segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé


Capa do livro"Voando sobre um Ninho de Strelas", de António Martins de Matos (Lisboa: BooksFactory,  2018, 375.pp.)


António Martins de Matos, ex-ten pilav, 
Bissalanca. BA 12, 10/5/1972 - 4/2/1974;
 ten gen ref.
1. Continuaçã da publicação de algumas notas de leitura do livro  "Voando sobre um Ninho de Strelas", do ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com 90 referências no nosso blogue), amanhã,  3ª feira, dia 11, às 18h00, em Lisboa  (*). 

Seleção,  da responsabilidade do nosso editor, de algumas frases e pequenos excertos, dando um a ideia do conteúdo, memorialístico, do livro (**)

‘Não tenhas medo, pá [, cabo mecânico,], estás a voar com um piloto dos jactos!’ (p. 143).

‘Meu tenente, os fios das antenas dos rádios lá dos FTs vêm presos à cauda do avião, DO-27]’… Desculpem lá o incómodo, (...) oxalá o correio tenha valido a pena (p. 144).

A área que me tinha sido atribuída para patrulhamento e identificação de eventuais alvos era a zona Norte da Guiné. Fiz inúmeros voos de DO-27 sobre o Morés e a Caboiana, às voltas e mais voltas e à procura das tais “áreas libertadas”, nunca tive qualquer problema e… nunca as vi. (…) Tínhamos uma regra que, pelos vistos, o PAIGC respeitava (quem tem c…, tem medo), se disparassem um tiro contra uma aeronave não demorava mais de quinze minutos até essa área ser completamente bombardeada. Era assim em toda a Guiné, fosse no Choquemone, Morés, Caboiana ou Cantanhez (pp.145/146).




Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > A mesa dos "pilotaços", Miguel Pessoa e António Martins de Matos, dois ex-ten pilav, da Esquadra de Fiat G-91 "Os TIgres",  Bissalanca, 1972/74.

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Em 25 de março de 1973, nas imediações de Guileje, foi abatido o primeiro avião [por um Strela]. Era tripulado pelo tenente Miguel Pessoa (Fiat G-91, nº 5413), a Esquadra [121, ] passou a contar com apenas 3 pilotos (p. 147).

(...) A morte do tenente coronel Almeida Brito[, em 28 de março de 1973,] foi um duro golpe no moral dos pilotos, já que, para além de ser o piloto mais experiente na Guiné, era igualmente o nosso Comandante (p. 150).

A morte do tenente coronel Almeida Brito incomodou-me na altura, voltou a incomodar-me quinze anos depois e… ainda hoje me incomoda (p. 151).

Durante a manhã de 6 de abril de 1973 foram abatidos o furriel João Baltazar (DO-27) e o major Rolando Mantovani (T-6), tendo igualmente desaparecido o furriel Fernando Ferreira (DO-27) (p.152).

No dia seguinte vários acontecimentos ocorreram: (i) um piloto de Fiat G-91 “adoeceu” (…), dos 6 pilotos que a Esquadra devia comportar, já só restavam dois, um capitão (comandante da Esquadra) e um tenente; (ii) um piloto de AL-III arranjou uma maneira simples de terminar a sua Comissão de Serviço, estava a limpar a pistola, ela disparou-se, um tiro numa perna; (iii) alguns dos pilotos de AL-III recusaram-se a voar enquanto não lhes fosse explicada que arma era aquela (p. 152).

(…) De súbito e sem que ninguém o esperasse, apareceu nas Operações do GO12 um documento de origem americana com a T.O. (Technical Order) do míssil soviético SA-7 Grail, designado com o código NATO de ‘Strela’. Nunca acreditei em milagres, mas que os há… há (…) (p. 152).

Foi preciso morrerem pilotos, mecânicos, enfermeiros, militares do Exército, para que finalmente soubéssemos que arma nos alvejava e pudéssemos estudar as respetivas contramedidas (p. 153).

Com a aplicação das contramedidas estudadas (e não obstante o PAIGC ter disparado cerca de 60 mísseis), a FAP apenas teve mais um avião abatido, a 31 de janeiro de 1974 (, Fiat G-91, nº 5437), na região de Canquelifá-Copá, tendo o piloto sido recuperado na manhã seguinte (p. 157).

No meu entender o míssil Strela influenciou de algum modo a guerra mas não teve o papel determinante que alguns teimam em lhe querer dar (p 157).


(...) O que perturbou a atuação da FAP não foi o míssil em si mas sim o período em que desconhecíamos que arma era aquela, que foguete era aquele que nos perseguia (p. 13).

Por mim, (…) a arma que mais influenciou a guerra na Guiné, não foi o Strela, arma de defesa antiaérea, mas sim… o morteiro 120 mm (p. 158).

Também tínhamos uma outra maneira de demonstrar que continuávamos a voar, na volta das missões [, incluindo o ataque a bases como Kambera, em território da Guiné-Conacri, finalmente com a autorização de Spínola] passarmos uma rapada sobre os telhados de Bissau só para animar a malta… Grande gozo nos dava, passar a raspar os telhados da cidade a 400 Kts (740/km hora). O ‘Caco’ logo nos proibiu tal manobra (…) (p.162).




Cor pilav Manuel Bessa Rodrigues de Azevedo (1938-2014) 

Blé [, capitão Bessa], eu sei que, lá por
onde andas, estás em boa companhia, com os amigos pilotaços Brito, Moura Pinto, Mantovani, Gil e as enfermeiras Manuela e Piedade. Um dia, os da Tertúlia, que ainda estamos cá em baixo, vamos visitar-te. (…). Prepara-te, vai ser uma festa de arromba!!! Até sempre, companheiro(p. 171).

O “randar fantasma”… Também me constou que o homem que zelava pela sua manutenção acabou por ser promovido a “gerente de messe” (p. 184).

A Operação Ametista Real foi um marco importante na história da Guiné, mas não foi tão limpa quanto se propagandeou no briefing nem à posteriori, já que, ao contrário do que tinha sido prometido, alguns dos Comandos Africanos foram mortos e deixados no terreno. Pior,alguns foram deixados feridos e abandonados, vindo a ser executados no próprio local pelos guerrilheiros do PAIGC (p. 189).


“Não é minha intenção julgá-lo [, ao comandante do COP 5 que deu ordens para abandonar Guileje,] mas confesso que me incomoda as várias tentativas que vêm sendo feitas de o apresentar como um herói, que não foi. A sua retirada, apresentada por alguns como uma manobra bem executada, não foi mais que uma simples fuga, tivesse o Guileje efetivamente cercado, e teria sido o maior desastre das nossas forças em África” (p. 200).

(…) A minha homenagem ao BCP 12 (CCP 121, CCP 122 e CCP 123). Sem eles, Gadamael tinha seguido o destino de Guileje (p. 203).

Há muitos anos que continuo a ver e ouvir os “meus fantasmas”, em fuga de Gadamael, a pedirem-me ajuda e… continuam mortos e entalados no tarrafo do rio Cacine (p. 204).

Uma nova verdade aflorava, como se costuma dizer, clarinha para militares. Não iria ser por culpa dos homens no terreno que a guerra iria ser perdida mas sim pelas manobras e omissões político-militares das cúpulas em Lisboa (p. 210)

Na Força Aérea sempre foi assim, “serviço é serviço, conhaque é conhaque” (p. 216).

‘Em vez de andarmos à procura das formigas, o melhor será encontrarmos o formigueiro’. Estava lançado o mote para destruir Kandiafara (p. 223).

A mais famosa e importante base de apoio do PAIGC acabara de ser destruída [em 19 de setembro de 1973, data em que Spínola já tinha partido e o novo Com-Chefe ainda não tinha chegado]. E tinham razão os da Força Aérea, o novo comandante chefe [, general Bettencourt Rodrigues,] nunca mais nos deixou ir ao estrangeiro (p. 229).



Tenho saudades dos bons tempos passados na Guiné (p. 13)


Tenho saudades do meu Caco Baldé (p. 239)

Amo a minha Força Aérea (p. 299)
______________


9 comentários:

antonio graça de abreu disse...

À atenção do grande Mário Beja Santos, que enxameia quotidianamente este blogue com a sua sabedoria e que garante neste blogue a derrota militar das Forças Armadas portuguesas na Guiné, graças à superioridade bélica do PAIGC.
Abraço,

António Graça de Abreu

Luís Graça disse...

António, parece-me desprositado, mais uma vez, o teu comentário... Noutro contexto, isto poderia configurar um caso de "cyberbullying"... Já temos falado sobre isto... Há leitores que não apreciam este tipo de remoques... Não te esqueças das nossas regras de bom e são convívio entre camaradas da Guiné...

Boas festas, boa recuperação do teu acidente na A8... O bom irã da Tabanca Grande, desta vez, protegeu-te. LG

José Botelho Colaço disse...

Guerra ganha guerra perdida, (deve ser da idade) mas ainda não consegui entender como é que se ganha uma guerra de guerrilha com quase todo o Mundo a favor dos guerrilheiros, inclusive alguns amigos a fazerem jogo duplo.

Luís Graça disse...

Sobre a "lenda" dos Mig, russos, já aqui em tempos o António Martins de Matos relatou uma conversa com o comandante Pombo, antes deste morrer:

(...) E quem melhor para nos elucidar que o nosso amigo comandante José Pombo, piloto de caça e piloto dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] durante alguns anos, e depois de 1974 amigo do Presidente da Guiné Bissau e [seu] piloto privativo [, tanto do Luís Cabral como do 'NIno']

Aproveitei o almoço, de hoje, da Magnífica Tabanca da Linha e abordei-o. E ele disse-me o seguinte:

(i) nunca houve qualquer MiG em Conacri;

(ii) a coisa mais parecida com um avião de caça que vira em Conacri eram os restos da asa do Fiat G 91 [R/4 5419] do falecido ten cor pilav [Almeida] Brito, que o PAIGC tinha levado a título de troféu (**);

(iii) à excepção de Conacri, mais nenhuma pista da Guiné tinha (tem) condições para receber os MiG;

(iv) confirma que a Rússia tinha dado treino a pilotos guineenses e, já depois da independência da Guiné Bissau, oferecido a este país 2 MiG;

(v) em data que não pode precisar, ao voar de Dacar para Conacri, descobriu que, no mar e à revelia do Governo de Bissau, alguém estava a fazer exploração petrolífera na águas da Guiné Bissau; avisou Bissau, saíram os 2 MiG pilotados por guineenses, não deram com a exploração, à volta e devido ao mau tempo, esmerdaram-se os dois, um ao pé do aeroporto, outro junto à estrada de Nhacra;

(vi) com tal performance, a Rússia nunca mais lhes deu novos aviões. (...)

25 DE SETEMBRO DE 2015
Guiné 63/74 - P15153: FAP (90): Para acabar de vez com o mito dos MiG em Conacri: nunca os houve no nosso tempo, garantiu-me o comandante Pombo, no convívio da Tabanca da Linha (António Martins de Matos, ten gen pilav ref)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/09/guine-6374-p15153-fap-90-para-acabar-de.html

Luís Graça disse...

Felizmente (para ele ou para o adversário), o António não tem, no seu currículo de "Tigre" da Esquadra 121, nenhum combate "cara a cara" com nenhum MiG, sob os céus da Guiné... Como predador que era, ele bem andou a farejá-los... Não tinha o MIrage, tinha o Fiat G-91, que é como quem diz: "Quem não tem cão, caça com gato!"...

Creio que é uma mágoa que leva lá para o Olimpo dos pilotaços, quando chegar a sua vez de deizar esta "Terra da Alegria"...

Enfim, uma história, a ter acontecido, que daria para escrever mais um livro...e direito a Torre e Espada.

De qualquer modo, a sua "missão mais perigosa" não foi as vezes em que esteve sob a mira dos Strela e das anti-aéreas do PAIGC, ou quando foi bombardear Kandiafara, em dia de "patrão fora, dia santo na loja", mas de sábado, dia 23 de junho de 1973...

Tudo começou com uma granda sardinhada em Bissalanca, na BA12... É um dos capítulos mais deliciosos do livro... Não conto mais... Façam o favor de o comprar e ler (Cap 23. A missã mais perigosa, pp. 213-218).

Senhores professores da Academia MIlitar, leiam por favor este capítulo... e não se esqueçam de pôr este livro na biblioteca para os "pilotaços de amanhã" conheceream dos heróis da FAP do passado...

Anónimo disse...

Dizem, talvez por ódio a mais ao clube, os In's da bola, que a “a culpa é do Benfica”. Este slogan, “ A culpa é do Benfica” tornou-se viral e dá para tudo!
Fosse eu o “chefe” do nosso distinto Blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné”, onde venho aprendendo com os escritos do grande Mário Beja Santos e de muitos outros Camaradas, passava a letra de lei o slogan “A culpa é do Mário Beja Santos”.
Já agora, socorrendo-me das palavras do Comandante Luís Graça, um " Bom e são convívio entre todos os Camaradas da Guiné",que supera de longe os slogans atrás referidos.

Vasco A R. da Gama

antonio graça de abreu disse...

os heróis da FAP do passado...

11 de dezembro de 2018 às 14:06

40.000 elementos da Forças Armadas portuguesas derrotados,em 1973/74, em termos militares, por 5.000 guerrilheiros do PAIGC. Não confundam derrota militar, no terreno, com base em factos reais, com derrota política, soprada pelos inevitáveis ventos da História. Será que não entendem? Ou será que as aldrabices, tantas vezes repetidas, se transformam em definitivas verdades?

Abraço,

António Graça de Abreu

António J. P. Costa disse...

Oh AGA!
És o maior.
Um Abraço e Bom Natal para ti
António J. P. Costa

antonio graça de abreu disse...

Copio do Facebbok um texto do nosso camarada Mário Santos, postado há uma hora atrás. Só não concordo com a afirmação de que demos a vida pelo nosso país.
Abraço,

António Graça de Abreu


Há uns tempos atrás o GENERAL JOSÉ FERNANDES NICO da nossa FORÇA AÉREA na situação de reforma escreveu e tentou a publicação de um relato, na revista oficial da Força Aérea “Mais Alto”.
O texto, não é mais que um documentário sobre uma acção de guerra contra o inimigo que nós portugueses combatíamos na altura na Guiné.
O artigo foi recusado, porque a descrição não era adequada ao politicamente correto e poderia por certo causar irritação à opinião dos “nossos amigos”! Neste caso Suecos. Isto, por um evento que se passou há mais de 50 anos na nossa então denominada província da Guiné- Bissau.
Eu não entendo, nunca entendi, a razão porque em Portugal recordamos pouco, e temos uma enorme dificuldade em falarmos das nossas acções, dos nossos militares mortos no Ultramar, ou dos que ainda hoje sofrem profundas sequelas daqueles combates e acções.
Quando não recordamos, e não homenageamos aqueles que deram a vida pelo seu país, roubamos sentido à justiça e à dor e traímo-los a eles e a nós próprios.
Os combatentes de África, todos nós, por força de um volte-face politico não tivemos direito a ser tratados com honra e justiça ou mesmo como heróis quando foi caso disso. Fomos e somos incapazes de compreender a justeza da guerra (e há alguma que o seja?) com a generosidade de quem cumpriu o seu dever. É por estas e por outras que eu penso que somos paradoxalmente um país sem futuro.
Tenho pena de não ver mais camaradas a escrever e dissertar sobre o que foi a vivência da nossa geração em Africa. M.Santos.