É costume dizer-se que Basto não é Minho nem Trás-os-Montes, é ambas as coisas. De facto, as Terras de Basto estão divididas administrativamente por dois distritos, localizadas numa zona de transição entre o Litoral Norte e o Interior de Trás-os-Montes. Contudo, os concelhos que as constituem (Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena) representam uma zona contínua e homogénea centrada sobre o Rio Tâmega, considerado, por si só, um elemento tradicionalmente aglutinador. Aliás, a água é o elemento sempre presente em Basto, quer pela sua qualidade e importância nas actividades rurais tradicionais, desde os vinhedos aos lameiros, quer pela beleza que confere à paisagem.As paisagens de Terras de Basto encontram-se dispostas em anfiteatro sobre o Tâmega e limitadas por um conjunto de formações montanhosas o que, em termos físicos, lhe confere uma grande coesão interna. Com vias de comunicação deficientes, tanto com o exterior como a nível interno, até há bem pouco tempo, constituem, hoje, com as novas acessibilidades, um “concentrado” de ruralidade de fácil acesso para uma partida à descoberta do Portugal genuíno – onde a terra ainda é medida em “carros de pão”, “pipas de vinho” e “cabeças de gado” que alimentam.”
In Terras de Basto, sítio da Probasto
1. Há terras do Portugal profundo que tem a sorte de ter o seu poeta, cantor ou músico... Mondim de Basto, ou melhor, as Terras de Basto, têm o privilégio de, a par da beleza telúrica, da tradição histórica e do património cultural, poderem orgulhar-se da voz que as canta. Se uma imagem vale mil palavras, um poema é um caleidoscópio. Não há fotografia que substitua um poema.
Luís Jales de Oliveira é filho de Mondim de Basto, nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande. Recorde-se que foi fur mil trms inf, Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74). É autor de um dos mais belos poemas, que eu tenho lido, sobre a a Guiné e a guerra colonial: Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)" (*).
Já aqui fizemos referência ao seu livro "Corre-me um Rio no Peito" [ed. de autor, 2010, Mondim de Basto, 72 pp. ], que merece uma leitura mais atenta e saboreada, numa esplanada à beira mar, nestas tardes quentes de agosto.
Hoje trago, com notas rápidas, manuscritas, salpicadas de areia e maresia (**), um outro livrinho, mais antigo, onde o Tâmega, o seu "rio sagrado" e a sua "fonte de inspiração", a par do Monte da Senhora da Graça, antigo vulcão, continuam a ser dois pontes cardeais, balizas ou âncoras do poeta. O livrino, de 49 páginas, foi editado em 1995.
Dele tomo a liberdade de escolher e reproduzir, com a devida vénia quatro ou cinco poemas, que evocam com magia e emoção aquelas terras de que eu também sou vizinho (pelo lado da Alice), mas conheço mal, ou seja, como turista apressado, isto é, como "estúpido em férias", motorizado... Lido a esta distância (física e temporal), o livro do Luís Jales é um apelo a um visita, mais demorada e sentida, às "terras de Basto", numa próxima oportunidade.
Num exemplar autografado que o autor teve a gentileza de me remeter pelo correio, escreveu como dedicatória:
"Aqui vai um 'cheirinho' do nosso Basto, para o Luís Graça, com um enorme e reconhecido abraço".
Num exemplar autografado que o autor teve a gentileza de me remeter pelo correio, escreveu como dedicatória:
"Aqui vai um 'cheirinho' do nosso Basto, para o Luís Graça, com um enorme e reconhecido abraço".
Fonte: Luís Jales Oliveira – Basto (poemas). [Mondim de Basto], edição de autor, 1995, 49 pp. [Obra subsidiada pela programa LEADER Probasto]
GRAÇA
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20
GRAÇA
No cimo do monte
há uma capela,
E cada veza
que olho para ela,
Apetece-me
voar…
E humilde
peregrino,
Vou em
ânsias de menino,
Lá rezar.
No cimo do monte
há uma capela,
E cada veza
que entro nela,
Vivo um
mistério profundi:
Senhora,
Senhora,
Que feitiço
derramais,
Que o mais comum dos mortais
Que o mais comum dos mortais
A teus pés é
Rei do Mundo ?
p. 43
CAMILO
Pairando em
redor como fantasma,
Da mais bela de Friúme,
Da mais bela de Friúme,
Camilo
viverá, segundo o plasma,
Do amor, da
loucura e do ciúme.
E aqui, “por
entre fragas,
Onde nascem
flores que são mulheres”,
Cumpre-se a
sina:
O estro de
Camilo ri-se das chagas,
Colhendo,
apaixonado, malmequeres,
Para o
túmulo de Joaquina!
p. 40
BASTO
Somos Minho
e Trás-os-Montes,
Somos
sequeiros e fontes,
Dualidade
assumida!..
Somos ânsia
de arado,
Somos vinha
de enforcado,
A
enroscar-se na vida!
p. 26
TERRAS DE BASTO
A Norte,
Quadrilátero
esqueratelado,
Que o
sagrado Tâmega escancara,
E franqueia,
Entre Douro
e Minho lhe fadou a sorte,
Avara,
Por entre fragas de epopeia.
Quinhão,
Que a coluna
vertebral do mundo,
No cilo
ardente dos castos,
Emprenha,
Lameira e
Alvão, Cabreira e Marão,
Padastros,
Da Rainha
montanha.
E feitiço
dos feitiços,por olhado ou condição,
O tempo
gerou o reino que o pr+óprio tempo escondeu:
Para cá do Marão mandam cá os que cá estão,
Para cá do Marão mandam cá os que cá estão,
Que até
aqui Basto eu!
p. 15
VISÃO
Desta meteórica fraga altaneira,
Partem sedentos os olhos quando te chamo:
Bendita sejas, ó terra, na terra inteira;
Este é o ditoso Basto que eu tanto amo!
p. 17
p. 15
VISÃO
Desta meteórica fraga altaneira,
Partem sedentos os olhos quando te chamo:
Bendita sejas, ó terra, na terra inteira;
Este é o ditoso Basto que eu tanto amo!
p. 17
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(*) Vd. poste de 16 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16208: Blogpoesia (453): "Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém (Gadamael Porto, Guiné, 1973)", de Luís Jales de Oliveira: um dos mais belos poemas da guerra colonial, inspirado pelo Rio Cacine, mas com o Rio Tâmega no coração, quando o poeta, vindo de Bolama, estava a caminho de Gadamel onde foi colocado com a sua CCAÇ 20
1 comentário:
O meu profundo obrigado pelos livros que me mandaste, da tua lavra. É uma boa altura para os ler e reler, com tempo e vagar.
Um sugestão em relação ao "Basto" e ao verso "Para cá do Marão (...). É possível que seja uma gralha, acho que ficaria melhor, para evitar a cacafonia, "Para cá do Marão mandam os que cá estão"...
Um abraço fraterno e telúrico, Luis Graça
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