quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19286: FAP (113): Os pilotos do Lobo Mau (helicanhão), José Duarte Príncipe e Raul Coelho, foram quem identificou e sinalizou a ambulância russa do PAIGC, entre Copá e a fronteira do Senegal, quando estavam a dar proteção ao grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", em fevereiro de 1974 (Miguel Pessoa)


Guiné > Região de GTabu > Setor L3 >  Nova Lamego >  1974 > ; Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelas NT em fevereiro de 1974. (*)

Foto (e legenda): © António Santos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu >  Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > O fur mil mec auto Amílcar Ventura em ambulância capturada ao PAIGC [, entre Copá e a fronteira, em fevereiro de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do cap paquedista Valente dos Santos, da CCP 122 / BCP 12,  BA 12, Bissalanca, 1972/74. Fotos do álbum de Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves. (**)

Foto (e legenda): © Amilcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS/BART 6523 (1973/74) >  O ex-1º cabo enf Alfredo Dinis, já falecido, junto à ambulância capturada ao PAIGC.

Foto do álbum do José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), residente em Beja. (***)

Foto (e legenda): © José Saúde  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 >  Mais uma foto da ambulância capturada ao PAIGC, de matrícula FF554CN.  Foto do álbum do camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá, ex-soldado condutor auto, da 1ª CCAV do BCAV 8323 (Bajocunda e Copá, 1973/74) (****)

Foto (e legenda): © António Rodrigues  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Miguel Pessoa,  com data de hoje, 17h36:

Caros editores

Li no blogue o texto do José Saúde sobre a famosa ambulância “sacada” ao PAIGC e trazida pelo Marcelino da Mata para o nosso território (Poste 19283) (***).

Sabendo de uma versão mais apurada do acontecido, resolvi contactar o José Duarte Príncipe, o piloto do helicanhão que esteve envolvido directamente neste episódio e, porque não quero falar por interposta pessoa, pedi-lhe um comentário ao que ali foi escrito.

Aqui fica a sua resposta. Para que conste.

Abraço.
Miguel Pessoa

José Duarte Príncipe.
Foto: cortesia da sua  página do Facebook
2. Mensagem do José Duarte Principe, hoje piloto da aviação comercial, ref, ex-alf mil pil, AL III, Bissalanca, BA 12, 1972/74,  recebida e retransmitida pelo Miguel Pessoa:

Caro Miguel Pessoa:

Em resposta ao teu mail,  fui fazer uma visita ao blog que me enviaste e constatei que a história está incompleta (***).

De facto, o Marcelino participou com os seus "muchachos" no transporte e escolta à ambulância, inicialmente até Piche e depois até Bissau. (Esta segunda hipótese é apenas um palpite da minha parte, porque eu e o Raul Coelho estávamos em destacamento em Nova Lamego e aí permanecemos, não acompanhando portanto o seu trajecto até ao destino final.)

Efectivamente, a descoberta foi feita por mim e pelo primeiro cabo Cardoso, cuja destreza no canhão era sobejamente conhecida .

O avistamento do veículo aconteceu durante uma acção de apoio de fogo e reconhecimento da área em que o Marcelino estava a operar na picada entre Bajocunda e Daifa,  no pressuposto de existir armamento abandonado pelo PAIGC no trajecto entre as duas povoações .

Foi com alguma dificuldade que conseguimos identificar o veículo, porque estava coberto com um camuflado - o que inicialmente, pela silhueta, nos pareceu um carro de combate parecido ás nossas Panhards.

Depois de algumas manobras á vertical,  pedi ao Cardoso para fazer um tiro, com o intuito de acalmar algum "meliante"  que estivesse por perto e com vontade de nos "abonar".

Para grande surpresa nossa, como o tiro bateu relativamente perto do alvo, levantou-se o referido camuflado,  pondo assim a descoberto a tal silhueta, que mais não era que uma ambulância, por sinal muito parecida com as antigas Comet,  de fabrico inglês.

Depois disto, em contacto com o grupo do Marcelino, foi-lhe dada orientação por mim para o local que curiosamente era em território senegalês, bem encostadinho à fronteira que dividia os dois territórios.

A tarefa de recuperação do veículo não se apresentava fácil, porque a vegetação era densa em direcção á nossa fronteira e era necessário transpô-la o mais rapidamente possível para evitar surpresas ou encontros indesejados.
Marcelino da Mata, alferes graduado, c. 1974.
 Foto: DN - Diário de Notícias,
de 4 de janeiro de 1998 (com a devida vénia)

Para isso, foi necessário munir o grupo com uma motosserra que o Raul Coelho tratou de ir buscar a Nova Lamego, enquanto eu continuei a dar proteção ao grupo, não fosse o diabo tecê-las.

Quando o Raul chegou com o tão desejado equipamento, ficou ele a dar protecção á rapaziada, enquanto eu voltava à "rasquinha" de combustível para Nova Lamego para abastecer e substituir o Raul Coelho que também já estava perto do "bingo" (nos limites de combustível).

O resto foi uma alternância entre os dois na protecção ao Marcelino, que durou até ele conseguir chegar à picada e prosseguir depois duma forma mais rápida com destino a Piche, onde a ambulância permaneceu até ser enviada para Bissau dias depois.

Esta tarefa terá demorado seguramente parte de toda a manhã, entrando pela tarde,  até estarmos todos num estado de esgotamento apreciável.

Curiosamente descobri no Facebook o MMT do Exército que conduziu o veículo ao longo de todo o trajecto. Infelizmente não consigo as fotos que me enviou durante o nosso diálogo, porque ele desistiu de ser facebookiano e eu não guardei a preciosidade que as fotos representavam.

Espero que esta "seca" sirva para te esclarecer dos acontecimentos tal como foram vividos na altura.

Duarte Príncipe.


3. Comentário do editor LG:

Miguel, vem mesmo a propósito, o depoimento do teu amigo e nosso camarada José Duarte Príncipe... Nada como ir à fonte...O José Duarte e o Raul Coelho, pilotos de AL III, e os respetivos 1ºs cabos apontadores de canhão (O Cardoso e outro camarada, de que não sabemos o nome) é que são os heróis desta história, sem com isso queremos tirar o mérito ao grupo do Marcelino da Mata que trouxe o "ronco", a ambulância russa, até pelo menos Nova Lamego.

Eu já tinha ido recuperar um poste do Carlos Fernandes, de há oito anos atrás, em que ele diz ter feito parte do Grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", na qualidade de guarda-costas do cap pára Valente dos Santos ...e ter participado nesta operação (Op Gato Zangado)... O mérito da descoberto é do piloto do helicanhão, parece não haver dúvidas... E imagino que terá sido preciso muito sangue frio, persistência, coragem e perícia por parte dos pilotos... voando tão baixo.(*****).

Agradece muito, da minha parte, ao José Duarte Príncipe. Acabo de publicar a sua versão, preciosa, neste poste da série FAP... E já agora fica aqui o convite para ele (e o Raul Coelho) se juntarem aos bravos da Guiné, de terra, ar e mar, e dar-nos a honra, aos vivos e aos mortos, de sentarem à sombra do nosso poilão... (*******)

PS1 - O Carlos Fernandes, nosso grã-tabanqueiro, alega ter sido eliminado dos páras (CCP 122) pela "Aeronáutica Militar" (sic) em novembro de 1973... Não diz porquê... Passou para o exército e depois foi guarda-costas do Asterix (o Valente dos Santos)... Sabes algo mais sobre este camarada Carlos Fernandes, ex-1º cabo pára, também da CCP 122 / BCP 12, que andou por lá entre finais de 1971 e agosto de 1974 ?...  Vd. aqui entrevista sua ao DN, Diário de Notícias, de 4 de janeiro de 1998. Nâo tenho há muito notícias dele.

PS2 - Em complemento, o Miguel Pessoa diz.me que o Duarte Príncipe e o Cardoso formavam a equipa do Lobo Mau (Helicanhão). O Raul Coelho também pilotava na altura um Helicanhão, AL-III.  Devia também um apontador. Não era habitual haver uma parelha de helicanhões numa operação.  Mas nesta operação (Op Gato Zangado) talvez se justificasse. Quanto ao Carlos Fernandes, o MIguel não tem ideia dele.
______________

(**)  17 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)

(***) Vd. poste de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)

(****) Vd. poste de 3 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14214: Memórias de Copá (5): Janeiro e Fevereiro de 1974. (António Rodrigues)

(*****) Vd. poste de 21 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata

(...) Luis Graça, o que de momento me leva a enviar estas palavras é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira [com o Senegal]. Eu estive nessa operação, eu e o capitão Asterix (que não era o António Ramos, mas sim o Valente dos Santos).

Nessa altura, ou seja entre fins de 1973 a agosto de 74, quem fez parte do COE , foram o Major Veiga da Fonseca, do Exército, já falecido, e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos (...) . Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.

Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto (...) , fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo, os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda, andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro, do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança, a esse Alferes.

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e, na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas.

Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar, depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.(...)


(******) Último poste da série > 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Saúde: como vês esta versão é muito menos romântica e exaltante do que aquela que corria em Nova Lamego... Cada contista acrescenta um ponto ao seu conto...O Lobo Mau encontrou o esconderijo do Capuchinho Vermelho (a "sueca"...) mas ela não estava lá, deve ter ido regar.. as flores do jardim...

Obrigado, Zé e Miguel, por nos teres obrigado a relembrar e a rever esta história de guerra... O seu a seu(s) dono(s).

PS - Gostava que o régulo da Lapónia, o Zé Belo, comentasse esta "estória"... O que é que andaria uma enfermeira sueca a fazer a norte de Copá, por volta de fevereiro de 1974 ?... Os "tugas" de Nova Lamego devem ter caído na esparrela da Maria Turra quando ela lhes contou a "sua" história do Lobo Mau e do Capuchinho Vermelho... Na realidade, mais do que ouvir, é preciso "saber ouvir"...

José Saúde disse...

Luís, eis a questão, ou seja, levantei o véu da "sueca" (rapariga que entretanto se pirou para regar o seu lindo jardim lá na sua santa terrinha) que fora então também motivo de conversa, todavia, nestas "estórias" há sempre quem acrescente mais um ponto ao conto do "lobo mau". Claro que não falaria de uma operação que eu desconhecia.

Falei da brava operacionalidade de Marcelino da Mata, e do seu grupo, e do nosso saudoso enfermeiro Diniz e da sua simplicidade no trato com um camarada. Mas tudo pela rama.

Reafirmo, porém, que importa mexer com a "coisa", pois só com um bom trocadilho de opiniões se retiram fidedignos resultados finais.

Mais uma vez obrigado Luís e a todos os camaradas que possam ajudar num esclarecimento que por vezes carece o aclarar da verdade dos factos e não optar pelo seu deturpar.

Abraço,

Zé Saúde

Luís Graça disse...

Oxalá o ten cor Marcelino da Mata ainda tenha pela frente muitos anos de vida com saúde, mas é uma pena que ainda não tenha publciado as suas memórias...

Já há tempos, num convívio da Tabanca da LInha, ele me referiu a existência de um jornalista que o queria ajudar a elaborar a sua autobiografia... Há muitas lendas e mitos criados à sua volta, à volta da sua história de vida e do seu currículo militar... Ele teria uma oportunidade (história) de contar a verdade dos factos na primeira pessoa do singular...

Já não o vejo há muito... Só o conheci pessoalmente cá, e muito superficialmente, nos convívios no 10 de Junho e na Tabanca da Linha. Luís Graça

José Saúde disse...

Luís, seria óptimo o tenente coronel Marcelino da Mata deixar a sua verdadeira história de guerra. Como dizes, e bem, existem eventuais lendas e mitos divulgados à sua volta que merecem o devido esclarecimento.

Ele foi, sem dúvida, uma referência na guerrilha da Guiné.

Zé Saúde

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Caro Luís Graça: Fico encantado quando pontualmente "chego" ao vosso site e nomeadamente quando vejo os elogios feitos ao Marcelino da Mata. Desde há dois anos que andei a tentar que fosse mais destacado pelo Estado Português. Depois de pôr a circular o facto de ele ter direito a uma 2.ª Torre Espada (TE), como aconteceu com o Marechal António de Spínola, já que depois de 1969, quando condecorado com a TE, ainda foi galardoado com mais 3 Cruzes de Guerra. Então no EME alguém teve a ideia de o promover a titulo excepcional, a Major, pois ainda é Capitão graduado em TCor. Este processo esteve à espera ao longo de 2017, de haver 3 gen.s para reunir o Conselho Sup. Ex. Quando tal estava decidido, apareceu o Min. Fin. nos 1.ºs meses de 2018 a afirmar que as promoções apenas ocorreriam em OUT2018. Só que o Gen. Rovisco deixou de ser CEME e agora ainda não sei se a "bola" está do lado do novo CEME ou do Dr. Centeno. Se me contassem uma história destas eu não acreditava....Ab e Bom Natal para todos.

Luís Graça disse...

Caros leitores:

Mais uma vez peço desculpa pelas "gralhas", o raio de ave que teima em conviver connosco no noso blogue...

Eu queria dizer, a propósito do Marcelino da Mata:

(...) "Já há tempos, num convívio da Tabanca da LInha, ele me referiu a existência de um jornalista que o queria ajudar a elaborar a sua autobiografia... Há muitas lendas e mitos criados à sua volta, à volta da sua história de vida e do seu currículo militar...

Ele teria uma oportunidade (HISTÓRICA) de contar a verdade dos factos na primeira pessoa do singular"...


Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Parece que o nome do Marcelino da Mata incomoda muitos militares portugueses e os seus feitos reais ou "miticos" incomodam ainda mais, sobretudo aos antigos combatentes metropolitanos que, certamente, nao o perdoam pelo seu surpreendente desempenho no terreno como militar a que as suas inumeras distinçoes, louvores e galardoes o provam de forma clara e irrevogavel.

Na realidade, os herois vivos, em todas as épocas e em qualquer lugar, incomodam sempre. As peripécias da sua vida em Portugal, apos o 25A1974, que o destino quis que o encontrasse fora da Guiné, testemunham que, contrariamente ao que muitos advogam, nao é evidente que os soldados africanos que serviram sob a Bandeira portuguesa durante a Guerra colonial, pudessem encontrar guarida e protecçao em condiçoes de igualdade, respeito e dignidade, em terras lusas apos o fim da Guerra.

Se calhar, foi melhor assim, como aconteceu, que tenham enfrentado o seu cruel destino aqui na Guiné, conforme foi a vontade das chefias militares que fizeram a descolonizaçao, quando lhes deram "férias pagas" de alguns meses, com guias e ordens de se apresentar em Janeiro/75, quando ja sabiam da irreversibilidade do processo e da saida definitiva de Portugal do territorio.

O Marcelino da Mata, na minha opiniao, nao precisa escrever a sua autobiografia, porque tudo é conhecido e esta nos arquivos militares portugueses. Caso fosse ele a escrever, muitos continuariam a nao acreditar e os mitos se eternizariam desacreditando-o, pois os seus feitos, bons e maus, sao pouco criveis.


Com abraços amigos,


Cherno Baldé


Antº Rosinha disse...

O Cherno Baldé tem razão no que diz, mas não diz tudo.

Não havia o direito de os tugas (e toda a europa colonial) ter abandonado milhares de tribos sem qualquer consciência nacionalista, nas mãos de uns pretensos nacionalistas, que transformaram África (subsariana) nuns países ingovernáveis durante várias gerações.

Foram imensos Marecelinos da Mata e inúmeras tabancas e sanzalas e seus régulos e sobas que aguentaram os 13 anos de guerra do ultramar, e que abandonámos nas mãos da "consciência internacional", isto é, abandonados aos "direitos humanos" e à ONU, essa coisa esquisita.

A Europa já está a sentir na própria pele, algumas consequências desses abandonos gerais.

No nosso caso, se Amílcar CAbral e Agostinho Neto e outros tivessem o carácter de um MAndela, talvez os Portugueses e os balantas se entendessem como os boeres se entenderam com os Zulus sem interferências directas de terceiros.

Mas os boeres já eram mais africanos que europeus, já tinham outra compreenção de África.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo com o Cherno.E comungo com o António Rosinha tudo o que escreve, sobretudo acerca do despudor e hipocrisia desssa malfadada ONU.
ABraços
Carlos Gaspar


Luís Graça disse...

Amigos e camaradas, ninguém deve ser instrumentalizado e usado como "arma de arremesso"... É o que acontece aos "heróis", de um lado e do outro...

No caso da Guiné-Bissau, nunca se fez uma reconciliação genuína entre as partes em conflito, e mais especificamente entre os guineenses que combateram de um lado e do outro... O Marcelino da Mata tem o direito de regressar ao seu país, se for essa a sua vontade... Mas nunca o irá fazer, porque teme pela sua vida... O problema é que "a guerra ainda não acabou" na cabeça de muitos...

Se tivesse havido um verdadeiro processo de reconcialiação, não teria acontecido o que aconteceu na Guiné-Bissau: a caça aos "cães do colonialismo", que redundou em tragédia: prisões arbitrárias, tribunais populares, julgamentos sumários, execuções sumárias, valas comuns... Homens e mulheres que tiveram que fugir do seu país, e que continuam a sofrer, como os comandos africanos ou os soldados da minha antiga CCAÇ 12 e todos os demais que lutaram ao lado dos "tugas"...

Na realidade, não são os generais que fazem a paz...mas os combatentes de um lado e do outro...

Moçambique tentou, e ao que parece com algum êxito, fazer esse processo de reconciliação... Na realidade, as guerras coloniais foram também guerras civis...
LG