria, no terreno?
Nunca o saberemos. Nem eles. E os cubanos não se confessam.
Penso que, neste caso, poderíamos prever um ataque com meio ERec (6 carros) a um quartel muito próximo da fronteira. E tínhamos vários. Não seria para ocupar, mas para destruir o que pudessem, com rapidez e perfeição, e aterrorizar os defensores/população e retirar para o Senegal ou Rep. Guiné. Fazer ronco...
Tínhamos armas A/C e, portanto, é possível que tivessem direito a resposta.
De qualquer modo foi mais um passo na escalada da guerra.´

Um Ab. e boas férias, se for o caso
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Meus Camaradas;

No meu modesto entendimento, este tema encontra-se estreitamente ligado à questão da "guerra perdida vs. guerra ganha".

Naturalmente que não podemos nunca deixar de equacionar que a situação não se poderia eternizar. Por vezes, há Camaradas que aqui vêm quase pedir contas àqueles que, como eu, nos encontrávamos no TO do CTIG a 25 de Abril de 74 e que entregámos o território. Sinto-me quase na obrigação de pedir desculpa por ter nascido mais tarde e, por isso, de lá estar no ano de 1974 e não antes.

Quanto à temática dos blindados no terreno. Nunca dei conta de tal e, à época da alegada aparição de viaturas blindadas,estávamos, precisamente, em Jemberém. O buraco a que se chamava quartel, era mesmo em cima de uma estrada que foi alcatroada e que ia até Cadique (isso eu sei) e diz-se que fazia ligação com a Guiné Conakry (isso eu não sei).

Mas blindados só se eram como os que alegadamente o Sadam teria no Iraque.

De facto, o pessoal até dizia que os ouvia o IN noite dentro a circular. Isto apesar de lhes explicar e demonstrar que aquilo que efectivamente escutavam, com maior nitidez durante a noite, como é óbvio, tratava-se, a final da maré a encher ou vazar no braço de mar que ia ter ou que vinha do Cacine e que se situava a cerca de 3 Kms do aquartelamento.

Estou certo de que se tratava, mais de um mito "urbano". No mato nunca tal foi avistado.

Nem, posteriormente, em Bissau, ouvi a nenhum dos elementos do PAIGC com os quais contactei - por razões de passagem de testemunho da guarda ao palácio do Governador e outras actividades de segurança na Cidade - falar desse material de guerra.

Senão atentemos que, por exemplo, quando lhes foi entregue Gadamel, Cacine, Mansoa ou até mesmo Bissau, apareceu algum desse equipamento ?. Não seria de bom tom, se tivessem esses blindados, que os viessem apresentar ?. Parece-me que a resposta só pode ser que sim que apareceriam com eles.

Então no relato do tal cubano não se diz que se deram ao trabalho de resgatar o blindado inutilizado pela mina ?. Teriam lá também o reboque do ACP ?. Segue

Anónimo disse...

Continuação

Num dos almoços do BART 6520/73, é que o meu Camarada Eiras ( de Bragança e fur. mil de transmissões da minha 3ª CART) me recordou uma situação por ele vivida em Bissau, e que passo a relatar :

No quartel onde ele se encontrava colocado depois de termos regressado de Jemberém, e estando ele na parada acompanhado do seu adjunto também em Jemberém, o cabo das transmissões, foi abordado por dois elementos do PAIGC, e que lhes disseram der imediato: Vocês estavam em Jemberém, não estavam ?. A resposta não podia deixar de ser afirmativa.

Acontece que um desses elementos que até nem falava português, apenas o crioulo, disse através do outro que o cabo de transmissões, uma vez no cais de Jemberém, tinha tido a arma apontada à cabeça quando se encontrava em cima de uma berliet - numa situação de reabastecimento e no transbordo da LDP (era só o que lá chegava).

Isto porque o nosso cabo de transmissões era facilmente reconhecido e identificável devido a umas malhas brancas que, aos 21 anos, já tinha no cabelo.

Concluíram dizendo que não dispararam nem nos atacaram ali, porque tiveram medo e não eram muitos, estavam a recrutar pouco. Afinal também tinham medo.

E estamos a falar de uma base importante na região, esta que eles tinham ali ao nosso lado. Que ao que se dizia até tinha hospital.

E cubanos também, meu Caro Pereira da Costa. Sendo certo que entendo perfeitamente o que dizes e a vossa posição. E, pessoalmente, agradeço pelo 25 de Abril. Apesar dos níveis de adrenalina a que aquela terra, a guerra e o embrulhanço nos levavam, não podíamos manter a situação por muito mais tempo. Por esse andar já lá tinha ido o meu filho e um dia deste ia o meu neto. Não!.

Concluindo: blindados nem vê-los. Estávamos à espera que entrassem por ali dentro e levassem as três fiadas de arame farpado que por lá tínhamos. Mas não.

Um grande abraço para todos e continuo a partilhar e a concordar com as opiniões expendidas nos textos (as quais já tive oportunidade de escutar atentamente e de viva voz) do nosso Camarada e Amigo AMM.

Joaquim Sabido
Évora

Anónimo disse...

NUNCA AS VI...mas ouvir de ouvido propriamente dito..não sei..uma vez, sugestionado o pelo sentinela que ouvia viaturas para o lado de Sangonhá..desatei a fazer fogo às três da manhã..bem foi cá uma uma guerra, devo ter acordado meio mundo no sul da Guiné.

Cacine,jambarém,cufar,bedanda,..perguntavam via rádio o que se passava...bem não se passava nada..ou melhor até passava..era simplesmente a maré a vazar.

Se tivessem viaturas blindadas..e atacassem Gadamael..seriam muito bem recebidos.

Só me faz um pouco de confusão..os motores das respectivas, eram silenciosos ou não..é que não sei como é que se podiam aproximar sem serem detectados.

C.Martins

JD disse...

Há dois comentários que se referem às viaturas blindadas, pelo que não me repugna aceitar a existência desse armamento. Mas que superioridade transmitiriam ao PAIGC, tendo em conta os problemas que aconteceram com chaimites. A narrativa sobre o assalto de Copá é curiosa e levanta-me dúvidas. Por um lado, o António Rodrigues não deuum relato continuado à presença daquela viatura, tão mais de estranhar quanto: 1) teria que ser removido o cavalo de frisa para o blindado IN entrar no destacamento; 2) sendo condutor, teria dado conta do rebentamento da mina, a fazer fé na descrição do cubano, mesmo que tivesse rebentado no exterior, ao contrário da afirmação do cubano; 3) o testemunho do cubano não parece sério, face ao relato do António Rodrigues. Por outro lado, as NT fizeram ou não oposição à penetração da viatura? ficaram tolhidas de medo? 4) a remoção de um destroço a partir do interior do destacamento não terá sido fácil, imagino eu, tendo em conta a presença de NT, ainda que acantonadas em outras partes da aldeia. Estas questões, parece-me, são importantes para avaliarmos melhor das circunstâncias, pois também não me repugna a ideia de ter-se minado a entrada do destacamento, que me parece era única, e ficava do lado sul de Copá, onde se chegava pela picada de Bajocunda. Haveria, entretanto, outra entrada construída que permitisse a passagem de viaturas? A questão prende-se ao impraticável de todos os dias montar e desmonta a mina, mesmo que a título preventivo.
O que eu tenho tentado através do blogue, é desmontar os argumentos que têm sido suporte para justificar o MFA: «a guerra estava perdida» e a «lei de equiparação destinada aos capitães milicianos». É que a primeira razão, até ver, não parece que tivesse sido suficientemente demonstrada, e a segunda foi neutralizada em tempo pelo próprio regime, e recentemente posta de lado pela edição do livro de Jorge Sales Golias. É que a traição, normalmente patrocinada por medos ou interesses ocultos, para sobreviver e impor-se, carece de razões que foram habilmente exploradas e ainda persistem. O País é que não está de boa saúde, apesar da generalizada melhoria material da condição de vida. Todos os comentários anteriores são úteis para a compreensão desses problemas, mas há que os interpretar, obviamente.
Abraços fraternos
JD

JD disse...

Camaradas,
A descrição do ataque a Copá também é inquietante e de dificeis contornos tácticos, o que me levanta reservas às conclusões tiradas na época. Não quero acusar o António Rodrigues de mentiroso, até porque não estive lá, mas adianto as minhas razões:
1 - Estariam 3 secções IN a 10 metros do arame, que se revezavam nas acções perturbadoras pelo fogo;
2 - Atrás, necessariamente em alinhamento, por um espaço de cerca de um quilómetro, espalhavam-se os armamentos de artilharia: morteiros e canhões que teriam como tarefe uma de duas: provocar rebentamentos no interior do destacamento, e deixar para o carro blindado e para as 3 secções as acções destruidoras; ou o improvável objectivo de atacar o destacamento, conforme as condições descritas.
3 - A aldeia destacamento de Copá ocupava um espaço mais ou menos circular, a que grosso modo, podemos atribuir um diâmetro máximo de 200 metros.
Ora, se a artilharia do IN tivesse por objecto o rebentamento de granadas dentro daquele perímetro, corria o grava risco de atingir as suas forças avançadas, daí, que eu aceite a ideia do assalto, estribada na perturbação e refúgio nos abrigos das NT, enquanto a artilharia IN rebentaria noutro local, além, ou desviado do destacamento. Se foi assim, o comportamento das NT só poderia ter por objectivo aceitar a invasão e alcançar a complacência do IN, que naturalmente acompanhariam. Aliás, a fronteira estava logo ali, e o PAIGC faria um enorme ronco.
Se assim tivesse acontecido, o MFA ganharia apoios incondicionais para o abandono da Guiné.
JD

António Martins Matos disse...

Ok, ou “Prontos”, como agora se diz, mais um “mito” em vias de resolução.

Depois deste pequeno inquérito cheguei à conclusão que os blindados do PAIGC pertencem à mesma categoria dos famosos MIGs…
Havia “manga” deles, mas eram … invisíveis, já que nunca ninguém os viu.
Se calhar, o único que viu os blindados fui eu, no filme do Joaquim Furtado.
Dado que nesse tempo ainda não havia AVIS ou HERTZ, calculo que deviam ter sido “emprestados pela Guiné Conacri, para abrilhantar o desfile….
Manga di ronco.

AMM

António J. P. Costa disse...

Por mim proponho mais um inquérito:

1. Os carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In existiram de certeza. Eu vi, porra!
2. Os carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In existiram com um certeza muito pequenina.
3. Os carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In existiram mas eu já não tenho a certeza
4. Os carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In existiram de certeza mas confundiam-se com o barulho da maré. Às vezes a mará dá ratés...
5. Os carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In não existiram, mas eu tenho dúvidas
6. Ké lá çaber dos carros de Combate do insidioso, ardiloso e mauzinho In. O keu kero é vankances e penalties marcados com a cabeça kumóduÉder!

PS: Proponho aos redactores do blog que façam um inquérito acerca das guerras particulares, como a que fez o C. Martins. É que çagente num se punhàpau, inda ganhávamos aquela m****!

Um Ab.
António J. P. Costa

Manuel Luís Lomba disse...

O PAIGC estaria dotado de 2 viaturas blindadas (BTR), com operacionalidade semelhante à dos nossos granadeiros Whait (a foto do post mostra-lhe o "tecto de abrir"), desde 1968, mas com a circulação condicionada a uma estreita faixa fronteiriça, para além de Boké, para actividades no Sul e para além de Koundara, para actividades no Leste, condicionalismo extensivo ao seu armamento pesado. E seriam muito barulhentas - quem não conheceu a barulheira dos motorzitos a dois tempos dos "Trabant"?
Se a sua marinha foi refundada pela nossa Armada, um mês antes de abandonar o Pidjiquiti, a sua força aérea teria sido fundada pela FAP, na mesma altura. Quando aterrei em Bissalanca, em 1982, numa placa havia um Dakota e 4 ou 5 DOs e T 6 com com a cruz de Cristo e aspecto de abandono, com um grande cartaz em pano de fundo: PRESAS CAPTURADAS AO INIMIGO!
Também vi o desfile de 2 (ou 3?) na narrativa cinematográfica do Joaquim Furtado, sem conseguir vêr-lhe as matriculas. Sabe-se que o exército guineense empretara-lhe algumas, para efeito festivaleiro.
Quanto ao ao evento em Copá, o António Rodrigues confirmou-me conversa presencial que a neutralizaram com tiro de morteiro de 60, a "ollho e ouvido"...
Sabe-se que Nino Viera entrara numa no abandonado aquartelamento de Guileje, em 26 de Maio de 1973.
O António Rodrigues foi soldado do contingente geral enquanto o Ramon Perez Cabrera revolucionário internacionalista, logo carecido de fiabilidade... A Operação Abel Djassi foi desencadeada em Março de 1973 e não em Janeiro de 1974.
Boas ferias!
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Meu caro A.J.P.Costa

Não fiz porra de guerra particular nenhuma.
Os "pelart" eram autónomos.
Para fazer fogo não precisava de pedir autorização a ninguém..salvo quando havia operações em curso que como é evidente teria que haver coordenação com a "malta" que estava no mato.
Uma das funções principais era a defesa afastada dos aquartelamentos.
Sobre confundir o barulho da maré a vazar e viaturas no mato...foi "nabice" minha..confesso.
julgo que fui suficientemente claro.

Um ab

C.Martins

Anónimo disse...

Caríssimo AJP da Costa;

Certamente que os rateres que se ouviam e que nós confundíamos com o ruído das marés, eram, sem dúvida, dos submarinos que, para além dos blindados e dos MIGs, o nosso querido e em tudo transparente e em nada traiçoeiro IN já dispunha.

Uma vez vi um tubo ao largo do Cacine e só agora se me fez luz e concluí que afinal era, seguramente, o periscópio de um desses submarinos. Também já avistei o monstro do lago de Lochness. Num filme qualquer.

O Caria Martins relata bem o que por ali se passava no ano de 1974. Até tive oportunidade de ter estado uma semana em Gadamael, onde ele se encontrava e sabemos do que falamos.

Quanto ao Camarada AMM, ele não entende nada de guerra no solo. E, lá de cima, quando sobrevoava a zona de Madina do Boé, nem distinguia a vida agitada das pessoas na Capital daquele País liberto e que nós ocupávamos. Não viu os quartéis, nem os blindados para cá e para lá. Pudera, andou sempre com a cabeça no ar, lá nas nuvens.

Meus Camaradas e Amigos, quem teve oportunidade de ver os soldados do IN, a sua aparência, o fardamento, o calçado e o demais equipamento que o IN possuía, terá ficado, como eu fiquei, com a certeza de que estávamos na presença de um verdadeiro exército regular ? quase que diria coitado do IN. E vêm-me falar que aquele "exército" até dispunha de viaturas blindadas. Haja bom-senso, Meu Caro AJPC. E o inquérito proposto é "tendencioso", pois, a final, não coloca questões, dá logo as respostas. Do género: Vamos sair da União Europeia com efeitos a partir de ontem ? e, Não quer mais continuar a integrar a UE ?. É só por a cruzinha num desses quesitos.

O Magalhães Ribeiro que conheceu mais alguns desses elementos que diga o que achou e com que ideia ficou deles. Dá para ver nas fotografias que ele publicou.

Isto só na guerra do Furtado. Que em determinadas matérias só ouviu uma parte, esquecendo o contraditório. E o nosso AMM quando o entrevistaram, só respondeu, praticamente, à questão de a FAP voar ou não voar. Ele afirma que voava e eu sei que voava, porque os via passar. Mas há quem afirme que já não levantavam da placa. Vamos fazer o quê ?. É a guerra do Furtado que fica como documento para a história ?!.

Pode ser que este blog sirva para alguma coisa quanto a esse tema.

Pode parecer estranho e peço muitíssima desculpa aos Camaradas que nasceram antes de mim e que por lá passaram. Mas eu continuo a pensar: " Coitadas daquelas pessoas". Estavam mesmo em baixo.

Naturalmente graças à acção dos Camaradas que por lá passaram antes de mim e do C. Martins. Disso ninguém tenha dúvidas.

Joaquim Sabido
Évora

Carlos Vinhal disse...

Caro C. Martins,
Fiquei admirado com essa de o Comandante de Artilharia fazer fogo a seu belo prazer, isto fazendo fé no que escreveste: "Para fazer fogo não precisava de pedir autorização a ninguém..."
Não é que eu perceba de guerra, uma vez que fui um simples Fur Mil (básico), mas julgava que a Artilharia estava sob as ordens do Comandante do Aquartelamento, já que estaria integrada num existente Plano de Defesa. Não estou a ver tu acordares mal disposto, apetecer-te dar uns tiritos e pores-te a assustar o pessoal todo.
Ao que sei, e sei pouco, havia planos de defesa, previamente estabelecidos, com direcções e alcances de tiro para a Artilharia, conforme, por exemplo, os locais de onde o aquartelamento era atacado. O mesmo se passaria para o morteiro 81. Quanto à tropa fandanga, esta agia mais ou menos empiricamente, com mais ou menos eficácia.
Verdade verdadinha é que sei do que estou a falar pois fui um dos que ajudou a pôr no papel (vegetal) o Plano de Defesa de Mansabá. Com esquemas e texto.
Abraço
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil da CART 2732
Mansabá, 1970/72

Armando lopes disse...

Tenho a comentar o seguinte,estive numa zona da guiné entre mampata, aldeia formosa, buba, nhala,e por aí fora por onde passou a estrada entre aldeia formosa e buba,á medida da sua progreção ia-mos improvisando pequenos aquartelamentos com tendas de campanha para a proteção de máquinas e da respectiva estrada,por isso ficava-mos lá de dia e de noite,e nunca ouvi falar de viaturas do in. nem nunca ouvi qualquer ruido que não fossem das nossas viarturas. Agora depois de qurenta e dois anos é que estou a ler estes comentários. Quem chegou a ouvir pela radio discursus da "maria turra" também diziam que eram os maiores que faziam e aconteciam mas era tudo publicidade enganosa,tudo que comentava eram mentiras de bradar aos céus não acontecia nada do que falava,nós é que estava-mos lá mato dentro dia e noite e sabia-mos muito bém dos factos. N.B. A guerra não foi ném nunca seria ganha por meia duzia de turras que só destabilizavam com meia duzia de tiros e punham-se logo na alheta mal a nossa malta lhes caia em cima, aguerra foi perdida aqui pelos capitães de abril que á força das armas fizeram o que todos sabem.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No Arquivo Amílcar Cabral, tratado e disponiblizado para o grande público pela Fundação Mário Sores, no portal Casa Comum, não há qualquer referência a viaturas blindadas entregues pelos russos no porto de Conacri... Estamos a falar de 10 mil documentso, que abrange, todo o período da guerra de "libertação",,,

Até finais de 1971, a ex-União Soviética só fornecia armas automáticas, RPG 7, munições, fardamento, medicamentos e coisas assim... E mesmo assim era preciso negociar com o "ciumento" Sekou Touré...que não perdoava a Amílcar Cabarl o crescente prestígio e protaganismo a nível internacional e o leque de alianças e apoios (que ia da Suécia à China)...

Felizmente para nós, parte do armamento e das munições deviam ser "obsoletos"... São os próprios e "insuspeitos" cubanos que dizem que 40% das granadas lançadas contra Copá em janeiro de 1974 não rebentavam!... (As culpas tanto podiam ser dos fabricantes como, mais provável, das condições de transporte, armazenamento e operação).

BRDM para o Amílcar Cabral ? Devem ser fantasias dos burocratas da 2ª Rep, para justificar o seu ordenado ao fim do mês e as horas de tédio (e de algum cagufe) passadas em Bissau... A gente sabe como funcionava a nossa "inteligentsia" na Guiné, incluindo os "broncos" da PIDE/DGS...que tinham a 4ª classe mal tirada...

O PAIGC nunca teve, ao que parece, este tipo de veículos... Os russos terão oferecido, em 1969, 10 BRDM-1 (5 toneladas e meia + 4 tripulantes e depósito de 150 litros de gasolina)... "Sucata" que o Sekou Touré poderá ter disponibilizado, depois da morte de Amílcar Cabral, aos homens do PAIGC... que ele precisava de controlar... Mas aquela viatura devia gastar 100 aos 100 !...

Como é que vocês queriam vê-la a passar o "arco de triunfo" em Bissau ?ou a passar a ferroa s 3 fiadas de arame farpado de Jemberém ?

https://pt.wikipedia.org/wiki/BRDM-1

Quanto às BRMD-2 (versão posterior, melhorada, 7 a 8 toneldadas!), era muito menos provável que os guerrilheiros do PAIGC alguma vez lhes tenham posto a vista em cima... a não ser, já reformados, em 1998, quando a Ucrânia ofereceu à Guiné-Bissau quatro veículos desses, se calhar a cair de pobres... Quie até a caridade tem um preço!

Angola teve 50, mas já em plena guerra da chamada "2ª independência"...

O BRMD-2 era um "besta" de 7 a 8 toneladas, com uma tripulação de 4 elementos (condutor, adjunto, comandante apontador de metralhadora pesada...) e um depósito de 290 litros de gasolina, 5,75 metrso de comprido... Onde é que o PAIGC tinha gente com unhas para manobrar um "anfíbio" destes ? E sobretudo logística ? E depois era um alvo fácil para a nossa aviação...


(...) O BRDM-2 (Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, Боевая Разведывательная Дозорная Машина, literally "Combat Reconnaissance/Patrol Vehicle"[5]) is an amphibious armoured patrol car used by Russia and the former Soviet Union. It was also known under the designations BTR-40PB, BTR-40P-2 and GAZ 41-08. This vehicle, like many other Soviet designs, has been exported extensively and is in use in at least 38 countries. It was intended to replace the earlier BRDM-1, compared to which it had improved amphibious capabilities and better armament. (...)


https://en.wikipedia.org/wiki/BRDM-2

Anónimo disse...

VOLTANDO À "VACA FRIA"

Caros camaradas em geral e infantes em particular.

Claro que podia fazer fogo sem pedir autorização,esta estava implícita devido à autonomia dos "pelart".
É evidente que havia um plano de defesa e tinha os dados de tiro já previamente calculados.
Na situação descrita fiz fogo para a picada existente entre Sangonhá e Canturé.
Também podia acordar mal disposto e mandar fazer tiro..o que nunca fiz..e se o fizesse iria como é evidente responder por isso junto do comandante do COP 5.
No caso em concreto justifiquei com a minha "nabice"..ao confundir barulhos..tendo da parte do comandante do COP 5..O Capitão tenente "fuzileiro" Heitor Patrício...como resposta uma gargalhada.
Esclarecido meu caro camarada Carlos Vinhal.
Um ab

C.Martins

Anónimo disse...

PS

levaria uma "porrada" de certeza se fossem mesmo viaturas e não fizesse fogo, pensando que era a maré a vazar.

C.Martins

JD disse...

Posso tirar uma conclusão?
Se tivesse havido viaturas blindadas ao serviço do PAIGC, elas não seriam um equipamento vantajoso para aquele tipo de guerra, tal como as nossas congéneres blindadas não nos davam especial superioridade. Mas nós tínhamos aviação. Vamos supor que receberam essas viaturas, incompatíveis para o que queriam, até por neutralizarem a surpresa, poderiam ter dado cabo delas, e dessa decisão terá resultado a tanga da mina em Copá, da mesma maneira que em Bajocunda havia um cemitério de viaturas "a andar", que, por outras razões, garantiam auspiciosos mapas sobre consumos de gasolina. Aviação, também não tinham. Apoios internacionais tinham, na ONU, e de índole financeira mais umas suecas que faziam enfermagem. De novidade, em 1973 foram os mísseis, que tiveram um êxito relativo, pois foram logo controladas as situações e a FAP bem poderia ter exterminado a raça turra nas bases do outro lado. Até o direito internacional nos garantia a viabilidade (direito de) de resposta, e Portugal era o melhor aliado do mundo ocidental para a defesa da Africa austral.
Ora, o Camarada Pereira da Costa, então capitão, faz hoje a apologia da derrota, o que, de facto, vaio a acontecer, porque um grupo de oficiais do QP, com o entusiasmo de outros imberbes milicianos progressistas e vagamente conhecedores das coisas do mundo, decidiram virar o bico ao prego. Aliados com os exilados que em foruns e convénios penavam as "dores e sofrimentos" dos acusadores de colonialistas e exploradores, num instante, e por oportunismo de boa parte dos orgãos de comunicação, fizeram crer que o destino justo do ultramar era a entrega aos ostracizados movimentos de libertação - vulgo "turras", que, sem o apoio popular, mas com o apoio e determinação do MFA, que promoveu sucessivas alterações de promessas e tratados, puseram a andar os portugueses de quaisquer raças, e deram especiais apoios com vista aos dramáticos genocídios, roubos e outras iniciativas horrorosas que persuadiram ao abandono das élites de cada provincia. Desse afundanço ainda não recuperaram, enquanto a metrópole perdeu a soberania, a capacidade e atractividade para o investimento, e prossegue na senda de mais dinheiro por menos trabalho, apoiada por um regime dito democrático, em que um voto tem apenas o valor de um cheque em branco. A demagogia está a vencer! o país derrotado parece estar a ganhar, mas não acredito que o pão continue a cair do céu por muito tempo, pelo que, resignadamente, aguardo por tempos piores, quando tivermos que vergar a mola para comer. A traição só tem sido compensadora e trampolim para vaidades obscenas das corjas dirigentes e classes apoiantes.
JD

antonio disse...

Caros Camaradas!

Confirmo que, durante a flagelação a Copá, no dia 03-01-74, que teve início cerca das 23,00 horas e terminou às 02,00 horas da madrugada seguinte, mais de 50% das granadas disparadas pelo PAIGC não explodiram, em cada três, só uma rebentava, as outras duas caiam e desapareciam pela terra dentro. Desconheço qual a razão porque isso aconteceu.

BLINDADOS: Pois, se nunca os viram, sorte a vossa (digo eu).
Não me parece que o barulho das marés se ouvisse em Copá.

A 7-1-74 em Copá, confirma-mos a presença de dois, não quatro como alguém acima escreveu.
Um deles penetrou dentro do aquartelamento cerca de 10 metros derrubando as duas fileiras de arame farpado, como pudemos confirmar na manhã seguinte e, disparava sobre nós umas munições cujos invólucros mediam cerca de 20 a 25 milímetros de diâmetro.
Fizemos-lhe frente com o morteiro 60, que era a arma que no momento estava mais próxima dele.
Não nos apercebemos do rebentamento de qualquer mina, pelo que, não acredito nessa versão deles porque, terminada aquela 01.05 horas de fogo, eles apanharam sim pelo menos dois feridos ou mortos para uma das duas viaturas junto do arame e retiraram rapidamente.

Se tivessem que rebocar a viatura acidentada, acho que não teriam saído dali com tanta facilidade, pois nós também não estava-mos lá a dormir.

A estória da morte do Comandante deles ao accionar a referida mina, só a ouvi recentemente e não acredito nela, até porque não vimos ali por perto qualquer vestígio desse rebentamento.
Ele pode ter sido um dos dois feridos junto ao arame por uma granada do nosso morteiro 81, onde havia muito sangue em dois locais a cerca de dois metros um do outro e onde deixaram também, um carregador de uma arma, uma caixa de munições, um kiko e um maço de tabaco.

Já depois do 25 de Abril, num dos primeiros encontros com os Comandos do meu Batalhão, junto à fronteira de Pirada com o Senegal, os elementos do PAIGC fizeram-se deslocar ao mesmo acompanhados de uma dessas viaturas, da qual alguns camaradas meus possuem fotos.

Isto foi o que eu vi e não estava lá sozinho, agora toda a gente tem o direito de duvidar.

A todos abraço com amizade.
António Rodrigues.

antonio disse...

Onde digo "não quatro como alguém acima escreveu", referia-me ao texto do Ramon Pérez Cabrera que diz que, a 7 de Janeiro de 1974, tinham a apoia-los em Copá 4 blindados.
A ser verdade, então os outros dois ficaram ao largo, porque nós não vimos quaisquer vestígios dos mesmos.
Primeiro aproximou-se um, que foi o que derrubou o arame e chegou a entrar e quando este começou a retirar, aproximou-se um segundo que veio recolher os feridos ou mortos junto do arame e depois retira possivelmente de marcha a traz sob pressão do nosso fogo, durante cerca de 50 metros.

Digo isto porque, nas marcas dos largos rodados não se viam sinais de manobras de inversão de marcha, por isso ele retira em cima do mesmo rodado e paralelamente, via-se no chão o rasto dos corpos, que só depois meteram dentro do blindado.

Abraço.
António Rodrigues.