"Pintado a carvão..."
É só preciso um papel.
Agarro um naco de madeira queimada,
fecho meus olhos e espero a ideia.
Ataco o quadro.
Traço-lhe um esboço.
Encho-lhe o meio
com traços vincados.
Avivo-lhe os olhos.
Adoço-lhe o queixo.
Cubro-lhe a nuca
com arte rupestre.
Sobram-lhe pelos
por cima dos olhos.
Assoo-lhe o nariz com um trapo de giz.
Sirvo um bigode de estopa.
Abro-lhe a boca
e pranto-lhe os dentes.
Falta-lhe um.
Arrebito-lhe um cachimbo
em forma de cone.
Chego-lhe o fogo.
Eis que um quadro bem posto,
regado a carvão,
emerge da sombra
e brilha ao sol...
Roses, 7 de Julho de 2016
9h54m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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"A palmos..."
Porquê se mede a palmos
os poços e covas mortais
e em centímetros o tamanho da gente?
Porquê tanta ganância,
se basta um sopro mais forte de vento
e tudo se estatela no chão.
Por mais faustoso e potente
seja o paquete,
basta o arrombo dum toque no gelo
e, num instante, vai tudo ao fundo.
Que pode o valentão sem rival,
se, de repente,
lhe cai uma entorse no pé?...
Roses, 9 de Julho de 2016
8h4m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16282: Blogpoesia (459): "Palavras que o vento eleva" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
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