Cabo Verde > Ilha do Sal > Vista de Santa Maria (1)
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Capa da brochura, "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)
Brochura digitalizada a partir de cópia pessoal do Augusto Silva Santos
1. O nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) [. foto à direita,] teve o pai, na II Guerra Mundial, como expedicionário em Cabo Verde: o Feliciano Delfim Santos (1922-1989) era 1º cabo da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 [, foto à esquerda].
Do seu espólio, o filho aproveitou 33 fotos que, depois de digitalizadas, foram enviadas para publicação no nosso blogue, bem como um exemplar da brochura que agora vamos apresentar... O Augusto mandou-nos cópia em pdf e faz gosto em partilhá-la com todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam à sombra do mágico poilão da Tabanca Grande.
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do governador civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada, tem 76 páginas, inumeradas. É seu autor José Rebelo, antigo expedicionário e na altura, em 1983, capitão SGE. Não sabemos se ainda hoj3 é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada merece, onde quer que esteja, as melhores manifestações do nosso apreço e gratidão.
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do governador civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada, tem 76 páginas, inumeradas. É seu autor José Rebelo, antigo expedicionário e na altura, em 1983, capitão SGE. Não sabemos se ainda hoj3 é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada merece, onde quer que esteja, as melhores manifestações do nosso apreço e gratidão.
O Augusto Silva Santos e os editores do blogue defendem que é um "dever de memória" e uma obrigação salvaguardar e divulgar esta brochura, já rara, da qual se fizeram 1000 exemplares. A execução gráfica esteve a cargo da Setulgráfica, de Setúbal.
Pelo relato do José Rebelo, sabe-se que:
(i) o 1º Batalhão do RI 11, que esteve do Sal, era composto por 852 homens, a grande maioria oriundo do distrito de Setúbal;
(ii) a ilha era escassamente era povoada ("meia dúzia de casas"...);
(iii) as únicas atividades produtivas, além da pesca artesanal, eram a exploração de uma mina de sal e um fábrica de conservas de peixe (atum);
(iv) tiveram que recrutar lavadeiras de outras ilhas (Boavista, São Vicente e Santiago), que não as havia na ilha do Sal;
(v) nem sequer havia padre na ilha, apenas uma professora, na vila de Santa Maria, a "capital";
(vi) o aquartelamento era na Pedra de Lume, perto das minas de sal, no nordeste da ilha;
(vii) a água potável era racionada, tomando-se banho e lavando-se a roupa com água salgada;
e, por fim, (viii) cerca de duas dezenas de homens do 1º batalhão do RI 11 morreram de doença, ficando sepultados na ilha.
A par dos Açores, Cabo Verde (e muito em particular a ilha do Sal e a ilha de São Vicente) tinha um papel estratégico na defesa contra eventuais ataques das potências envolvidas na II Guerra Mundial: a ilha São Vicente, por causa do porto de Mindelo; a ilha do Sal por causa das suas infraestruturas aeroportuárias... (E, no caso dos Açores, por ser um verdadeiro "porta-aviões" natural, no meio do Atlântico, tendo vindo a revelar-se decisivo para o desfecho, a favor dos Aliados, da guerra do Atlântico Norte).
A ilha do Sal, mais especificamente, tem também um papel na história da aviação comercial e nomeadamente no desenvolvimento das ligações transatlânticas (entre a Europa e América do Sul)... Sabe-se que por volta de 1935/36 os italianos estavam muito empenhados em construir um aeródromo, em Cabo Verde, que permitisse à sua aviação comercial fazer uma escala, a meio do Atlântico, na longa viagem entre Roma e as capitais dos países da América do Sul onde viviam importantes comunidades de origem italiana.
A escolha acabou por recair no Sal (uma ilha plana com 30 km de comprimento e 12 km de largura, no sentido leste-oeste), com o beneplácito de Salazar: a 13 de agosto de 1939, os italianos fazem desembarcar material destinado ao início das obras de construção do aeródromo (oficinas, central eléctrica, posto de rádio, camiões, etc, além de chefes, técnicos e operários). Em escassos meses foram montados os pré-fabricados, foi construída uma pista de terra batida, e instalaram-se os indispensáveis serviços de apoio (hangares para os aviões, oficinas de manutenção, rádio, posto de meteorologia, armazéns, escritórios, hotel, locais de habitação, hospital)...
A linha Roma-América do Sul vai funcionar até maio de 1940, ou seja, até à entrada da Itália na guerra, ao lado da Alemanha. O aeroporto fica desativado até ao final do conflito, altura em que as suas infraestruturas são adquiridas pelo governo português... No pós-guerra, foram feitos bastantes melhoramentos, com destaque para a construção de uma pista asfaltada de 2200 metros. O novo aeroporto internacional (hoje batizado Amílcar Cabral) foi inaugurado em 15 de maio de 1949.
A escolha acabou por recair no Sal (uma ilha plana com 30 km de comprimento e 12 km de largura, no sentido leste-oeste), com o beneplácito de Salazar: a 13 de agosto de 1939, os italianos fazem desembarcar material destinado ao início das obras de construção do aeródromo (oficinas, central eléctrica, posto de rádio, camiões, etc, além de chefes, técnicos e operários). Em escassos meses foram montados os pré-fabricados, foi construída uma pista de terra batida, e instalaram-se os indispensáveis serviços de apoio (hangares para os aviões, oficinas de manutenção, rádio, posto de meteorologia, armazéns, escritórios, hotel, locais de habitação, hospital)...
A linha Roma-América do Sul vai funcionar até maio de 1940, ou seja, até à entrada da Itália na guerra, ao lado da Alemanha. O aeroporto fica desativado até ao final do conflito, altura em que as suas infraestruturas são adquiridas pelo governo português... No pós-guerra, foram feitos bastantes melhoramentos, com destaque para a construção de uma pista asfaltada de 2200 metros. O novo aeroporto internacional (hoje batizado Amílcar Cabral) foi inaugurado em 15 de maio de 1949.
Percebe-se melhor agora a "missão de soberania" que foi confiada aos "expedicionários do Onze" (mas também do RI 2)... De resto, o esforço de guerra do país, nessa época, não é conhecido (ou é muito mal conhecido) de muitos de nós: em outubro de 1943, eram mobilizados no continente 60 mil homens, juntando-se aos 40 mil espalhados pelos Açores, Cabo Verde e colónias.
Estima-se que, entre 1940 e 1945, o nº de homens em armas ascendesse aos 180 mil. Por sua vez, a modernização do exército, neste período, implicou uma despesa extraordinária com rearmamento que, a par da mobilização, auumentou 12 vezes e meia em escassos anos, passando dos 90 mil contos (em 1937) para os 1124 mil contos (em 1943) (Quadro a seguir).
Estima-se que, entre 1940 e 1945, o nº de homens em armas ascendesse aos 180 mil. Por sua vez, a modernização do exército, neste período, implicou uma despesa extraordinária com rearmamento que, a par da mobilização, auumentou 12 vezes e meia em escassos anos, passando dos 90 mil contos (em 1937) para os 1124 mil contos (em 1943) (Quadro a seguir).
Fonte: Portugal. Assembleia Nacional. Diário das Sessões. IV Legislatura, Sessão nº 11, em 14 de dezembro de 1945, p. 130. Intervenção do deputado Sá Viana Rebelo.
Até agora sabemos da existência de dois familiares de camaradas nossos que fizeram parte do 1º batalhão do RI 11: além do pai do Augusto Silva Santos, o 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989), temos o tio do Benjamim Durães, o soldado atirador António Joaquim Durães. É possível que haja outros... (LG)
"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)
Parte I (pp. inum, 1 a 5)
2 comentários:
Camaradas
Estes artigos revelam-se interessantes e particularmente atractivos para quem gosta da História e de histórias.
A mim, para além disso, provocam-me alguma tristeza por não poder agora aprofundar mais estas situações e confirmar, acrescentando algo, pois já não tenho forma de o fazer.
O meu pai já faleceu, faz tempo, e as vagas referências à sua vivência por lá são poucas e já imprecisas.
lembro-me dos relatos das "fomes" e pouco mais.
Quando li "Hora di Bai" ainda me recordo de ele dizer que era assim memso, mas pouco mais.
Hélder Sousa
Hélder: Também a mim me dá uma grande “nostalgia”, ao ver estes relatos e estas fotos… Os nossos pais estiveram em São Vicente, terra da grande Cesária, o meu (Luís Henriques) em 1941/43, o teu (Ângelo Ferreira de Sousa) a seguir (1943/44)…
Os nossos pais já morreram, e as fotos dos seus álbuns já aqui foram partilhadas…Mas a s legendas são lacónicas…Gostaríamos de ter tido mais tempo para eles nos poderem falarem dessa época em que partiram para uma terra distante (mas que lhes ficou no coração) em missão de soberania, na defesa da Pátria e do Império… Terra de dor mas também de “morabeza”…
O seu sacrifício foi esquecido pela Nação e pelas gerações seguintes. São tão escassas as referências a este período em que o mundo esteve a ferro e fogo…e em que Portugal teve que preparar à pressa 180 mil homens em armas e modernizar, minimamente, o seu obsoleto exército…
Vd. Poste de 9 DE SETEMBRO DE 2009
Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/09/guine-6374-p4926-meu-pai-meu-velho-meu.html
Vejo que nos álbuns dos nossos pais havia fotos do famoso estúdio Foto Melo. Temos que falar desta verdadeira instituição que foi a Foto Melo, fundada pelo fotógrafo amador Djindjon de Melo (João Henriques de Melo), filho de mãe cabo-verdiana e pai português, nascido na ilha de Santiago. O seu estúdio de fotografia no Mindelo foi depois continuado pelos seus (oito) filhos… Boa parte das fotografias que os nossos expedicionários mandavam para as famílias e namoradas era da Foto Melo…
A casa, Foto Melo, foi fundada em 1890 e funcionou durante um século. A iconografia e a história de Cabo Verde muito lhe devem. Para saber mais, vd. qui:
http://www.lupa.com.pt/site/ficheiros/14030355222.pdf
Abraço, Luís
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